quinta-feira, 27 de março de 2014

E essa é a orelha feita pelo meu amigo e grande poeta Marcelo Montenegro. O Marcelo roda o país com seu show "tranqueiras líricas", injetando rock 'n' na poesia e destilando a mais pura poesia do rock n'roll. O texto dele abre o meu livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno”:

Fernando Koproski é um poeta que busca entender a si mesmo – e ao outro, e ao mundo – pelo ato de escrever. Alguma espécie de necessidade patológica. Se contarmos com o fato ideal de que leitores buscam algo parecido – e que terão aqui um prato cheio –, caímos na famosa máxima de Platão: “a vida não examinada não vale a pena ser vivida”.

Daí, talvez, este seu esforço de totalidade em plena era do fragmento – junto com Retrato do amor quando verão, outono e inverno, Koproski está lançando também o volume Retrato do artista quando primavera. Temos aqui, pois, o itinerário pessoal-universal de um cara – também letrista e exímio tradutor de autores como Leonard Cohen e Charles Bukowski – que teima em “escrever livros de poesia no Brasil”.

E, cá entre nós, o itinerário de Koproski é um mergulho de peito aberto – até porque ele sabe 1) que não há outro jeito de mergulhar, nem de escrever; 2) que nem poetas, nem poemas – tampouco leitores – “são à prova de vida”; e 3) que convivemos o tempo todo – escrevendo, lendo ou vivendo – com incontáveis “possibilidades de nocaute técnico”.

Munido do “bisturi da solidão” e do amor por Ingrid – mulher, musa, personagem e motivo de tudo –, seu mergulho vai da sabedoria dos outdoors à certeza que “de 5 em 5 minutos novas formas de beleza são inauguradas e perdidas para sempre”; da prosa ao diálogo; da invocação afetiva da família às “canções de amor asfixiadas”; da “dose excessiva de realidade” do Outono às rimas e ritmo precisos do Verão; da singeleza do Inverno – onde todo final de tarde “deus fuma um sol atrás do outro” – ao “dia em que a poesia pagar meu plano de saúde”; de cada “riscada de fósforos/ das cores em seus olhos” à perplexidade diante do cinzento açougue sócio-humano destes tempos. Tudo para voltar à “superfície das páginas/ a fim de nos fazer respirar/ poemas verdadeiros”.

Perpassa todo o livro, aliás, esta espécie de embate nevrálgico entre o poeta como um “missionário da beleza” e a constatação de que a “poesia do mundo fracassou”. Em uma frase? Poetas não se conformam.

Marcelo Montenegro


também disponível na livraria Arte e letra (Al. Presidente Taunay, 130, Batel, Curitiba)

ou pela site da editora 7letras:
https://www.7letras.com.br/catalogsearch/result/?q=fernando+koproski


quarta-feira, 26 de março de 2014


VERÃO DOS VENCIDOS

só queria acabar infinito
no céu aberto de qualquer livro
a me fazer perceber isso:
se vou viver depois de vivo

amor, não sou convencido
às vezes nem sei se consigo
convencer a mim mesmo
de meus delírios ou delitos

os vencedores que fiquem
com suas súplicas e pedidos
a eles prezo o meu desprezo
só sei do meu amor aos vencidos,

aos que têm cacos de vidro
debaixo da pele, entre os ouvidos.
um dia a vida ainda vai ser isso:
noite mais noite o fogo ri o teu brilho

Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras, 2014)

também disponível na livraria Arte e letra (Al. Presidente Taunay, 130, Batel, Curitiba)

ou pela site da editora 7letras:
https://www.7letras.com.br/catalogsearch/result/?q=fernando+koproski



terça-feira, 25 de março de 2014


COMO É DIFÍCIL FAZER UM REFRÃO

se teu coração está com fome
se teu coração está cansado
se teu coração parece que foge
a cada novo machucado

coração, toma cuidado
coração, fica aqui do meu lado
canta pra mim uma canção
alcança pra mim outro coração

se teu coração esfria com razão
se teu coração ferve teu sangue
se teu coração procura outro coração
como uma canção de Neil Young

como é difícil fazer um refrão
quando você não está aqui,
e pra que serve uma canção, se
meu coração não alcança teu coração?

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)

também disponível na livraria Arte e letra (Al. Presidente Taunay, 130, Batel, Curitiba)

ou pela site da editora 7letras:
https://www.7letras.com.br/catalogsearch/result/?q=fernando+koproski




tive a honra e o imenso prazer de ver 2 grandes poetas escrevendo as orelhas dos meus novos livros. São eles: o "polaco da barreirinha" Antonio Thadeu Wojciechowski e o Marcelo Montenegro. puts, eu sou fã desses dois há tempos... e nem mereço tanto. é mais um motivo pra ficar feliz nesse momento.

e aqui nesse post está a orelha que o Thadeu fez pro livro "Retrato do artista quando primavera":

As pétalas de Fernando Koproski quando primavera

Há muito venho dizendo que a ecologia curitibana tem poesia no seu DNA, tem arte em cada cartilagem, nervo, pele, osso, coração e outros miúdos. Sim, é aqui o lugar, a 25° 25' 47" S 49° 16' 19" O, onde entra Fernando Koproski na história da poesia brasileira. Desde 1999, quando lançou Manual de ver nuvens, o cara nunca mais deixou de ser captado pelas minhas antenas. Tradutor de Bukowski e Cohen, letrista, um poeta na sua mais profunda e completa acepção. Gosto da sua levada, do seu lirismo que evoca sempre as mais sagradas emoções, da graça de seus arranjos, dos milagres de seus achados: “o amor não tem mesmo coração/ o amor não foi quem eu pensei que era/ não fui quem o amor pensou que eu fosse/ mas o amor estava à minha espera”.

Tive a alegre honra de ser escolhido para fazer a orelha desse Retrato do artista quando primavera e confesso a vocês que encontrei entre as páginas deste livro um artista completo, maduro, senhor de seus versos e de si mesmo como poeta. Leiam o poema canção pra ser feliz e vocês ouvirão uma música de amor ao compreender que o “amor te convida a esquecer/ amor te quer só como amigo/ você é só mais um coração/ onde ele entra e sai sem aviso”. É difícil citar versos quando se quer viver o livro todo. Intensamente. Em cada palavra, sílaba, som, em tudo e em cada verso sentir o espesso lirismo, o mesmo jardim aberto à flor da pele, o mesmo encantamento pelo amor em sua voz e em seu entendimento dos nossos mais indecifrados sentimentos, poema após poema.

Amor é o seu coração bombeando versos no nosso sangue. É seu pequeno dicionário de azuis, sua ira santa no poema universidade federal, sua melodia de fim de jogo, sua mágica de antes e depois: “mas não morria de tédio/ às vezes morrer demais/ era o único remédio// para eu deixar de viver/ da falta que você faz”. 

Um livro magnífico, para se ler sentindo ou como ele mesmo diz: “cantei a tua solidão na maior altura/ nessa canção pra acabar com teu tédio/ cantei, cantei, cantei porque é minha função/ cantei a tua solidão do andar mais alto do meu prédio”. Um livro que não se vende “porque é poesia/ e poesia todo mundo sabe/ não se vende”. Um livro para ver “pois este não é um olhar de poema/ tampouco um olhar de poeta/ aqui, entre pétalas de silêncio/ apenas o que de nós/ pensa esta página de forma incerta:// sentir teu olhar no meu,/ ainda será minhas obras completas”. Um livro para “escutar uma mulher dançando/ ou calada/ com sua carne de nuvem”. 

Um livro para Ingrid, para mim, para você, para o amor e todas as pétalas que dão sentido e graça às nossas vidas quando primavera.


Antonio Thadeu Wojciechowski 




segunda-feira, 24 de março de 2014


AS FLORES EM GREVE DE FOME

enquanto você me fala
que entre nós
as flores em greve de fome
forçada
o sonho ainda com sede
as gatas ainda com sono
a gente na mesma sintonia
da antena da tevê quebrada

enquanto você me fala
que meus poemas são tão necessários
quanto um relógio parado

ainda penso que mesmo parado
o relógio
marca 2 vezes por dia
a hora certa

enquanto você me fala
sobre dias sem piano
da roupa amassada
da casa desarrumada
do sonho de uma vida inteira

das árvores estourando a calçada
da pia enchendo de pratos
ou da chuva há dias
comandando uma verdadeira invasão
através das goteiras

enquanto você me fala
disso tudo

ao invés de lavar a louça
ainda fico aqui lavando palavras
nessa página em branco
encardindo dia após dia essa página
com meus versos

enquanto você me fala
do livro do amor

o evangelho do desejo
se abre à minha frente
e eu

ainda com as mãos
nas coxas pálidas das páginas

leio com os dedos seu rosto
seus braços suas mãos
seus olhos fechados
acesos

leio com a língua seus joelhos
seu umbigo sua nuca
suas pernas
seus tornozelos

leio toda a sua pele

toda a epiderme das páginas
desse livro

que sou eu e você

enquanto você me fala
que entre nós
as flores,

seus dedos brisam
por minhas costas

e uma suavidade impera
sobre todos os segredos

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)




meus caros, estou lançando 2 novos livros! eles reúnem o que de melhor escrevi de 2007 a 2011, e também fecham a minha trilogia "Um poeta deve morrer", que foi iniciada com o livro "Nunca seremos tão felizes como agora" (2009). são estes osnovos rebentos: "Retrato do artista quando primavera" e "Retrato do amor quando verão, outono e inverno", ambos pela editora 7letras! e dito isso, agora eu brindo com os amigos!

http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-inverno-aut-paranaense,product,LV341626,3393.aspx

http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-aut-paranaense,product,LV341627,3393.aspx

ou pela site da editora:
https://www.7letras.com.br/catalogsearch/result/?q=fernando+koproski

sábado, 15 de março de 2014

a revista cult me entrevistou sobre os 20 anos da morte do velho Buk. e a matéria da Patricia Homsi ficou bem bacana. outros entrevistados são o grande Reinaldo Moraes e o meu amigo Marião. tá aqui:

http://revistacult.uol.com.br/home/2014/03/notas-de-um-velho-safado/


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Notas de um velho safado
Antissocial, misógino, bêbado, tarado: morto há vinte anos, o escritor Charles Bukowski transcende os rótulos que lhe foram atribuídos
Patrícia Homsi
Charles Bukowski
“Sempre fui de perna. Foi a primeira coisa que vi quando nasci. Mas então eu tentava sair. Desde então, tenho me virado no sentido contrário, e com um azar dos diabos”, diz o detetive Belane nas primeiras páginas de Pulp (L&PM, 2009), o último livro de Charles Bukowski, publicado pouco antes de sua morte, em 9 de março de 1994, em decorrência de leucemia. Na ocasião, Belane estava distraído com as pernas de Dona Morte, sentada em seu escritório à procura de Céline – sim, Louis-Ferdinand Céline –, escritor que supostamente havia fugido dela. Dona Morte cruzava as pernas, hipnotizando Belane. Assim como o detetive, Charles Bukowski, nascido na Alemanha em 16 de agosto de 1920 e criado num subúrbio de Los Angeles, parecia distrair-se facilmente diante de um par de pernas femininas.
A fama de velho safado, bêbado e masturbador compulsivo, rendeu a Bukowski críticas e acusações de misoginia durante toda a vida. Numa entrevista em 1988, porém, disse irritado: “Eu simplesmente não transo e pulo de cama em cama. Seria bom poder dizer isso e fingir que eu sou durão, mas não sou”. O autor considerava o tratamento dado às suas personagens masculinas muito pior que às femininas. Para ele, o amor era um “cão dos diabos”, como diz um de seus versos. A aflição acompanhava amor e sexo, prendendo-o numa paixão incontrolável, irracional. Como explica Marcelo Ariel, coordenador do projeto Bukowski 20, idealizado por Ivone Fs em homenagem aos 20 anos sem o autor, “na obra de Bukowski, o amor e o sexo são o triunfo do fracasso”.
Para o velho Buk, era a alma marginal que importava; A essência errante e humana que não via presente em personagens como Mickey Mouse, por exemplo. William Packard, que editou alguns de seus textos, chegou a dizer que o objetivo de Bukowski era uma “desdisneyficação” de seus leitores, guiada por amostras de alma e verdade, coisas que Mickey Mouse não ensinava.
Por explorar o erotismo e as fantasias em torno de mulheres, bem como pela exposição da realidade americana contrária ao american dream, Bukowski foi, por muitos anos, subestimado pela crítica norte-americana. Como explica Fernando Koproski, poeta e tradutor de uma antologia de poemas do autor, os críticos da época eram “mais afeitos ao preciosismo”, em detrimento da poética livre e espontânea de Bukowski.

Charles Bukowski Cru
“Bukowski me chamou a atenção por falar diretamente sobre uma realidade que eu via descortinada exatamente como nos seus textos, isto é, sem firulas e sem frescuras, sem ornamentação desnecessária, artificialismos, psicologismos babacas ou com o ranço de uma linguagem velha e estagnada”, lembra Koproski. Reinaldo Moraes, escritor e tradutor deMulheres (L&PM, 2011), diz que o interessante na obra do velho Buk é precisamente a demonstração real e suburbana dos fatos que o cercavam, sem que fosse necessário embelezar a suja sarjeta: “Chutar o rabo do bom gosto. Extrair poesia do fundo do poço. Essas merdas”.
Para os tradutores, o ambiente retratado por Bukowski guarda na linguagem desafios para a adaptação ao português. Segundo Fernando Koproski, o objetivo de seu trabalho é “escrever um texto em português que contenha similar coloquialidade, simplicidade, lírica e pegada do texto em inglês, sem ser ‘tosco’”. Reinaldo Moraes também se inspira no estilo “coloquial miúdo, rápido, com pegada de boxer do velho Buk”, e confessa a dificuldade na tradução de gírias: “Quase me enforquei tentando traduzir o sistema de apostas no turfe americano da época, com as gírias dos turfistas pés-de-chinelo, por exemplo”.
Bukowski sofreu com ataques violentos do pai desde a infância, exclusão entre os jovens na adolescência e uma crise de acne que lhe deformava o rosto, tudo isso relatado em Misto quente (L&PM, 2005). Sua literatura foi formada nesse cenário imundo da falência do sonho americano e dos subempregos, somado ao ambiente de uma Los Angeles crua e inevitavelmente depressiva. As influências deram origem a relatos da rotina do autor, cujos temas principais, como relembra Ivone Fs, poeta e organizadora do Bukowski 20, eram a “rotina de bebedeiras e ressacas intermináveis, suas histórias amorosas, rodeado de prostitutas, sua paixão pelas corridas de cavalo, sua vida solitária e completamente desregrada”.
Como afirma Mário Bortolotto, dramaturgo, ator e diretor responsável pela montagem teatral de Mulheres, a vida do velho Buk era a “matéria prima” de seu trabalho. A maioria das obras envolve elementos biográficos e ficção juntos, principalmente naquelas em que Bukowski utiliza Henry Chinaski, seu alter ego, como personagem. Reinaldo Moraes explica que, “em geral, na boa literatura, essas instâncias [real e ficcional] se misturam a ponto de a própria versão sobrepujar o fato”.

A turma de Buk
Devido ao uso de relatos autobiográficos sobre a rotina suburbana preenchida com cerveja, Charles Bukowski costumava ser classificado (palavra insuportável para ele) como beat, ao lado de William Burroughs, Allen Ginsberg e Jack Kerouack. “Tanto nele quanto em alguns beats, como [Carl] Solomon e Kerouack, o cotidiano é retratado como parte de uma patologia com alguns surtos de beleza dentro dela”, diz Marcelo Ariel. Mas o fato é que Buk “era um animal antissocial, não fazia parte de grupos”, destaca Bortolotto.
Reinaldo Moraes lembra um relato do autor sobre a vez em que encontrou Burroughs numa feira literária e não sentiu vontade de ir falar com ele (“Aliás, ele detestava feiras literárias. ‘Muita mosca em cima da mesma merda’, ele dizia”). “Os beats da estirpe de Kerouack, Ginsberg e Burroughs eram classe-média universitária. Buk pegava no pesado. Foi funcionário do correio durante anos. Lutou boxe, foi carregador. Outra enfermaria sócio-cultural. Ele sentia a diferença com a devida dose de ressentimento.”
Após o sucesso como escritor, já com cerca de 50 anos, as companhias mais comuns de Buk eram mulheres. Como explica Ivone Fs, “imagine um homem com essa idade tendo a chance de vivenciar todas as suas fantasias e sonhos de adolescente. Elas agora estavam a sua procura. Elas querem conhecer o grande escritor”.
Mesmo com a frequência feminina em sua cama, Bukowski ainda não se adaptara a angustiantes relacionamentos amorosos. “Às vezes, uma cerveja é melhor que amor e sexo – diz o personagem Hank, de Mulheres, em certas horas sombrias”, reflete Reinaldo Moraes. Para Mário Bortolotto, que interpretou Henry Chinaski, “como Domingos de Oliveira ou como o Detetive Mandrake, do Rubem Fonseca, ele amava todas as mulheres do mundo”. De acordo com o velho Buk: “O amor se esgota, pensei ao caminhar de volta ao banheiro, mais rápido do que um jato de esperma”.
Bukowski 20 – Especial II
Onde: 
Cemitério dos Automóveis – Rua Frei Caneca, 384
Quando: 13/03a partir das 20h
Quanto: R$ 5,00

sexta-feira, 14 de março de 2014


e pra quem está acordando agora, hoje é dia da poesia! e eu deixo aqui um agrado para a mulher...

YOU’RE MY WOMAN

assim que você chegou, eu vi
você é a mulher para mim
porque entre suas pernas, amor
sou todos os sóis que se põem

assim que você voltou, eu vi
você é a mulher para mim
porque entre os seus seios, amor
sou todos os céus que se sonhem

sim, você é a mulher para mim
por ser entre todas as mulheres
todas as mulheres para este homem

sim, você é a mulher para mim
por abrir e fechar meu coração
como uma canção de Leonard Cohen

Fernando Koproski


domingo, 9 de março de 2014


o velho Buk nos deixou no 9 de março de 1994. lembro bem desse dia. eu estava no Sheena Bar (pra quem não é de curitiba, hoje lá se chama Chinaski Bar...) e a minha amiga Soraia chegou chorando, com a notícia gritando nos olhos. muita gente não entendeu porque ela estava chorando. e ao mesmo tempo, muita gente entendeu totalmente porque ela estava chorando... eu ainda não conhecia os poemas do velho Buk naquela época. ainda era um leitor de sua prosa somente. mas já intuía que havia poesia ali naquela escrita... hoje faz 20 anos de sua morte e eu carrego muitos de seus poemas na veia, Hank... eles já se misturaram com meu sangue, assim como às vezes as chamas se misturam, embora nasçam de focos de incêndio diferentes...

e agora levanto um brinde a todos os amigos e fãs do velho Buk... é com vcs que eu bebo num trago só esse poema:

SE ACEITÁSSEMOS –

se aceitássemos o que podemos ver –
as máquinas nos enlouquecendo,
amantes por fim odiando;
este peixe no mercado
olhando fixo pra dentro de nossas mentes;
flores apodrecendo, moscas presas na teia;
tumultos, rugidos de leões enjaulados,
palhaços apaixonados por notas de dinheiro,
nações movendo pessoas como peões;
ladrões à luz do dia da beleza
noturna de esposas e vinhos;
as cadeias lotadas,
os desempregados habituais,
a grama morrendo, fogos baratos;
homens velhos o suficiente para amar a sepultura.

Estas coisas, e outras, em essência
mostram a vida girando sobre um eixo podre.

Mas eles nos deixaram um pouco de música
e um espetáculo estimulante na esquina,
uma dose de uísque, uma gravata azul,
um pequeno livro de poemas de Rimbaud,
um cavalo correndo como se o diabo estivesse
torcendo seu rabo
sobre a grama e gritando, e então,
o amor novamente
como um bonde dobrando a esquina
bem na hora,
a cidade esperando,
o vinho e as flores,
a água caminhando sobre o lago
e verão e inverno e verão e verão
e inverno novamente.

Poema: Charles Bukowski
Tradução: Fernando Koproski
do livro
ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-autores,product,LV314866,3406.aspx

http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores,product,LV314864,3406.aspx



quarta-feira, 5 de março de 2014


canção descartável

nessa manhã tão linda
de frio e chuva em Curitiba
ah, você sabe como é...
na quarta-feira de cinza
apaga teu fogo, mulher!

já acabou o carnaval
então tira o samba do pé
mas deixa o brilho no olhar
ah, guarda no guarda-roupa
aquele olhar à queima-roupa

mas tira essa ideia da boca,
e tira esse calor das coxas
e bota o vestido pra lavar
que a vida é pra agora, amor
e eu preciso trabalhar...

f.koproski