LIVRO DE FOGO
meu amor, hoje eu taquei fogo naquele livro todo
que escrevi pra você. nada mais justo que isso, ver todos aqueles poemas que
foram fogo depois de anos voltarem a ser fogo novamente e queimarem mais uma
vez.
e ao
ver eles queimarem mais uma vez na minha frente, pensei em como é bom meu verso
não ser mais chama, meu coração não ser mais aquela estúpida e ingênua – ou
seja uma pura e verdadeira – bomba de gasolina prestes a explodir a qualquer
você, a qualquer estilhaço retalho ou papel almaço de você, a qualquer faísca
de promessa de sim, a qualquer ridícula possibilidade de fim. meu amor, como é
bom meu sangue não ser mais o caminho pra você queimar e se alastrar por dentro
de mim.
hoje
eu taquei fogo naquele livro todo que escrevi pra você. não precisei nem riscar
um fósforo. bastou abrir o livro e o fogo começou a queimar pelas bordas das
páginas e ir em direção ao centro. conforme o fogo ia queimando e caminhando
para o centro das páginas, ele ia lendo os versos ardentes que escrevi pra
você.
e
assim ele ia retorcendo as páginas uma a uma, queimando e virando elas aos
poucos, de forma que no fim desse livro de fogo ia formando uma imensa rosa
negra de páginas queimadas, retorcidas umas sobre as outras, cinzas sobre as
cinzas.
sim,
meu amor, essa é a rosa que eu trago pra você agora, feita de pétalas
cauterizadas, acesas e abraçadas e abrasadas e arruinadas em todos os incêndios
alastrados em versos de nosso amor.
vinda
de um jardim ingenuamente inflamável, onde ousei cultivar no mesmo lugar no
mesmo corpo e no mesmo verão esse livro, cheio de flores de fogo da juventude e
de poemas com indiscretas queimaduras de terceiro grau.
Fernando
Koproski
do
livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras)
e
aqui está o livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
outros
livros do autor estão aqui:
e aqui também:
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