quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Era primavera de 2004 e eu estava finalmente livre. Estar desempregado naquele momento, depois de 11 meses de sadismo e terror, era uma delícia e uma libertação – uma espécie de vinho, nuvens, azul e as aves da arrebentação, tudo em uníssono caminhando pra fazer de mim novamente parte da canção. Foi nessa época que conheci os poemas da Bárbara Lia. E encontrei novas formas de delicadeza que até então eu julgava impossíveis. Os seus poemas eram artefatos únicos, floradas incríveis do jardim da delicadeza numa terra devastada pela decadência, erro e ingratidão. Conforme avançava as páginas, cada imagem que eu lia era um misto de fórmula mágica, pureza e coragem, isto é, muito além do que todos estavam fazendo ou tentando fazer naquela época. Não podia ficar atônito sozinho, aberto àquelas páginas e não fazer nada a respeito. Foi quando a convidei para publicar um livro chamado O SORRISO DE LEONARDO, o seu primeiro livro de poemas. Naquela época eu era co-editor e co-criador da KAFKA – Edições Baratas, e portanto nada mais imperativo do que ver impresso aquele pequeno volume de poemas que tanto me fascinou. Depois desse livro, vieram outros, TODA MULHER MERECE SER DESPIDA do Alexandre França, TORNOZELOS DEITADOS e CECÍLIA ROENDO AS UNHAS do Leprevost, BUQUÊS DE ALFAFA do Jorge Barbosa filho e o meu COMO TORNAR-SE AZUL EM CURITIBA, todos de poesia. Passaram-se 10 anos, vários livros de poemas da Bárbara por outras editoras, e então recebo o seu novo livro, chamado RESPIRAR. No final do volume leio “Este livro nasceu para celebrar os 10 anos da publicação do primeiro livro de Poesia: O sorriso de Leonardo, impresso em 2004, editado por Kafka edições baratas.” E então fico comovido por fazer parte da sua história, Bárbara. Acho que fiz tão pouco... teria feito muito mais se houvesse editoras de verdade nesse estado. Mas apesar de todas as impossibilidades e sacanagens, nós estamos aí – em 2014, vivos e felizes. Eu, de minha parte, posso dizer que estou muito feliz agora, ao ver que grande poeta vc se tornou, a grande poeta que eu sabia que vc era e que tantos mais nesse país já descobriram que você é. A mais alta poesia gira ao redor desse livro, porque orbita ao teu redor com uma naturalidade absurda. Não conheço nenhum outro poeta que alcance as notas tão facilmente e seguramente quanto você. É tanta música e pintura e céu com aquele azul decisivo, que o verso se faz carne e sonho com a mesma desenvoltura. Parabéns por este livro magnífico e que venham mais 10 anos e muitos mais livros. Um abraço do amigo, Fernando Koproski.

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