Antes de falar de Morella, preciso falar de
Reynaldo. Ele foi meu primeiro amigo. Reynaldo era um talento nato, escrevia
contos, compunha músicas, traduzia uma biografia de Joyce e era um ótimo
cozinheiro. Apenas um desses atributos já seria suficiente para lhe dar uma
renda substancial e fornecer uma carreira promissora. Mas Reynaldo não atuava
em nenhuma delas profissionalmente. Na verdade, ele ganhava a vida graças à
vagabundagem dos outros estudantes que não estavam aptos ou simplesmente não
queriam fazer seus trabalhos universitários.
Reynaldo realmente supria uma carência do
mercado: ele fazia e vendia resenhas, pesquisas, ensaios, estudos críticos,
monografias e dissertações para alunos vagabundos. E isso era bem rentável,
talvez até mais que uma carreira de músico, escritor, tradutor ou de chef de
cozinha. Segundo o próprio, esta profissão
ilícita propiciava uma carreira promissora também, pois, convenhamos, o que
mais havia na Federal, Puc e nas outras faculdades de Curitiba eram alunos
vagabundos, sem a menor vontade de estudar e redigir ensaios e monografias.
Foi assim que o conheci, negociando o preço de
uma resenha do livro A paixão segundo
G.H. para uma aluna de letras. Na época, eu era fã de Clarice Lispector e
tinha uma pequena quedinha por
Morella, tanto que me dispus a fazer a resenha pra ela de graça, depois que ela
me confidenciou o absurdo que eram os custos
dos préstimos literários de Reynaldo.
Fernando Koproski
do romance CRÔNICA DE UM AMOR MORTO
do romance CRÔNICA DE UM AMOR MORTO
http://www.livrariascuritiba.com.br/cronica-de-um-amor-morto-aut-paranaense-lv395564/p
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