quinta-feira, 25 de setembro de 2014

CANÇÃO

A menina nua em prantos
está pensando em meu nome
volvendo e revolvendo
meu nome em bronze
com os mil dedos
de seu corpo
untando seus ombros
com a fragrância lembrada
de minha pele

Oh sou o general
de sua história
conduzindo cavalos majestosos
pelos campos
vestindo trajes de ouro
com o vento em meu torso
o sol na barriga

Possam os pássaros suaves
suaves como uma estória para seus olhos
proteger seu rosto
de meus inimigos
e os pássaros impuros
cujas asas afiadas
foram forjadas em mares metálicos
guardem seu quarto
de meus assassinos

E que a noite a trate com cuidado
as estrelas altas sustentem a palidez
de sua pele descoberta

E possa meu nome em bronze
sempre alcançar seus mil dedos
iluminar-se com suas lágrimas
até que eu esteja fixado como uma galáxia
e memorizado
em seus céus delicados e secretos.
Poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
este poema faz parte da antologia poética “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (7Letras)

à venda, pra todo o Brasil, pelo site das livrarias Curitiba:
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx
Era primavera de 2004 e eu estava finalmente livre. Estar desempregado naquele momento, depois de 11 meses de sadismo e terror, era uma delícia e uma libertação – uma espécie de vinho, nuvens, azul e as aves da arrebentação, tudo em uníssono caminhando pra fazer de mim novamente parte da canção. Foi nessa época que conheci os poemas da Bárbara Lia. E encontrei novas formas de delicadeza que até então eu julgava impossíveis. Os seus poemas eram artefatos únicos, floradas incríveis do jardim da delicadeza numa terra devastada pela decadência, erro e ingratidão. Conforme avançava as páginas, cada imagem que eu lia era um misto de fórmula mágica, pureza e coragem, isto é, muito além do que todos estavam fazendo ou tentando fazer naquela época. Não podia ficar atônito sozinho, aberto àquelas páginas e não fazer nada a respeito. Foi quando a convidei para publicar um livro chamado O SORRISO DE LEONARDO, o seu primeiro livro de poemas. Naquela época eu era co-editor e co-criador da KAFKA – Edições Baratas, e portanto nada mais imperativo do que ver impresso aquele pequeno volume de poemas que tanto me fascinou. Depois desse livro, vieram outros, TODA MULHER MERECE SER DESPIDA do Alexandre França, TORNOZELOS DEITADOS e CECÍLIA ROENDO AS UNHAS do Leprevost, BUQUÊS DE ALFAFA do Jorge Barbosa filho e o meu COMO TORNAR-SE AZUL EM CURITIBA, todos de poesia. Passaram-se 10 anos, vários livros de poemas da Bárbara por outras editoras, e então recebo o seu novo livro, chamado RESPIRAR. No final do volume leio “Este livro nasceu para celebrar os 10 anos da publicação do primeiro livro de Poesia: O sorriso de Leonardo, impresso em 2004, editado por Kafka edições baratas.” E então fico comovido por fazer parte da sua história, Bárbara. Acho que fiz tão pouco... teria feito muito mais se houvesse editoras de verdade nesse estado. Mas apesar de todas as impossibilidades e sacanagens, nós estamos aí – em 2014, vivos e felizes. Eu, de minha parte, posso dizer que estou muito feliz agora, ao ver que grande poeta vc se tornou, a grande poeta que eu sabia que vc era e que tantos mais nesse país já descobriram que você é. A mais alta poesia gira ao redor desse livro, porque orbita ao teu redor com uma naturalidade absurda. Não conheço nenhum outro poeta que alcance as notas tão facilmente e seguramente quanto você. É tanta música e pintura e céu com aquele azul decisivo, que o verso se faz carne e sonho com a mesma desenvoltura. Parabéns por este livro magnífico e que venham mais 10 anos e muitos mais livros. Um abraço do amigo, Fernando Koproski.

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

Leonard Cohen completa 80 anos e lança disco novo
Jonatan Silva para o ParanaOnLine

Neste domingo (21) Leonard Cohen comemora 80 anos. A data, por si só, já é motivo de celebrações e comemorações, não fosse o fato peculiar que o cantor-poeta-compositor canadense lança seu novo disco, Popular problems, na terça-feira (23). O anúncio pegou os fãs de surpresa: o último disco de Cohen, Old ideas, foi lançado há dois anos, intervalo curtíssimo dentro do universo do artista, que já teve hiatos de 10 anos entre um trabalho e outro.

Cohen, que há 20 anos tornou-se monge budista, faz de seus trabalhos – poéticos e musicais – uma ponte entre o sagrado e o profano, flutuando em temas como o amor, o desejo, o suicídio e Deus. O publicitário Diego Zerwes, criador do projeto on line Traduzindo Leonard Cohen, acredita que a carga intelectual da música de Cohen está atrelado ao seu talento e reconhecimento como poeta. “Ele já era criticamente considerado um dos 5 maiores poetas canadenses, ao lado de Irving Layton e do acadêmico Louis Dudek, antes de aventurar no mundo da música. Northrop Frye, famoso crítico e teórico literário canadense, foi um dos que exaltaram sua qualidade poética. O verbo, portanto, se fez antes do acorde”, observou.

A carreira musical começou, justamente, pela impossibilidade de se manter – financeiramente – como poeta. No começo dos anos 60, Cohen viveu na ilha grega de Hidra e pretendia ganhar a vida como escritor, mas a falta de dinheiro e facilidade que tinha para criar boas músicas fez com que migrasse o show business, em uma época em que a literatura beat e o folk de Bob Dylan ganhavam o mundo.
Para o poeta e tradutor Fernando Koproski, que organizou e traduziu a primeira antologia poética publicada no Brasil de Leonard Cohen, Atrás das linhas inimigas de meu amor (7Letras), “assim como a lírica do Bukowski (que não era beat) se volta ao cotidiano com uma linguagem mais explosiva e direta, a lírica do Leonard Cohen também abarca o cotidiano, mas o conquista por qualidades outras, tais como a Sofisticação aliada e moldada a ferro e fogo com a Simplicidade”.

Geografia sentimental

Cohen sempre foi um sedutor – nos mais amplos sentidos e significados da palavra. Homem de muitas mulheres, ele transformou muitas deles em musas para canções e poemas. Suzanne, So long, Marianne – para as amantes de mesmo nome –, Chelsea Hotel #2 – para Janis Joplin – e Waiting for a miracle – uma proposta de casamento para a atriz Rebecca De Mornay – figuram entre as porções mais clássicas da obra do canadense.

Para Koproski, o segredo de Cohen está na abordagem dos temas. A resposta se concentra entre “as vicissitudes dos relacionamentos familiares (em especial a geografia sentimental de altos e baixos e outros acidentes geográficos na relação entre homem e mulher), e sobretudo o mapeamento da condição humana e a relação do homem com Deus da forma com que é continuamente questionada pelo autor, vide sua singular trajetória pessoal e espiritual (de judeu a monge budista)”.

Filho pródigo

A caminhada musical de Cohen é extensa, indo do folk, Songs of Leonard Cohen (1967), ao symph pop, Various positions (1984). No entanto, o momento mágico em sua carreira se deu a primeira década do século XXI, quando após ser roubado pela empresária, o cantor precisou voltar a fazer turnês. Cohen nunca escondeu que não gostava de estar na estrada, mas aqueles shows foram, na sua própria opinião, os melhores que já fez. A crítica e o público também celebraram o retorno do canadense aos palcos.

40 anos de gestação

Cohen é um perfeccionista inveterado. Muitos de seus poemas e músicas levaram anos para ficar prontos. “Hallelujah”, um de seus maiores sucessos, precisou de 5 anos, 80 estrofes e muitos cadernos, para ficar do jeito que seu criador queria. Em Popular problems, a penúltima música “Born in chains” levou 40 anos para ficar pronta e ainda não agradou completamente ao cantor.

“Ela [a letra] esteve circulando por aí 40 anos. Eu a reescrevi várias vezes para acomodar as mudanças em minha posição religiosa”, contou à revista Rolling Stone. Koproski explica esse desejo de criar uma obra perfeita como resultado das experiências do próprio Cohen. “A bagagem de vida que ele traz, não é pra qualquer um”, comentou.

O processo de composição também foi mudando no andar do tempo. Pouco a pouco a Cohen foi deixando de lado o violão – que ele retomaria anos depois – e se dedicando às composições com base eletrônica. “Ele carregava pra todo canto um teclado Casio e foi a partir dele que surgiram as músicas da década de 80. Ele chegou a admitir que compor nessa época era bem mais difícil porque, de certa forma, a tecnologia trazia muitos recursos com os quais era mais difícil de se lidar”, relembrou Zerwes.

I’m your fan

A capacidade de criação de Cohen é também um poder de convencimento. Não são poucos os artistas que se dedicam a reinterpretar as canções do canadense. A primeira pessoa a fazer isso foi Judy Collins. A cantora foi uma espécie de madrinha musical ao gravar “Suzanne”, no disco In my life (1966). O álbum seguinte de Collins, Wildflowers (1967), iria contar com três composições de Cohen: “Sisters of mercy”, “Priests” e “Hey, that’s no way to say goodbye”.

Esse foi o ponto de partida para que nomes de R.E.M. a The House of Love também gravasse o canadense. E foi, justamente, por meio de outros nomes que muitos fãs de Cohen conheceram o ídolo. “Ele foi uma das grandes inspirações do australiano Nick Cave, que possui uma vasta carreira musical, dois romances publicados e roteiros cinematográficos. Inclusive, a primeira música do primeiro álbum de Nick Cave & The Bad Seeds, From Her to Eternity (1984), é um cover de ‘Avalanche do grande bardo”, comentou Zerwes.

Cineastas como Wes Anderson e Oliver Stone também beberam da fonte canadense. Por sinal, foi graças a Assassinos por natureza (1994), de Oliver Stone, que Koproski descobriu o canadense. “Uma música do Cohen abria o filme e outra fechava: ‘The future’ e ‘Waiting for the miracle’, duas canções que até hoje me impressionam pela beleza, audácia e violência de seus versos”, contou o tradutor.

O certo é que, aos 80 anos, Cohen ainda inspira os mais novos e, com os recentes rumores de que ele pode entrar em turnês, a expectativa para que volte aos palcos também ajuda a confirmar o mito.
ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7Letras)
à venda, pra todo o Brasil, pelo site das livrarias Curitiba:

terça-feira, 16 de setembro de 2014

IMAGINO SE MEU IRMÃO ALGUM DIA LESSE ISSO

Imagino se meu irmão algum dia lesse isso. Com certeza ele repudiaria, com gentileza eu espero, ele diria talvez o mar seja tudo o que você disse, uma máquina de sonhos, um olho de vidro e assim por diante, mas mesmo que seja verdade é melhor não dizer. Hoje posso lhe contar algo que nunca soube quando vivia ao seu lado, que é um luxo ser capaz de deixar as coisas não ditas, um luxo compartilhado por poucos. Os filhos do vento e das águas não precisam nomear o que seu sangue já sabe, mas quantos podem dominar essa economia, quantos mais devem arranhar e escavar o mundo de mil maneiras diferentes só para estabelecer uma mínima conexão com suas próprias vidas.
(...)

fragmento do poema de Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski

E pra quem quiser conferir este e outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:


http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Leonard Cohen também tem problemas! Na Sexta, foi meu carro que não pegou por causa da bateria... e agora vejo essa foto do Leo Cohen com o mesmo problema! O que pode a poesia nessa hora? Rsrs... Pensando nisso, posto aqui um poema dele sobre essas coisas que todos nós passamos...

IMAGINO QUANTAS PESSOAS NESSA CIDADE

Imagino quantas pessoas nessa cidade
moram em quartinhos mobiliados.
Quando olho os prédios de madrugada
juro que vejo um rosto em cada janela
que me olha de volta,
e quando me viro
imagino quantos voltam para suas escrivaninhas
e escrevem isto.

poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
E pra quem quiser conferir outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:

http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Saíram 12 poemas meus na grande "Germina - revista de literatura e arte". Meus agradecimentos às editoras! E os poemas estão aqui:
http://www.germinaliteratura.com.br/2014/naberlinda_fernandokoproski_ago14.htm

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Mariana Fonseca fez uma bela leitura sobre o poema "o bluebird" e o livro "Essa loucura roubada" do velho Buk. Está aqui:
http://viescrevi.com/2013/12/10/bluebird-bukowski/#comments

Bluebird [Bukowski]
Lá pelo meio do ano comprei esse livro mas só consegui lê-lo agora que fiquei de férias da faculdade e relaxada o suficiente para ler poesia. Ele é uma seleção de poemas do Bukowski feita e [muito bem] traduzida pelo Fernando Koproski. O livro é dividido em 3 partes por temática, a primeira se chama “Há um lugar no coração“, basicamente são poemas sobre mulheres que o Buk já teve: amores, putas e loucas. A segunda  se chama “Este é meu plano“, fala sobre o ato de escrever e a relação do próprio Bukowski com a poesia, é uma coisa bem metalinguística. Já a terceira parte, minha favorita, se chama “Como uma lua alta sobre a impossibilidade“, é difícil definir um tema mas eu a vi como algo mais existencial e da relação do próprio “eu”.

O velho safado realmente me surpreendeu com sua sensibilidade em alguns desses poemas. São uns 50 no total e eu marquei 8 deles que me tocaram de uma maneira muito delicada. Um deles é o “Bluebird”, que abre a terceira parte do livro. Ele foi o poema que melhor me fez entender o autor e me fez ver um lado que eu não imaginava dele, além de falar de um sentimento que eu nunca tinha realmente parado para pensar sobre antes, mas julgo ser familiar a muitas pessoas.

(…)
em meu coração há um pássaro azul
que quer sair
mas eu sou mais esperto, só o deixo sair
de noite, às vezes
quando todos estão dormindo.
eu falo, sei que você está aí,
então não fique
triste.
daí ponho ele de volta,
mas ele ainda canta um pouco
aqui dentro, eu não o deixei morrer
totalmente
e a gente dorme juntos desse
jeito
com nosso
pacto secreto
e isso é bem capaz de
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, você
chora?

(vi esse vídeo do Buk recitando Bluebird, se alguém quiser escutar fica bem legal o jeito que ele próprio entoa os versos)

Esse poema realmente me despertou um lamento muito grande. Fiquei imaginando como seria miserável viver nessa contradição de não assumir uma característica sua, um traço de personalidade, um sentimento que se tem, ou qualquer coisa assim por medo do que isso causaria se viesse a superfície do seu eu, mas ao mesmo tempo, ser tão apegado a essa coisa, ou lado, ou vontade que simplesmente não se consegue nem sequer tentar mata-lo. E olha que não conseguir mata-lo tentando já é algo bem triste.

Porque, afinal, quando não gostamos de algo, abarreira que costuma nos dificultar a mudança é o hábito que se tinha de praticar o que já não é querido, então não há pena em se matar isso porque não há apego verdadeiro. Mas ser tão apegado assim à coisa para preferir viver de migalhas, saudades e tristezas em vez de simplesmente viver sem isso é algo realmente infeliz. Pela minha interpretação, o Buk se referia a seu Bluebird como sendo seu lado mais sensível, brando, dócil talvez… Características não demonstradas em seus textos e que ele teria medo que se expostas mudassem o jeito que as pessoas o olhassem e ao seu trabalho. (ex. trecho: “fica na tua, você quer me ver em apuros? / você quer sacanear com a minha obra? / acabar com minha venda de livros na Europa?”)

Acho que se tratando de como se lida com seu próprio eu, o caminho mais curto para a infelicidade é ser miserável com os próprios os sentimentos e suas consequentes vontades. Também não acho que a highway para a felicidade seja a abundância da satisfação dessas vontades, afinal racionalidade é fundamental para evitar que caiamos em nossas próprias armadilhas, e para mim um pouco de tristeza e/ou incorformismo fazem pare de uma vida feliz. Mas acho que a plenitude, essa sim, deve ser buscada. Ter coragem para viver com o que realmente se quer, ou pelo menos na melhor das piores hipóteses ter coragem de arrancar isso da sua vida por completo - take it or leave it. Tenho a impressão de que quem faz escolhas apenas “confortávéis”  sempre terá uma vida cheia de “e se”s. Quem sempre busca refúgio em suas escolhas não terá mais do que um refúgio. E há sempre tanto mais do que imaginamos serem as possibilidades.

Depois de toda essa viagem e de ter escapado totalmente do objetivo dessa postagem, vou fechar bruscamente com uma citação do Manoel de Barros porque tô atrasada e esse texto já não tem mais conserto hahaha “Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade, caça, jeito.”

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Taí o disco mais esperado do ano! Leonard Cohen lança “Popular Problems”, seu 13º album. Aqui, a faixa Almost like the blues: https://www.youtube.com/watch?v=9VYXECtjOos&list=UUXWB-kykEYmLveG3Sw0LPOA  E nada mais propício do que lembrar desse grande poeta com um belo poema do “Atrás das linhas inimigas de meu amor”: 

NAS MINHAS MÃOS

Nas minhas mãos
seus seios pequenos
são essas barriguinhas pra cima
dos arfantes pardais caídos ao chão.

Onde quer que você passe
Ouço o som de asas fechando
de asas caindo.

Estou sem fala
porque você caiu ao meu lado
porque seus cílios
são as vértebras de pequeninos e frágeis animais.

Receio o momento
em que seus lábios
comecem a me chamar de caçador.

Quando você me chamar pertinho
para dizer
que seu corpo não é bonito
Quero intimar
os olhos e os lábios ocultos
de pedra e luz e água
para testemunhar contra você.

Quero que eles
libertem
de seus cofres mais secretos
a trêmula rima de seu rosto.

Quando você me chamar pertinho
para dizer
que seu corpo não é bonito
Quero que meu corpo e minhas mãos
se tornem piscinas
para você se mirar e sorrir.

poema de Leonard Cohen
tradução de Fernando Koproski

E pra quem quiser conferir outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx


sábado, 16 de agosto de 2014

hoje é aniversário do velho Buk e pra comemorar um poema propício!

SE ACEITÁSSEMOS –

se aceitássemos o que podemos ver –
as máquinas nos enlouquecendo,
amantes por fim odiando;
este peixe no mercado
olhando fixo pra dentro de nossas mentes;
flores apodrecendo, moscas presas na teia;
tumultos, rugidos de leões enjaulados,
palhaços apaixonados por notas de dinheiro,
nações movendo pessoas como peões;
ladrões à luz do dia da beleza
noturna de esposas e vinhos;
as cadeias lotadas,
os desempregados habituais,
a grama morrendo, fogos baratos;
homens velhos o suficiente para amar a sepultura.

Estas coisas, e outras, em essência
mostram a vida girando sobre um eixo podre.

Mas eles nos deixaram um pouco de música
e um espetáculo estimulante na esquina,
uma dose de uísque, uma gravata azul,
um pequeno livro de poemas de Rimbaud,
um cavalo correndo como se o diabo estivesse
torcendo seu rabo
sobre a grama e gritando, e então,
o amor novamente
como um bonde dobrando a esquina
bem na hora,
a cidade esperando,
o vinho e as flores,
a água caminhando sobre o lago
e verão e inverno e verão e verão
e inverno novamente.

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
da antologia poética ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 Letras)





quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O meu poema "de 5 em 5 minutos" saiu na revista Coyote # 26. Meus agradecimentos aos editores e poetas Ademir Assunção, Rodrigo Garcia Lopes e Marcos Losnak, que já estão há 11 anos na lida de fazer uma revista literária de qualidade nesse país!

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O Cd do Carlão com as nossas composições (Koproski-Machado), vertidas para o espanhol deu na coluna do Luiz Claudio Oliveira (Gazeta do Povo):

Los Amores de Paso – Carlos Machado já apresentou esse show em cidades do Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia, e o transformou em disco que será lançado nesta quinta-feira no Teatro do Paiol, às 20h. A maioria das canções é composta em parceria com Fernando Koproski, que também fez a versão em português de “Hallelujah”. Já as versões para o espanhol foram feitas com auxílio das professoras e tradutoras Nylcéa Pedra e Fernanda Chichorro. O show terá as participações de Marcio Rosa na percussão e Rodrigo Marques, no baixo.

a coluna inteira tá aqui:

http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?id=1489080&tit=Curitiba-hermana-musical-

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O PESO DA MÁGOA

para começar um blues no violão
precisa beber inverno em pleno verão
para começar a vazar luz de meu blues
precisa regar de noite a flor da aflição

para começar é preciso secar
a sede de tanta mágoa no coração
senão essa vida não vira mais nada
a não ser esse solo de solidão

a tristeza não é uma disfunção
todo o peso da mágoa em seu peito
não é desculpa pro seu coração
deixar de abrir e acender direito

para dizer o que há em meu peito
eu podia incendiar uma igreja
ou apagar na tua boca uma estrela
mas fazer blues é o meu jeito

um blues é o que faz cauterizar
esse buraco azul em minha canção
por onde você deixou uma dor passar
depois de vazar luz de um coração

Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras, 2014)


essa é a capa da grande antologia Hiperconexões - Realidade Expandidavol. 2, organização de Luiz Bras, que já está aquecendo no forno... Logo, logo estará nas melhores livrarias de sua cidade!

quinta-feira, 31 de julho de 2014

QUERIA LER

Queria ler
um dos poemas
que me levaram à poesia
Não consigo lembrar um verso
ou onde procurar

O mesmo
aconteceu com dinheiro
garotas e conversas até tarde

Onde estão os poemas
que me afastaram
de tudo que amava

para me deixar aqui
nu diante da idéia de te encontrar?

poema de Leonard Cohen
tradução de Fernando Koproski

E pra quem quiser conferir outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:

http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

Katálogo Koproski nas Livrarias Kuritiba:
http://www.livrariascuritiba.com.br/searchresults.aspx?type=2&dskeyword=FERNANDO+KOPROSKI
Katálogo Koproski nas Livrarias Kultura:
http://pesquisa.livrariacultura.com.br/busca.php?q=fernando+koproski

terça-feira, 29 de julho de 2014

NÃO SE FAZEM MAIS POETAS COMO ANTIGAMENTE

não se fazem mais poetas como antigamente
antes um poeta se alistava na guerra da Grécia,
traficava armas na Abissínia
ou era fuzilado numa vala comum em Granada

antes um poeta era sequestrado por corsários
ou tinha a mão esquerda inutilizada
numa batalha pela Itália

hoje poetas participam de mesas literárias
ou da mais nova antologia,
seus feitos heroicos são seus blogs
e os concursos de poesia

antes um poeta ficava cego
servindo ao exército na África
ou era preso por causa de uma briga
e depois exilado na Índia

antes um poeta quando finalmente
voltava para sua terra
perdia seu amor e riquezas,
tudo que ele tinha num naufrágio

hoje entre um e outro plágio
poetas levam uma vida frágil

onde dar uma palestra na universidade
ou ministrar oficinas de poesia
para a fundação cultural de sua cidade
são suas maiores ousadias

não se fazem mais poetas como antigamente
antes a poesia que vazava das veias
era a mesma que se escrevia,
o mesmo azul incendiado num só grito

antes para um poeta
a pele era o melhor papiro,
sua vida mal cabia num manuscrito

hoje um poeta é apenas isso:
uma música medíocre,
um silêncio pálido e aflito,
um ou outro ruído

e tenho dito

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)