quinta-feira, 6 de setembro de 2012



ressacas
  
já tive provavelmente mais delas
do que qualquer outro ser vivo
e elas não me mataram
ainda
embora algumas manhãs parecessem
bem próximas
da morte.

como você sabe, o pior porre é tomado
de estômago vazio, fumando compulsivamente
e se afundando em vários tipos
diferentes de
bebidas.

e as piores ressacas são quando você
desperta no seu carro ou num quarto estranho
ou num beco ou na cadeia.

as piores ressacas são quando você
desperta percebendo que fez
algo completamente desprezível, ignorante e
possivelmente perigoso na noite anterior
mas
você não consegue se lembrar direito
o quê.

você desperta em vários estados
de desordem – com danos em partes
do corpo, seu dinheiro faltando,
e/ou possivelmente e frequentemente
o seu carro, se você tinha um.

você liga para uma mulher,
se você estivesse com alguma,
mais para ouvir ela bater o telefone
na sua cara.
ou, se ela estiver ao seu lado nessa hora,
é mais para sentir ela ultrajada e eriçada
de raiva.

bêbados jamais são perdoados.

mas bêbados se perdoam
porque precisam beber
de novo.

é preciso uma resistência inacreditável para
ser alguém que beba por várias
décadas.

seus companheiros de bar são
mortos por isso.
você mesmo vive entrando e
saindo de hospitais
onde o aviso é sempre:
“Mais uma dose e você está
morto.”
mas
você supera isso
tomando mais do que mais de uma
dose.

e quando você está perto
dos setenta
percebe que precisa de mais de muito mais
bebida pra ficar
bêbado.

e as ressacas são piores,
a fase de recuperação é
maior.

e a estupidez mais notável
é que
você não fica descontente
por ter feito
tudo isso
e por ainda
fazer.

escrevo isto agora
sob os efeitos de uma das minhas
piores ressacas
enquanto lá embaixo
me esperam várias e diversas
garrafas de
bebida.

tudo tem sido tão bestial
e adorável,
esse rio insano,
essa loucura
roubada
à mão armada
que não desejo a
ninguém
a não ser a mim mesmo,
amém.


Poema de Charles Bukowski
Tradução de Fernando Koproski 
do livro Essa Loucura Roubada Que Não Desejo a Ninguém a Não Ser a Mim mesmo Amém.

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