NÃO SE FAZEM MAIS POETAS COMO ANTIGAMENTE
não se fazem mais poetas como antigamente
antes um poeta se alistava na guerra da Grécia,
traficava armas na Abissínia
ou era fuzilado numa vala comum em Granada
antes um poeta era sequestrado por corsários
ou tinha a mão esquerda inutilizada
numa batalha pela Itália
hoje poetas participam de mesas literárias
ou da mais nova antologia,
seus feitos heroicos são seus blogs
e os concursos de poesia
antes um poeta ficava cego
servindo ao exército na África
ou era preso por causa de uma briga
e depois exilado na Índia
antes um poeta quando finalmente
voltava para sua terra
perdia seu amor e riquezas,
tudo que ele tinha num naufrágio
hoje entre um e outro plágio
poetas levam uma vida frágil
onde dar uma palestra na universidade
ou ministrar oficinas de poesia
para a fundação cultural de sua cidade
são suas maiores ousadias
não se fazem mais poetas como antigamente
antes a poesia que vazava das veias
era a mesma que se escrevia,
o mesmo azul incendiado num só grito
antes para um poeta
a pele era o melhor papiro,
sua vida mal cabia num manuscrito
hoje um poeta é apenas isso:
uma música medíocre,
um silêncio pálido e aflito,
um ou outro ruído
e tenho dito
Fernando
Koproski
do
livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)
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