quinta-feira, 25 de setembro de 2014

CANÇÃO

A menina nua em prantos
está pensando em meu nome
volvendo e revolvendo
meu nome em bronze
com os mil dedos
de seu corpo
untando seus ombros
com a fragrância lembrada
de minha pele

Oh sou o general
de sua história
conduzindo cavalos majestosos
pelos campos
vestindo trajes de ouro
com o vento em meu torso
o sol na barriga

Possam os pássaros suaves
suaves como uma estória para seus olhos
proteger seu rosto
de meus inimigos
e os pássaros impuros
cujas asas afiadas
foram forjadas em mares metálicos
guardem seu quarto
de meus assassinos

E que a noite a trate com cuidado
as estrelas altas sustentem a palidez
de sua pele descoberta

E possa meu nome em bronze
sempre alcançar seus mil dedos
iluminar-se com suas lágrimas
até que eu esteja fixado como uma galáxia
e memorizado
em seus céus delicados e secretos.
Poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
este poema faz parte da antologia poética “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (7Letras)

à venda, pra todo o Brasil, pelo site das livrarias Curitiba:
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx
Era primavera de 2004 e eu estava finalmente livre. Estar desempregado naquele momento, depois de 11 meses de sadismo e terror, era uma delícia e uma libertação – uma espécie de vinho, nuvens, azul e as aves da arrebentação, tudo em uníssono caminhando pra fazer de mim novamente parte da canção. Foi nessa época que conheci os poemas da Bárbara Lia. E encontrei novas formas de delicadeza que até então eu julgava impossíveis. Os seus poemas eram artefatos únicos, floradas incríveis do jardim da delicadeza numa terra devastada pela decadência, erro e ingratidão. Conforme avançava as páginas, cada imagem que eu lia era um misto de fórmula mágica, pureza e coragem, isto é, muito além do que todos estavam fazendo ou tentando fazer naquela época. Não podia ficar atônito sozinho, aberto àquelas páginas e não fazer nada a respeito. Foi quando a convidei para publicar um livro chamado O SORRISO DE LEONARDO, o seu primeiro livro de poemas. Naquela época eu era co-editor e co-criador da KAFKA – Edições Baratas, e portanto nada mais imperativo do que ver impresso aquele pequeno volume de poemas que tanto me fascinou. Depois desse livro, vieram outros, TODA MULHER MERECE SER DESPIDA do Alexandre França, TORNOZELOS DEITADOS e CECÍLIA ROENDO AS UNHAS do Leprevost, BUQUÊS DE ALFAFA do Jorge Barbosa filho e o meu COMO TORNAR-SE AZUL EM CURITIBA, todos de poesia. Passaram-se 10 anos, vários livros de poemas da Bárbara por outras editoras, e então recebo o seu novo livro, chamado RESPIRAR. No final do volume leio “Este livro nasceu para celebrar os 10 anos da publicação do primeiro livro de Poesia: O sorriso de Leonardo, impresso em 2004, editado por Kafka edições baratas.” E então fico comovido por fazer parte da sua história, Bárbara. Acho que fiz tão pouco... teria feito muito mais se houvesse editoras de verdade nesse estado. Mas apesar de todas as impossibilidades e sacanagens, nós estamos aí – em 2014, vivos e felizes. Eu, de minha parte, posso dizer que estou muito feliz agora, ao ver que grande poeta vc se tornou, a grande poeta que eu sabia que vc era e que tantos mais nesse país já descobriram que você é. A mais alta poesia gira ao redor desse livro, porque orbita ao teu redor com uma naturalidade absurda. Não conheço nenhum outro poeta que alcance as notas tão facilmente e seguramente quanto você. É tanta música e pintura e céu com aquele azul decisivo, que o verso se faz carne e sonho com a mesma desenvoltura. Parabéns por este livro magnífico e que venham mais 10 anos e muitos mais livros. Um abraço do amigo, Fernando Koproski.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Leonard Cohen completa 80 anos e lança disco novo
Jonatan Silva para o ParanaOnLine

Neste domingo (21) Leonard Cohen comemora 80 anos. A data, por si só, já é motivo de celebrações e comemorações, não fosse o fato peculiar que o cantor-poeta-compositor canadense lança seu novo disco, Popular problems, na terça-feira (23). O anúncio pegou os fãs de surpresa: o último disco de Cohen, Old ideas, foi lançado há dois anos, intervalo curtíssimo dentro do universo do artista, que já teve hiatos de 10 anos entre um trabalho e outro.

Cohen, que há 20 anos tornou-se monge budista, faz de seus trabalhos – poéticos e musicais – uma ponte entre o sagrado e o profano, flutuando em temas como o amor, o desejo, o suicídio e Deus. O publicitário Diego Zerwes, criador do projeto on line Traduzindo Leonard Cohen, acredita que a carga intelectual da música de Cohen está atrelado ao seu talento e reconhecimento como poeta. “Ele já era criticamente considerado um dos 5 maiores poetas canadenses, ao lado de Irving Layton e do acadêmico Louis Dudek, antes de aventurar no mundo da música. Northrop Frye, famoso crítico e teórico literário canadense, foi um dos que exaltaram sua qualidade poética. O verbo, portanto, se fez antes do acorde”, observou.

A carreira musical começou, justamente, pela impossibilidade de se manter – financeiramente – como poeta. No começo dos anos 60, Cohen viveu na ilha grega de Hidra e pretendia ganhar a vida como escritor, mas a falta de dinheiro e facilidade que tinha para criar boas músicas fez com que migrasse o show business, em uma época em que a literatura beat e o folk de Bob Dylan ganhavam o mundo.
Para o poeta e tradutor Fernando Koproski, que organizou e traduziu a primeira antologia poética publicada no Brasil de Leonard Cohen, Atrás das linhas inimigas de meu amor (7Letras), “assim como a lírica do Bukowski (que não era beat) se volta ao cotidiano com uma linguagem mais explosiva e direta, a lírica do Leonard Cohen também abarca o cotidiano, mas o conquista por qualidades outras, tais como a Sofisticação aliada e moldada a ferro e fogo com a Simplicidade”.

Geografia sentimental

Cohen sempre foi um sedutor – nos mais amplos sentidos e significados da palavra. Homem de muitas mulheres, ele transformou muitas deles em musas para canções e poemas. Suzanne, So long, Marianne – para as amantes de mesmo nome –, Chelsea Hotel #2 – para Janis Joplin – e Waiting for a miracle – uma proposta de casamento para a atriz Rebecca De Mornay – figuram entre as porções mais clássicas da obra do canadense.

Para Koproski, o segredo de Cohen está na abordagem dos temas. A resposta se concentra entre “as vicissitudes dos relacionamentos familiares (em especial a geografia sentimental de altos e baixos e outros acidentes geográficos na relação entre homem e mulher), e sobretudo o mapeamento da condição humana e a relação do homem com Deus da forma com que é continuamente questionada pelo autor, vide sua singular trajetória pessoal e espiritual (de judeu a monge budista)”.

Filho pródigo

A caminhada musical de Cohen é extensa, indo do folk, Songs of Leonard Cohen (1967), ao symph pop, Various positions (1984). No entanto, o momento mágico em sua carreira se deu a primeira década do século XXI, quando após ser roubado pela empresária, o cantor precisou voltar a fazer turnês. Cohen nunca escondeu que não gostava de estar na estrada, mas aqueles shows foram, na sua própria opinião, os melhores que já fez. A crítica e o público também celebraram o retorno do canadense aos palcos.

40 anos de gestação

Cohen é um perfeccionista inveterado. Muitos de seus poemas e músicas levaram anos para ficar prontos. “Hallelujah”, um de seus maiores sucessos, precisou de 5 anos, 80 estrofes e muitos cadernos, para ficar do jeito que seu criador queria. Em Popular problems, a penúltima música “Born in chains” levou 40 anos para ficar pronta e ainda não agradou completamente ao cantor.

“Ela [a letra] esteve circulando por aí 40 anos. Eu a reescrevi várias vezes para acomodar as mudanças em minha posição religiosa”, contou à revista Rolling Stone. Koproski explica esse desejo de criar uma obra perfeita como resultado das experiências do próprio Cohen. “A bagagem de vida que ele traz, não é pra qualquer um”, comentou.

O processo de composição também foi mudando no andar do tempo. Pouco a pouco a Cohen foi deixando de lado o violão – que ele retomaria anos depois – e se dedicando às composições com base eletrônica. “Ele carregava pra todo canto um teclado Casio e foi a partir dele que surgiram as músicas da década de 80. Ele chegou a admitir que compor nessa época era bem mais difícil porque, de certa forma, a tecnologia trazia muitos recursos com os quais era mais difícil de se lidar”, relembrou Zerwes.

I’m your fan

A capacidade de criação de Cohen é também um poder de convencimento. Não são poucos os artistas que se dedicam a reinterpretar as canções do canadense. A primeira pessoa a fazer isso foi Judy Collins. A cantora foi uma espécie de madrinha musical ao gravar “Suzanne”, no disco In my life (1966). O álbum seguinte de Collins, Wildflowers (1967), iria contar com três composições de Cohen: “Sisters of mercy”, “Priests” e “Hey, that’s no way to say goodbye”.

Esse foi o ponto de partida para que nomes de R.E.M. a The House of Love também gravasse o canadense. E foi, justamente, por meio de outros nomes que muitos fãs de Cohen conheceram o ídolo. “Ele foi uma das grandes inspirações do australiano Nick Cave, que possui uma vasta carreira musical, dois romances publicados e roteiros cinematográficos. Inclusive, a primeira música do primeiro álbum de Nick Cave & The Bad Seeds, From Her to Eternity (1984), é um cover de ‘Avalanche do grande bardo”, comentou Zerwes.

Cineastas como Wes Anderson e Oliver Stone também beberam da fonte canadense. Por sinal, foi graças a Assassinos por natureza (1994), de Oliver Stone, que Koproski descobriu o canadense. “Uma música do Cohen abria o filme e outra fechava: ‘The future’ e ‘Waiting for the miracle’, duas canções que até hoje me impressionam pela beleza, audácia e violência de seus versos”, contou o tradutor.

O certo é que, aos 80 anos, Cohen ainda inspira os mais novos e, com os recentes rumores de que ele pode entrar em turnês, a expectativa para que volte aos palcos também ajuda a confirmar o mito.
ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7Letras)
à venda, pra todo o Brasil, pelo site das livrarias Curitiba:

terça-feira, 16 de setembro de 2014

IMAGINO SE MEU IRMÃO ALGUM DIA LESSE ISSO

Imagino se meu irmão algum dia lesse isso. Com certeza ele repudiaria, com gentileza eu espero, ele diria talvez o mar seja tudo o que você disse, uma máquina de sonhos, um olho de vidro e assim por diante, mas mesmo que seja verdade é melhor não dizer. Hoje posso lhe contar algo que nunca soube quando vivia ao seu lado, que é um luxo ser capaz de deixar as coisas não ditas, um luxo compartilhado por poucos. Os filhos do vento e das águas não precisam nomear o que seu sangue já sabe, mas quantos podem dominar essa economia, quantos mais devem arranhar e escavar o mundo de mil maneiras diferentes só para estabelecer uma mínima conexão com suas próprias vidas.
(...)

fragmento do poema de Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski

E pra quem quiser conferir este e outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:


http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Leonard Cohen também tem problemas! Na Sexta, foi meu carro que não pegou por causa da bateria... e agora vejo essa foto do Leo Cohen com o mesmo problema! O que pode a poesia nessa hora? Rsrs... Pensando nisso, posto aqui um poema dele sobre essas coisas que todos nós passamos...

IMAGINO QUANTAS PESSOAS NESSA CIDADE

Imagino quantas pessoas nessa cidade
moram em quartinhos mobiliados.
Quando olho os prédios de madrugada
juro que vejo um rosto em cada janela
que me olha de volta,
e quando me viro
imagino quantos voltam para suas escrivaninhas
e escrevem isto.

poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
E pra quem quiser conferir outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:

http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx