GAZETA DO POVO
CADERNO G - CAPA
PERFIL
As quatro estações da poesia
Tradutor de Leonard Cohen, poeta curitibano Fernando Koproski lança dois livros que encontram olhares singulares em temáticas universais
- 21/04/2014, 00:01
- SANDRO MOSER
- Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo
- Koproski refletido: poetas devem viver e morrer
As duas obras finalizam paradoxalmente a trilogia Um Poeta Deve Morrer, iniciada com a publicação de Nunca Seremos Tão Felizes Quanto Agora (7 Letras, 2009).
Os dois livros, como seus títulos sugerem, têm andamentos e humores diferentes que cinzelam os textos de Koproski no tom de cada uma das estações do ano.
O livro da primavera é um “livro de canções”. Sambas, blues, flamenco, rock. Boa parte dos textos, inclusive, já foi musicada pelo compositor Carlos Machado, um dos parceiros recorrentes do poeta. “Os textos nasceram deste contato com a música, com a canção que precisa ser uma forma clara de poema”, explica.
Escrito predominantemente em versos livres, os poemas são mais líricos e amenos do que os das outras estações. Koproski explica que surgiram de uma “vontade de tentar usar uma linguagem mais clara, mais direta”. “A poesia, muitas vezes, impõe barreiras e obstáculos ao leitor, o que talvez seja um dos motivos que afastam as pessoas”, analisa. No segundo livro, “as outras estações estão em oposição ao estado musical da primavera”, na definição do autor.
O inverno de Koproski traz um percurso familiar carregado de nuvens, de morte com imagens angustiadas e nervosas do desamor. “A cada dia que passa Deus fuma mais compulsivamente. Desde aquela nossa última noite juntos, ele fuma um sol atrás do outro...”. Já o outono é melancólico como um blues, sob forma de poemas em prosa, alguns com temas de preocupação social. O verão serve como um prenúncio de morte, uma exacerbação da harmonia lírica da primavera.
Rock-and-Roll
A poesia de Koproski sabe falar da lua, de mulheres, do amor e de sua frágil e perturbadora instabilidade. Temas que já foram mote de milhares de versos de bons e maus poetas, mas que reaparecem de forma original, sem afetações ou maneirismos melosos. No texto de apresentação de “Primavera”, o também poeta curitibano Antonio Thadeu Woijciechowski reconhece uma “ira santa, um amor bombeando versos no nosso sangue”. Fica clara a influência de autores “sem frescura” como Bukowski, que Koproski também traduziu para o português. “Acho que a poesia me chegou pelas letras das músicas. Foi isso que me forjou”, disse.
Koproski também procura confrontar academicismos e literatices que mutilam a poesia “(... seguindo o procedimento padrão eles tentaram retirar cada um dos seus órgãos, isolaram verso a verso as veias artérias aurículas e ventrículos enfim todo o sistema vascular e circulatório do poema ...).”
E mostra um amadurecimento irônico ao contestar sempre a necessidade de publicar mais um livro de poesia. “Este é um livro feito para ficar encalhado na estante, para durar quando muito um instante”, alerta no texto de abertura do livro.
BIOGRAFIA
Autor é letrista e já traduziu poemas de Bukowski
O escritor, poeta, tradutor e compositor Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 1973. Publicou, além das obras recém-lançadas os livros de poemas Manual de Ver Nuvens (1999), O Livro de Sonhos (1999), Tudo Que Não Sei Sobre o Amor (Travessa dos Editores, 2003), Como Tornar-se Azul em Curitiba(Kafka, 2004) e Nunca Seremos Tão Felizes como Agora (7 Letras, 2009).
Como tradutor, organizou e traduziu as Antologias Poéticas de Charles Bukowski – Essa Loucura Roubada Que Não Desejo a Ninguém a Não Ser Eu Mesmo Amém (7 Letras, 2005) e Amor É Tudo Que Dissemos Que Não Era (7 Letras 2012); e também a antologia poética de Leonard Cohen, Atrás das Linhas Inimigas do Meu Amor (7Letras, 2007). Como letrista de músicas tem composições gravadas por Beijo AA Força, Alexandre França e Carlos Machado.
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