quarta-feira, 26 de setembro de 2012

agora você pode ouvir e baixar gratuitamente o meu novo single: CHOPIN KOPROSKI

http://fernandokoproski.bandcamp.com/album/chopin-koproski

foi com a chuva que chopin aprendeu a tocar piano. não pensei
que a tristeza fosse ficar assim tão triste, mas tive que a deixar.
era de uma forma recorrente quando o fim de tarde me fazia
impraticável, por isso não pude mais ficar. chopin insiste em me
acompanhar, acha que possa me fazer mudar de idéia. a chuva
eu lembro, demorava em mim memórias inadmissíveis de
jasmim. mas para onde eu ia havia essa suavidade
incompreensível. chopin desde o início sabia para onde eu ia,
ele leu tudo que a lua escreveu em seus diários.
era primavera quando eu passava discreto entre meus
desesperos, esperando ser possível um suicídio sutil. lembro que
queria ouvir uma chuva que chopin não tocasse, a chuva que fez
sol em sua última tarde. então esqueci a dor dos ventos, a dor
que se disse necessária para que me nascessem pianos. e percebi
o quanto era ela quando havia aquela lua interminável,
inquietando de noite minhas lembranças de jasmim. chopin me
avisou, disse que ela iria me desperdiçar em incêndios sem
gravidade, guardar sem cuidado o que nos fosse para as pétalas
impecável. mas chopin não era mais o mesmo, há tempos tudo
que fazia era escrever sobre tristezas que a chuva não conhece
ou simplesmente esquece. chopin escrevia um dicionário de suas
tristezas para que a chuva pudesse entender.
caro chopin, tudo que escrevi não foi o que eu quis,
tampouco era o que sonhei. foi só o que eu vivi.
todos os que amam ou amaram um dia deixam a dor escrever
a sua biografia.

poema de Fernando Koproski
do livro "TUDO QUE NÃO SEI SOBRE O AMOR"
 
 

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Hoje é aniversário do Leonard Cohen! Ele completa 78 primaveras... Parabéns Leo! Aqui um poema que traduzi em “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR”


NAS MINHAS MÃOS

Nas minhas mãos
seus seios pequenos
são essas barriguinhas pra cima
dos arfantes pardais caídos ao chão.

Onde quer que você passe
Ouço o som de asas fechando
de asas caindo.

Estou sem fala
porque você caiu ao meu lado
porque seus cílios
são as vértebras de pequeninos e frágeis animais.

Receio o momento
em que seus lábios
comecem a me chamar de caçador.

Quando você me chamar pertinho
para dizer
que seu corpo não é bonito
Quero intimar
os olhos e os lábios ocultos
de pedra e luz e água
para testemunhar contra você.

Quero que eles
libertem
de seus cofres mais secretos
a trêmula rima de seu rosto.

Quando você me chamar pertinho
para dizer
que seu corpo não é bonito
Quero que meu corpo e minhas mãos
se tornem piscinas
para você se mirar e sorrir.

Poema: Leonard Cohen
Tradução: Fernando Koproski
do livro “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (7 Letras)



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Resenha do livro "Amor é tudo que nós dissemos que não era" por Jonatan Silva


Curitibano reúne poemas inéditos de Bukowski em livro
Jonatan Silva

      Em um universo povoado de bêbados, prostitutas e marginalizados, que o jornalista e escritor brasileiro João Antonio chama de merdunchos, Charles Bukowski (1920 – 1994) construiu a sua literatura. Bebendo do underground, não tardou para que as façanhas, em prosa e poesia, do Velho Safado fossem reconhecidas pelo seu valor, seja a estima literária, ou o resgate histórico de uma geração influenciada pelas liberdades pós-década de 1960.
      E, embora o material disponível em português seja vasto, alguns poemas ainda permaneciam no limbo do ineditismo no Brasil. Tentando vencer essa barreira, o poeta e tradutor curitibano Fernando Koproski decidiu selecionar e traduzir mais de 40 poesias, que ainda não haviam recebido sua devida tradução, em uma coletânea,“Amor é tudo que nós dissemos que não era” (7 Letras), que acaba de chegar às livrarias.
     Em tom confessional e desesperado, a obra bukowskiana emana mais que o singelo fazer literário, produzindo verdadeiros retratos do cotidiano, como em “Um poema é uma cidade”,“O homem no piano” ou “Paraíso bastardo”, que não poupam palavras para descrever a sordidez e o sentimento de inadequação ao status quo. É algo que Koproski define como“realismo desconcertante”.
     Trabalhando desde 2008 no livro, o curitibano não esconde a importância da empreitada. “Houve, sobretudo, o critério de apresentar um panorama significativo dos livros inéditos de poesia do Bukowski em português, por meio de poemas representativos de seus diversos temas”, afirmou Koproski, que é também responsável por outra coletânea do Buk, “Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a ser a mim mesmo amém” e por um retrospecto da obra poética do canadense Leonard Cohen,“Atrás das linhas inimigas de meu amor”.

 

Antimanual
     Repleto de ironia e sarcasmo, “Amor é tudo o que nós dissemos que não era”, é na verdade, um antimanual de conduta, colocando lado a lado a realidade dos esquecidos e o falso academismo do sacrifício literário. Prova cabal disso, “Então você quer ser um escritor?” dá a deixa para iniciantes: “se você estiver fazendo isso por dinheiro ou/ fama,/não faça./se você estiver fazendo isso porque deseja/mulheres em sua cama,/não faça”.
     Dispensando as formalidades, Koproski conseguiu um resultado inigualável com a “prosa doida”do Velho, em uma simplicidade e ferocidade que a poética bukowskiana exige. “Ao contrário do que os teóricos da tradução pregam insistentemente, cada caso é um caso e deve ser estudado em separado”, disparou.
     Arrebanhando multidões, Bukowski deixou sua marca na literatura, que não raras vezes, é confundida com os beats, mas que, colocando de lado rótulos, ajudou a formar leitores e leituras em um mundo cada vez mais consumido pelo instantâneo e obsoleto.
 
 

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Fernando Koproski em entrevista para Jonatan Silva
para o Paraná Online

Por que escolher Bukowski novamente?
Porque depois de concluir o “Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém” em 2002 (o livro foi publicado em 2005), a primeira antologia poética onde selecionei e traduzi poemas do Charles Bukowski, houve o lançamento de diversas coletâneas de poemas do Bukowski no mercado americano. E conforme lia esses livros, ficava ainda mais entusiasmado pela incrível qualidade do material que estava sendo publicado. Além destes livros póstumos, havia livros do Buk (publicados em vida) que eu não havia utilizado na seleção de material pro “Essa loucura roubada”. De forma que quando percebi, tinha na cabeça um livro pronto pra ser traduzido e montado, o “Amor é tudo que nós dissemos que não era”.

Como você "descobriu" Bukowski?
Comecei a ler Bukowski pela prosa, por seus romances e livros de contos, onde volta e meia havia a informação na biografia do autor dizendo que ele havia publicado dezenas de livros de poesia. Mas na época (fim dos 80 e início dos 90...) não havia nenhuma tradução em português desses livros. De forma que sempre tive dúvidas de que isso fosse verdade... até que em 2000, quando morei um tempo em Londres, tive a prova quando mergulhei naquelas fantásticas livrarias e encontrei diversos livros de poemas do velho. Na época, eu lavava pratos num restaurante enquanto estudava o idioma. E fora a jornada de trabalho cansativa (das 9:00 am às 11:00 pm), tinha um chefe extremamente estúpido que vivia na minha cola e na de outros funcionários estrangeiros. De forma que quando comecei a ler a poesia do Bukowki neste cenário, a sua poesia fez o maior sentido pra mim, pois naquela época eu dividia junto com os outros trabalhadores ilegais do restaurante uma realidade que eu percebi semelhante a de vários personagens fodidos dos poemas do Buk. Na prática, tinha que aturar um chefe gritando na minha orelha direto enquanto eu passava horas e horas lavando pratos e panelas, e contando os centavos num trabalho sufocante. E então foi inevitável pra mim fazer a associação entre estas duas realidades, a do Henry Chinaski pulando de subemprego em subemprego em Los Angeles e a minha, de imigrante também num subemprego. A poesia do Bukowski naquele cenário descortinou pra mim a verdade.

O que representa esse novo projeto?

Este livro representa um desenvolvimento do meu trabalho de tradução de poesia, e naturalmente um aprofundamento meu na lírica doída do velho Buk.

Como funcionou a seleção dos poemas escolhidos? Houve algum critério em específico?
Houve sobretudo o critério de apresentar um panorama significativo dos livros inéditos de poesia do Bukowski em português, por meio de poemas representativos de seus diversos temas (tema do amor, tema literário, tema existencial), semelhante ao critério que estabeleci para o “Essa loucura roubada”. É claro que em paralelo a este critério, passei a consultar a crescente receptividade dos poemas do Buk junto aos leitores de língua inglesa, e os diversos diálogos de sua poesia com a arte cinematográfica (através de vários poemas do Bukowski que colaboraram para roteiros de cinema) a fim de tornar mais ampla a seleção dos poemas.

Algum texto apresentou alguma forma de desafio na tradução? Qual trecho?
Vários desafios surgiram ao longo do trabalho, pois em tradução, ao contrário do que os teóricos da tradução pregam insistentemente, cada caso é um caso e deve ser estudado em separado. Esta é uma simples verdade que apesar de ser tão óbvia alguns professores esquecem de considerar...

O poema "então você quer ser escritor?" pode ser tido como um guia para os novatos?
Certamente, ao lado de “como ser um grande escritor” (traduzido no “Essa loucura roubada”), o poema “então você quer ser escritor”, incluído em “Amor é tudo que nós dissemos que não era” pode ser visto como um antimanual de instruções para os iniciantes. Há um realismo desconcertante e pertinente em versos como: “a não ser que saia de/ sua alma como um foguete,/ a não ser que ficar parado te/ leve à loucura ou/ ao suicídio ou assassinato,/ não faça.”

Levando em conta que você trabalha neste livro desde 2008, podemos dizer que a tradução é um processo de maturação?
Com certeza. O livro passou por diversas roupagens até adquirir a forma atual.

Além do Bukowski você também já traduziu o Cohen, qual a diferença fundamental entre o processo de tradução entre eles?

Embora elas (as traduções de Leonard Cohen e as de Bukowski) se comuniquem dentro de mim de uma estranha maneira, às vezes até mesmo ensaiando a criação de um terceiro braço pra minha poética (pois também escrevo poemas e o exercício de tradução utiliza muito do que eu considero e pratico em minha poesia), também percebo diferenças entre as poéticas destes autores e isso é muito frutífero, pois me faz sempre pensar e considerar a poesia não só para aquele recorte de tempo que os livros delimitam, mas também considerar o que pode ou mesmo deve ser a poesia para os nossos dias e, sobretudo, para as nossas vidas.

quarta-feira, 12 de setembro de 2012


então você quer ser escritor?

se não estiver explodindo em você
apesar de tudo,
não faça.
a não ser que saia espontâneo de seu
coração e de sua mente e de sua boca
e de suas entranhas,
não faça.
se você tiver que passar horas
encarando a tela do computador
ou encurvado sobre sua
máquina de escrever
procurando palavras,
não faça.
se você estiver fazendo isso por dinheiro ou
fama,
não faça.
se você estiver fazendo isso porque deseja
mulheres em sua cama,
não faça.
se você tiver que sentar ali e
reescrever mais uma vez e mais uma vez,
não faça.
se der o maior trabalho só de pensar em fazer,
não faça.
se você estiver tentando escrever como outra
pessoa,
esqueça.
se você tiver que esperar até isso rugir em
você,
então espere com paciência.
se isso nunca rugir em você,
faça outra coisa.
se você tiver que ler primeiro para sua esposa
ou para sua namorada ou para seu namorado
ou para seus pais ou para qualquer um,
você não está pronto.
não seja como tantos escritores,
não seja como tantas milhares de
pessoas que se dizem escritores,
não seja chato e estúpido e
pretensioso, não se deixe consumir pela
vaidade.
as bibliotecas do mundo
bocejam até
dormir
sobre tipos assim.
não aumente isso.
não faça.
a não ser que saia de
sua alma como um foguete,
a não ser que ficar parado te
leve à loucura ou
ao suicídio ou assassinato,
não faça.
a não ser que o sol dentro de você esteja
queimando suas vísceras,
não faça.
quando for realmente o momento,
e se você for escolhido,
isso irá acontecer por
conta própria e continuará acontecendo
até você morrer ou isso morrer em
você.
não há outro jeito.
e nunca houve outro.

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
do livro AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA (7Letras)

sábado, 8 de setembro de 2012

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém reúne poemas selecionados e traduzidos por Fernando Koproski de 11 livros do escritor Charles Bukowski que retratou de forma ímpar o universo dos bêbados, dos marginalizados, dos solitários, dos perdedores e excluídos. Ao escrever de forma simples e liricamente desafiadora sobre os outsiders do cenário marginal, a poética de Bukowski dá voz a todos os órfãos do sonho americano – fazendo deste velho safado um ícone cult da literatura e cultura pop. Confessionais, despudorados e ácidos, seus versos contam histórias de amor, sexo, relações turbulentas, bebida, escrita e subemprego, transformando a matéria do cotidiano em verdadeira obra de arte.


Amor é tudo que nós dissemos que não era reúne uma seleção de poemas de 15 livros do romancista, poeta e ícone da cultura norte-americana Charles Bukowski. Organizada e traduzida pelo escritor Fernando Koproski, a antologia apresenta o melhor da poesia confessional, intensa e direta do velho safado que mistura amor, sexo e álcool em textos líricos e corrosivos que irão deleitar sua legião de fãs.

o milagre

trabalhar com uma forma de arte
não significa
vadiar como uma solitária
de barriga cheia,
tampouco justifica grandeza
ou ganância, nem sempre
seriedade, mas acho
que ela chama os melhores
em sua melhor fase,
e quando eles morrem
e algo mais não,
presenciamos o milagre da imortalidade:
homens vêm como homens,
partem como deuses –
deuses que nós sabíamos aqui,
deuses que enfim nos fazem continuar
quando tudo o mais dizia parar.

Poema: Charles Bukowski
Tradução: Fernando Koproski
do livro ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 letras)
de salto agulha no olho da lua

sim, fiz essa canção pra
não pensar mais em você
fiz essa canção no caso
de esquecer de te esquecer
por que você quis aparecer
na minha vida justo agora?
por que você ainda demora
depois que vou embora?

onde você estava o tempo
todo em que fiquei sozinho?
acha que um olhar incendiado
já me dá aquele friozinho?
você precisa ter mais cuidado
os teus cabelos soltos estão
derramando chamas do meu lado
e pra quê desenterrar um coração?

você precisa ser mais discreta
se teu olhar desafogar meu sufoco
e pra quê abrir caminho de novo
a fogo e ouro em minha direção?
você precisa ter mais cuidado
e olhar antes pra onde ateia fogo
meu coração é só um campo cinza
de pólvora com a validade vencida

se você não quer me arruinar
então, me diz qual é a tua
pra sair assim na rua pisando
de salto agulha no olho da lua?
sim, querida, é tarde demais
pra você sair assim na rua
e entrar assim na minha vida
– um brinde então à minha ruína

poema de Fernando Koproski
musicado por Carlos Machado no CD "Longe"

amor pra mim

amor, não fique estressada
sei que pessoas acomodadas
te deixam incomodada
mas você não é a única

queria ouvir uma música
que falasse da gente
mas o rádio atualmente
não diz nada com nada

amor, ninguém mesmo
sabe amar do teu jeito
mas você se sente culpada
por não ter culpa de nada

amor, não fique assustada
só dá nós dois sozinhos
não há mais ninguém
em todo o mundo inteiro

se você ficar sem jeito
deixa eu falar baixinho
pra que ninguém escute
o que há em meu beijo

pode ser o fim do mundo
pode ser o fim que for enfim
só quero aprender com você
o que é o amor pra mim

poema de Fernando Koproski
que foi musicado por Carlos Machado no CD "Longe"
outra canção

quando você vinha
nos meus braços
uma canção acendia
não havia espaço
pra mais nada
era só você e tua dor
e tudo mais escurecia

a tua dor sob o refletor
sempre pareceu maior
mais dor do que a minha

quando você fugia
nos teus braços
uma canção sufocava
não havia espaço
pra mais nada
era só você e teu rancor
e tudo mais ardia

a tua pele sob o cobertor
sempre pareceu calor
mais amor do que devia

na hora da despedida
a tua voz de menina
sempre pareceu flor
num liquidificador
na hora da reconciliação
a tua voz de menina
sempre pareceu mais
maré do que maresia

nos meus braços, então,
já havia outra canção

poema de Fernando Koproski
que foi musicado por Carlos Machado no CD "Longe"

olha só o que o amor fez comigo

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
depois de te convencer
depois de ter até não mais querer

amor te convida a esquecer
amor te quer só como amigo
você é só mais um coração
onde ele entra e sai sem aviso

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
depois de te conhecer
o amor não é mais o mesmo

o amor só pode estar louco
antes de te conhecer o amor era outro
agora pra acabar com teu amor
o amor maior desse mundo é pouco

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
tuas fugas o amor tem seguido
em você o amor tem se escondido

amor pode ser teu pior inimigo
amor, não quero ser como você
não quero ser mais um coração
onde você entra e sai sem aviso

poema de Fernando Koproski
que foi musicado por Carlos Machado no CD "Longe"

o peso da mágoa

para começar um blues no violão
precisa beber inverno em pleno verão
para começar a vazar luz de meu blues
precisa regar de noite a flor da aflição

para começar é preciso secar
a sede de tanta mágoa no coração
senão essa vida não vira mais nada
a não ser esse solo de solidão

a tristeza não é uma disfunção
todo o peso da mágoa em seu peito
não é desculpa pro seu coração
deixar de abrir e acender direito

para dizer o que há em meu peito
eu podia incendiar uma igreja
ou apagar na tua boca uma estrela
mas fazer blues é o meu jeito

um blues é o que faz cauterizar
esse buraco azul em minha canção
por onde você deixou uma dor passar
depois de vazar luz de um coração

Poema de Fernando Koproski
Foi musicado por Carlos Machado no CD "Longe"



canção de amor e ódio

onde você estava que ainda
não notou que em Curitiba
suicida que é suicida ama a vida
só não vê sua paixão correspondida

onde você estava que ainda
não notou que nós passamos a vida
sonhando em se mudar desse lugar
mas quando chega a hora da partida

ah, a gente ainda hesita demais
às vezes diz que vai mas não vai
até que um corvo suspira: nunca mais
e a gente vai pra São José dos Pinhais

mas se o sol hesita, a gente aflita
dessa cidade só pensa em se matar
de vinho, vodka, solidão, neurose
tomo nas veias uma overdose de inverno

e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais

antes que mais uma vez eu repita
Curitiba, um novo toc agora tanto faz
mas dá um tempo nessa obsessão
de fazer eu te levar nas costas, no coração

não espero que você um dia coincida
com minha dor, só quero que você
deixe de ser nos versos convencida
eu sonho em ser eterno só uma vez na vida

Poema inédito de Fernando Koproski




a song that sings butterflies

há borboletas dentro de minha cabeça, querendo sair a
qualquer custo. não as importa o escuro de dentro, mas esse
som que não é música – um ruído que azul as faz flutuar por
todas as possibilidades incontornáveis de dor.
há borboletas se debatendo dentro de minha cabeça.
e não sei o que fazer. hoje elas já amanheceram assim. as
borboletas me olham azuis, as borboletas nascem azuis.
nascem da fragilidade feito a fragilidade fosse flor e não o fim.
a ternura são todas as pétalas do jardim. as borboletas são
entrega de sol ao lago. são sins, são nãos, são talvez. sins de
cisnes em não de noites, talvez a tez que têm todas as flores.
as borboletas, só o que há entre o início e fim dos beijos de
nós dois.

Fernando Koproski
do livro TUDO QUE NÃO SEI SOBRE O AMOR
 
 
um poema de doze de junho

um poema para todos os que acham,
pensam, intuem, percebem,
desconfiam, descobrem,
e não conseguem disfarçar.
um poema para todos os que sabem.
sim porque há os que sabem,
os que sempre souberam.
ah, você sabe...
até mesmo eu sei de vez em quando.
um poema para todos os que dizem,
ou que sem querer falam,
em olhares, acenos, silêncios,
gritos, sussurros ou suspiros,
em cartas, e-mails ou telefonemas.
um poema para todos os que viram
e se lembram em cenas de cinema,
em quadros, fotografias ou letras de música.
um poema para os que falam
como querem as orquestras
ou como querem as orquídeas.
um poema para os que falam
até mesmo em três simples palavras,

o que é, o que foi, e tudo que ainda flor
um amor.

FERNANDO KOPROSKI
do livro Tudo que não sei sobre o amor
há coisas que a gente sente
e decididamente não entende,
outras simplesmente não sente
mas como entende
ou ao menos parece que,
assim como há outras
que se entende,
mesmo que sem querer.

a violenta suavidade das violetas,
o tormento agradável
que tem uma paixão,
os ventos,
até mesmo os violinos
não foram feitos para serem entendidos
vento algum venta
porque precisa ser compreendido
venta apenas porque quer
não porque tem motivo
nuvens, poemas,
às vezes um vôo de passarinho
não importa o que uma brisa for fazer

para um vento quem sabe, sentir
já seja uma forma de entender

(poema do Livro: Tudo que Não Sei sobre o Amor
de Fernando Koproski)


Esse poema do Leonard Cohen faz parte da antologia poética que organizei e traduzi chamada ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7 letras, 2007).

COMO A NÉVOA NÃO DEIXA CICATRIZ

Como a névoa não deixa cicatriz
Nas colinas onde o verde mora,
Assim meu corpo não deixará cicatriz
No seu, nem nunca nem agora.

Quando vento e falcão se encontram,
O que conter depois que comece?
Assim como a gente se encontra,
E depois que se solta, adormece.

Como tantas noites a acontecer
Sem lua, com as estrelas por um triz,
Assim a gente irá acontecer
Quando um de nós não mais se diz.

Poema: Leonard Cohen
Tradução: Fernando Koproski
esse flamenco

é de um encanto agressivo
como tudo que não falado
é escrito
por um amor desesperado

é de uma graça
e de uma agressividade

graça como a de um vestido
que vermelho se abre em pétalas
e agressivo como um olhar
onde as rosas vestem espinhos

é de uma graça
e de uma agressividade
esse flamenco
que faz as rosas despertas

porque vê nos espinhos
um caminho para as pétalas


poema do livro Tudo que não sei sobre o amor de Fernando Koproski
ela me falava que escrever era como morrer sol num mar de
monet eu bebendo minha dor como se fosse saquê ela me falava
que amor não era o que vênus vê mas o que psiquê um dia
pisque eu bebendo minha dor como se fosse whisky ela me
falava que mesmo que matisse mentisse eram flores de luz o que
vincent pensava às cores em contra-ataque eu bebendo minha
dor como se fosse conhaque ela me falava como se cada fala
aonde silêncio falta fosse nosso beijo esculpido por rodin a todo
instante eu bebendo minha dor como se fosse chianti.

quando ela me falava de sua dor, eu já bebendo qualquer coisa.


Fernando Koproski
do livro
Tudo que não sei sobre o amor
 
 


garotas quietas e limpinhas de vestidos xadrez de algodão...
  
todas as que eu conheci são putas, ex-prostitutas,
mulheres loucas. vejo homens com mulheres quietas,
delicadas – eu os vejo em supermercados,
eu os vejo andando na rua juntos,
eu os vejo em seus apartamentos: pessoas em
paz, vivendo juntas. sei que a sua
paz é apenas parcial, mas há
paz, várias horas e dias de paz.

todas as que eu conheci são viciadas em pílulas, alcoólatras,
putas, ex-prostitutas, mulheres loucas.

quando uma parte
outra chega
pior que a anterior.

vejo tantos homens com garotas quietas e limpinhas de
vestidos xadrez de algodão
garotas que não têm cara de onça ou
de predadora.

“jamais apareça com uma puta,” falo para meus
poucos amigos, “eu ia me apaixonar por ela.”

“você não conseguiria suportar uma boa mulher, Bukowski.”

eu preciso de uma boa mulher. preciso de uma boa mulher
mais do que preciso desta máquina de escrever, mais do que
preciso de meu automóvel, mais do que preciso
de Mozart; eu preciso tanto de uma boa mulher que
até posso sentir o gosto dela no ar, posso senti-la
na ponta dos dedos, posso ver se fazerem calçadas
para os seus pés passarem,
posso ver travesseiros para sua cabeça,
posso sentir minha risada à espera,
posso vê-la acariciando um gato,
posso vê-la dormindo,
posso ver os seus chinelos no chão.

eu sei que ela existe
mas nesse mundo, onde ela está
enquanto as putas continuam me encontrando?

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
do livro: ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 LETRAS)

Como tornar-se azul em Curitiba

Como dizer o que essa cidade me significa, escrever o que me torna azul em Curitiba? Seria fácil falar do descaso que há com as diversas formas de autenticidade chamadas amor, beleza ou verdade no que nos procura a poesia nessa cidade.

Seria fácil falar dos céus cinzas que me comprimem dia após dia, espécie de eterno e imperecível teto baixo a céu aberto que me inquieta e aquieta, pois às vezes parece ser o único a entender esse dicionário de distâncias e faltas que se chama tudo o que sinto.

Seria fácil falar das noites, do quanto aquela nada inédita mas ainda insubstituível premissa de morrer de vodka e de versos seria melhor e mais ampla do que aquela outra forma nada estratégica, a de morrer de tédio.

Sim, seria fácil falar que a ausência de mar seja provavelmente a principal responsável por nossa indiferença e individualismo acentuado, talvez a principal suspeita por nossa solidariedade cariada. Sim, seria fácil usar como álibi a ausência de mar dessa cidade como forma de justificar a ausência de céu em nosso mar interior.

Seria bem fácil usar a cômoda e habitual rispidez cinza disfarçada de ausência de mar como testemunha de acusação e de defesa para as usuais ulcerações que aqui acontecem no azul de dentro da gente.

Igualmente, seria fácil falar que apenas essa combinação, ou melhor, viciada simbiose entre a falta de mar e o já esperado excesso de céus cinzas, é quem nos dê a exata medida do que podem os azuis nessa cidade.

Porque há dias em que eles são, mais do que em qualquer outro lugar. Há dias em que esses azuis vêm e permanecem, apesar do desbotamento de alguns olhares, da indisfarçável chuva fina que move a inveja de alguns gestos e da ferrugem que se forma sutil sob o sorriso dos medíocres.

Porque os azuis de Curitiba pertencem às pessoas e não aos lugares, esses azuis permanecem nos poemas apesar de toda aquela timidez e humildade que é tanto impulso quanto espécie de doença crônica em nossos poetas mais autênticos.

Sim, seria fácil falar do azul que Leminski viu cheio de sede dos olhos de Helena, azul dessas manhãs que ninguém percebeu, mas era o mesmo azul das noites bebidas de um só trago naquela interminável rodada de noites de um certo Marcos Prado. Azuis que nos deixam de saideira páginas e mais páginas de tudo o que ainda não nos aprendeu a amar nessa cidade.

Sim, isso tudo seria fácil falar. Mas não agora. Curitiba apenas senta à minha frente e fica. Não precisa dizer mais nada. Um só olhar nesse seu olhar, e meus azuis mais precários se reconhecem. Agora sim, pode falar baixinho, que sou todo ouvidos. De silêncio em silêncio, quem sabe, a gente ainda significa.

Fernando Koproski
do livro Como tornar-se azul em curitiba

Como tornar-se azul em Curitiba

Como dizer o que essa cidade me significa, escrever o que me torna azul em Curitiba? Seria fácil falar do descaso que há com as diversas formas de autenticidade chamadas amor, beleza ou verdade no que nos procura a poesia nessa cidade.

Seria fácil falar dos céus cinzas que me comprimem dia após dia, espécie de eterno e imperecível teto baixo a céu aberto que me inquieta e aquieta, pois às vezes parece ser o único a entender esse dicionário de distâncias e faltas que se chama tudo o que sinto.

Seria fácil falar das noites, do quanto aquela nada inédita mas ainda insubstituível premissa de morrer de vodka e de versos seria melhor e mais ampla do que aquela outra forma nada estratégica, a de morrer de tédio.

Sim, seria fácil falar que a ausência de mar seja provavelmente a principal responsável por nossa indiferença e individualismo acentuado, talvez a principal suspeita por nossa solidariedade cariada. Sim, seria fácil usar como álibi a ausência de mar dessa cidade como forma de justificar a ausência de céu em nosso mar interior.

Seria bem fácil usar a cômoda e habitual rispidez cinza disfarçada de ausência de mar como testemunha de acusação e de defesa para as usuais ulcerações que aqui acontecem no azul de dentro da gente.

Igualmente, seria fácil falar que apenas essa combinação, ou melhor, viciada simbiose entre a falta de mar e o já esperado excesso de céus cinzas, é quem nos dê a exata medida do que podem os azuis nessa cidade.

Porque há dias em que eles são, mais do que em qualquer outro lugar. Há dias em que esses azuis vêm e permanecem, apesar do desbotamento de alguns olhares, da indisfarçável chuva fina que move a inveja de alguns gestos e da ferrugem que se forma sutil sob o sorriso dos medíocres.

Porque os azuis de Curitiba pertencem às pessoas e não aos lugares, esses azuis permanecem nos poemas apesar de toda aquela timidez e humildade que é tanto impulso quanto espécie de doença crônica em nossos poetas mais autênticos.

Sim, seria fácil falar do azul que Leminski viu cheio de sede dos olhos de Helena, azul dessas manhãs que ninguém percebeu, mas era o mesmo azul das noites bebidas de um só trago naquela interminável rodada de noites de um certo Marcos Prado. Azuis que nos deixam de saideira páginas e mais páginas de tudo o que ainda não nos aprendeu a amar nessa cidade.

Sim, isso tudo seria fácil falar. Mas não agora. Curitiba apenas senta à minha frente e fica. Não precisa dizer mais nada. Um só olhar nesse seu olhar, e meus azuis mais precários se reconhecem. Agora sim, pode falar baixinho, que sou todo ouvidos. De silêncio em silêncio, quem sabe, a gente ainda significa.

Fernando Koproski
do livro Como tornar-se azul em curitiba


Esse poema do Leonard Cohen faz parte da antologia poética que organizei e traduzi chamada ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7 letras, 2007).

COMO A NÉVOA NÃO DEIXA CICATRIZ

Como a névoa não deixa cicatriz
Nas colinas onde o verde mora,
Assim meu corpo não deixará cicatriz
No seu, nem nunca nem agora.

Quando vento e falcão se encontram,
O que conter depois que comece?
Assim como a gente se encontra,
E depois que se solta, adormece.

Como tantas noites a acontecer
Sem lua, com as estrelas por um triz,
Assim a gente irá acontecer
Quando um de nós não mais se diz.

Poema: Leonard Cohen
Tradução: Fernando Koproski



Esta é uma letra de música inspirada no inigualável Carnaval em Curitiba, pois como vocês podem imaginar, não há nenhum outro lugar no mundo que faça um carnaval como o daqui....

Um ótimo carnaval para todos!


Carnaval em Curitiba

posso driblar todo ódio
que teu abraço abriga
posso até acabar em rima
o que só acaba em briga

querida, posso até querer
que você me contradiga
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

posso até me arrepender
dessa vida pelo resto da rima
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

é carnaval em Curitiba
mulher, deixa de pose
tua beleza fascista
não me fascina

sinta só o frio
na barriga da passista
até parece ansiedade
mas é chuva fina

é carnaval em Curitiba
nossa polaca mais mulata
pode ser bailarina
mas não nega a neblina

sambando na pista
ela mostra toda a ginga
que a perna ensina
porque é carnaval em Curitiba

com muita blusa de lã
e pinga de antonina
nossa rainha da bateria
quebra o gelo e encara a geada

mas se a gente canta
aí é que a gente dança,
deixa toda a vizinhança
de cara e irritada

mas se a gente samba
a gente ganha confiança,
mostra na base da pinga
a ginga das perna engessada

Fernando Koproski

se aceitássemos –

se aceitássemos o que podemos ver –
as máquinas nos enlouquecendo,
amantes por fim odiando;
este peixe no mercado
olhando fixo pra dentro de nossas mentes;
flores apodrecendo, moscas presas na teia;
tumultos, rugidos de leões enjaulados,
palhaços apaixonados por notas de dinheiro,
nações movendo pessoas como peões;
ladrões à luz do dia da beleza
noturna de esposas e vinhos;
as cadeias lotadas,
os desempregados habituais,
a grama morrendo, fogos baratos;
homens velhos o suficiente para amar a sepultura.

Estas coisas, e outras, em essência
mostram a vida girando sobre um eixo podre.

Mas eles nos deixaram um pouco de música
e um espetáculo estimulante na esquina,
uma dose de uísque, uma gravata azul,
um pequeno livro de poemas de Rimbaud,
um cavalo correndo como se o diabo estivesse
torcendo seu rabo
sobre a grama e gritando, e então,
o amor novamente
como um bonde dobrando a esquina
bem na hora,
a cidade esperando,
o vinho e as flores,
a água caminhando sobre o lago
e verão e inverno e verão e verão
e inverno novamente.

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
poema integrante do livro ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 Letras)


todo mundo ama o Chico

meu amor gosta de Chico Buarque
minha mãe gosta de Chico Buarque
minha irmã não gosta de Chico Buarque
mas ela não gosta de nada mesmo

as crianças gostam de Chico Buarque
as mães, avós, bisavós, filhas, netas, bisnetas,
as noivas, as esposas, as presas e as solteiras
gostam de Chico Buarque

meu bem-te-vi gosta de Chico Buarque
as vizinhas, as conhecidas, as tuas amigas
e até as desgraçadas das inimigas
gostam de Chico Buarque

as mulheres que são muito meninas
as meninas que ainda não são mulheres
e até as mulheres que deixaram de ser mulheres
gostam de Chico Buarque

a tua amada gosta de Chico Buarque
a tua ex-namorada gosta de Chico Buarque
a falecida, aquela que está tão viva,
aquela que você não esquece

aquela que você merece,
aquela que você não merece
e até aquela que você ainda não conhece
gosta de Chico Buarque

a esposa do marido traído gosta de Chico Buarque
o marido traído gosta de Chico Buarque
e até mesmo o marido traído pelo Chico Buarque
gosta de Chico Buarque

o bem-te-vi que me desculpe o blues
mas o que é que eu vou fazer
se são tantas canções azuis
que vêm do meu coração

Chico, eu posso até odiar você
com toda a razão
mas não vou deixar de cantar
com você essa canção

Fernando Koproski



aprendi a escrever com a dor que me ensinaram, aprendi a
escrever com a dor que eu causei. decidi que não quero mais
aprender a sentir o que não for amor.

decidi que não quero mais aprender com a dor o que aprendi
ou ensinei.