segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Caros amigos, vocês já fizeram poemas de encomenda? Eu fiz um a pedido de um amigo que esqueceu o aniversário da sogra... Na ocasião, ele disse que (de cachê) me daria uma churrascada e compraria 40 LIVROS de minha autoria (pra dar de presente pra seus amigos). Bem, eu fiz o poema e, graças a esses versinhos, ele se redimiu com sua sogra... Mas eu, até hoje, estou esperando esse cachê... Quando é que vc vai comprar meus livros, Renato?

POEMA DE ENCOMENDA

Ontem à noite meu amigo Renato
Pediu um poema de encomenda
Disse que pagaria o que eu pedisse
Mas meus poemas não estão à venda

Mesmo assim Renato insistiu
Pra que eu escrevesse um poema
Nem pra ele, nem pra sua amada,
A sua sogra é que era o tema

Cara sogra do Renato, não tema
Renato não me pediu odes ou elegias
Na hora de passar o serviço, falou
– Dessa vez, escreva coisas bonitas!

– Diga que eu queria dar de presente
Um poema para minha sogra querida
Mas não floreie demais, nem invente
Só diga que sou o melhor pra sua filha

E assim o amigo me intimou a escrever
Um poema em plena madrugada, ah, Renato
Ao invés de fazer arte com meu sangue
O que acha de dar pra ela um artesanato?

Seria bem mais simples, rápido e barato
Mas não, você quer um poema, só um poema
Eu também queria um poema, meu caro
Mas os poemas não vêm quando eu queira

Eles aparecem só quando têm vontade
E pouco se importam com o que penso
Mas dessa vez eu estou na vantagem
O poema não é pra mim desde o começo

O poema é para sua sogra querida
E isso já é meio caminho andado pra rima
Uma mulher que teve como filha
Aquela que seria o amor da sua vida

Ah, é claro que merece um poema!
Pois a Mariana não é só a tua direção
A Mariana é quem fez de você, Renato
Um homem à altura do teu coração

Por isso, e só por isso que escrevo
Agora um poema pra ti, Dona Ceci
Um poema a pedido do Renato
Pelo simples desejo de te ver feliz


Fernando Koproski


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013


TUDO MENOS ESCREVER POESIA

tudo menos escrever poesia
como essa poesia que ganha prêmios literários
e ter que diluir uma espécie de escrita
falsa, morta, praticamente enterrada viva
em versos mortos, retos, milimétricos, sem energia,
sem verdade, sem vento, sem luz nas veias
e vias respiratórias, sem o gosto do agora ou suas alergias
e ter que escrever uma poesia indigna
que se filia a uma longa tradição
de seduzir os medíocres e encantar os mercenários
que concedem os prêmios literários

tudo menos ter que aceitar ou açoitar
os que mutilaram os braços da incompreensão
tudo menos ter que afogar
ou afagar os que asfixiaram girassóis,
os que amordaçaram a pureza do fogo no peito,
os que tentaram mastigar
ou desmerecer a velocidade da beleza
do fogo no beijo

tudo menos ter que respirar
com a cabeça e pensar com o pulmão
e sentir com o sangue
e compreender com o suor
e aprender e ensinar com as lágrimas
e não saber com o coração

tudo menos derreter icebergs
para ensinar ao urso-polar a solidão
tudo menos nunca ter que perdoar
aqueles que nunca pediram perdão

tudo menos ter que cantar
nesse buraco inconstante na página:
as paredes de papel,
os carros, ambulâncias e emergências de papel,
os desesperos, agonias e impaciências de papel,
as flores, telhados, manhãs e memórias de papel,
as intimidades, silêncios, pressas e olhares de papel,
as indiscrições, vaidades, prêmios e menções horrorosas de papel,
os outonos e lágrimas e suor e sangue de papel
de todas as pessoas de papel
que se esforçam para embalar
ou mesmo blindar
com plástico o seu peito
à espera de andar, dormir e acordar
confortavelmente
com corações de plástico
que nunca irão se decompor na paisagem

Fernando Koproski

poema publicado na antologia “Moradas de Orfeu” (Editora Letras Contemporâneas)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

21 de setembro é aniversário do Leo Cohen. Ele está fazendo 79 anos! E a sua vida e obra são centenas de canções e poemas que transcendem a mera apreciação estética. Acho que quando se escreve com o sangue, os livros são vivos e feitos de carne... E como essa carne às vezes se revela frágil, mais frágil do que deveria, não me admira que haja tanta cicatriz entre os seus versos... Mas como ele mesmo já disse: “Crianças mostram cicatrizes como se fossem medalhas. Amantes as utilizam como segredos a serem revelados. Uma cicatriz é o que acontece quando a palavra se torna carne”. Parabéns, Leo! Com essas minhas pobres ‘palavras de carne’, levanto agora um brinde pra vc!


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

POEMA DE ANIVERSÁRIO PARA O AMIGO
QUE MORA DO OUTRO LADO

faz 13 anos, Quatti
e eu ainda lembro da tua voz
do teu jeito, da tua cara
lembro de todos nós

sóbrios e fazendo merda
bebendo e batendo carros
e você tirando sarro
da minha cara,

rindo das roubadas
em que eu me metia
rindo do mau gosto
da minha angústia

rindo da irrelevância
da minha dor
ou do despropósito
de minha melancolia

rindo dos estúpidos cortes da paixão,
das facas de plástico
que eu pensei fossem de aço
em meu coração

ah, você ria de tudo, Quatti
porque já tinha passado
por tudo isso aí...

e porque mesmo entre nós
já estava bem longe daqui.

alheio à gravidade de meus problemas
você ria de tudo
menos da inocência e ingenuidade
de meus poemas

isso você sempre levou a sério
mesmo quando eu estava de sacanagem
você levou eles a sério,
bem antes de mim.

talvez você visse ali
uma versão mais jovem
mais bela e mais besta
e irresponsável de ti

não sei, mas você via alguma
coisa ali

e eu via em você, meu amigo
um caminho pra partir

um dia você cortou os cabelos
largou a faculdade
abriu um negócio
e ficou noivo

e disse que isso ainda
iria acontecer comigo

ah, Quatti, dessa vez eu ri
muito
da sua cara

mas hoje de velhas piadas
ninguém acha graça

tudo que você disse
aconteceu comigo
(só faltou cortar o cabelo)

você só não disse
o quanto eu ia sentir tua falta.

a cada vez que reencontro
a nossa turma
a gente lembra de você
cabeludo, de óculos escuros,

só dizendo sinceridades
e deixando um monte de gente puto
contigo

você sempre com mais amigos
do que inimigos
enquanto andava com um deus louco girando
ao redor do teu umbigo

é, hoje é assim que te encontro:
em nossos amigos

e hoje é assim que te vejo
quando te reencontro:
em vários de nós, dividido,
mas ainda forte e vivo e rindo
bonito,

concentrado e
repartido

entre todos os teus amigos

Fernando Koproski

16/setembro/2013


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sempre curti as resenhas de fãs do velho Buk, pois ao contrário de alguns “doutores em literatura”, esses sim sabem do que estão falando...  e esta é uma bela resenha, feita pelo blog “dito pelo maldito”:

Confesso que não sou um árduo consumidor de poesia, mas quando se trata de algo escrito pelo velho Bukowski, nem mesmo a palavra 'amor' no título de uma obra me desanima a conhecer seus versos. Porque se o livro é desse cara, é certeza de que o'amor' será tratado com o finesse que ele merece,... Como um sentimento vagabundo de quinta categoria.

Foi nessa empolgação toda que me empenhei na leitura de 'Amor é tudo que nós dissemos que não era', um livro de poesias do velho Buk com seleção e tradução de Fernando Koproski. Coisa rara no mercado editorial nacional, que demanda bem mais atenção para o lado 'contista' do escritor, e muitas vezes ignora sua obra poética.

Um livro com cheiro e textura das décadas áureas vividas pelo autor, com uma fidelidade que começa pelo designer, sem frescura e nem figuras, simples e sem apelações marqueteiras, exatamente como nas décadas de 50 a 70. E terminando pela inserção das versões originais em inglês das poesias. 
Uma obra que te desafia a não julga-la pela capa, ou acabará perdendo uma experiência incrível. E como bônus, ainda temos as orelhas escritas pelo incrível Xico Sá, que embora não seja disposta em versos, tem o valor de uma poesia.

As estrofes de Bukowski possuem uma narrativa próxima aos parágrafos de  seus contos, onde praticamente tudo ao seu redor é usado como combustível da sua escrita, noitadas nos bares, amores maus sucedidos, ou até uma singela contemplação de bundas, e claro, tudo regado ao sabor etílico do 'velho safado' (como também é conhecido). Um excelente trabalho de resgate dos primórdios poéticos desse grande gênio, com poemas publicados em esquecidas revistas literárias americanas, e durante muito tempo inéditos aqui no Brasil.
 E se você achar que ainda não é o suficiente, ao escrever essa resenha, me informei que existe um 'Volume II' intitulado 'Essa Loucura Roubada que não desejo a ninguém  a não ser a mim mesmo amem', que pretendo adquirir em breve.

Como esse meu exemplar me chegou de presente, eu não imaginei que ele já estava esgotado na maioria das grandes livrarias físicas e virtuais do país, e o quanto está difícil, pra não dizer impossível, encontra-lo. Mas não se desespere, felizmente eu encontrei um ponto de venda abastecido.
 Portanto não perca tempo, clique agora no banner abaixo da Livraria da Folha e compre seu exemplar, ou ficará mais algumas décadas sem conhecer a veia poética desse mestre da literatura marginal.

Nota do tradutor: o vol 2 (Essa loucura roubada...) ao qual o “ditopelomaldito” se refere, na verdade é o vol 1, isto é, a primeira antologia poética que fiz do velho Buk. Já este livro que foi resenhado acima,  é o de fato o vol. 2 (a segunda antologia poética que fiz do Bukowski), intitulado “Amor é tudo que nós dissemos que não era”.

E os amigos e leitores que se interessarem em adquirir qualquer um dos dois BUKS... podem achar os ÚLTIMOS EXEMPLARES dessa tiragem nos endereços:


ou pelo site da editora 7Letras:




terça-feira, 10 de setembro de 2013

Em homenagem ao dia dos veterinários que foi ontem, um texto que escrevi anteanteanteontem... meus parabéns a todos os vets! e em especial, à minha irmã Dra. Letícia Koproski!

ISTO NÃO É UM POEMA, MAS DEPENDENDO DE QUEM LÊ, ATÉ PODE SER...

Hoje ele está mal, mas ele vai se recuperar. Sei que ele irá se recuperar. Em 2009, ele estourou os ligamentos do joelho. Fez uma cirurgia delicada onde inseriram uns 4 pinos em cima e embaixo da lesão, para recuperar o movimento do joelho. A cirurgia correu bem, mas ele teve que ficar isolado num espaço restrito de 2m2 durante um mês, e receber medicação e carinho e cuidados especiais para recuperar a articulação.

Em outras palavras, como Mailon era muito brincalhão – praticamente vivia saltitando e pulando alto – agora nessa fase pós-operatória seus “pulinhos” deveriam ser vigiados, pois poderiam representar uma ameaça à sua pronta-recuperação.

Pois bem, ele passou uns 40 dias com seus movimentos restritos e acabou por se recuperar. Mas um dia depois de ser liberado pelos veterinários, Mailon se exaltou. Talvez lembrando o velho propósito de proteger a casa ou defender a sua dona, ele saltou diante de uma visita indesejada e arrebentou os ligamentos novamente...

Levamos ele às pressas ao veterinário mas o veredito era unânime: ele deveria fazer outra cirurgia, idêntica à anterior, ter o seu espaço restrito e ser medicado de 8 em 8 horas, tudo de novo da mesma maneira.

Começamos a medicação, preparando-o para a cirurgia, até que, depois de algumas semanas, um belo dia isso aconteceu: Ele parou de mancar... a precisão de um novo raio X assegurou: o ligamento do joelho se refez. O raio x era bom, bom o bastante para detectar o “milagre”. E ele não precisou refazer aquela cirurgia.

4 felizes anos depois, Mailon começou a andar em círculos obsessivamente, girando em sentido anti-horário sem parar. Era tanta volta que nosso cão dava, que chegou várias vezes a ensanguentar as patinhas. As patas sangravam mas ele continuava andando e girando em círculos viciosos.

Levamos ele aos atuais veterinários, e depois de uma extensa bateria de exames se diagnosticou: CÂNCER no fígado. O tumor fazia com que o fígado não funcionasse direito, acumulando toxinas no sangue de Mailon, que ao ser bombeado para o cérebro, causava danos neurológicos visíveis.

Alguns dias depois, graças à exímia eficiência dos doutores Rodrigo e Fernanda, a cirurgia correu bem. Mailon retirou 2 tumores malignos. Durante o pós-operatório, enquanto esperávamos que ele melhorasse, notamos um líquido róseo persistente saindo de sua barriga. Duas semanas depois de uma pesada bateria de antibióticos, se notou que ele tinha sido atacado por uma incomum infecção bacteriana. Estafilococos Aureus era o nome do vilão que resistia aos antibióticos de amplo espectro e que rapidamente crescia dentro de nosso cão.

E qual foi a recomendação? Administrar durante 3 ou 4 semanas um antibiótico raro, que tinha saído há tempos do mercado farmacêutico. Dessa forma, ao longo de dias, passamos eu e Ingrid (a dona de Mailon) a vasculhar todas as farmácias antigas de SJP e coletar estoques do remédio.

Depois de muita medicação, carinho e compreensão, ele estava lá de novo. Mailon eliminou a temível bactéria e deixou de andar em círculos. Parecia que dessa vez tudo estava bem e eu ousei suspirar “Deus, obrigado!” para os céus. Mas o alívio ainda era só uma ideia no meio de tantos medicamentos.

Do antigo buraco onde se fez a cirurgia, começou a se formar uma bolinha do lado de fora da barriga de Mailon. No início era apenas uma bola de gude de gordura, mas com o passar do tempo e apesar das várias tentativas frustradas dos veterinários, a bolinha de gude virou bola de ping pong, que virou bola de sinuca, que depois de semanas virou bola de futsal...

Nada parecia funcionar para interromper a rasgadura muscular que ele tinha sofrido. Explico, os pontos internos da cirurgia abriram e passar a rasgar não só a parte costurada como toda a musculatura que protegia os seus órgãos internos de forma longitudinal e cruel, formando uma hérnia crescente.

Naturalmente, a proximidade de uma nova cirurgia não preocupava apenas a sua dona, mas a todos da clínica, pois seria mais uma agressão cirúrgica num cão debilitado de 15 anos de idade. Mesmo assim, fazendo figa e rezando nós levamos ele para uma nova cirurgia, que foi surpreendentemente bem-sucedida.

Pois bem, depois de uns 10 meses de combate, Mailon sobreviveu e se recuperou. A sua dona não dorme uma noite inteira há quase um ano. E mesmo assim, noite a noite, com olheiras, enxaquecas, fraquezas e diversas quedas de pressão, ela esteve lá, ao lado dele, medicando-o, acariciando-o, abraçando-o no meio das diversas noites em que os remédios fortes se revelavam fracos.

Hoje ele está bem, voltou a tomar remédios ontem à noite após uma queda acidental. Mas isso não há de ser nada, né Mailon? Você e a Ingrid já passaram por muitas coisas piores. E não é agora que ela deixará de cuidar de você, rezar por você, ou postar mensagens no facebook esperando dividir com os amigos verdadeiros sua preocupação legítima. E tudo isso por quê?

Porque isso é AMOR: puro, forte e imenso e que se expande em várias direções. Muitas das quais nós às vezes nem entendemos, ou sequer suspeitamos. Já outras nós intuímos. E outras, Ingrid, nós temos certeza.

O amor abre uma cratera por onde passa, escava a pele e a carne, enquanto suas ondas de choque se propagam de forma luminosa e irreversível.

Acreditando nisso, nós combatemos o Câncer do Mailon, o câncer da Afrodite (nossa gata e filha primogênita) recentemente, e dia a dia estamos combatendo o câncer da minha sogra querida, a Margareth.

No mínimo por 3 vezes no último ano, eu presenciei o milagre e nós vencemos o invencível. Nós pedimos a deus por 3 milagres e ele nos deu os três. Ao teu lado, Ingrid, eu vi ele – o milagre – surgindo como um sol de carne e sangue dourado, rasgando a noite e aos poucos diminuindo a nossa escuridão.

6 de agosto de 2013
Fernando Koproski
(pai do Mailon, Don Juan, Afrodite, Manuela, Angelina, e poeta nas horas vagas...)

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Só uma dorzinha 
(poema para Bárbara Lia)

Ontem estava com dor de cabeça
Anteontem estava com dor de cabeça
Hoje estou com dor de cabeça

Anteontem estava com dor de cabeça
por ter dormido pouco

Ontem estava com dor de cabeça
por não ter dormido nada

Hoje estou com dor de cabeça
por ter dormido demais

Caro leitor, nessa situação,
o que a gente faz?

Já tomei, entre aspas, várias “aspirinas”
E diversos sedilax

Mas a dor continua
E não é uma coisa
só da minha cabeça

Ah, poetas e professores de literatura
antes que me esqueça:

Isso não é um poema
tampouco é o fim do meu lirismo
ou o começo de qualquer outra doença

Esses versos são apenas o que são
como o osso é músculo
e a carne é sangue
e o sangue é pulmão

É, talvez esse poema não seja
o que você pensa...

Só sei que ainda serei pra vocês:
aqueles versos resistentes à qualquer analgésico
e
uma bela dor de cabeça

Fernando Koproski

6/setembro/2013