quinta-feira, 31 de julho de 2014

QUERIA LER

Queria ler
um dos poemas
que me levaram à poesia
Não consigo lembrar um verso
ou onde procurar

O mesmo
aconteceu com dinheiro
garotas e conversas até tarde

Onde estão os poemas
que me afastaram
de tudo que amava

para me deixar aqui
nu diante da idéia de te encontrar?

poema de Leonard Cohen
tradução de Fernando Koproski

E pra quem quiser conferir outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:

http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

Katálogo Koproski nas Livrarias Kuritiba:
http://www.livrariascuritiba.com.br/searchresults.aspx?type=2&dskeyword=FERNANDO+KOPROSKI
Katálogo Koproski nas Livrarias Kultura:
http://pesquisa.livrariacultura.com.br/busca.php?q=fernando+koproski

terça-feira, 29 de julho de 2014

NÃO SE FAZEM MAIS POETAS COMO ANTIGAMENTE

não se fazem mais poetas como antigamente
antes um poeta se alistava na guerra da Grécia,
traficava armas na Abissínia
ou era fuzilado numa vala comum em Granada

antes um poeta era sequestrado por corsários
ou tinha a mão esquerda inutilizada
numa batalha pela Itália

hoje poetas participam de mesas literárias
ou da mais nova antologia,
seus feitos heroicos são seus blogs
e os concursos de poesia

antes um poeta ficava cego
servindo ao exército na África
ou era preso por causa de uma briga
e depois exilado na Índia

antes um poeta quando finalmente
voltava para sua terra
perdia seu amor e riquezas,
tudo que ele tinha num naufrágio

hoje entre um e outro plágio
poetas levam uma vida frágil

onde dar uma palestra na universidade
ou ministrar oficinas de poesia
para a fundação cultural de sua cidade
são suas maiores ousadias

não se fazem mais poetas como antigamente
antes a poesia que vazava das veias
era a mesma que se escrevia,
o mesmo azul incendiado num só grito

antes para um poeta
a pele era o melhor papiro,
sua vida mal cabia num manuscrito

hoje um poeta é apenas isso:
uma música medíocre,
um silêncio pálido e aflito,
um ou outro ruído

e tenho dito

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)


terça-feira, 22 de julho de 2014

E continuando a série de “Grandes Escritores, Grandes orelhas”, tenho o maior orgulho de postar hoje a orelha que o querido Rodrigo de Souza Leão fez pra meu livro Nunca Seremos Tão Felizes Como Agora (7letras, 2009):

A poesia de lírica amorosa parecia ter se esgotado no fogo de um tempo onde o amor furtivo e o sexo casual estão cada vez mais em voga. Parecia, mas ainda bem que existem poetas como Fernando Koproski, que mesmo tocando em temática tão abordada na poética moderna, conseguem alcançar enorme êxito e fazem uma renovação e uma revalorização dos modos de escrever a paixão e o relacionamento entre homem e mulher nos dias atuais. Em tempos onde é fácil dizer que ama, mas é difícil encarar de uma forma séria tudo aquilo que o amor dá e tudo aquilo que tira. Encarar a solidão a dois. Desmascará-la. Enfrentar o fogo que arde sem se ver. Aceitar-se enamorado e apaixonado.
O que existe por detrás de cada pensamento encantado? É isso que está no livro Nunca seremos tão felizes como agora. Este que o leitor está abrindo nesta hora pontual, no dia certo, no mês correto e sempre oportuno. E então, estará conhecendo alguns aspectos peculiares da contemporaneidade daquele sentimento que não muda. Ou muda?
Há muito que o homoerotismo vem fazendo um upgrade do tema. Porém faltava tratar a questão com o vigor e o viço da atualidade: mais especificamente no âmbito da relação homem e mulher. Vinicius de Moraes, o poeta da Paixão com P maiúsculo, é uma das influências, não sei se tão angustiadas de Koproski. Mas o projeto do novo poeta paranaense vai além de seguir os passos do mestre. Ele trabalha a linguagem de uma forma diferente e mais próxima do momento em que estamos vivendo. Fragmentação. Descontinuidade. Fugacidade. Tudo isso é tratado de maneira dionisíaca e apolínea. Ora, como se pudéssemos e estivéssemos namorando com nós mesmos. Em outro momento, entregando-nos de forma irremediável ao verdadeiro encontro.
Decerto que Fernando Koproski tem como projeto literário (vide seus livros anteriores) tratar de questões amorosas. Mas também é claro que ele o faz de maneira ímpar. O opúsculo tem poemas em prosa de uma beleza rara e de uma inegável qualidade literária, que está em versos belos como, por exemplo: “minhas asas mutiladas / não sabem ferir / o que eu sinto”. Mentira ou verdade? O poeta finge a dor que deveras sente? O leitor que decida. Enquanto se apodera da grandeza de sua poesia.

Rodrigo de Souza Leão


http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx
Atenção: a campanha da Salva Bicho continua de pé! Pra quem está chegando agora, a cada exemplar do meu livro “Nunca Seremos Tão Felizes Como Agora” comprado na Livrarias Curitiba, estou doando 10 reais às diversas atividades de salvamento e resgate animal empreendidos pela Salva Bicho. Vamos colaborar aí, meus amigos! Vocês podem adquirir um belo livro de literatura brasileira e ainda ajudar uma causa nobre com um só click, sacou?


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segunda-feira, 21 de julho de 2014


MÚSICA DE AMOR

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
depois de te convencer
depois de ter até não mais querer

amor te convida a esquecer
amor te quer só como amigo
você é só mais um coração
onde ele entra e sai sem aviso

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
depois de te conhecer
o amor não é mais o mesmo

o amor só pode estar louco
antes de te conhecer o amor era outro
agora pra acabar com teu amor
o amor maior desse mundo é pouco

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
tuas fugas o amor tem seguido
em você o amor tem se escondido

amor pode ser teu pior inimigo
amor, não quero ser como você
não quero ser mais um coração
onde você entra e sai sem aviso

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)

terça-feira, 15 de julho de 2014

meus caros, fui entrevista pelo jornalista Gustavo Rios sobre as minhas traduções do Charles Bukowski. A entrevista segue abaixo:

O curitibano Fernando Koproski é poeta, letrista e tradutor. Publicou os livros de poemas: Nunca seremos tão felizes como agora (7 Letras, 2009), Retrato do artista quando Primavera (7 Letras, 2014) e Retrato do amor quando verão, outono e inverno (7 Letras, 2014), entre outros. Abaixo, ele conversa conosco sobre o trabalho realizado com os poemas de Charles Bukowski.

GUSTAVO RIOS – Fale um pouco com sua ligação com o Bukowski. As traduções vieram como um simples trabalho ou de fato há uma ligação artística com o “velho safado”?

FERNANDO KOPROSKI – Sim, acho que há uma identificação artística com o velho Buk. No início, como leitor de seus livros de prosa, pois até 2003 não havia no mercado brasileiro nenhuma tradução de seus livros de poesia. E depois, ao longo dos anos 90, havia aquela curiosidade em saber se o autor era realmente poeta, pois sempre referia a si mesmo dessa forma em seus contos e narrativas, quando se colocava na figura do alter-ego Henry Chinaski. Em 2000, quando conheci seus livros de poesia, estava morando fora do país e trabalhava como kitchen porter (lavador de pratos) num restaurante londrino. E então percebi que esta realidade que eu vivia tinha tudo a ver com o cenário dos poemas do velho Buk. Apesar de ser outra realidade, não o cenário americano dos subempregos de 1960-70, a realidade dos subempregos dos anos 2000 na Inglaterra guardava diversas similaridades com a realidade americana tais como a jornada de trabalho longa, pesada e mal remunerada, e principalmente no tocante às relações pessoais, pois certamente havia o mesmo desprezo e preconceito (com estrangeiros) que o empregador tinha para com os seus funcionários que “ralavam” 13 horas por dia nesses subempregos. Diante de tudo isso, a poesia do Buk não só traduzia o meu momento, ela me significava e já me direcionava para uma fuga idealizada dessa realidade opressiva.

G.R. – Citando uma frase sua numa de suas entrevistas, em que você fala que o afastamento das pessoas da poesia tem a ver mais com os poetas que, a priori, se afastam das coisas que significam algo para elas, do que das pessoas em si, você acha que o “sucesso” de Bukowski tem a ver justamente por ele não ter se afastado do sentimento comum do ser humano?

F.K. – Com certeza. Em primeiro lugar devido à temática universal de todo e qualquer ser humano que não tenha nascido em berço de ouro, isto é, a condição social e todos os implicativos existenciais de todo indivíduo que precise trabalhar pra viver, e em segundo lugar devido à linguagem extremamente simples, muito comunicativa e convidativa, é que vejo a eficácia com que a poesia do autor encontra cada vez mais leitores entre nós brasileiros e seja um sucesso não somente aqui, mas em muitos outros países de culturas as mais diferentes.

G.R. – A prosa de Bukowski, assim como sua poesia, parece chamar atenção das pessoas não pelas qualidades literárias em si, mas sim pelo estereótipo que o enquadra como um escritor “underground”. Na sua tradução, pude notar que você buscou ampliar esse horizonte. Ou seja, ainda que tenhamos de fato a presença de tal temática marginal, é fato a escolha de poemas em que enxergamos um Bukowski mais sentimental e “desarmado”. Essa percepção que partiu de você foi intencional? Ou num trabalho de tradução é preciso um distanciamento profissional e apenas buscar a palavra certa na tentativa de transcrever os textos, sem tomar partido?

F.K. - Naturalmente tomei partido nesses dois trabalhos de tradução, tanto na seleção de poemas e tradução da primeira antologia poética “Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (7 Letras, 2005)”, quanto na seleção e tradução dos poemas integrantes da segunda antologia poética “Amor é tudo que nós dissemos que não era (7 Letras, 2012)”. Foi intencional essa minha idéia de mostrar não só o Bukowski comumente conhecido por nós brasileiros (sobretudo por seus livros de prosa, quando é focalizado sob a personagem Chinaski no cenário underground), como também mostrar outros bukowskis: o lírico desencantado, o cantor ultrarrealista, o repórter melancólico e nostálgico das vicissitudes do cotidiano, e também o poeta capaz de escrever coisas ternas e até mesmo sentimentais, mas nunca de forma piegas, sempre com uma visada poeticamente interessante, e muitas vezes igualmente bem humorada.

G.R. Tenho uma teoria esquisita em que digo que, ainda que Charles Bukowski fosse um singelo corretor de seguros que tivesse a sorte de ser publicado, sua literatura, ainda assim, teria qualidades inquestionáveis. O que você acha disso? A vida do escritor nesse caso, caso fosse isolada de sua obra, diminuiria seus méritos. Ou podemos afirmar que o velho Buk seria um escritor notável, caso não tivesse vivido o que viveu?

F.K. – Parece que a sua biografia sempre esteve à serviço de sua literatura, alimentando-a, bombeando gasolina nos incêndios aos quais a alma se aproximava, e se sentia tentada ou então fascinada pela verdade exata, e a beleza e velocidade de queimar do fogo... Acho que vida e literatura nesse caso são indissociáveis. Não que a biografia deva ser reproduzida ipsis literis na obra, pelo contrário, ela existe para ser filtrada, distorcida, amplificada pelo autor conforme seus desejos e “delitos” literários. E caso ele tivesse sido corretor de seguros ao invés de carteiro, boas histórias também não faltariam, pois certamente ele estaria observando e traduzindo outras relações humanas em sua obra...

G.R. – A musicalidade – algo que notei nas traduções feitas – me parece presente em ambos os livros. Você acha que a marca do tradutor deve ditar o ritmo da obra de outro, ou deve se respeitar sem questionamentos a essência de um livro sem mexer em nada?

F.K. – Acho que um poema traduzido para a língua portuguesa, deve soar aos olhos do leitor exatamente (ou o máximo possível) como um poema que tivesse sido escrito originalmente em português. De modo que quando encontro momentos em que posso ou devo adaptar uma imagem (ao invés de simplesmente traduzi-la literalmente) para melhor representar a imagem que o texto original me proporciona, não tenho pudores em “reescrever” aquela passagem do texto em inglês. E se nesse esforço de “reescritura” a musicalidade surge e se faz presente, é porque a poesia do autor me dá essa abertura. Possivelmente a poesia do Bukowski conversa com a minha (a do Fernando Koproski poeta), e por isso às vezes dela se alimenta (através de procedimentos musicais como ritmo, assonâncias etc) ou a alimenta com sua lírica imbatível.

G.R. – E sobre suas obras e projetos futuros? Fale-nos mais sobre eles.

F.K. - Escrevo livros de poemas também. Já publiquei uns 11. E faço letras de música, tenho composições gravadas em parceria com músicos de Curitiba, tais como Carlos Machado, Alexandre França, Renato Quege e Téo Ruiz. Já montei e traduzi uma antologia poética do Leonard Cohen: “Atrás das linhas inimigas de meu amor (7 Letras, 2007)”, outro caso de escolha pessoal e afetiva vinculada ao trabalho de tradução. Mas fundamentalmente me vejo como um escritor de versos... Publiquei 2 livros este ano que acho que “traem e traduzem” bem o Fernando autor. Um se chama “Retrato do artista quando Primavera (7 Letras, 2014)” e o outro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno (7 Letras, 2014)”. E é isso. Como já disseram: para um sonho, uma vida é pouca... Mas a gente insiste no sonho. E de saideira, um poema meu do “Retrato do artista quando Primavera”:

Canção de amor e ódio

onde você estava que ainda
não notou que em Curitiba
suicida que é suicida ama a vida
só não vê sua paixão correspondida

onde você estava que ainda
não notou que nós passamos a vida
sonhando em se mudar desse lugar
mas quando chega a hora da partida

ah, a gente ainda hesita demais
às vezes diz que vai mas não vai
até que um corvo suspira: nunca mais
e a gente vai pra São José dos Pinhais

mas se o sol hesita, a gente aflita
dessa cidade só pensa em se matar
de vinho, vodka, solidão, neurose
tomo nas veias uma overdose de inverno

e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais

antes que mais uma vez eu repita
Curitiba, um novo toc agora tanto faz
mas dá um tempo nessa obsessão
de fazer eu te levar nas costas, no coração

não espero que você um dia coincida
com minha dor, só quero que você
deixe de ser nos versos convencida
eu sonho em ser eterno só uma vez na vida

Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 22 de janeiro de 1973. Publicou os livros de poemas: Manual de ver nuvens(1999); O livro de sonhos (1999); Tudo que não sei sobre o amor(2003), incluindo CD que apresenta leitura de poemas na voz do autor acompanhado pela guitarra flamenca de Luciano Romanelli;Como tornar-se azul em Curitiba (2004); Pétalas, pálpebras e pressas, livro selecionado para publicação pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (2004); Nunca seremos tão felizes como agora (7 Letras, 2009), Retrato do artista quando Primavera (7 Letras, 2014) e Retrato do amor quando verão, outono e inverno (7 Letras, 2014).

Participou das antologias Passagens – antologia de poetas contemporâneos do Paraná (Imprensa oficial do Paraná, 2002) eMoradas de Orfeu (Letras contemporâneas, 2011).

Como tradutor, selecionou, organizou e traduziu as Antologias Poéticas de Charles Bukowski Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (7 Letras, 2005) e Amor é tudo que nós dissemos que não era (7 Letras, 2012), bem como a Antologia Poética de Leonard Cohen Atrás das linhas inimigas de meu amor (7 Letras, 2007).

Lançou o CD Poesia em Desuso, registro ao vivo do recital que fez com o músico e compositor Alexandre França, apresentando poemas autorais, traduções e sua parceria musical, em 2005.

Como letrista, tem composições gravadas por: Beijo AA Força no CD Companhia de Energia Elétrica Beijo AA Força (2003); Alexandre França no CD A solidão não mata, dá a ideia (2006); Casca de Nós no CD Tudo tem recheio (2006); e Carlos Machado nos CDs Tendéu (2008), Samba portátil (2011), Longe (2012),Los amores de paso (2013) e no DVD Longe e outras canções(2013).

Graduado em Letras Inglês pela UFPR, fez mestrado em literatura de língua inglesa na mesma instituição, com a dissertaçãoFlores das Flores para Hitler sobre a obra poética de Leonard Cohen, em 2007.



sexta-feira, 11 de julho de 2014

YOU’RE MY WOMAN

assim que você chegou, eu vi
você é a mulher para mim
porque entre suas pernas, amor
sou todos os sóis que se põem

assim que você voltou, eu vi
você é a mulher para mim
porque entre os seus seios, amor
sou todos os céus que se sonhem

sim, você é a mulher para mim
por ser entre todas as mulheres
todas as mulheres para este homem

sim, você é a mulher para mim
por abrir e fechar meu coração
como uma canção de Leonard Cohen

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)

Tive muita sorte com as orelhas de meus livros. Sempre pude contar com grandes escritores apresentando poemas meus ou traduções que fiz. E o Nelson de Oliveira é um desses escritores incríveis que simplesmente tiraram de ouvido a orelha do livro! Ele fez o texto de ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR, a antologia poética do Leonard Cohen. Sente só:

Os poemas de Leonard Cohen, a grande maioria sobre o amor e o sentimento do sagrado, foram escritos com o indicador numa infinita vidraça. Numa vidraça embaçada pelo hálito do poeta. Ou pelo vapor que escapa das xícaras. Ou pela transpiração dos amantes. Lá fora chove, aqui dentro está abafado e essa vidraça não se abala. Riscada de linhas úmidas, ela permanece sempre onde está, separando do frio fabuloso o tempestuoso gozo.
Talvez os poemas de Leo Cohen não tenham sido originalmente escritos nessas circunstâncias. Talvez a vidraça, a chuva e os amantes sejam apenas fruto da minha imaginação. Mas, já que minha imaginação foi estimulada pelos próprios poemas, então os seus frutos são tão legítimos quanto os da mais disciplinada razão. Sendo assim, fica valendo minha versão dos fatos, mesmo sendo ela pura invenção ou inversão dos fatos. Os poemas justificam toda essa liberdade.
Muita gente não conhece esses poemas. Mas conhece bastante bem a voz grave, áspera e vagarosa — afinada por cinqüenta mil cigarros — desse compositor e intérprete de dezenas de canções sombrias e melancólicas. Canções já clássicas, como Famous blue raincoat, The future e Waiting for the miracle. Canções que, como certos poemas aqui reunidos, tocam o Oriente, as drogas, as portas da percepção, o corpo da mulher amada, o céu e o inferno. “Suas canções cada vez se parecem mais com orações”, afirmou Bob Dylan. Os poemas também se parecem bastante com orações.
Muita gente não conhece esses poemas, essa sinistra liturgia. Mas agora vai conhecer, graças ao cuidadoso trabalho de seleção e tradução de Fernando Koproski. O mesmo Koproski que tempos atrás selecionou e traduziu ótimos poemas do Bukowski. Ótimos poemas que muita gente não conhecia. Do mesmo Bukowski desgrenhado e amassado que torcia o nariz para o elegante e alinhado Cohen. Guarda-roupa à parte, o americano e o canadense se entendem muito bem nos terrenos baldios da lírica.
Koproski recolheu vários poemas da vidraça embaçada e os trouxe pra cá. Para o calor dos trópicos. Para as cidades do verão sem fim. Que subitamente esfriaram, acinzentaram, apagaram os olhos externos para acender os internos. A nuvem de gafanhotos do Credo desceu sobre os edifícios. A montanha de Alguns homens mudou de nome e de dono. O ouro e o marfim d’As flores que deixei no chão taparam os buracos no asfalto. As mágoas e as carruagens d’A Rainha Vitória e eu atrapalharam o trânsito.
Outros fenômenos estranhos, irônicos e eróticos estão ocorrendo. Afinal os anseios carnais e espirituais desse libertino encantador foram trazidos pra cá quase sem aviso. Como eram trazidas, há milênios, as revelações violentas dos velhos profetas.

Nelson de Oliveira

http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx


quinta-feira, 10 de julho de 2014

Quem disse que ter gato não motiva na hora de fazer exercícios? Olha a foto e aprenda mais do incrível mundo “felindo” com esse poema do T.S. Eliot que eu traduzi:

COMO CHAMAR UM GATO

Você já ouviu falar de vários tipos de gatos,
Sobre isso minha opinião é um fato
Não é preciso que um intérprete você seja
Para entender a sua natureza.
Você já viu o suficiente para perceber
Que os gatos são assim como eu e você
E outras pessoas que topamos pela frente
Com ideias as mais diferentes.
Pois se uns são sãos e outros são loucos
Uns são bons e outros nem um pouco
Desde os melhores até o mais ruinzinho
Todos podem caber num versinho.
Você já os viu em vários lugares,
Aprendeu sobre seus nomes peculiares
Seus hábitos e seu habitat nato:
Mas
Como você chamaria um gato?

Só para clarear sua mente, então
Te digo: UM GATO NÃO É UM CÃO.

Cães fingem que gostam de uma boa briga,
Mas nem sempre um latido acaba em mordida
Um cão é mais freqüentemente
O que se pode chamar uma alma transparente.
Mas é claro que não falo de Traquinas,
E de suas incríveis excentricidades caninas.
Um cão da cidade não me aperta o passo,
Mais fácil é ele dar uma de palhaço.
Longe mesmo de ser pretensioso
Um cão dificilmente é um ser orgulhoso.
Tanto que ele não terá do que se queixar
Se em seu queixo você o acariciar
Basta um tapinha ou afago nas costas
Pra ele deitar e rolar do jeito que gosta.
Tão calmo quanto desajeitado,
Um cão responde a qualquer chamado.

Mas devo te lembrar de um fato
Um Cão é um Cão – UM GATO É UM GATO.

Dizem que com eles há um pacto:
Apenas fale quando for chamado.
Mas eu não acredito nesse trato –
Acho que você pode chamar um gato.
Mas tenha em mente uma verdade
Um gato não curte certas intimidades.
Para tanto tiro meu chapéu no ato,
Então chamando-o, EI GATO!
Agora, se for o gato da vizinha
Quem eu encontrar em minha cozinha
Na sala, banheiro ou quarto
Eu o cumprimento assim, PORRA GATO!
Acho que Ronronaldo ele deve se chamar
Mas ainda não chegamos a nos apresentar.
Pois antes que um gato decida do nada
Te tratar como um camarada,
É preciso um pouquinho de agrado
De preferência, com leite achocolatado;
E claro, ter na despensa um tanto
De tortas de maçã ou morango,
Um atum enlatado ou patê de caviar,
Pois ele tem seu próprio paladar.
(Conheço um tal que só gosta de comer
Se tiver nhoque e linguado à dorê,
Ao terminar ele ainda lambe suas patas
Para não desperdiçar o purê de batatas.)
Por isso tudo um gato tem o direito
A cada um destes sinais de respeito.
Só assim com o tempo, homem
Você então possa chamá-lo pelo NOME.

Cada um cada um, cada qual cada qual eu trato:
Pois só assim é que se CHAMA UM GATO.

poema: T. S. Eliot
tradução: Fernando Koproski
O sebo cedeu aos nossos caprichos! agora os livros do Bukowski e doLeonard Cohen estão disponíveis no grande sebo Kapricho, que já está há 8 anos em atividade e conta com 2 belas lojas em Curitiba. Confiram lá!http://www.sebokapricho.com.br/

quarta-feira, 9 de julho de 2014

PARA E.J.P.

Houve um tempo em que acreditava que um só verso
de um poema chinês pudesse mudar
para sempre a forma com que as flores caíam
e que a mesma lua se levantava
sobre a dor dos que choram calados
a fim de flutuar além dos cálices de vinho
Pensava que as invasões se iniciavam com corvos
bicando ossos
as dinastias dispersas e desperdiçadas
para servir à linguagem de uma dor delicada
Pensei que os governantes terminassem seus dias
como suaves monges bêbados
vendo a passagem do tempo na chuva e nas velas
orientados pela peregrinação de um inseto
através da página – tudo
para que se pudesse enviar do exílio uma carta perfeita
a um velho amigo de infância

Escolhi o país da solidão
dividido pelo amor
desprezei a irmandade da guerra
Afiei minha língua na lua laminada
flutuei minha alma em vinho de cereja
um bote perfumado aos Senhores da Memória
para desmaiar sorver sussurrar
seu estoque de chamas
como se além da névoa ao longo das águas
suas meninas ainda os obedecessem
como relógios mutilados por mil anos
(...)

Fragmento do poema de Leonard Cohen
Tradução: Fernando Koproski

E pra quem quiser conferir o poema inteiro
é só adquirir o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
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organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
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http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

nós entramos em julho detonando com tudo. a campanha com a SALVA BICHO está a pleno vapor, a plenos pulmões! ou seja, se vc adquirir o meu livro NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA pela Livrarias Curitiba, estará automaticamente doando 10 reais pra diversas atividades de resgate animal na nossa cidade. confira lá! vc compra um livro de poemas e ainda colabora com uma grande causa:

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notícia para os coyotistas: saiu um poema meu no número 26 da revista Coyote, que é editada pelos amigos Rodrigo G. Lopes, Ademir Assunção e Marcos Losnak!

quarta-feira, 2 de julho de 2014

NUNCA VI OLHOS MAIS BONITOS QUE OS DELE

Ele morreu agora há pouco. Depois de um ano e meio de dores, complicações, cirurgias, infecções, convulsões e sofrimentos. Ele morreu agora há pouco. Depois de 16 anos de alegrias, companheirismo, beleza, lealdade, ternura, coragem, força sincera e forte sinceridade. Ele é o Mailou, o nosso filhocão. Nunca vi olhos mais bonitos que os dele. Nenhum ser humano que eu já tenha visto conseguiu ter a pureza no olhar da maneira que ele tinha. Estou com 41 e posso falar que nesse meu percurso inglório as pessoas boas que eu já encontrei possivelmente deviam ter no máximo 20 ou 30% dessa pureza no olhar. Ouso dizer que as melhores pessoas que eu já conheci nessa vida deviam ter no máximo 40% dessa pureza. Nunca encontrei ninguém que ultrapassasse os 50% de pureza, isto é, a metade da verdade que esse cão tinha no olhar. E hoje esse olhar se afastou de nós assim de repente. Os olhos continuaram abertos, procurando sua dona, aquela por quem ele mais teve amor nessa existência. E ela estava lá, ao lado dele. Assim como sempre esteve, e como sempre estará em seus momentos de maior pureza no coração. Mas pode dormir agora, Mailou. Pode descansar, garoto. Teus olhos já estão bem cansados e agora precisam fechar.

Quando penso em você, eu me lembro do teu brilho tentando me dizer algo, tentando ensinar alguma coisa às impurezas do meu olhar.


Fernando
ficar sem você me pôs
nessa crise de abstinência de versos

hoje todos os beija-flores
acordaram diabéticos

não sei mais o que fazer
sem você os beija-flores
agonizam sob minha pele

em meu corpo todo
suas asas entram em convulsão

os beija-flores escorrem
por minhas veias
despedaçam as suas asas

tentando encontrar
meu coração

hoje acordei assim
numa crise de abstinência de versos

não sei mais o que fazer

há dias que estou com o peito
congestionado de beija-flores

mas as novas belezas
não querem mais saber do amor

as velhas belezas
dirigem clínicas de reabilitação
para novos rimbauds

já os beija-flores
procuram meu coração
para beber todo sol
que morre ali dentro

há dias que eles se debatem
em tudo que vejo

para acabar com esse
congestionamento de azuis
em meu peito,

eu te chamei

eu deixei você entrar
como antes

com teus exércitos da suavidade
a serviço do evangelho
do desejo

o meu único erro
foi deixar você abrir
ele do seu jeito

entre os ferimentos de brisa
e mil estilhaços de vento
em meu peito,

agora não há mais verso
que estanque
em minha boca

o teu beijo

Fernando Koproski
do livro “Nunca seremos tão felizes como agora” (7letras)

http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx