Fernando Koproski: esse
poeta deve viver
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Paraná-Online - Paranaense como você
Publicado
em 02/04/2014 às 00:00:00
Perfil
de Jonatan Silva
Jonatan Silva é formado
em Jornalismo e apaixonado por literatura e cinema. Escreve sobre o hábito
neurótico e pouco ortodoxo de ler.
Em
uma entrevista de 1994, Jô Soares perguntou a Renato Russo se ele era lírico ou
romântico. A resposta saiu feito um tiro: lírico. Passados 20 anos, o poeta curitibano
Fernando Koproski coloca em xeque não só o significado do que é ser lírico ou
romântico, mas também do que é ser poeta em um tempo em que não se fazem mais
amores como antigamente.
Koproski
encerra - com "Retrato do artista quando primavera" e "Retrato
do amor quando verão, outono e inverno" - a trilogia Um poeta deve morrer
- iniciada em 2009 com o livro "Nunca seremos tão felizes como
agora". Os dois volumes de poesia, lançados na semana passada, muito mais
que um conclusão, são, na realidade, uma nova fase, mais madura e consciente do
papel da poesia - e por que não, do poeta? - na sociedade contemporânea.
O
poema que inicia o segundo livro da trilogia dá o ultimato: "O Livro que
não se vende". A brincadeira, entre o livro encalhado na prateleira da
livraria e a poesia não-comercial, aquela realmente não rende ao status quo, já
permite entrever o humor e o lirismo de Koproski nas próximas páginas - o
melhor amálgama entre Bukowski e Cohen, dois autores que já tiveram sua poesia
vertida ao português pelo curitibano.
As Quatro estações
O
templo de um poeta não é somente o corpo de sua musa, mas também o cotidiano,
que o coloca ao lado de qualquer um de nós. "As Flores em greve de
fome" retratam justamente o dia a dia de um poeta moderno, que precisa
deixar seus afazeres literários e lavar a louça, pagar as contas e escolher
cada uma das palavras que irá compor a sua criação, dá mesma forma que a sua
musa escolhe o feijão que alimenta, materialmente, a relação.
Assim
como uma tatuagem, em especial a "Tatuagem" de Chico Buarque, as marcas
do amor estão da pele do casal:
leio toda a sua pele
toda a epiderme das
páginas
desse livro
que sou eu e você
A
poesia de Fernando Koproski, que já serviu de alimento para as canções de Carlos
Machado, Beijo AA Força e Alexandre França, tem lá também seus inimigos e, o
maior adversário, sem dúvida é o impetuoso academicismo poético que brota como
erva daninha nas universidades de todo o mundo. "Universidade federal"
é um recado direto e duro contra todos os que dopam a poesia para tentar
explicá-la, dissecando o poema e acabando por matá-lo.
A
poesia não precisa de rigor, não precisa de rima, precisa de sentimento e desejo;
o poeta não deve ser um escravo da linguagem, como se a escrita fosse uma
ameaça. O papo de Koproski é reto, os "Escravos da linguagem":
vivem em um condomínio
fechado
habitado por rimas
enrugadas,
canções cansadas
estrofes diabéticas
e figuras de linguagem
desfiguradas
"Retrato
do artista quando primavera" é a formalização do vazio que preenche o ser
humano e que o forma, permitindo a contestação do que é o mundo ao redor, mesmo
que mundo acabe em um dia ou acabe em poesia ("As Vezes").
"Cohenrência"
Toda
poesia é uma forma de ensaio, já que aquelas palavras impressas no papel são a
visão de um indivíduo que se permite ver o que o cerca com outros olhos.
Fernando Koproski é, então, um exímio ensaísta, um homem que coleta as imagens
do flerte diário com a poesia, encontrado os temas em tudo - mas não em todos.
E
toda essa coerência vêm de suas influências, que se estendem de rock britânico aos
textos do canadense Leonard Cohen - antes que ele se transformasse em um dos
principais porta-vozes da combinação entre música e poesia -, passa pelo
norte-americano Charles Bukowski e desembocando em lan McEvan.
Todo
esse cabedal permite a ele criar um diálogo entre a sua obra e a de seus
"heróis". "You're my woman", além de uma homenagem à
Ingrid, sua musa, é uma resposta a Cohen e sua canção/poesia “I’m your
man".
A
poesia de Koproski é pautada no real, no palpável, em tudo o que pode ser
sentido e, como não poderia deixar de ser, na dor. "Canção com
obturação" é mais que a representação das feridas, é a balada do perdão em
que a obturação é um remendo necessário para que seja possível a convivência.
Mil e uma noites de
poesia
Koproski
não é nenhum novato, mas sua produção é recheada do vigor que os jovens
possuem. Sem medo de deitar as páginas, ele não se interessa pelo formato em
si, que nada mais é que uma plataforma para os seus pensamentos. "Retrato
do amor quando verão, outono e inverno" é uma versão joyceana das mil e
uma noites, em que o homem perambula, por meio da poesia, pelas ruas de uma
cidade que pode ser Curitiba, mas também pode ser São José dos Pinhais, Dublin
ou Tóquio.
Koproski,
que perambula mas não cambaleia, brinca com a poesia em seus poemas em prosa,
deixando claro que o formato é ínfimo e o que vale mesmo é o que é dito
naquelas linhas. Logo, a essência de tudo é a caminhada, o andar, o
perambular...
Quando sai de casa
ontem, um outdoor me dizia com toda a sua sabedoria que a gente sempre herda o
melhor dos pais.
O
artista plástico Hélio Oiticica dizia que o artista não possui um
"caminho" a seguir, ou seja, todas as direções estão certas, são
corretas e não levam a becos sem saída, porque, acredito eu, em termos de arte,
todo beco sem saída leva a uma vanguarda. A poesia de Koproski caminha por
esses becos que, mesmo escuros - mas nunca obscuros -, permitem a ele e ao
leitor ver o que é luz.
O
poeta anda por temas difíceis como a morte e a angústia que é saber pensar com
um quê de critica. Em "Imensidão azul", todos morrem afogados, seja
em uma banheira como Jim Morrison ou em uma piscina como Brian Jones, mas também
há os que morrem afogados em suas mágoas.
O
poema "O Dia em que a poesia pagar meu plano de saúde" brinca com a
possibilidade de não se ter onde cair morto. Não interessa o quanto um livro é
reproduzido, pode ter vendido "trezentas e cinqüenta e sete mil e duzentas
e noventa três" cópias, o poeta continuará a ser o que é, um criminoso -
por matar as certezas do homem medíocre.
Mas
como diz Koproski, nada mais próprio a um escritor que ser reincidente em um
crime. Melhor ainda, meu caro Koproski, se o crime for triplo.
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-aut-paranaense,product,LV341627,3393.aspx
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-inverno-aut-paranaense,product,LV341626,3393.aspx
livros também disponíveis na livraria Arte e letra (Al. Presidente Taunay, 130, Batel, Curitiba)
ou pela site da editora 7letras:https://www.7letras.com.br/catalogsearch/result/?q=fernando+koproski
ou pela site da editora 7letras:https://www.7letras.com.br/catalogsearch/result/?q=fernando+koproski
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