O Bukowski nasceu num 16 de agosto, e pra comemorar, essa
semana é toda bukowskiana. E dos escritores que conheço, nenhum é mais
bukowskiano do que o Mário Bortolotto. É incrível a qualidade de tudo o que
esse cara faz, sejam livros de contos, poemas, romances ou peças de teatro. Ele
absorveu a influência do velho Buk, tridestilada em velhos toneis de poesia, terra
vermelha, angústia e selvageria, e acabou construindo uma obra original. E eu
tive o grande prazer de ter ele, que é meu amigo, escrevendo esta orelha para o
livro ESSA LOUCURA ROUBADA... do velho Buk:
A
LOUCURA NOSSA DE CADA VERSO
Bukowski
sempre acertou o touro no primeiro golpe. É o amigo mais próximo com quem
sempre pude contar. Chegando em casa totalmente torto e angustiado, era só ir
lá e abrir em uma página qualquer, e ele dava o toque “eu então diria a eles
para terem outro caso de amor infeliz e nunca usarem uma fita de seda na
máquina de escrever”. Era só a guria encher o saco com suas cobranças sem
limite e ele avisava paternal “uma esposa rosnando no portão é mais do que
qualquer homem pode suportar”. Era só Deus avisar que meu tempo tava se
esgotando e eu sorria repetindo baixinho de modo que Ele não me escutasse
“acredito em fazer por merecer nosso caminho / mas também acredito em um
presente inesperado”. Bukowski é o amigo que senta no balcão, pede uma cerveja
e nem olha na sua cara, mas é bom saber que ele tá por ali. É bom saber que a
noite vai se estender, e se eu conseguir arrastar uma piranha loira postiça
qualquer pra um quarto no hotel vagabundo do outro lado da rua, ele não vai se
dar nem ao trabalho de conferir o material.
Fernando Koproski é o cara certo pra traduzir Bukowski. E se a gente
ainda levar em conta que os nomes rimam e que dá um belo hai-kai, eu diria com
toda a certeza que o jovem Koproski entende plenamente o velho Bukowski,
conversa com ele sem importuná-lo com qualquer psicologismo babaca, e sempre
faz as perguntas certas, não fala de poesia e nem de outros escritores, deixa o
velho falar só quando tem vontade e se ele ferrar no sono, na poltrona,
completamente bêbado, Koproski não vai incomodá-lo. Vai deitar resignado no
sofá e esperar até o outro dia pra continuar o serviço. E quando Bukowski
acordar com sede no meio da tarde e ver aquele jovem cabeludo deitado no sofá,
vai berrar algo do tipo “Quem diabos é você?”. Koproski vai sorrir compreensivo
e como um mestre zen, vai esperar o Homem se acalmar & ouvir todos os
Brahms & beber todas as biritas & vomitar todos os palavrões
inimagináveis, enquanto grifa em seu caderno de anotações as palavras
“fragilidade” e “violência”. Faz um círculo em volta de “desespero” e
recosta-se no sofá.
Koproski e Bukowski, meus camaradas, vou dizer uma coisa. Ninguém
tasca. Porra nenhuma que vocês vão ficar com essa loucura só pra vocês. Ela
também é minha e estamos conversados. Depois de toda essa minha gana
persecutória, não cheguei até aqui pra voltar pra casa com toda essa sanidade
doentia. Vocês não vão se livrar de mim assim tão fácil.
Mário Bortolotto
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-autores,product,LV314866,3406.aspx
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores,product,LV314864,3406.aspx
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