segunda-feira, 16 de setembro de 2013

POEMA DE ANIVERSÁRIO PARA O AMIGO
QUE MORA DO OUTRO LADO

faz 13 anos, Quatti
e eu ainda lembro da tua voz
do teu jeito, da tua cara
lembro de todos nós

sóbrios e fazendo merda
bebendo e batendo carros
e você tirando sarro
da minha cara,

rindo das roubadas
em que eu me metia
rindo do mau gosto
da minha angústia

rindo da irrelevância
da minha dor
ou do despropósito
de minha melancolia

rindo dos estúpidos cortes da paixão,
das facas de plástico
que eu pensei fossem de aço
em meu coração

ah, você ria de tudo, Quatti
porque já tinha passado
por tudo isso aí...

e porque mesmo entre nós
já estava bem longe daqui.

alheio à gravidade de meus problemas
você ria de tudo
menos da inocência e ingenuidade
de meus poemas

isso você sempre levou a sério
mesmo quando eu estava de sacanagem
você levou eles a sério,
bem antes de mim.

talvez você visse ali
uma versão mais jovem
mais bela e mais besta
e irresponsável de ti

não sei, mas você via alguma
coisa ali

e eu via em você, meu amigo
um caminho pra partir

um dia você cortou os cabelos
largou a faculdade
abriu um negócio
e ficou noivo

e disse que isso ainda
iria acontecer comigo

ah, Quatti, dessa vez eu ri
muito
da sua cara

mas hoje de velhas piadas
ninguém acha graça

tudo que você disse
aconteceu comigo
(só faltou cortar o cabelo)

você só não disse
o quanto eu ia sentir tua falta.

a cada vez que reencontro
a nossa turma
a gente lembra de você
cabeludo, de óculos escuros,

só dizendo sinceridades
e deixando um monte de gente puto
contigo

você sempre com mais amigos
do que inimigos
enquanto andava com um deus louco girando
ao redor do teu umbigo

é, hoje é assim que te encontro:
em nossos amigos

e hoje é assim que te vejo
quando te reencontro:
em vários de nós, dividido,
mas ainda forte e vivo e rindo
bonito,

concentrado e
repartido

entre todos os teus amigos

Fernando Koproski

16/setembro/2013


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