segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Esse poema faz parte do livro “A teoria do romance na prática”. Dediquei ele à poeta Barbara Lia. Pena que ele continua atual... pois a arte na província do Paraná continua sendo contada como uma piada, sem graça. Editores são míopes (interessam-se mais por políticas do que por poéticas), jornalistas não leem (quando muito recortam e colam releases) e a academia, bem a academia nunca fez muita diferença mesmo... Ela continua uma estufa ridícula que estufa o peito e só cultiva plantas estéreis. Mas não esquenta, Bárbara, a poesia tem as raízes fortes, negras e claras. Ela trabalha lenta e se move em silêncio, longe das festinhas literárias, dos conchavos políticos e das sacanagens dessa vida. Um belo dia a poesia estoura essas calçadas bonitas...

SÓ UMA DORZINHA
para Bárbara Lia

Ontem estava com dor de cabeça
Anteontem estava com dor de cabeça
Hoje estou com dor de cabeça

Anteontem estava com dor de cabeça
por ter dormido pouco

Ontem estava com dor de cabeça
por não ter dormido nada

Hoje estou com dor de cabeça
por ter dormido demais

Caro leitor, nessa situação,
o que a gente faz?

Já tomei, entre aspas, várias “aspirinas”
E diversos sedilax

Mas a dor continua
E não é uma coisa
só da minha cabeça

Ah, poetas e professores de literatura
antes que me esqueça:

Isso não é um poema
tampouco é o fim do meu lirismo
ou o começo de qualquer outra doença

Esses versos são apenas o que são
como o osso é músculo
e a carne é sangue
e o sangue é pulmão

É, talvez esse poema não seja
o que você pensa...

Só sei que ainda serei pra vocês:
aqueles versos resistentes à qualquer analgésico
e
uma bela dor de cabeça

Fernando Koproski
no livro A TEORIA DO ROMANCE NA PRÁTICA (livro 3 da série “A complicada beleza”) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/teoria-do-romance-na-pratica-a-aut-paranaense-lv395565/p

quarta-feira, 5 de outubro de 2016

A HISTÓRIA DE UM FILHO DA PUTA DURÃO

uma noite ele apareceu na porta molhado magro espancado e
aterrorizado
um gato branco vesgo e sem rabo
pus ele pra dentro e o alimentei e ele ficou
cresceu até pegar confiança em mim até que um amigo entrando na garagem
passou com o carro por cima dele
levei o que sobrou para o veterinário que disse, “sem muita
esperança... dê essas pílulas para ele... sua coluna
está esmagada, mas já foi esmagada antes e de alguma maneira
emendou, se ele viver nunca mais andará, veja
essas radiografias, ele foi baleado, olhe aqui, as balas
ainda estão lá... e mais, ele já teve um rabo um dia, alguém
o cortou fora...”

levei o gato de volta, era um verão bem quente, um dos mais
quentes das últimas décadas, pus ele no piso do
banheiro, dei água e pílulas para ele, ele não comia, ele
não tocava na água, mergulhei meu dedo nela
e molhei sua boca e falei com ele, eu não saí
dali, investi um bom tempo no banheiro e conversava com
ele e tocava nele com cuidado ao que ele me olhava
com aqueles olhos azul-claros vesgos e conforme os dias
passavam ele fez seu primeiro movimento
se arrastou com as patas dianteiras
(as traseiras não funcionavam)
ele conseguiu chegar à caixa de areia
se arrastou pra dentro,
foi como se o clarim de uma possível vitória
soprasse naquele banheiro e pela cidade afora, eu
me identifiquei com aquele gato – eu me dei mal, não tão
mal assim mas mal o bastante...

uma manhã ele se levantou, ficou de pé, caiu pra trás e
apenas olhou pra mim.

“você consegue,” eu disse pra ele.

ele continuou tentando, se levantando e caindo, finalmente
deu alguns passos, ele parecia um bêbado, as
patas traseiras não queriam funcionar mesmo e ele caiu de novo, descansou,
aí se levantou.

o resto você sabe: hoje ele está melhor do que nunca, vesgo,
quase sem dente, mas o encanto está de volta, e aquele olhar
nunca abandonou seus olhos...

e hoje às vezes sou entrevistado, eles querem saber sobre
a vida e a literatura e eu fico bêbado e levanto meu gato vesgo,
baleado, atropelado, de rabo arrancado e falo, “olha, olha
isso!”

mas eles não entendem, eles dizem algo do tipo, “você
disse que foi influenciado por Céline?”

“não,” eu levanto o gato, “pelo que acontece, por
coisas como essa, por isso, por isso!”

eu chacoalho o gato, levanto ele sob
a luz esfumaçada e bêbada, ele está tranquilo ele sabe...

é aí que as entrevistas acabam
embora eu fique com orgulho às vezes quando vejo as fotos
depois e lá estou eu e lá está o gato e nós somos
fotografados juntos.

ele também sabe que isso é besteira mas ajuda de alguma maneira.

Charles Bukowski
traduzido por Fernando Koproski
no livro AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p
MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p

terça-feira, 4 de outubro de 2016

COMO VAI O CORAÇÃO?

nas minhas piores fases
nos bancos de parque
nas cadeias
ou morando com
putas
sempre tive esse tipo
de satisfação –
não chamaria isso
de felicidade –
era mais um equilíbrio
interior
que botava no eixo
tudo que estivesse acontecendo
e isso ajudou
nas fábricas
e quando deram errado
os relacionamentos
com as
garotas.

isso ajudou
a passar pelas
guerras e
ressacas
as brigas nos becos
os
hospitais.

acordar num quarto vagabundo
numa cidade estranha e
abrir as cortinas –
era o tipo mais louco de
satisfação

e andar pelo quarto
até uma velha cômoda com
o espelho quebrado –
e me olhar, horrível,
rindo disso tudo.

o que vale mais
é o teu talento
pra atravessar o
fogo.

Charles Bukowski
traduzido por Fernando Koproski
no livro MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI) 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p
ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p

segunda-feira, 3 de outubro de 2016

    Seus seios são lindos
um sabor de porcelana quente
de adoração e cobiça
    Seus olhos chegam a mim
sob as lanças perfeitas
de cílios imperecíveis
    Sua boca se alimenta
de palavras francesas
e das sombras suaves de sua maquiagem
Só com você
    eu não imito a mim mesmo
só com você
    eu não peço mais nada
seus dedos longos longos
decifrando seus cabelos
    sua blusa de renda
emprestada de um fotógrafo
as luzes do banheiro
cintilando em suas novas unhas vermelhas
suas longas pernas a postos
    assim que te olho da cama
enquanto você remove o orvalho
        do espelho
para atuar atrás das linhas inimigas
        de sua obra-prima
Venha para mim se estiver envelhecendo
venha para mim se estiver a fim de um café

poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski

fragmento do livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (antologia poética de LEONARD COHEN) Editora 7Letras
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana-lv220048/p


COMO É DIFÍCIL FAZER UM REFRÃO

se teu coração está com fome
se teu coração está cansado
se teu coração parece que foge
a cada novo machucado

coração, toma cuidado
coração, fica aqui do meu lado
canta pra mim uma canção
alcança pra mim outro coração

se teu coração esfria com razão
se teu coração ferve teu sangue
se teu coração procura outro coração
como uma canção de Neil Young

como é difícil fazer um refrão
quando você não está aqui,
e pra que serve uma canção, se
meu coração não alcança teu coração?

Fernando Koproski
do livro RETRATO DO ARTISTA QUANDO PRIMAVERA (7letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Longe de mim 
(Far from me)

É por você que eu nasci
É por você que eu cresci
É por você que eu vivi, vou morrer por você
Por você estou morrendo agora
Você foi meu amor louco de tudo
Num mundo onde todos fodem com todo mundo
Você que está tão
Longe de mim
Tão longe de mim
A um oceano de neuras daqui
Longe de mim

Podia falar com você sobre tudo
Com um sorriso você respondia cada palavra
Mas o sol saía daquele rostinho bonito
E do nada teu olhar batia em retirada
Tô sabendo que você está a mil
Torço pra você ser feliz
Com teu coração infantil
Você está tão longe de mim
Longe de mim
Longe de mim

Não existe sabedoria, mas eu sei
Não há nada a aprender com aquela voz
Que vem até mim através dos versos
Do ridículo ao sublime eu confesso
É bom saber que você está se dando bem
Mas você não tem mais ninguém pra conversar, tem?
Algum dia você ligou pra mim?
Alguma vez você cuidou de mim? 

Tão longe de mim

Você disse que ia ficar comigo assim
Nas horas boas e ruins
Foi o que você disse, eu lembro,
Minha amiga só nos bons momentos
Você foi meu amor com mais coragem
Correu pros braços da mãe já na primeira adversidade
Tão longe de mim
Longe de mim
Lá naquele oceano gelado e vazio enfim
Longe de mim
Longe de mim

Letra: Nick Cave
Tradução: Fernando Koproski
É você aquela que eu estava esperando?
(Are you the one that I’ve been waiting for?)

Conforme você se aproximava, menina, senti você chegando
Sei que você ia me encontrar, porque ansiava por você
Você é o meu destino? É assim que você vai aparecer?
Enrolada num casaco e chorando?
Ah, tira esse casaco, amor, e joga no canto
É você aquela que eu estava esperando?

Conforme você se move, com certeza na minha direção
Minha alma tem me encorajado e me garantido
Que com o tempo meu coração vai me recompensar
E que tudo ainda será revelado
Então me sentei e vi uma era glacial degelando
É você aquela que eu estava esperando?

Com tristeza mundos inteiros se fizeram
Com desejo grandes maravilhas foram quistas
São só pequenas lágrimas, amor, deixa elas caírem
E encosta teu rosto no meu ombro
Além da minha janela, uma guerra está começando
É você aquela que eu estava esperando?

Ah, nós saberemos, nós não vamos saber?
Estrelas nesse céu explodirão
Mas elas não vão, não é?
As estrelas têm seu momento e morrem então

Há um homem que dizia milagres mas jamais o conheci
Ele disse: “aquele que procura, encontrará, e quem bate na porta um dia será convidado”
Eu penso em você se movendo e o quão perto você está chegando
E como qualquer pequena coisa já te antecipa
Por todas as veias, meu coração profundo vem chamando:
É você aquela que eu estava esperando?

Letra: Nick Cave
Tradução: Fernando Koproski


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Poeta e tradutor Fernando Koproski faz viagem vertiginosa em primeiro trabalho em prosa

Consagrado por duas décadas de versos, o curitibano acaba de lançar a trilogia A Complicada beleza.

Depois de duas décadas de poesia, o poeta e tradutor curitibano Fernando Koproski lança seu primeiro trabalho em prosa, a trilogia A Complicada beleza, publicada pela editora carioca 7Letras. Bota-fora dos versos confessionais, os livros formam um painel literário da Curitiba, explorando os espaços urbanos e as possibilidades de se viver no caos silencioso de uma grande cidade.

Narciso para matar, o primeiro volume, muito mais que uma homenagem ao cineasta norte-americano Stanley Kubrick, cria um interessante jogo de espelhos entre o narrador e o leitor. Narciso é um personagem dentro de um livro escrito por outro personagem, o Narrador. Aos poucos, realidade e ficção se confundem em primoroso trabalho narrativo, capaz de transformar a prosa poética de Koproski em um thriller psicológico pelas ruas da capital paranaense.

A trilogia segue com Crônica de um amor morto, romance inspirado nas mulheres das histórias de Edgar Allan Poe. Como o jornalista bêbado de Hunter S. Thompson, o protagonista do livro se alimenta do que há de abstrato no cotidiano para manter-se vivo. Entre os amores que vêm e vão, o protagonista-poeta se desmancha na solidão e na esperança. Para Koproski, não existe limite que separe a realidade e a literatura. “Por isso comecei a escrever ficção”, esclarece.

Se nos dois livros anteriores Fernando Koproski quebra a quarta parede e permite ao leitor participar da história, A Teoria do romance na prática é uma viagem vertiginosa por Curitiba. “A cidade é uma musa com cinto de castidade. Ela usa um cinto que ela mesma fechou e jogou fora a chave. E dependendo do humor em que ela se encontra, ela insinua, seduz e ilude. Você pode até achar que um dia será acolhido entre seus favores, às vezes pode até quase sentir suas carícias, mas nunca vai inaugurar o beijo ou mesmo consumar o ato”, define Koproski.

Nuances

No final das contas, A Complicada beleza é uma homenagem irônica à cidade, mas também à cena literária que povoa Curitiba. As capas dos três livros têm imagens do fotógrafo Daniel Castellano, reconhecido por retratar a urbe com um olhar cuidadoso e contraditório, explorando as diversas nuances da Cidade Sorriso.

O autor

Fernando Koproski nasceu em Curitiba, em 1973. É autor de Manual de ver nuvens (1999); O livro de sonhos (1999); Tudo que não sei sobre o amor (2003); Como tornar-se azul em Curitiba (2004) e Pétalas, pálpebras e pressas (2004). Pela editora 7Letras, publicou a trilogia Um poeta deve morrerNunca seremos tão felizes como agora (2009), Retrato do artista quando primavera (2014) e Retrato do amor quando verão, outono e inverno (2014).

Koproski é tradutor das coletâneas Atrás das linhas inimigas de meu amor (2007), sobre a poesia de Leonard Cohen, e também da trilogia poética de Charles Bukowski: Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (2012, 2ª edição), Amor é tudo que nós dissemos que não era (2012) e Maldito deus arrancando esses poemas de minha cabeça (2015),.

Serviço
Trilogia A Complicada beleza
Autor: Fernando Koproski
Editora: 7Letras
Narciso para matar
104 páginas – R$ 32
http://www.livrariascuritiba.com.br/narciso-para-matar-aut-paranaense-lv395563/p
Crônica de um amor morto
144 páginas – R$ 37
http://www.livrariascuritiba.com.br/cronica-de-um-amor-morto-aut-paranaense-lv395564/p

A Teoria do romance na prática
136 páginas – R$ 36
http://www.livrariascuritiba.com.br/teoria-do-romance-na-pratica-a-aut-paranaense-lv395565/p


segunda-feira, 27 de junho de 2016

Medo e delírio em Curitiba

Trocando em Miúdos: Após vinte anos de poesia, Fernando Koproski lança trilogia ficcional e quebra gêneros literários.

Por Jonatan Silva – A Escotilha
29/04/2016
Como Bukowski, um de seus heróis, Koproski é apaixonado por gatos. Foto: Ingrid Schulze / Divulgação.

Quando poeta/cantor/compositor canadense Leonard Cohen publicou seu primeiro romance – A Brincadeira Favorita –, em 1963, após dois livros de poesia, declarou que aquela era a sua melhor melodia. A impressão deixada pelo debut em prosa do curitibano Fernando Koproski, depois de duas décadas de versos, não é muito diferente. Misturando cinema e literatura ao reflexo que vê de sua própria cidade, o escritor cria na trilogia A Complicada Beleza, um bota-fora dos poemas confessionais e autobiográficos que o acompanharam até agora.

O livro que inicia a trinca, Narciso Para Matar (7Letras, 104 págs.), faz um drible no leitor desde o seu título – uma referência ao clássico de Kubrick – ao criar um jogo de espelhos entre o autor e o narrador. Narciso é um personagem dentro de um livro escrito pelo Narrador, que é também um personagem de Koproski, que termina por virar uma criatura de si mesmo. Ao mesmo tempo o romance se transforma em um thriller, em que Narciso precisa vingar a morte da sua amada, Marina. Entre tantas artimanhas, a obra não se deixa levar por gêneros literários e transita entre a romance, a poesia, o conto. Para Koproski, não é preciso rótulos nos quais encaixar seus livros. “O trabalho criativo só tem a ganhar com a dissolução das fronteiras. Penso num poema tão aceso e livre quanto o sol dentro dos olhos do girassol. Por que fechar os ouvidos a isso? Até quando vamos amputar nossa percepção?”, definiu em entrevista exclusiva à A Escotilha (leia o bate-papo completo no final da resenha).

Ainda que caminhe livremente, a trilogia não perde uma característica fundamental de Koproski: a musa. Direta ou indiretamente, ela sempre está ali. Em Crônica de um Amor Morto (7Letras, 144 págs.) busca em Edgar Allan Poe (1809 – 1849) os elementos para a sua narrativa delirante. Como Hunter S. Thompson (1937 – 2005), o protagonista vive no limite entre o real e o abstrato. E novamente Curitiba é o cenário, mas agora com direito a uma passagem lisérgica pelo litoral paranaense. Ao contrário do livro anterior, Crônica de um amor morto é uma sucessão infindável de mulheres dizendo adeus: uma a uma elas abandonam o protagonista ou são abandonadas – ou simplesmente saem de cena no momento certo. É como se todas as mulheres fossem como a musa desconhecida de Charles Bukowski (1920 – 1994) no poema “de vez em quando”, traduzido pelo próprio Koproski, em Maldito Deus Arrancando Esses Poemas da Minha Cabeça: elas passam na rua e a paixa dura segundo, até a próxima esquina.
No final das contas, fica-se atordoado com o jogo de espelhos koproskiano. É impossível deixar passar incólume a trajetória de gente tão neurótica quanto os personagens de Koproski, ele próprio, eu e você.

Tudo acaba em A Teoria do Romance na Prática (7Letras, 137 págs.). Koproski mais uma vez destila suas referências cinematográfica – de David Lynch a Woody Allen – para construir uma história vertiginosa em que ele mesmo acaba morto. Desde a apresentação, que ficou a cargo de Alexandre França, o romance (se é que podemos chamá-lo assim) quebra a barreira entre realidade e ficção, autor e leitor, trazendo à tona a máxima de Foucault em quem lê também se torna responsável pela obra. A história gira em torno de duas pessoas, Felipe e Scarlett, mas nada impede que os mortos de outros livros regressem e se incorporem.

Aqui, muito pinhão

Koproski não se intimida por ser curitibano. Os três volumes da trilogia deixam isso claro logo nas capas – que usam imagens do fotógrafo Daniel Castellano – criando uma espécie de reconhecimento imediato. “A cidade é uma musa com cinto de castidade. Ela usa um cinto que ela mesma fechou e jogou fora a chave. E dependendo do humor em que ela se encontra, ela insinua, seduz e ilude. Você pode até achar que um dia será acolhido entre seus favores, às vezes pode até quase sentir suas carícias, mas nunca vai inaugurar o beijo ou mesmo consumar o ato”, esclarece.

No final das contas, fica-se atordoado com o jogo de espelhos koproskiano. É impossível deixar passar incólume a trajetória de gente tão neurótica quanto os personagens de Koproski, ele próprio, eu e você.

Leia na íntegra a entrevista com Fernando Koproski

A Escotilha: Depois de 20 anos de poesia, como a prosa entrou no seu trabalho?
Fernando Koproski:
 A prosa sempre esteve presente em minha literatura. Posso dizer que ela me alimentou tanto quanto a poesia, desde quando comecei a me interessar por livros e literatura. Acho que até nas preferências literárias a prosa sempre ocupou um espaço amplo, arejado e crescente, pois sou leitor de Joyce, Virginia Woolf, Clarice Lispector e diversos outros escritores que injetam poesia em suas narrativas, ampliando a significância de uma história. Já como autor, a atividade de contar histórias é algo mais recente. Diria que é uma imprudência recente que têm me dado um prazer diferente e desafiador.

No livro Crônica de um Amor Morto você diz que a poesia é o “suor da alma”. Essa é uma convicção pessoal ou meramente literária?
Não diria que é uma convicção. Convicções são senhoras chatas e tediosas que tendem a limitar qualquer ato criativo. Quando se trata de literatura, melhor seria não ter nenhuma convicção. E estar aberto às percepções. Nesse sentido o “suor da alma” seria mais uma percepção da natureza da escrita, e como qualquer percepção é derivada do momento e deste, também dependente, a fim de criar significação.

Quais as diferenças entre escrever poesia e narrativa?
Escrever poesia é algo fragmentário. Você escreve um poema um dia. Passa vários dias sem escrever. Depois escreve outro, que pode não ter relação nenhuma com o anterior. Ou seja, cada poema é um universo fechado em si, ilimitado dentro de suas limitações. Enfim, não prescinde de nada anterior ou posterior à sua existência. O poema é um universo autossuficiente, não depende de nada e de ninguém, muito menos do autor. Ele anda com as próprias pernas e fala com a própria boca. O autor foi apenas um designer de seus lábios. Porque tudo o que o poema fala ou silencia, é com sua própria boca. Ele fala com sua própria voz. Já a prosa depende de uma força motriz diária, de uma atividade intermitente que crie caminhos para o desenvolvimento da história. Os personagens dependem disso, o enredo só existe por causa disso. Enfim, foi assim que aconteceu comigo: escrevendo todo dia. E quando não estava escrevendo de fato, estava mentalmente imaginando saídas para meus personagens, à medida que criava outros entraves e obstáculos. Ou seja, era um exercício diário de obsessão.

Algumas figuras são recorrentes na sua produção como poeta e prosador – o poeta que mata/morre, a mulher fatal e o salto agulha. Essas imagens são propositais?
Naturalmente, há conexões entre um texto e outro, entre um livro e outro. Embora sejam histórias independentes, um livro está dentro de outro. O primeiro livro Narciso Para Matar vive dentro do personagem do segundo livro Crônica de um Amor Morto, e este segundo, tangência o terceiro livro A Teoria do Romance na Prática. E isso é estimulante. É como brincar com diferentes dimensões textuais, abrindo buracos (wormholes), ou paredes permeáveis, pelos quais os personagens ou as situações se comuniquem.

“Ganhei muito dinheiro e não escrevi mais nenhuma poesia”. Ser poeta é, necessariamente, padecer, sofrer de alguma maneira?
Não necessariamente. Mas ser poeta, escrever livros de poemas e querer publicar esses livros no Brasil, aí sim é padecer, sofrer de várias maneiras. Costumo dizer que publicar poesia no Brasil é o 13 trabalho de Hércules. É aquele trabalho que nem Hércules se atreveu a fazer, não quis peitar isso não.

A trilogia A Complicada Beleza faz um acerto de contas com a Curitiba antropófaga. A cidade é uma mãe gentil ou estaria mais para Saturno?
A cidade é uma musa com cinto de castidade. Ela usa um cinto que ela mesma fechou e jogou fora a chave. E dependendo do humor em que ela se encontra, ela insinua, seduz e ilude. Você pode até achar que um dia será acolhido entre seus favores, às vezes pode até quase sentir suas carícias, mas nunca vai inaugurar o beijo ou mesmo consumar o ato. Isso porque Curitiba é uma cidade que cria e favorece os masturbadores. Mas na real, é uma cidade que jamais vai fazer amor com você…

Narciso Para Matar e A Teoria do Romance na Prática brincam com o cinema e imagem na literatura. Como as outras artes podem convergir para a literatura?
Desde o começo de minhas leituras, percebi (o que é obvio pra todo mundo menos para os professores de literatura) que as artes se comunicam, interagem, se orientam e se alimentam. Cinema, pintura, escultura, HQ, música, dança etc, uma arte estimula a outra. Negar isso ou não perceber essa riqueza é cegar os olhos e ouvidos para a amplidão. Não dá pra perder tempo nessa vida seguindo processos analíticos assépticos e estéreis. Há muito conquistamos o direito de criar sem rédeas e amarras.

Por falar em cinema, Narciso Para Matar, Crônica de um Amor Morto e A Teoria do Romance na Prática são seus livros que mais lidam com imagens, principalmente as do dia a dia – embora sua poesia sempre estivesse ligada ao cotidiano. Gostaria que você falasse sobre a importância do cotidiano no seu trabalho.
Acho que este é o lugar que eu vivo. Infelizmente não consigo habitar outros planos, viver em outros mundos, não importa o quanto minhas distrações sejam recorrentes. Os mais belos e atraentes déficits de atenção que me desculpem, mas ainda tenho que viver nessa realidade, nesse cotidiano (risos).

Durante a trilogia você faz várias associações a Edgar Allan Poe. Assim como você, ele subverteu gêneros e caminhou entre a poesia e a ficção. Por que evocar a imagem de Poe?
Sou um admirador de Poe, do homem e da obra. E acho que ele representa com eficácia e de forma envolvente e comovente a figura do artista genuíno, daquele artista que pena nessa vida, tendo que lidar com diversos obstáculos (e desgraças até), e de forma angustiada tendo que conviver com a falsidade do meio literário, a inveja de seus pares, tudo com o propósito vital, puro e honesto de viver e escrever sob o signo daquela qualidade inextinguível – a decência.

Seus livros anteriores formaram a trilogia Um Poeta Deve Morrer e no livro que encerra a tríade mais recente você parece ter matado o Koproski-poeta. Dessa situação seguem duas interpretações. A primeira, é de que esse é seu adeus à poesia, já que enveredou pelos bosques da ficção. A outra é de que para o poeta ser lembrado é preciso morrer. Algo faz sentido nesse pensamento?
Talvez eu já tenha planejado o meu suicídio autoral há muito tempo. Como bem disse o Felipe K, professor de literatura da UFRJ, “Depois da trilogia Um Poeta Deve Morrer, Fernando Koproski simplesmente morreu”. E se pensarmos bem, a melhor coisa que pode acontecer com um poeta é isso mesmo: morrer. Um exemplo: em Curitiba, somente depois que se morre, é que se começam a ler os livros de um autor (risos). Enquanto está vivo, a cidade se esforça por ignorar a presença do poeta de todas as formas. Parece que há mesmo um esforço coletivo pra que isso aconteça: jornalistas, outros escritores, colegas poetas, educadores, professores de literatura, livreiros, formadores de opinião e o grande público leitor – todos sem exceção precisam contribuir avidamente para dissuadir o poeta de trilhar esse caminho, o da arte genuína. Agora se você é um picareta, um embuste, uma farsa que vive de aprovar projetos no mecenato da cidade, superfaturando orçamentos de livros para garantir a sua vida confortável e aquele passeiozinho pela Europa no final do ano, aí sim você encontra espaço pra progredir. A esses farsantes a cidade oferece várias oportunidades. Basta estar disponível… Enfim, diante dessas opções o melhor mesmo é morrer. Sob a ótica do crítico de literatura General Custer, “poeta bom é poeta morto”.

Outro ponto interessante: você é também personagem. Qual o limite entre a ficção e a vida real?
Não há limites, por isso comecei a escrever ficção.

N’A Complicada Beleza você flerta com diversos gêneros literários, do thriller ao romance. Você ainda acredita na literatura dentro de rótulos?
Definitivamente, não. O trabalho criativo só tem a ganhar com a dissolução das fronteiras. Penso num poema tão aceso e livre quanto o sol dentro dos olhos do girassol. Por que fechar os ouvidos a isso? Até quando vamos amputar nossa percepção? Somos muito mais que isso. Sentimos mais alto e mais longe do que imaginamos. Diante do mar e seus movimentos, somos todos aprendizes, alunos, belas e possíveis descendências. Ainda acredito que um dia a inevitável beleza vai nos redimir de toda a gagueira, hesitação e imperfeições de nosso canto.

http://www.aescotilha.com.br/literatura/ponto-virgula/medo-e-delirio-em-curitiba/

A COMPLICADA BELEZA:
http://www.livrariascuritiba.com.br/narciso-para-matar-aut-paranaense-lv395563/p
http://www.livrariascuritiba.com.br/cronica-de-um-amor-morto-aut-paranaense-lv395564/p
http://www.livrariascuritiba.com.br/teoria-do-romance-na-pratica-a-aut-paranaense-lv395565/p
Não posso andar que já começo a pensar. Isso sempre acontecia comigo quando andava pela XV. Passava meia-hora andando de casa até a universidade e não via ninguém. Muitas vezes um conhecido dizia depois que havia me cumprimentado, mas eu nem respondia. O pior é que era verdade, sempre fui distraído. Me distraía a cada momento que passava no calçadão. Às vezes porque estava simplesmente olhando uma cena, às vezes porque estava escrevendo de cabeça um poema, mas nem sempre eu pensava em poesia, nem sempre eu escrevia. Muitas vezes era só a poeira girando dentro da minha cabeça, provocando algum pensamento afogado na inércia daquele mar de neurônios condenados à neura da repetição... Como eu disse, muitas vezes era só a poeira girando dentro da minha cabeça, se levantando, pairando e depois lentamente se assentando novamente.
Mas se nessa hora em que as micropartículas de pó levitassem, de repente abrisse uma réstia de luz na minha cabeça, e uma lasca de sol entrasse sem ser convidada, eu já sabia: era poesia. Por um instante, eu podia até pensar que era uma epifania, tipo um acúmulo de nuvens douradas guardadas no fundo do crânio, mas no íntimo eu sabia que isso jamais existiria, ou se existisse, francamente não resistiria. Porque no fundo da cabeça era simplesmente poeira, dourada ou não, mas ainda poeira e talvez o início de uma poesia.
De qualquer forma, sempre que isso acontecia entrava num impasse: ou escrevia o que me vinha ou ignorava a magia. Mas você já fez isso algum dia, você já ignorou a poesia?
O dia em que ignorei a poesia: 21 de maio.
Sim, ela estava comigo naquele dia. Seis da tarde. Ela tinha acabado de sair da aula de dança flamenca. Suas pernas brancas mal se continham dentro da meia-calça roxa. Os sapatinhos de boneca realçavam ainda mais a delicadeza dos pés. A sainha preta ficava agitada diante de minha presença e se rebelava ao vento, inaugurando belezas imprevistas na linha de cintura que a suavidade de seus gestos não compreendia, só intuía entre os seus passos de quase dança e os canteiros improvisados de pétalas de ipês amarelos caídas ao chão.
Maria tinha 26, um pai alcóolatra, uma mãe doente, um irmão carente e uma série de tios e tias ausentes. Ela cursava a Belas Artes, queria ser pianista, tocava desde os quatro anos. A dança era mais uma transpiração do que uma ocupação. Era como a poesia pra mim: um suor da alma. Era algo tão natural e certo e irremediável que parecia não exigir dela nenhuma espécie de esforço para acontecer. Ela dançava não porque ambicionava isso, mas porque a dança era simplesmente sua moradia nas coisas que ela sabia e seu caminho para tudo que ela desconhecia. Sim, quando vinha na minha direção naquele fim de tarde, ela dançava pra mim belezas imprescindíveis de jasmim.
Mas a caminhonete importada avançou o sinal naquele instante. Poderia ter sido um minuto depois ou um minuto antes. Mas não. Tinha que ser naquela hora em que ela se virou pra sorrir pra mim, anunciando com os olhos verdes o seu abraço de jasmim. A caminhonete prensou seu corpo frágil violentamente contra o poste, esmagando pétalas de ipês, e roubando de mim para sempre aquele abraço delicado.
Era seis da tarde quando meu mundo caiu. Sem boleros de Maysa, sem falsa poesia, sem chance de chegar à enfermaria.

Agora vocês já sabem porque estou aqui, porque peguei um ônibus em São José dos Pinhais há quarenta minutos atrás, porque passei pelo Guadalupe mais uma vez, porque não fui direto pra reitoria, porque andei vinte quadras no calçadão da XV pra comprar aquela pistola na Cruz Machado. Por causa disso: um poeta deve morrer, mas antes um poeta deve matar. Sim, um poeta deve matar.

Fernando Koproski
do romance CRÔNICA DE UM AMOR MORTO

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COMO É MAIS FÁCIL TE AMAR

Eu tenho ódio do amor
O amor arrancou a minha insígnia
O amor ainda insiste que eu o siga
O amor deu com os dentes na língua

Eu tenho ódio do amor
O amor me fez desapontar aquela menina
O amor deixou ela toda pontiaguda
O amor arruinou a minha ruína

Eu tenho ódio do amor
O amor deixou poetas com a pele dura
O amor me rebaixou de posto
O amor dava as caras, agora é só um rosto

Eu tenho ódio do amor
O amor me arruma cada uma
O amor é a minha runa, a minha ruína,
A minha mulher de rua e a minha menina

Eu tenho ódio do amor
Que me faz escrever poemas pra você
Mas não me dá coragem de dizer:
O quanto eu odiei te odiar,

E como é mais fácil te amar

Fernando Koproski
no livro “A TEORIA DO ROMANCE NA PRÁTICA” (série de ficção A complicada beleza)
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NARCISO PARA MATAR (série de ficção A complicada beleza)
http://www.livrariascuritiba.com.br/narciso-para-matar-aut-paranaense-lv395563/p
CRÔNICA DE UM AMOR MORTO (série de ficção A complicada beleza)
http://www.livrariascuritiba.com.br/cronica-de-um-amor-morto-aut-paranaense-lv395564/p
MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI)
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI)
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p
ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (antologia poética de CHARLES BUKOWSKI)
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p
ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (antologia poética de LEONARD COHEN)
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana-lv220048/p
Outros livros do Fernando Koproski são:
RETRATO DO ARTISTA QUANDO PRIMAVERA
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
RETRATO DO AMOR QUANDO VERÃO, OUTONO E INVERNO
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p
NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p
TUDO QUE NÃO SEI SOBRE O AMOR
http://www.livrariascuritiba.com.br/tudo-que-nao-sei-sobre-o-amor-aut-paranaense-lv181720/p

e aqui, há 4 CDs meus disponíveis para ouvir e baixar:
https://fernandokoproski.bandcamp.com/