terça-feira, 26 de agosto de 2014

Saíram 12 poemas meus na grande "Germina - revista de literatura e arte". Meus agradecimentos às editoras! E os poemas estão aqui:
http://www.germinaliteratura.com.br/2014/naberlinda_fernandokoproski_ago14.htm

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Mariana Fonseca fez uma bela leitura sobre o poema "o bluebird" e o livro "Essa loucura roubada" do velho Buk. Está aqui:
http://viescrevi.com/2013/12/10/bluebird-bukowski/#comments

Bluebird [Bukowski]
Lá pelo meio do ano comprei esse livro mas só consegui lê-lo agora que fiquei de férias da faculdade e relaxada o suficiente para ler poesia. Ele é uma seleção de poemas do Bukowski feita e [muito bem] traduzida pelo Fernando Koproski. O livro é dividido em 3 partes por temática, a primeira se chama “Há um lugar no coração“, basicamente são poemas sobre mulheres que o Buk já teve: amores, putas e loucas. A segunda  se chama “Este é meu plano“, fala sobre o ato de escrever e a relação do próprio Bukowski com a poesia, é uma coisa bem metalinguística. Já a terceira parte, minha favorita, se chama “Como uma lua alta sobre a impossibilidade“, é difícil definir um tema mas eu a vi como algo mais existencial e da relação do próprio “eu”.

O velho safado realmente me surpreendeu com sua sensibilidade em alguns desses poemas. São uns 50 no total e eu marquei 8 deles que me tocaram de uma maneira muito delicada. Um deles é o “Bluebird”, que abre a terceira parte do livro. Ele foi o poema que melhor me fez entender o autor e me fez ver um lado que eu não imaginava dele, além de falar de um sentimento que eu nunca tinha realmente parado para pensar sobre antes, mas julgo ser familiar a muitas pessoas.

(…)
em meu coração há um pássaro azul
que quer sair
mas eu sou mais esperto, só o deixo sair
de noite, às vezes
quando todos estão dormindo.
eu falo, sei que você está aí,
então não fique
triste.
daí ponho ele de volta,
mas ele ainda canta um pouco
aqui dentro, eu não o deixei morrer
totalmente
e a gente dorme juntos desse
jeito
com nosso
pacto secreto
e isso é bem capaz de
fazer um homem
chorar, mas eu não
choro, você
chora?

(vi esse vídeo do Buk recitando Bluebird, se alguém quiser escutar fica bem legal o jeito que ele próprio entoa os versos)

Esse poema realmente me despertou um lamento muito grande. Fiquei imaginando como seria miserável viver nessa contradição de não assumir uma característica sua, um traço de personalidade, um sentimento que se tem, ou qualquer coisa assim por medo do que isso causaria se viesse a superfície do seu eu, mas ao mesmo tempo, ser tão apegado a essa coisa, ou lado, ou vontade que simplesmente não se consegue nem sequer tentar mata-lo. E olha que não conseguir mata-lo tentando já é algo bem triste.

Porque, afinal, quando não gostamos de algo, abarreira que costuma nos dificultar a mudança é o hábito que se tinha de praticar o que já não é querido, então não há pena em se matar isso porque não há apego verdadeiro. Mas ser tão apegado assim à coisa para preferir viver de migalhas, saudades e tristezas em vez de simplesmente viver sem isso é algo realmente infeliz. Pela minha interpretação, o Buk se referia a seu Bluebird como sendo seu lado mais sensível, brando, dócil talvez… Características não demonstradas em seus textos e que ele teria medo que se expostas mudassem o jeito que as pessoas o olhassem e ao seu trabalho. (ex. trecho: “fica na tua, você quer me ver em apuros? / você quer sacanear com a minha obra? / acabar com minha venda de livros na Europa?”)

Acho que se tratando de como se lida com seu próprio eu, o caminho mais curto para a infelicidade é ser miserável com os próprios os sentimentos e suas consequentes vontades. Também não acho que a highway para a felicidade seja a abundância da satisfação dessas vontades, afinal racionalidade é fundamental para evitar que caiamos em nossas próprias armadilhas, e para mim um pouco de tristeza e/ou incorformismo fazem pare de uma vida feliz. Mas acho que a plenitude, essa sim, deve ser buscada. Ter coragem para viver com o que realmente se quer, ou pelo menos na melhor das piores hipóteses ter coragem de arrancar isso da sua vida por completo - take it or leave it. Tenho a impressão de que quem faz escolhas apenas “confortávéis”  sempre terá uma vida cheia de “e se”s. Quem sempre busca refúgio em suas escolhas não terá mais do que um refúgio. E há sempre tanto mais do que imaginamos serem as possibilidades.

Depois de toda essa viagem e de ter escapado totalmente do objetivo dessa postagem, vou fechar bruscamente com uma citação do Manoel de Barros porque tô atrasada e esse texto já não tem mais conserto hahaha “Quem anda no trilho é trem de ferro, sou água que corre entre pedras: liberdade, caça, jeito.”

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Taí o disco mais esperado do ano! Leonard Cohen lança “Popular Problems”, seu 13º album. Aqui, a faixa Almost like the blues: https://www.youtube.com/watch?v=9VYXECtjOos&list=UUXWB-kykEYmLveG3Sw0LPOA  E nada mais propício do que lembrar desse grande poeta com um belo poema do “Atrás das linhas inimigas de meu amor”: 

NAS MINHAS MÃOS

Nas minhas mãos
seus seios pequenos
são essas barriguinhas pra cima
dos arfantes pardais caídos ao chão.

Onde quer que você passe
Ouço o som de asas fechando
de asas caindo.

Estou sem fala
porque você caiu ao meu lado
porque seus cílios
são as vértebras de pequeninos e frágeis animais.

Receio o momento
em que seus lábios
comecem a me chamar de caçador.

Quando você me chamar pertinho
para dizer
que seu corpo não é bonito
Quero intimar
os olhos e os lábios ocultos
de pedra e luz e água
para testemunhar contra você.

Quero que eles
libertem
de seus cofres mais secretos
a trêmula rima de seu rosto.

Quando você me chamar pertinho
para dizer
que seu corpo não é bonito
Quero que meu corpo e minhas mãos
se tornem piscinas
para você se mirar e sorrir.

poema de Leonard Cohen
tradução de Fernando Koproski

E pra quem quiser conferir outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx


sábado, 16 de agosto de 2014

hoje é aniversário do velho Buk e pra comemorar um poema propício!

SE ACEITÁSSEMOS –

se aceitássemos o que podemos ver –
as máquinas nos enlouquecendo,
amantes por fim odiando;
este peixe no mercado
olhando fixo pra dentro de nossas mentes;
flores apodrecendo, moscas presas na teia;
tumultos, rugidos de leões enjaulados,
palhaços apaixonados por notas de dinheiro,
nações movendo pessoas como peões;
ladrões à luz do dia da beleza
noturna de esposas e vinhos;
as cadeias lotadas,
os desempregados habituais,
a grama morrendo, fogos baratos;
homens velhos o suficiente para amar a sepultura.

Estas coisas, e outras, em essência
mostram a vida girando sobre um eixo podre.

Mas eles nos deixaram um pouco de música
e um espetáculo estimulante na esquina,
uma dose de uísque, uma gravata azul,
um pequeno livro de poemas de Rimbaud,
um cavalo correndo como se o diabo estivesse
torcendo seu rabo
sobre a grama e gritando, e então,
o amor novamente
como um bonde dobrando a esquina
bem na hora,
a cidade esperando,
o vinho e as flores,
a água caminhando sobre o lago
e verão e inverno e verão e verão
e inverno novamente.

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
da antologia poética ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 Letras)





quinta-feira, 14 de agosto de 2014

O meu poema "de 5 em 5 minutos" saiu na revista Coyote # 26. Meus agradecimentos aos editores e poetas Ademir Assunção, Rodrigo Garcia Lopes e Marcos Losnak, que já estão há 11 anos na lida de fazer uma revista literária de qualidade nesse país!

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

O Cd do Carlão com as nossas composições (Koproski-Machado), vertidas para o espanhol deu na coluna do Luiz Claudio Oliveira (Gazeta do Povo):

Los Amores de Paso – Carlos Machado já apresentou esse show em cidades do Brasil, Argentina, Uruguai e Colômbia, e o transformou em disco que será lançado nesta quinta-feira no Teatro do Paiol, às 20h. A maioria das canções é composta em parceria com Fernando Koproski, que também fez a versão em português de “Hallelujah”. Já as versões para o espanhol foram feitas com auxílio das professoras e tradutoras Nylcéa Pedra e Fernanda Chichorro. O show terá as participações de Marcio Rosa na percussão e Rodrigo Marques, no baixo.

a coluna inteira tá aqui:

http://www.gazetadopovo.com.br/colunistas/conteudo.phtml?id=1489080&tit=Curitiba-hermana-musical-

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

O PESO DA MÁGOA

para começar um blues no violão
precisa beber inverno em pleno verão
para começar a vazar luz de meu blues
precisa regar de noite a flor da aflição

para começar é preciso secar
a sede de tanta mágoa no coração
senão essa vida não vira mais nada
a não ser esse solo de solidão

a tristeza não é uma disfunção
todo o peso da mágoa em seu peito
não é desculpa pro seu coração
deixar de abrir e acender direito

para dizer o que há em meu peito
eu podia incendiar uma igreja
ou apagar na tua boca uma estrela
mas fazer blues é o meu jeito

um blues é o que faz cauterizar
esse buraco azul em minha canção
por onde você deixou uma dor passar
depois de vazar luz de um coração

Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras, 2014)


essa é a capa da grande antologia Hiperconexões - Realidade Expandidavol. 2, organização de Luiz Bras, que já está aquecendo no forno... Logo, logo estará nas melhores livrarias de sua cidade!

quinta-feira, 31 de julho de 2014

QUERIA LER

Queria ler
um dos poemas
que me levaram à poesia
Não consigo lembrar um verso
ou onde procurar

O mesmo
aconteceu com dinheiro
garotas e conversas até tarde

Onde estão os poemas
que me afastaram
de tudo que amava

para me deixar aqui
nu diante da idéia de te encontrar?

poema de Leonard Cohen
tradução de Fernando Koproski

E pra quem quiser conferir outros poemas de Mr. Cohen
é só procurar o livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7LETRAS),
que é a primeira antologia poética do Leonard Cohen publicada no Brasil,
organizada e traduzida por mim, na qual seleciono poemas de 8 livros desse grande autor e compositor canadense
aqui:

http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

Katálogo Koproski nas Livrarias Kuritiba:
http://www.livrariascuritiba.com.br/searchresults.aspx?type=2&dskeyword=FERNANDO+KOPROSKI
Katálogo Koproski nas Livrarias Kultura:
http://pesquisa.livrariacultura.com.br/busca.php?q=fernando+koproski

terça-feira, 29 de julho de 2014

NÃO SE FAZEM MAIS POETAS COMO ANTIGAMENTE

não se fazem mais poetas como antigamente
antes um poeta se alistava na guerra da Grécia,
traficava armas na Abissínia
ou era fuzilado numa vala comum em Granada

antes um poeta era sequestrado por corsários
ou tinha a mão esquerda inutilizada
numa batalha pela Itália

hoje poetas participam de mesas literárias
ou da mais nova antologia,
seus feitos heroicos são seus blogs
e os concursos de poesia

antes um poeta ficava cego
servindo ao exército na África
ou era preso por causa de uma briga
e depois exilado na Índia

antes um poeta quando finalmente
voltava para sua terra
perdia seu amor e riquezas,
tudo que ele tinha num naufrágio

hoje entre um e outro plágio
poetas levam uma vida frágil

onde dar uma palestra na universidade
ou ministrar oficinas de poesia
para a fundação cultural de sua cidade
são suas maiores ousadias

não se fazem mais poetas como antigamente
antes a poesia que vazava das veias
era a mesma que se escrevia,
o mesmo azul incendiado num só grito

antes para um poeta
a pele era o melhor papiro,
sua vida mal cabia num manuscrito

hoje um poeta é apenas isso:
uma música medíocre,
um silêncio pálido e aflito,
um ou outro ruído

e tenho dito

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)


terça-feira, 22 de julho de 2014

E continuando a série de “Grandes Escritores, Grandes orelhas”, tenho o maior orgulho de postar hoje a orelha que o querido Rodrigo de Souza Leão fez pra meu livro Nunca Seremos Tão Felizes Como Agora (7letras, 2009):

A poesia de lírica amorosa parecia ter se esgotado no fogo de um tempo onde o amor furtivo e o sexo casual estão cada vez mais em voga. Parecia, mas ainda bem que existem poetas como Fernando Koproski, que mesmo tocando em temática tão abordada na poética moderna, conseguem alcançar enorme êxito e fazem uma renovação e uma revalorização dos modos de escrever a paixão e o relacionamento entre homem e mulher nos dias atuais. Em tempos onde é fácil dizer que ama, mas é difícil encarar de uma forma séria tudo aquilo que o amor dá e tudo aquilo que tira. Encarar a solidão a dois. Desmascará-la. Enfrentar o fogo que arde sem se ver. Aceitar-se enamorado e apaixonado.
O que existe por detrás de cada pensamento encantado? É isso que está no livro Nunca seremos tão felizes como agora. Este que o leitor está abrindo nesta hora pontual, no dia certo, no mês correto e sempre oportuno. E então, estará conhecendo alguns aspectos peculiares da contemporaneidade daquele sentimento que não muda. Ou muda?
Há muito que o homoerotismo vem fazendo um upgrade do tema. Porém faltava tratar a questão com o vigor e o viço da atualidade: mais especificamente no âmbito da relação homem e mulher. Vinicius de Moraes, o poeta da Paixão com P maiúsculo, é uma das influências, não sei se tão angustiadas de Koproski. Mas o projeto do novo poeta paranaense vai além de seguir os passos do mestre. Ele trabalha a linguagem de uma forma diferente e mais próxima do momento em que estamos vivendo. Fragmentação. Descontinuidade. Fugacidade. Tudo isso é tratado de maneira dionisíaca e apolínea. Ora, como se pudéssemos e estivéssemos namorando com nós mesmos. Em outro momento, entregando-nos de forma irremediável ao verdadeiro encontro.
Decerto que Fernando Koproski tem como projeto literário (vide seus livros anteriores) tratar de questões amorosas. Mas também é claro que ele o faz de maneira ímpar. O opúsculo tem poemas em prosa de uma beleza rara e de uma inegável qualidade literária, que está em versos belos como, por exemplo: “minhas asas mutiladas / não sabem ferir / o que eu sinto”. Mentira ou verdade? O poeta finge a dor que deveras sente? O leitor que decida. Enquanto se apodera da grandeza de sua poesia.

Rodrigo de Souza Leão


http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx
Atenção: a campanha da Salva Bicho continua de pé! Pra quem está chegando agora, a cada exemplar do meu livro “Nunca Seremos Tão Felizes Como Agora” comprado na Livrarias Curitiba, estou doando 10 reais às diversas atividades de salvamento e resgate animal empreendidos pela Salva Bicho. Vamos colaborar aí, meus amigos! Vocês podem adquirir um belo livro de literatura brasileira e ainda ajudar uma causa nobre com um só click, sacou?


http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx

segunda-feira, 21 de julho de 2014


MÚSICA DE AMOR

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
depois de te convencer
depois de ter até não mais querer

amor te convida a esquecer
amor te quer só como amigo
você é só mais um coração
onde ele entra e sai sem aviso

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
depois de te conhecer
o amor não é mais o mesmo

o amor só pode estar louco
antes de te conhecer o amor era outro
agora pra acabar com teu amor
o amor maior desse mundo é pouco

olha só o que o amor fez comigo
olha só o que o amor fez com você
tuas fugas o amor tem seguido
em você o amor tem se escondido

amor pode ser teu pior inimigo
amor, não quero ser como você
não quero ser mais um coração
onde você entra e sai sem aviso

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)

terça-feira, 15 de julho de 2014

meus caros, fui entrevista pelo jornalista Gustavo Rios sobre as minhas traduções do Charles Bukowski. A entrevista segue abaixo:

O curitibano Fernando Koproski é poeta, letrista e tradutor. Publicou os livros de poemas: Nunca seremos tão felizes como agora (7 Letras, 2009), Retrato do artista quando Primavera (7 Letras, 2014) e Retrato do amor quando verão, outono e inverno (7 Letras, 2014), entre outros. Abaixo, ele conversa conosco sobre o trabalho realizado com os poemas de Charles Bukowski.

GUSTAVO RIOS – Fale um pouco com sua ligação com o Bukowski. As traduções vieram como um simples trabalho ou de fato há uma ligação artística com o “velho safado”?

FERNANDO KOPROSKI – Sim, acho que há uma identificação artística com o velho Buk. No início, como leitor de seus livros de prosa, pois até 2003 não havia no mercado brasileiro nenhuma tradução de seus livros de poesia. E depois, ao longo dos anos 90, havia aquela curiosidade em saber se o autor era realmente poeta, pois sempre referia a si mesmo dessa forma em seus contos e narrativas, quando se colocava na figura do alter-ego Henry Chinaski. Em 2000, quando conheci seus livros de poesia, estava morando fora do país e trabalhava como kitchen porter (lavador de pratos) num restaurante londrino. E então percebi que esta realidade que eu vivia tinha tudo a ver com o cenário dos poemas do velho Buk. Apesar de ser outra realidade, não o cenário americano dos subempregos de 1960-70, a realidade dos subempregos dos anos 2000 na Inglaterra guardava diversas similaridades com a realidade americana tais como a jornada de trabalho longa, pesada e mal remunerada, e principalmente no tocante às relações pessoais, pois certamente havia o mesmo desprezo e preconceito (com estrangeiros) que o empregador tinha para com os seus funcionários que “ralavam” 13 horas por dia nesses subempregos. Diante de tudo isso, a poesia do Buk não só traduzia o meu momento, ela me significava e já me direcionava para uma fuga idealizada dessa realidade opressiva.

G.R. – Citando uma frase sua numa de suas entrevistas, em que você fala que o afastamento das pessoas da poesia tem a ver mais com os poetas que, a priori, se afastam das coisas que significam algo para elas, do que das pessoas em si, você acha que o “sucesso” de Bukowski tem a ver justamente por ele não ter se afastado do sentimento comum do ser humano?

F.K. – Com certeza. Em primeiro lugar devido à temática universal de todo e qualquer ser humano que não tenha nascido em berço de ouro, isto é, a condição social e todos os implicativos existenciais de todo indivíduo que precise trabalhar pra viver, e em segundo lugar devido à linguagem extremamente simples, muito comunicativa e convidativa, é que vejo a eficácia com que a poesia do autor encontra cada vez mais leitores entre nós brasileiros e seja um sucesso não somente aqui, mas em muitos outros países de culturas as mais diferentes.

G.R. – A prosa de Bukowski, assim como sua poesia, parece chamar atenção das pessoas não pelas qualidades literárias em si, mas sim pelo estereótipo que o enquadra como um escritor “underground”. Na sua tradução, pude notar que você buscou ampliar esse horizonte. Ou seja, ainda que tenhamos de fato a presença de tal temática marginal, é fato a escolha de poemas em que enxergamos um Bukowski mais sentimental e “desarmado”. Essa percepção que partiu de você foi intencional? Ou num trabalho de tradução é preciso um distanciamento profissional e apenas buscar a palavra certa na tentativa de transcrever os textos, sem tomar partido?

F.K. - Naturalmente tomei partido nesses dois trabalhos de tradução, tanto na seleção de poemas e tradução da primeira antologia poética “Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (7 Letras, 2005)”, quanto na seleção e tradução dos poemas integrantes da segunda antologia poética “Amor é tudo que nós dissemos que não era (7 Letras, 2012)”. Foi intencional essa minha idéia de mostrar não só o Bukowski comumente conhecido por nós brasileiros (sobretudo por seus livros de prosa, quando é focalizado sob a personagem Chinaski no cenário underground), como também mostrar outros bukowskis: o lírico desencantado, o cantor ultrarrealista, o repórter melancólico e nostálgico das vicissitudes do cotidiano, e também o poeta capaz de escrever coisas ternas e até mesmo sentimentais, mas nunca de forma piegas, sempre com uma visada poeticamente interessante, e muitas vezes igualmente bem humorada.

G.R. Tenho uma teoria esquisita em que digo que, ainda que Charles Bukowski fosse um singelo corretor de seguros que tivesse a sorte de ser publicado, sua literatura, ainda assim, teria qualidades inquestionáveis. O que você acha disso? A vida do escritor nesse caso, caso fosse isolada de sua obra, diminuiria seus méritos. Ou podemos afirmar que o velho Buk seria um escritor notável, caso não tivesse vivido o que viveu?

F.K. – Parece que a sua biografia sempre esteve à serviço de sua literatura, alimentando-a, bombeando gasolina nos incêndios aos quais a alma se aproximava, e se sentia tentada ou então fascinada pela verdade exata, e a beleza e velocidade de queimar do fogo... Acho que vida e literatura nesse caso são indissociáveis. Não que a biografia deva ser reproduzida ipsis literis na obra, pelo contrário, ela existe para ser filtrada, distorcida, amplificada pelo autor conforme seus desejos e “delitos” literários. E caso ele tivesse sido corretor de seguros ao invés de carteiro, boas histórias também não faltariam, pois certamente ele estaria observando e traduzindo outras relações humanas em sua obra...

G.R. – A musicalidade – algo que notei nas traduções feitas – me parece presente em ambos os livros. Você acha que a marca do tradutor deve ditar o ritmo da obra de outro, ou deve se respeitar sem questionamentos a essência de um livro sem mexer em nada?

F.K. – Acho que um poema traduzido para a língua portuguesa, deve soar aos olhos do leitor exatamente (ou o máximo possível) como um poema que tivesse sido escrito originalmente em português. De modo que quando encontro momentos em que posso ou devo adaptar uma imagem (ao invés de simplesmente traduzi-la literalmente) para melhor representar a imagem que o texto original me proporciona, não tenho pudores em “reescrever” aquela passagem do texto em inglês. E se nesse esforço de “reescritura” a musicalidade surge e se faz presente, é porque a poesia do autor me dá essa abertura. Possivelmente a poesia do Bukowski conversa com a minha (a do Fernando Koproski poeta), e por isso às vezes dela se alimenta (através de procedimentos musicais como ritmo, assonâncias etc) ou a alimenta com sua lírica imbatível.

G.R. – E sobre suas obras e projetos futuros? Fale-nos mais sobre eles.

F.K. - Escrevo livros de poemas também. Já publiquei uns 11. E faço letras de música, tenho composições gravadas em parceria com músicos de Curitiba, tais como Carlos Machado, Alexandre França, Renato Quege e Téo Ruiz. Já montei e traduzi uma antologia poética do Leonard Cohen: “Atrás das linhas inimigas de meu amor (7 Letras, 2007)”, outro caso de escolha pessoal e afetiva vinculada ao trabalho de tradução. Mas fundamentalmente me vejo como um escritor de versos... Publiquei 2 livros este ano que acho que “traem e traduzem” bem o Fernando autor. Um se chama “Retrato do artista quando Primavera (7 Letras, 2014)” e o outro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno (7 Letras, 2014)”. E é isso. Como já disseram: para um sonho, uma vida é pouca... Mas a gente insiste no sonho. E de saideira, um poema meu do “Retrato do artista quando Primavera”:

Canção de amor e ódio

onde você estava que ainda
não notou que em Curitiba
suicida que é suicida ama a vida
só não vê sua paixão correspondida

onde você estava que ainda
não notou que nós passamos a vida
sonhando em se mudar desse lugar
mas quando chega a hora da partida

ah, a gente ainda hesita demais
às vezes diz que vai mas não vai
até que um corvo suspira: nunca mais
e a gente vai pra São José dos Pinhais

mas se o sol hesita, a gente aflita
dessa cidade só pensa em se matar
de vinho, vodka, solidão, neurose
tomo nas veias uma overdose de inverno

e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais
e sonho em ser eterno uma vez mais

antes que mais uma vez eu repita
Curitiba, um novo toc agora tanto faz
mas dá um tempo nessa obsessão
de fazer eu te levar nas costas, no coração

não espero que você um dia coincida
com minha dor, só quero que você
deixe de ser nos versos convencida
eu sonho em ser eterno só uma vez na vida

Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 22 de janeiro de 1973. Publicou os livros de poemas: Manual de ver nuvens(1999); O livro de sonhos (1999); Tudo que não sei sobre o amor(2003), incluindo CD que apresenta leitura de poemas na voz do autor acompanhado pela guitarra flamenca de Luciano Romanelli;Como tornar-se azul em Curitiba (2004); Pétalas, pálpebras e pressas, livro selecionado para publicação pela Secretaria de Estado da Cultura do Paraná (2004); Nunca seremos tão felizes como agora (7 Letras, 2009), Retrato do artista quando Primavera (7 Letras, 2014) e Retrato do amor quando verão, outono e inverno (7 Letras, 2014).

Participou das antologias Passagens – antologia de poetas contemporâneos do Paraná (Imprensa oficial do Paraná, 2002) eMoradas de Orfeu (Letras contemporâneas, 2011).

Como tradutor, selecionou, organizou e traduziu as Antologias Poéticas de Charles Bukowski Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (7 Letras, 2005) e Amor é tudo que nós dissemos que não era (7 Letras, 2012), bem como a Antologia Poética de Leonard Cohen Atrás das linhas inimigas de meu amor (7 Letras, 2007).

Lançou o CD Poesia em Desuso, registro ao vivo do recital que fez com o músico e compositor Alexandre França, apresentando poemas autorais, traduções e sua parceria musical, em 2005.

Como letrista, tem composições gravadas por: Beijo AA Força no CD Companhia de Energia Elétrica Beijo AA Força (2003); Alexandre França no CD A solidão não mata, dá a ideia (2006); Casca de Nós no CD Tudo tem recheio (2006); e Carlos Machado nos CDs Tendéu (2008), Samba portátil (2011), Longe (2012),Los amores de paso (2013) e no DVD Longe e outras canções(2013).

Graduado em Letras Inglês pela UFPR, fez mestrado em literatura de língua inglesa na mesma instituição, com a dissertaçãoFlores das Flores para Hitler sobre a obra poética de Leonard Cohen, em 2007.



sexta-feira, 11 de julho de 2014

YOU’RE MY WOMAN

assim que você chegou, eu vi
você é a mulher para mim
porque entre suas pernas, amor
sou todos os sóis que se põem

assim que você voltou, eu vi
você é a mulher para mim
porque entre os seus seios, amor
sou todos os céus que se sonhem

sim, você é a mulher para mim
por ser entre todas as mulheres
todas as mulheres para este homem

sim, você é a mulher para mim
por abrir e fechar meu coração
como uma canção de Leonard Cohen

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)