segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Caros amigos, vocês já fizeram poemas de encomenda? Eu fiz um a pedido de um amigo que esqueceu o aniversário da sogra... Na ocasião, ele disse que (de cachê) me daria uma churrascada e compraria 40 LIVROS de minha autoria (pra dar de presente pra seus amigos). Bem, eu fiz o poema e, graças a esses versinhos, ele se redimiu com sua sogra... Mas eu, até hoje, estou esperando esse cachê... Quando é que vc vai comprar meus livros, Renato?

POEMA DE ENCOMENDA

Ontem à noite meu amigo Renato
Pediu um poema de encomenda
Disse que pagaria o que eu pedisse
Mas meus poemas não estão à venda

Mesmo assim Renato insistiu
Pra que eu escrevesse um poema
Nem pra ele, nem pra sua amada,
A sua sogra é que era o tema

Cara sogra do Renato, não tema
Renato não me pediu odes ou elegias
Na hora de passar o serviço, falou
– Dessa vez, escreva coisas bonitas!

– Diga que eu queria dar de presente
Um poema para minha sogra querida
Mas não floreie demais, nem invente
Só diga que sou o melhor pra sua filha

E assim o amigo me intimou a escrever
Um poema em plena madrugada, ah, Renato
Ao invés de fazer arte com meu sangue
O que acha de dar pra ela um artesanato?

Seria bem mais simples, rápido e barato
Mas não, você quer um poema, só um poema
Eu também queria um poema, meu caro
Mas os poemas não vêm quando eu queira

Eles aparecem só quando têm vontade
E pouco se importam com o que penso
Mas dessa vez eu estou na vantagem
O poema não é pra mim desde o começo

O poema é para sua sogra querida
E isso já é meio caminho andado pra rima
Uma mulher que teve como filha
Aquela que seria o amor da sua vida

Ah, é claro que merece um poema!
Pois a Mariana não é só a tua direção
A Mariana é quem fez de você, Renato
Um homem à altura do teu coração

Por isso, e só por isso que escrevo
Agora um poema pra ti, Dona Ceci
Um poema a pedido do Renato
Pelo simples desejo de te ver feliz


Fernando Koproski


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013


TUDO MENOS ESCREVER POESIA

tudo menos escrever poesia
como essa poesia que ganha prêmios literários
e ter que diluir uma espécie de escrita
falsa, morta, praticamente enterrada viva
em versos mortos, retos, milimétricos, sem energia,
sem verdade, sem vento, sem luz nas veias
e vias respiratórias, sem o gosto do agora ou suas alergias
e ter que escrever uma poesia indigna
que se filia a uma longa tradição
de seduzir os medíocres e encantar os mercenários
que concedem os prêmios literários

tudo menos ter que aceitar ou açoitar
os que mutilaram os braços da incompreensão
tudo menos ter que afogar
ou afagar os que asfixiaram girassóis,
os que amordaçaram a pureza do fogo no peito,
os que tentaram mastigar
ou desmerecer a velocidade da beleza
do fogo no beijo

tudo menos ter que respirar
com a cabeça e pensar com o pulmão
e sentir com o sangue
e compreender com o suor
e aprender e ensinar com as lágrimas
e não saber com o coração

tudo menos derreter icebergs
para ensinar ao urso-polar a solidão
tudo menos nunca ter que perdoar
aqueles que nunca pediram perdão

tudo menos ter que cantar
nesse buraco inconstante na página:
as paredes de papel,
os carros, ambulâncias e emergências de papel,
os desesperos, agonias e impaciências de papel,
as flores, telhados, manhãs e memórias de papel,
as intimidades, silêncios, pressas e olhares de papel,
as indiscrições, vaidades, prêmios e menções horrorosas de papel,
os outonos e lágrimas e suor e sangue de papel
de todas as pessoas de papel
que se esforçam para embalar
ou mesmo blindar
com plástico o seu peito
à espera de andar, dormir e acordar
confortavelmente
com corações de plástico
que nunca irão se decompor na paisagem

Fernando Koproski

poema publicado na antologia “Moradas de Orfeu” (Editora Letras Contemporâneas)

sexta-feira, 20 de setembro de 2013

21 de setembro é aniversário do Leo Cohen. Ele está fazendo 79 anos! E a sua vida e obra são centenas de canções e poemas que transcendem a mera apreciação estética. Acho que quando se escreve com o sangue, os livros são vivos e feitos de carne... E como essa carne às vezes se revela frágil, mais frágil do que deveria, não me admira que haja tanta cicatriz entre os seus versos... Mas como ele mesmo já disse: “Crianças mostram cicatrizes como se fossem medalhas. Amantes as utilizam como segredos a serem revelados. Uma cicatriz é o que acontece quando a palavra se torna carne”. Parabéns, Leo! Com essas minhas pobres ‘palavras de carne’, levanto agora um brinde pra vc!


segunda-feira, 16 de setembro de 2013

POEMA DE ANIVERSÁRIO PARA O AMIGO
QUE MORA DO OUTRO LADO

faz 13 anos, Quatti
e eu ainda lembro da tua voz
do teu jeito, da tua cara
lembro de todos nós

sóbrios e fazendo merda
bebendo e batendo carros
e você tirando sarro
da minha cara,

rindo das roubadas
em que eu me metia
rindo do mau gosto
da minha angústia

rindo da irrelevância
da minha dor
ou do despropósito
de minha melancolia

rindo dos estúpidos cortes da paixão,
das facas de plástico
que eu pensei fossem de aço
em meu coração

ah, você ria de tudo, Quatti
porque já tinha passado
por tudo isso aí...

e porque mesmo entre nós
já estava bem longe daqui.

alheio à gravidade de meus problemas
você ria de tudo
menos da inocência e ingenuidade
de meus poemas

isso você sempre levou a sério
mesmo quando eu estava de sacanagem
você levou eles a sério,
bem antes de mim.

talvez você visse ali
uma versão mais jovem
mais bela e mais besta
e irresponsável de ti

não sei, mas você via alguma
coisa ali

e eu via em você, meu amigo
um caminho pra partir

um dia você cortou os cabelos
largou a faculdade
abriu um negócio
e ficou noivo

e disse que isso ainda
iria acontecer comigo

ah, Quatti, dessa vez eu ri
muito
da sua cara

mas hoje de velhas piadas
ninguém acha graça

tudo que você disse
aconteceu comigo
(só faltou cortar o cabelo)

você só não disse
o quanto eu ia sentir tua falta.

a cada vez que reencontro
a nossa turma
a gente lembra de você
cabeludo, de óculos escuros,

só dizendo sinceridades
e deixando um monte de gente puto
contigo

você sempre com mais amigos
do que inimigos
enquanto andava com um deus louco girando
ao redor do teu umbigo

é, hoje é assim que te encontro:
em nossos amigos

e hoje é assim que te vejo
quando te reencontro:
em vários de nós, dividido,
mas ainda forte e vivo e rindo
bonito,

concentrado e
repartido

entre todos os teus amigos

Fernando Koproski

16/setembro/2013


quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sempre curti as resenhas de fãs do velho Buk, pois ao contrário de alguns “doutores em literatura”, esses sim sabem do que estão falando...  e esta é uma bela resenha, feita pelo blog “dito pelo maldito”:

Confesso que não sou um árduo consumidor de poesia, mas quando se trata de algo escrito pelo velho Bukowski, nem mesmo a palavra 'amor' no título de uma obra me desanima a conhecer seus versos. Porque se o livro é desse cara, é certeza de que o'amor' será tratado com o finesse que ele merece,... Como um sentimento vagabundo de quinta categoria.

Foi nessa empolgação toda que me empenhei na leitura de 'Amor é tudo que nós dissemos que não era', um livro de poesias do velho Buk com seleção e tradução de Fernando Koproski. Coisa rara no mercado editorial nacional, que demanda bem mais atenção para o lado 'contista' do escritor, e muitas vezes ignora sua obra poética.

Um livro com cheiro e textura das décadas áureas vividas pelo autor, com uma fidelidade que começa pelo designer, sem frescura e nem figuras, simples e sem apelações marqueteiras, exatamente como nas décadas de 50 a 70. E terminando pela inserção das versões originais em inglês das poesias. 
Uma obra que te desafia a não julga-la pela capa, ou acabará perdendo uma experiência incrível. E como bônus, ainda temos as orelhas escritas pelo incrível Xico Sá, que embora não seja disposta em versos, tem o valor de uma poesia.

As estrofes de Bukowski possuem uma narrativa próxima aos parágrafos de  seus contos, onde praticamente tudo ao seu redor é usado como combustível da sua escrita, noitadas nos bares, amores maus sucedidos, ou até uma singela contemplação de bundas, e claro, tudo regado ao sabor etílico do 'velho safado' (como também é conhecido). Um excelente trabalho de resgate dos primórdios poéticos desse grande gênio, com poemas publicados em esquecidas revistas literárias americanas, e durante muito tempo inéditos aqui no Brasil.
 E se você achar que ainda não é o suficiente, ao escrever essa resenha, me informei que existe um 'Volume II' intitulado 'Essa Loucura Roubada que não desejo a ninguém  a não ser a mim mesmo amem', que pretendo adquirir em breve.

Como esse meu exemplar me chegou de presente, eu não imaginei que ele já estava esgotado na maioria das grandes livrarias físicas e virtuais do país, e o quanto está difícil, pra não dizer impossível, encontra-lo. Mas não se desespere, felizmente eu encontrei um ponto de venda abastecido.
 Portanto não perca tempo, clique agora no banner abaixo da Livraria da Folha e compre seu exemplar, ou ficará mais algumas décadas sem conhecer a veia poética desse mestre da literatura marginal.

Nota do tradutor: o vol 2 (Essa loucura roubada...) ao qual o “ditopelomaldito” se refere, na verdade é o vol 1, isto é, a primeira antologia poética que fiz do velho Buk. Já este livro que foi resenhado acima,  é o de fato o vol. 2 (a segunda antologia poética que fiz do Bukowski), intitulado “Amor é tudo que nós dissemos que não era”.

E os amigos e leitores que se interessarem em adquirir qualquer um dos dois BUKS... podem achar os ÚLTIMOS EXEMPLARES dessa tiragem nos endereços:


ou pelo site da editora 7Letras:




terça-feira, 10 de setembro de 2013

Em homenagem ao dia dos veterinários que foi ontem, um texto que escrevi anteanteanteontem... meus parabéns a todos os vets! e em especial, à minha irmã Dra. Letícia Koproski!

ISTO NÃO É UM POEMA, MAS DEPENDENDO DE QUEM LÊ, ATÉ PODE SER...

Hoje ele está mal, mas ele vai se recuperar. Sei que ele irá se recuperar. Em 2009, ele estourou os ligamentos do joelho. Fez uma cirurgia delicada onde inseriram uns 4 pinos em cima e embaixo da lesão, para recuperar o movimento do joelho. A cirurgia correu bem, mas ele teve que ficar isolado num espaço restrito de 2m2 durante um mês, e receber medicação e carinho e cuidados especiais para recuperar a articulação.

Em outras palavras, como Mailon era muito brincalhão – praticamente vivia saltitando e pulando alto – agora nessa fase pós-operatória seus “pulinhos” deveriam ser vigiados, pois poderiam representar uma ameaça à sua pronta-recuperação.

Pois bem, ele passou uns 40 dias com seus movimentos restritos e acabou por se recuperar. Mas um dia depois de ser liberado pelos veterinários, Mailon se exaltou. Talvez lembrando o velho propósito de proteger a casa ou defender a sua dona, ele saltou diante de uma visita indesejada e arrebentou os ligamentos novamente...

Levamos ele às pressas ao veterinário mas o veredito era unânime: ele deveria fazer outra cirurgia, idêntica à anterior, ter o seu espaço restrito e ser medicado de 8 em 8 horas, tudo de novo da mesma maneira.

Começamos a medicação, preparando-o para a cirurgia, até que, depois de algumas semanas, um belo dia isso aconteceu: Ele parou de mancar... a precisão de um novo raio X assegurou: o ligamento do joelho se refez. O raio x era bom, bom o bastante para detectar o “milagre”. E ele não precisou refazer aquela cirurgia.

4 felizes anos depois, Mailon começou a andar em círculos obsessivamente, girando em sentido anti-horário sem parar. Era tanta volta que nosso cão dava, que chegou várias vezes a ensanguentar as patinhas. As patas sangravam mas ele continuava andando e girando em círculos viciosos.

Levamos ele aos atuais veterinários, e depois de uma extensa bateria de exames se diagnosticou: CÂNCER no fígado. O tumor fazia com que o fígado não funcionasse direito, acumulando toxinas no sangue de Mailon, que ao ser bombeado para o cérebro, causava danos neurológicos visíveis.

Alguns dias depois, graças à exímia eficiência dos doutores Rodrigo e Fernanda, a cirurgia correu bem. Mailon retirou 2 tumores malignos. Durante o pós-operatório, enquanto esperávamos que ele melhorasse, notamos um líquido róseo persistente saindo de sua barriga. Duas semanas depois de uma pesada bateria de antibióticos, se notou que ele tinha sido atacado por uma incomum infecção bacteriana. Estafilococos Aureus era o nome do vilão que resistia aos antibióticos de amplo espectro e que rapidamente crescia dentro de nosso cão.

E qual foi a recomendação? Administrar durante 3 ou 4 semanas um antibiótico raro, que tinha saído há tempos do mercado farmacêutico. Dessa forma, ao longo de dias, passamos eu e Ingrid (a dona de Mailon) a vasculhar todas as farmácias antigas de SJP e coletar estoques do remédio.

Depois de muita medicação, carinho e compreensão, ele estava lá de novo. Mailon eliminou a temível bactéria e deixou de andar em círculos. Parecia que dessa vez tudo estava bem e eu ousei suspirar “Deus, obrigado!” para os céus. Mas o alívio ainda era só uma ideia no meio de tantos medicamentos.

Do antigo buraco onde se fez a cirurgia, começou a se formar uma bolinha do lado de fora da barriga de Mailon. No início era apenas uma bola de gude de gordura, mas com o passar do tempo e apesar das várias tentativas frustradas dos veterinários, a bolinha de gude virou bola de ping pong, que virou bola de sinuca, que depois de semanas virou bola de futsal...

Nada parecia funcionar para interromper a rasgadura muscular que ele tinha sofrido. Explico, os pontos internos da cirurgia abriram e passar a rasgar não só a parte costurada como toda a musculatura que protegia os seus órgãos internos de forma longitudinal e cruel, formando uma hérnia crescente.

Naturalmente, a proximidade de uma nova cirurgia não preocupava apenas a sua dona, mas a todos da clínica, pois seria mais uma agressão cirúrgica num cão debilitado de 15 anos de idade. Mesmo assim, fazendo figa e rezando nós levamos ele para uma nova cirurgia, que foi surpreendentemente bem-sucedida.

Pois bem, depois de uns 10 meses de combate, Mailon sobreviveu e se recuperou. A sua dona não dorme uma noite inteira há quase um ano. E mesmo assim, noite a noite, com olheiras, enxaquecas, fraquezas e diversas quedas de pressão, ela esteve lá, ao lado dele, medicando-o, acariciando-o, abraçando-o no meio das diversas noites em que os remédios fortes se revelavam fracos.

Hoje ele está bem, voltou a tomar remédios ontem à noite após uma queda acidental. Mas isso não há de ser nada, né Mailon? Você e a Ingrid já passaram por muitas coisas piores. E não é agora que ela deixará de cuidar de você, rezar por você, ou postar mensagens no facebook esperando dividir com os amigos verdadeiros sua preocupação legítima. E tudo isso por quê?

Porque isso é AMOR: puro, forte e imenso e que se expande em várias direções. Muitas das quais nós às vezes nem entendemos, ou sequer suspeitamos. Já outras nós intuímos. E outras, Ingrid, nós temos certeza.

O amor abre uma cratera por onde passa, escava a pele e a carne, enquanto suas ondas de choque se propagam de forma luminosa e irreversível.

Acreditando nisso, nós combatemos o Câncer do Mailon, o câncer da Afrodite (nossa gata e filha primogênita) recentemente, e dia a dia estamos combatendo o câncer da minha sogra querida, a Margareth.

No mínimo por 3 vezes no último ano, eu presenciei o milagre e nós vencemos o invencível. Nós pedimos a deus por 3 milagres e ele nos deu os três. Ao teu lado, Ingrid, eu vi ele – o milagre – surgindo como um sol de carne e sangue dourado, rasgando a noite e aos poucos diminuindo a nossa escuridão.

6 de agosto de 2013
Fernando Koproski
(pai do Mailon, Don Juan, Afrodite, Manuela, Angelina, e poeta nas horas vagas...)

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Só uma dorzinha 
(poema para Bárbara Lia)

Ontem estava com dor de cabeça
Anteontem estava com dor de cabeça
Hoje estou com dor de cabeça

Anteontem estava com dor de cabeça
por ter dormido pouco

Ontem estava com dor de cabeça
por não ter dormido nada

Hoje estou com dor de cabeça
por ter dormido demais

Caro leitor, nessa situação,
o que a gente faz?

Já tomei, entre aspas, várias “aspirinas”
E diversos sedilax

Mas a dor continua
E não é uma coisa
só da minha cabeça

Ah, poetas e professores de literatura
antes que me esqueça:

Isso não é um poema
tampouco é o fim do meu lirismo
ou o começo de qualquer outra doença

Esses versos são apenas o que são
como o osso é músculo
e a carne é sangue
e o sangue é pulmão

É, talvez esse poema não seja
o que você pensa...

Só sei que ainda serei pra vocês:
aqueles versos resistentes à qualquer analgésico
e
uma bela dor de cabeça

Fernando Koproski

6/setembro/2013


terça-feira, 27 de agosto de 2013

virginia percebeu a loucura voltando, vincent percebeu a loucura voltando, as rosas perceberam a verdade. as horas perceberam a loucura das rosas, ouvir a verdade. os quadros sabiam a verdade, desde o início os quadros ouviam e gritavam a verdade – a beleza está por toda parte. todos os outros estavam surdos à verdade. esta surdez, a forma mais compreensível de mediocridade, não apenas uma aceitável forma de ausência de coragem, mas a mais segura e confortável forma de ser – inútil paisagem. loucura é ouvir o que me grita beleza por toda parte. virginia viu, vincent escreveu, que inútil era amar a arte. pois a vida é surda a esse amor. há dias em que a vida é surda a todos os amores. a vida jamais saberá nos amar como nos ama a arte. loucura é apenas ouvir o que me grita beleza por toda parte, é ouvir o que me grita luas por todos os lagos, o que me grita luas e lagos por todos os lados, o que me grita virginias e vincents por todos os quadros. os outros estão surdos, e pensam que estão certos, pensam que sabem o que sentem os pianos, o que os pianos perderam, tudo o que os pianos não perdoaram. apenas porque estão surdos, eles pensam que podem ser beethovens. e assim desperdiçam pianos a qualquer hora, a qualquer rosa, a qualquer quadro. vincent, virginia: tanto viver que para eles era imperdoável: tanto amar que para eles era insuportável. pois tudo era belo. no fim tudo tinha sido belo, mas os outros diziam que não. eles diziam que toda aquela beleza era maligna e não magnólias, decidiram que tal beleza era culpada. e eu, ao falar dela, mais um cúmplice de suas incandescências; sobretudo para as rosas, um réu confesso de todo o seu arder, aquecer e aclarar.
    virginia percebeu a loucura voltando, ela percebeu que as coisas belas eram as culpadas. a beleza era a única culpada por nós não amarmos todas as coisas.
    vincent percebeu a loucura voltando, ele percebeu que as coisas feias eram inocentes. as coisas feias não eram feias, elas sempre foram inocentes de toda a nossa falta de amor.

Fernando Koproski
do livro NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA

http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx



quinta-feira, 15 de agosto de 2013

E quem conhece melhor o coração de uma mulher, do que o Xico Sá? Há tempos este grande escritor, com textos com concentração etílica altamente bukowskiana, tem feito uma verdadeiro estudo da anatomia da perdição, seus porquês e suas desrazões. Basta ler algumas das crônicas geniais que ele publica todo dia na Folha de S. Paulo. E eu tive o prazer de ver ele escrevendo a orelha da minha segunda antologia poética do Bukowski: AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA:

Só penso na tal da poesia como Artonin Artaud, um grande artista, talvez o maior possível, em setembro de 1947, revelando ao seu psiquiatra de plantão a FALTA, com caixa alta mesmo nas letras, como no bilhete, do ópio. Faltou. Não queira saber do final da história desse cara.

Vamos em frente. Tudo é ausência, ressaca e elipse. Mesmo para quem achou que tudo era falsidade, poesia de araque, “Vá para o Tibete”, lerás mais adiante neste livro, e espere a salvação, como se em qualquer suposto lugar místico existisse a ideia da não-canalhice.“Seja um monge e beba chumbo grosso e cerveja”, como nos receita o autor destes versos, aí sim, estamos falando de um lugar qualquer do sagrado, poemas.

Com tradução do cara que já nos deu, e sempre nos oferta as melhores saideiras do Buk, Fernando Koproski, jamais abaixe a porta e nos jogue água nos pés, puerra! Boa, FK, prove para esses tarados que Bukowski é ainda mais genial nos poemas que na sua angustiada prosa comedora de gente qual terra de cemitério.

A dramaturgia da foda está, yesss, mais ainda nesse livro. Provo: “e a visão dela completamente nua me fez lembrar mais de/ meus dias no matadouro do que/ de Mozart/ mas, é claro, quem quer comer/ o Mozart?”

Enfim, sempre uma porrada na solenidade. Seja do gozo fácil, seja na morte barata. “6 garças paradas numa lagoa”. É estilo. Sócrates, o filósofo ou o boleiro, style. Os dinossauros velhos ou jovens? Estilo, mas chega de ilusões perdidas. “O sol não será visto e será sempre noite”.

Quer saber...? Leia esse livro com a lindeza das suas pernas cambaleantes. Como já casei com uma mulher sem uma perna, sou otimista: ela era a melhor das minas. Que tal ser um homem de verdade e não pensar nessas coisas?

Mulher é metonímia, parte pelo todo, e você não passa de um canalha covarde, certo? Perdeu, malaco: ela sempre se levanta como uma santa e diz algo. Se vai embora é problema seu, talvez se ficasse desse merda. Boa leitura.

Xico Sá

e aqui, uma bela crônica do Xico:

http://xicosa.blogfolha.uol.com.br/2013/08/13/para-entender-como-bate-o-coracao-de-uma-mulher/


quarta-feira, 14 de agosto de 2013

O Bukowski nasceu num 16 de agosto, e pra comemorar, essa semana é toda bukowskiana. E dos escritores que conheço, nenhum é mais bukowskiano do que o Mário Bortolotto. É incrível a qualidade de tudo o que esse cara faz, sejam livros de contos, poemas, romances ou peças de teatro. Ele absorveu a influência do velho Buk, tridestilada em velhos toneis de poesia, terra vermelha, angústia e selvageria, e acabou construindo uma obra original. E eu tive o grande prazer de ter ele, que é meu amigo, escrevendo esta orelha para o livro ESSA LOUCURA ROUBADA... do velho Buk:

A LOUCURA NOSSA DE CADA VERSO

Bukowski sempre acertou o touro no primeiro golpe. É o amigo mais próximo com quem sempre pude contar. Chegando em casa totalmente torto e angustiado, era só ir lá e abrir em uma página qualquer, e ele dava o toque “eu então diria a eles para terem outro caso de amor infeliz e nunca usarem uma fita de seda na máquina de escrever”. Era só a guria encher o saco com suas cobranças sem limite e ele avisava paternal “uma esposa rosnando no portão é mais do que qualquer homem pode suportar”. Era só Deus avisar que meu tempo tava se esgotando e eu sorria repetindo baixinho de modo que Ele não me escutasse “acredito em fazer por merecer nosso caminho / mas também acredito em um presente inesperado”. Bukowski é o amigo que senta no balcão, pede uma cerveja e nem olha na sua cara, mas é bom saber que ele tá por ali. É bom saber que a noite vai se estender, e se eu conseguir arrastar uma piranha loira postiça qualquer pra um quarto no hotel vagabundo do outro lado da rua, ele não vai se dar nem ao trabalho de conferir o material.

Fernando Koproski é o cara certo pra traduzir Bukowski. E se a gente ainda levar em conta que os nomes rimam e que dá um belo hai-kai, eu diria com toda a certeza que o jovem Koproski entende plenamente o velho Bukowski, conversa com ele sem importuná-lo com qualquer psicologismo babaca, e sempre faz as perguntas certas, não fala de poesia e nem de outros escritores, deixa o velho falar só quando tem vontade e se ele ferrar no sono, na poltrona, completamente bêbado, Koproski não vai incomodá-lo. Vai deitar resignado no sofá e esperar até o outro dia pra continuar o serviço. E quando Bukowski acordar com sede no meio da tarde e ver aquele jovem cabeludo deitado no sofá, vai berrar algo do tipo “Quem diabos é você?”. Koproski vai sorrir compreensivo e como um mestre zen, vai esperar o Homem se acalmar & ouvir todos os Brahms & beber todas as biritas & vomitar todos os palavrões inimagináveis, enquanto grifa em seu caderno de anotações as palavras “fragilidade” e “violência”. Faz um círculo em volta de “desespero” e recosta-se no sofá.

Koproski e Bukowski, meus camaradas, vou dizer uma coisa. Ninguém tasca. Porra nenhuma que vocês vão ficar com essa loucura só pra vocês. Ela também é minha e estamos conversados. Depois de toda essa minha gana persecutória, não cheguei até aqui pra voltar pra casa com toda essa sanidade doentia. Vocês não vão se livrar de mim assim tão fácil.

Mário Bortolotto





terça-feira, 13 de agosto de 2013

O que os escritores, poetas, críticos e jornalistas disseram sobre as minhas traduções do BUKOWSKI em ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM:

Centrada na produção inicial do escritor, a seleção é um dos pontos fortes do livro, além da tradução de Fernando Koproski, que se esforça por manter o coloquialismo tão fundamental para a beleza dos originais. Poderia ser difícil identificar a beleza na literatura desse repórter do mundo cão, não fossem versos como “não se esqueça:/ o tempo existe é para ser desperdiçado,/ o amor fracassa/ e a morte é inútil”. Afinal a poesia de Bukowski obtém a atenção merecida num livro que é, desde já, referencial.
Joca Reiners Terron, Folha de S. Paulo

A sua receita para ser um grande escritor é dedicar-se de forma cega à escrita, embriagando-se com a vida e não tendo nenhuma delicadeza na hora de pôr as coisas no papel: “bata nela [na máquina de escrever] com força/ como se fosse uma luta de pesos pesados”. É essa violência diante da atividade poética que determina o diferencial de sua obra.
Miguel Sanches Neto, Carta Capital

Fazia tempo que o velho Bukowski não aparecia em verso nas estantes brasileiras. A antologia é uma edição bilíngue que reúne poemas desbocados e demolidores, selecionados dos 11 livros do autor, do período de 1969 a 1999.
Nelson de Oliveira, Rascunho

Bukowski não gostava de poesia rimada, mas a tradução de Koproski em “Ressacas” é dotada de uma energia própria – bem acima da mera substituição de idiomas. Essa “contaminação” do tradutor pelo universo bukowskiano é um selo de qualidade sobre todo o livro. Como bem observa Mário Bortolotto na orelha, os dois nomes até rimam.
Paulo Briguet, Jornal de Londrina

O poeta curitibano Fernando Koproski, pra mim, está muito acima dos tradutores de poesia do Brasil. Ele consegue ser original. Uma obra-prima o que ele fez com o Bukowski. Pra quem gosta de poesia é um prato cheio de delícias. Gostosuras para os paladares mais refinados.
Thadeu Wojciechowski, Polaco da barreirinha

Há poucos minutos mesmo, comecei ler um livro de poemas [Essa loucura roubada...]. Abri a primeira página e, dada a força, logo parei: vim escrever. A poesia pode ser o lugar de coisas grandiosas, intensas, ainda que, muitas vezes, simples. Talvez, grandiosas e intensas também porque simples.
Alberto Pucheu, Pelo colorido, para além do cinzento

Charles Bukowski pertence a uma tradição da poesia norte-americana iniciada por Walt Whitman, o autor de Folhas da Relva, criador do verso livre e herói da rebelião romântica. Assim como o seu antepassado poético, talvez o primeiro beatnik da história, Bukowski desenvolve uma obra de fôlego oratório, com versos longos, narrativos e discursivos, fazendo uso da linguagem coloquial, do humor e de referências à vida cotidiana. Logo, um poeta na contramão da vanguarda, mais atenta à concisão, à síntese e à estética do fragmento, seguindo os passos dessa outra grande precursora que foi Emily Dickinson. Porém, a arte verbal de Bukowski está muito longe da fragilidade ou da rotina literária: temos aqui um autor inquieto, insubmisso, à margem do cânone e da convenção, que provoca o leitor com sua língua ferina e desbocada. Um poeta irreverente que prefere o palavrão, a bebedeira e a sarjeta aos telefones celulares e gravatas em estilo italiano da geração yuppie. Enfim, um necessário anarquista, um delicioso vagabundo que despreza os valores utilitários e mercantilistas de uma sociedade em rápido processo de apodrecimento mental. Sua cáustica antilírica, recriada neste volume pelo poeta Fernando Koproski, retoma a importante tradição libertária da poesia (e da cultura) americana, e constitui uma centelha de saudável contestação nesta era sombria em que vivemos.
Claudio Daniel, A saideira e mais uma

Buk, velho safado,
Que anjas andas beliscando aí no céu ou inferno?
Que músicas das esferas andas escutando?
Que cervejas andas tomando? Néctar de lava ou hidromel de nuvens?
E que papos e porres homéricos você deve estar tomando aí com feras como você!
Pois é, cada vez mais tenho visto a moçada aqui em Pindorama
interessada em sua lira profana, simples mas contundente,
que torna o ordinário extraordinário, que resgata
o dia a dia e o mundo cão das prostitutas, fudidos e excluídos desta Terra, que castiga a pretensão
de poetastros que aqui gorgeiam, mais interessados na pose que na poesia!
E mais feliz ainda ficamos em saber que seus poemas estão traduzidos,
para nosso bom e velho português, pelas mãos sensíveis de um poeta como
Fernando Koproski.
Vale a pena conferir.
Evoé, anjo Charles!

De seu admirador,
Rodrigo Garcia Lopes


sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Gravei ontem um poema no novo CD do amigo e parceiro Carlos Machado. Ele também já musicou um poema do livro TUDO QUE NÃO SEI SOBRE O AMOR, e o gravou com os vocais de Esther Tribuzzi:

ELA

ela me falava que escrever
era como morrer sol num mar de monet
eu bebendo minha dor como se fosse saquê
ela me falava que amor
não era o que vênus vê
mas o que psiquê um dia pisque
eu bebendo minha dor como se fosse whisky
ela me falava que mesmo que matisse mentisse
eram flores de luz o que vincent
pensava às cores em contra-ataque
eu bebendo minha dor como se fosse conhaque
ela me falava como se cada fala
aonde silêncio falta
fosse nosso beijo esculpido por rodin a todo instante
eu bebendo minha dor como se fosse chianti.

quando ela me falava de sua dor,
eu já bebendo qualquer coisa.

poema: Fernando Koproski
música: Carlos Machado