ressacas
já tive
provavelmente mais delas
do que
qualquer outro ser vivo
e elas não
me mataram
ainda
embora
algumas manhãs parecessem
bem próximas
da morte.
como você
sabe, o pior porre é tomado
de
estômago vazio, fumando compulsivamente
e se
afundando em vários tipos
diferentes
de
bebidas.
e as
piores ressacas são quando você
desperta
no seu carro ou num quarto estranho
ou num
beco ou na cadeia.
as piores
ressacas são quando você
desperta
percebendo que fez
algo
completamente desprezível, ignorante e
possivelmente
perigoso na noite anterior
mas
você não
consegue se lembrar direito
o quê.
você
desperta em vários estados
de
desordem – com danos em partes
do corpo,
seu dinheiro faltando,
e/ou
possivelmente e frequentemente
o seu
carro, se você tinha um.
você liga
para uma mulher,
se você
estivesse com alguma,
mais para
ouvir ela bater o telefone
na sua
cara.
ou, se ela
estiver ao seu lado nessa hora,
é mais
para sentir ela ultrajada e eriçada
de raiva.
bêbados
jamais são perdoados.
mas
bêbados se perdoam
porque
precisam beber
de novo.
é preciso
uma resistência inacreditável para
ser alguém
que beba por várias
décadas.
seus
companheiros de bar são
mortos por
isso.
você mesmo
vive entrando e
saindo de
hospitais
onde o
aviso é sempre:
“Mais uma
dose e você está
morto.”
mas
você
supera isso
tomando
mais do que mais de uma
dose.
e quando
você está perto
dos
setenta
percebe
que precisa de mais de muito mais
bebida pra
ficar
bêbado.
e as
ressacas são piores,
a fase de
recuperação é
maior.
e a
estupidez mais notável
é que
você não
fica descontente
por ter
feito
tudo isso
e por
ainda
fazer.
escrevo
isto agora
sob os
efeitos de uma das minhas
piores
ressacas
enquanto
lá embaixo
me esperam
várias e diversas
garrafas
de
bebida.
tudo tem
sido tão bestial
e
adorável,
esse rio
insano,
essa
loucura
roubada
à mão
armada
que não
desejo a
ninguém
a não ser
a mim mesmo,
amém.
Poema de Charles Bukowski
Tradução de Fernando Koproski
do livro Essa Loucura Roubada Que Não Desejo a Ninguém a Não Ser a Mim mesmo Amém.
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