esperava viver
e depois então escrever
escrever com liberdade
sobre aquele verão lento em nossos lábios
e só depois então morrer
morrer como eu esperava morrer
quando morria de tanta leveza
morria de silenciosa delicadeza
ao morrer do fogo que é sangue
e do sangue que é fogo
queimando de loucura todas as certezas
pois nessa vida morrer de novo
a minha única e sincera destreza
esperava amar
e só depois morrer
mas morrer do jeito
que eu queria morrer
e não do jeito que os mortos vivem,
não do jeito que os mortos amam,
acordam cedo e apesar do café
ou de toda a sua fé
ficam com sono o resto do dia
e trabalham e trabalham e trabalham
e reclamam
e desperdiçam os melhores dias de suas vidas
enquanto a luz da manhã esmurra suas verdades
o sol do meio-dia soca seus olhos com insistência
e a tarde quando não consegue um nocaute
sempre ganha por pontos no final
porque esse é o jeito que os mortos vivem,
esse é o jeito que os mortos amam:
secando as flores nos vasos
oferecendo água sanitária para os beija-flores
inundando os armários de mágoas e insensatez
escurecendo os olhos da memória
cegando o brilho das fotografias antigas
e gritando e gritando e gritando
toda a loucura e angústia de sua paisagem interior
e proclamando o reinado do egoísmo
e ensurdecendo a música natural dos olhares
e protegendo a covardia
sobretudo mantendo a valiosa incompreensão
e a estúpida preciosidade de seu orgulho
e toda a fragilidade de sua violência
ao abrigo da luz
porque esse é o jeito que os mortos vivem,
o jeito que os mortos amam
aqui
Fernando
Koproski
do
livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras)
e
aqui está o livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
outros
livros do autor estão aqui:
e aqui também:
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