segunda-feira, 21 de outubro de 2013

TWO-FACED BOOK

Aqui não escreve quem traduz
Esse verso não soma ao que sou
Fiz do verso: sangue, e da linha: luz
Mas ainda não sei o que é amor

Já despedacei as asas do beija-flor
Pra te fazer brisa, liguei o liquidificador
E acabei enchendo as pétalas de pus
Mas ainda não cansei de fazer blues

Ainda estou à tua espera, minha pianista
Tenho um olho verde e o outro azul
Metade do rosto negro e metade dourado
E ainda trago um coração encouraçado

Se olhar de perto, será que você me traduz?
Ou você hoje está longe demais, me diga...
Você já está em outra praia, outro estado?
Quando é que teus olhos verdes, pianista,

Vão olhar pra mim, deixar de olhar pro lado?
Teus cabelos negros já estiveram avermelhados,
Loiros, azuis, mas nunca estiveram equivocados
E quanto a mim, estou aqui, pronto pra navegar:

Nesse olhar e na maré de teus olhos: emaranhado.

Fernando Koproski
21/outubro/2013



Adoro essa música do Echo and the Bunnymen e acabei traduzindo a letra. Dedico ela aos meus amigos, homens-coelhos...

A FONTE

Adormeci ao pé do Monte.
Dos rios que atravessamos,
Eu sonhei com a fonte
E a moeda que atiramos.

Agora só estou contando
Os sonhos perdidos na curva
Uma moeda na fonte
É só isso que custa?
Só isso mesmo que custa?

Eu vou como os oceanos vão
Engoli marés em alto-mar
Enterrei aquela emoção
Que não consegui libertar

Bebi cada uma das poções
De A até a mim
E isso foi devoção
Será que aquele era eu?
Eu mesmo, no fim?

Que jeito de desperdiçar seus desejos
Trocando “alguma coisa” por “de alguma forma”
O que eu não daria pra provar seus beijos,
Ah, sim
Aqui e agora, aqui e agora,
Aqui e agora, você está me ouvindo agora?

Será que haverá trovão?
O raio fará jus?
Vou me ajoelhar em admiração
Num túnel de luz?

Será que vou me abater?
E desistir da luta onde fosse
Quando for a minha vez
De ser chamado de noite
Chame de noite...

Chorei até a fonte secar
Escalei a montanha mais alta
Aleluia... Aleluia...
Até te encontrar

Letra: Ian McCulloch
Gravada por Echo and the Bunnymen no Cd “The Fountain”

Tradução/versão brasileira: Fernando Koproski

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

atenção mundo hispânico, estamos chegando! são 6 letras minhas vertidas para o espanhol, mais uma versão que fiz de Hallelujah do Leonard Cohen para o português: "Aleluia". Tudo isso e mais um tanto no novo Cd do Carlos Machado a ser lançado em breve:


a capa do novo CD - LOS AMORES DE PASO (em espanhol)
Lançamento em Novembro!
São 12 músicas (10 regravações de minhas músicas, 1 inédita e 1 versão, Aleluia (versão em português de Fernando Koproski para a música de Leonard Cohen)..


para os amigos, aqui mais um poema (tradução que fiz do T.S. Eliot) sobre gatos, ou melhor, sobre gatas, como a foto traduz com fidelidade felina...

Dando nome aos gatos

Dar nomes aos gatos não é tarefa fácil, decerto...
Não é como um desses jogos que passam em sua mente
Você deve até pensar que eu já não sou muito certo
Quando te digo, um gato deve ter TRÊS NOMES DIFERENTES
Primeiro há o nome como os que em casa se usam
Como Paulo, Rodolfo, Manoela ou Anamaria
Tal como Wilson ou Francisco, Cinthia ou Susan
Todos sensatamente nomes do dia-a-dia
Há outros, se você achar que soem mais ternos
Uns para os cavalheiros, outros para as damas
Tais como Plato, Admetus, Electra, Demetrius
Mas todos sensatamente nomes em poucas semanas
Mesmo assim acho que um gato precisa de um nome particular
Um nome que lhe seja peculiar, mais que digno de uma rima
Senão, como ele irá deixar o seu rabo perpendicular
Ou ajeitar os seus bigodes e assim manter a sua estima?
De nomes como esses eu posso te dar uma lista
Tais como Munkustrap, Quaxo, ou Coricopato
Talvez Bombalurina, ou Jellylorum já te dê uma pista
Nomes que nunca pertencem a mais de um gato
Mas entre esses há um outro ainda por vir
E esse nome eu sei que você não irá adivinhar
Um nome que nenhum cientista poderá descobrir
Que SÓ O SEU GATO SABE, mas que jamais irá confessar
Quando você perceber o seu gato em estado de meditação
A razão disso eu te falo é sempre a mesma, vê se pode:
A sua mente está ocupada numa elevada contemplação
Do pensar no pensar do pensar de seu nome:
É o seu inefável efável
Efaninefavelmente
O seu profundo, inecoável e singular nome.

T. S. Eliot
Tradução: Fernando Koproski 



segunda-feira, 14 de outubro de 2013


entrei no carro com a Helen e a visão
de sua meia-calça até o joelho passou a martelar meu cérebro.
lamentei muito que eu nunca fosse possuir nada bom,
nada como ela,
que nada bom jamais me pertencesse
não porque eu estivesse sempre pobre de dinheiro
mas porque eu era pobre ao me expressar cara a cara.
talvez eu amarelasse como o sol
mas também era tão ardente e sincero quanto o sol
em algum lugar lá dentro de mim
mas isso ninguém jamais descobriria.

com certeza eu acabaria eternamente me lamentando sobre uma
xícara de café em algum parque onde os velhos jogam
xadrez ou algum tipo de jogo idiota.
merda! merda!
e então Helen trocou a marcha e nós rodamos pelas
preciosas colinas e não havia nada que eu pudesse dizer pra ela
sobre sua beleza ou o quão valentão eu era
ou que só sentar e ficar olhando pra ela durante um mês
jamais tocá-la novamente
seria o meu único desejo
mas como qualquer canalha eu estava provavelmente mentindo pra mim mesmo
provavelmente eu queria tudo tudo

mas agora aos 45
depois de viver com uma dúzia de mulheres e não ter amado nenhuma
agora eu estava louco, acabado. conforme ela
me levava pelas colinas tudo gritava dentro de
mim, e enquanto seguíamos eu continuava falando
(pra mim mesmo, é claro)
vai passar, babaca,
tudo passa,
é tudo uma piada
rindo da sua cara,
esqueça, pense em cães mortos coisas mortas pense em
si mesmo: rejeitado, falido, comum, um poeta supostamente escrevendo
coisas profundas, mas você realmente não consegue escrever sobre nada a não ser
sobre SI MESMO. não é verdade? não é verdade? você é um escroto,
um idiota egoísta só querendo uma saída fácil? você quer
dinheiro, estádios lotados de aplausos, reconhecimento e um livro
de poemas que ainda seja admirado no ano 2179.

fragmento do poema “MALDITO RIMBAUD”
de CHARLES BUKOWSKI
traduzido por Fernando Koproski
na antologia poética:
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA




quinta-feira, 10 de outubro de 2013

MÚSICA AZUL

para uma amiga de cabelos azuis

quando forem te censurar
por você ter cabelos azuis
tenta não censurar todos
estes que têm olhos sem luz

podem cortar teu cabelo
que as ideias azuis vão insistir
e acabar vindo de novo
porque o azul vem da raiz

o azul corre com o sangue,
areja o pulmão e enche o peito
o azul é que faz o sonho nascer
e respirar poemas verdadeiros

por isso, da próxima vez
que censurarem teus cabelos
esqueça tudo que eles disserem,
estão muito presos a seus pelos

deixa o vento ventar enquanto
eles com suas dores de cotovelo
e se uma brisa azul se soltar
abraça uma canção sem segredos

assim quando forem te censurar
brisa um azul neles, sem medo
e se no meio do vento, o sonho voltar
deixa ele te pegar pelos cabelos...

Fernando Koproski

10/10/2013


quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Só pensando daqui até lá e Dalí até aqui: “O único jeito de morrer em paz é esvaziando as gavetas da memória.” (Peter Lucas, Salvador Dali Scholar)

CANÇÃO DE AMOR

se o amor levou tudo
e mais um pouco e depois
de tudo fez pouco disso
se o amor me deixou liso

me diz, o que o amor
tem a ver com isso?
meu amor, o que o amor
tem a ver com isso?

depois de tantas vezes
te ver fugir do abismo
o amor veio pra ficar
e assumir o seu sorriso

se o amor é agora
tudo que não preciso
se o amor faz parecer
indolor o dente do siso

me diz, o que o amor
tem a ver com isso?
meu amor, o que o amor
tem a ver com isso?

se o teu coração não
queria correr o risco
por que não escolheu
uma outra profissão?

o amor pode fazer
o que bem quiser
nessa vida sem paixão
mas só um aviso:

se o amor pensa que
pode ser uma prisão
ou amor tem amor à vida
ou a gente ama de improviso


Fernando Koproski


terça-feira, 8 de outubro de 2013

Salvador Dalí já disse: “beleza é apenas o grau de consciência de nossas perversões”. Mas sou mais meu amigo Lao Tse: “Porque todos reconhecem a beleza como beleza, é que a ideia de feiura existe”. No entanto, se é pra falar de beleza...

Beleza alguma é desnecessária, pois sob o sol e a chuva e a chuva e a chuva não há pétalas por acaso. Não importa se hoje ou apenas ontem, toda rosa sempre teve o seu porquê. De quantas pétalas ou primaveras precisa um poeta para entender? Para um poema não há belezas indevidas, belezas rudes ou vulgares. Não há belezas sutis que não se sintam inadiáveis quando procuradas, belezas breves que não se sintam demoradas, belezas simples que às vezes não se sintam complicadas. Decididamente nenhuma outra beleza mais sutilmente complexa, feita de brevidades mais inadiáveis que: um beijo. 

um beijo seu
é apenas um beijo
beija apenas
o que seja beijo
o que apenas
um beijo deseje
um beijo seu
é apenas um beijo
beija apenas o que
em beijos se beije

um beijo seu beija
o que bem te vê
o que bem te ouve
o que te beethovens

um beijo assim
não devia ser
apenas beijo
devia ser escrito
de outra forma
ou ao menos
de outro jeito
mais comum
um beijo seu
devia ser escrito:

fly me to the moon

Não há belezas fáceis para quem de noite escuta a chuva chover calada esses pianos no telhado.

Um dos conflitos mais interessantes que podem acontecer é quando dor e beleza se encontram. Sim, porque há as belezas que doem, aquelas belezas que decididamente transtornam. Belezas que te movem e comovem. Como uma dor, belezas que incomodam, tornando as palavras: malignas ou magnólias. O tipo da beleza enfim que te chove nos dias mais claros. Uma beleza que te chove uma lua maior que a dor.

escrevo um poema para que possa te anoitecer em magnólias.
um poema ou um amor apenas, para que monet sinta em tintas
tudo que se possa perder em claridades. um poema talvez para
esquecer toda beleza guardada que não se possa entender. um
amor ou um poema apenas, para tudo que ao escrever, eu possa
não perceber – ter e não ter, em fragilidades inaceitáveis em você.

apenas porque ela de uma beleza que me chove uma lua maior
que a dor, quando ela me chove, escreve poemas para tudo em
mim que não soube dizer amor.

Para quem escreve, uma lua absurda nesse céu sem pressa. Para quem lê, uma lua para que não haja altura ou noite que nos impeça.

Fernando Koproski
fragmento do livro
PÉTALAS, PÁLPEBRAS E PRESSAS






segunda-feira, 7 de outubro de 2013

PARA VOCÊ

Para você
todo o meu coração
esse livro que queria te ler
quando formos velhos
Hoje sou uma sombra
impaciente como um império
Você é a mulher
que me libertou
te vi olhando a lua
você não hesitou
em me amar com ela
te vi reverenciando as anêmonas
recebidas pelos recifes
você me amou com elas
Na areia macia
entre os seixos e as marés
você me recebeu em seu círculo
melhor do que a um convidado
Isso tudo aconteceu
na verdade do tempo
na verdade da carne
te vi com um menino
você me apresentou ao seu perfume
às suas visões
sem exigir meu sangue
Sobre tantas mesas de madeira
adornadas de delícias e de velas
os mil sacramentos
que você trazia em sua cesta
visitei meu molde
visitei meu nascimento
até que ficasse pequeno o bastante
e assustado o bastante
para nascer novamente
te desejei por sua beleza
você me trouxe mais do que tinha
compartilhou sua beleza
Só essa noite é que eu aprendi
enquanto recordo os espelhos
de que você se afastou
após ter-lhes dado
tudo o que queriam
para a minha iniciação
Hoje sou uma sombra
à procura das fronteiras
de meu caminho
e avanço
com a propulsão de sua prece
e avanço
em direção à sua prece
pois você se ajoelha
como um buquê
nessa caverna de ossos
atrás de meus olhos
e avanço em direção a um amor
que você sonhou para mim

Leonard Cohen
por Fernando Koproski

do livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR



quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Essa é para os amantes de gatos, poemas ou de ambos... É uma tradução que fiz do T.S. Eliot:

COMO CHAMAR UM GATO

Você já ouviu falar de vários tipos de gatos,
Sobre isso minha opinião é um fato
Não é preciso que um intérprete você seja
Para entender a sua natureza.
Você já viu o suficiente para perceber
Que os gatos são assim como eu e você
E outras pessoas que topamos pela frente
Com idéias as mais diferentes.
Pois se uns são sãos e outros são loucos
Uns são bons e outros nem um pouco
Desde os melhores até o mais ruinzinho
Todos podem caber num versinho.
Você já os viu em vários lugares,
Aprendeu sobre seus nomes peculiares
Seus hábitos e seu habitat nato:
Mas
      Como você chamaria um gato?

Só para clarear sua mente, então
Te digo: UM GATO NÃO É UM CÃO.

Cães fingem que gostam de uma boa briga,
Mas nem sempre um latido acaba em mordida
Um cão é mais freqüentemente
O que se pode chamar uma alma transparente.
Mas é claro que não falo de Traquinas,
E de suas incríveis excentricidades caninas.
Um cão da cidade não me aperta o passo,
Mais fácil é ele dar uma de palhaço.
Longe mesmo de ser pretensioso
Um cão dificilmente é um ser orgulhoso.
Tanto que ele não terá do que se queixar
Se em seu queixo você o acariciar
Basta um tapinha ou afago nas costas
Pra ele deitar e rolar do jeito que gosta.
Tão calmo quanto desajeitado,
Um cão responde a qualquer chamado.

Mas devo te lembrar de um fato
Um Cão é um Cão – UM GATO É UM GATO.

Dizem que com eles há um pacto:
Apenas fale quando for chamado.
Mas eu não acredito nesse trato –
Acho que você pode chamar um gato.
Mas tenha em mente uma verdade
Um gato não curte certas intimidades.
Para tanto tiro meu chapéu no ato,
Então chamando-o, EI GATO!
Agora, se for o gato da vizinha
Quem eu encontrar em minha cozinha
Na sala, banheiro ou quarto
Eu o cumprimento assim, PORRA GATO!
Acho que Ronronaldo ele deve se chamar
Mas ainda não chegamos a nos apresentar.
Pois antes que um gato decida do nada
Te tratar como um camarada,
É preciso um pouquinho de agrado
De preferência, com leite achocolatado;
E claro, ter na despensa um tanto
De tortas de maçã ou morango,
Um atum enlatado ou patê de caviar,
Pois ele tem seu próprio paladar.
(Conheço um tal que só gosta de comer
Se tiver nhoque e linguado à dorê,
Ao terminar ele ainda lambe suas patas
Para não desperdiçar o purê de batatas.)
Por isso tudo um gato tem o direito
A cada um destes sinais de respeito.
Só assim com o tempo, homem
Você então possa chamá-lo pelo NOME.

Cada um cada um, cada qual cada qual eu trato:
Pois só assim é que se CHAMA UM GATO.

poema: T. S. Eliot
tradução: Fernando Koproski


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Há os que amam e há os que odeiam, e no meio aqueles que amam odiar. E há ainda os que odeiam amar. Esse poema (já antigo) fiz um pouco para cada um desses e muito para os que andavam comigo. Portanto, meus desafetos, não façam pouco de mim... rsrs. Já me fodi e aprendi que sou só: um aprendiz...

AMOR AINDA VIRÁ A SE VINGAR DE MIM

amor ainda virá a se vingar de mim, por tudo quanto não amei.
apenas por tudo o que eu não amei, e o que eu não soube amar.
porque não eram de belezas imediatas o que eu vi, o amor irá se
vingar de mim. quando eu não sei, pois ele trama em silêncio de
demoras as esperas que perdi olhando as rosas de renoir e
ignorando as de quem não as tem em quadros e jardins, mas as
carrega no olhar. sei que quando ler isso o amor não irá pensar em
mudar de opinião, porque o amor não me quer ver se desculpar.
o mar jamais foi mar porque um dia foi de perdoar. amor em todas
as formas agora irá de mim se vingar. mas não em vôos de
borboletas como foi antes. ou em palavras que já foram pássaros.
amor em todas as faltas é o que me espera. e dessa vez não irá me
esquecer com chuvas quentes no olhar. o amor deixará a noite
para os que não souberam amar. e esquecerá em rios impraticáveis
quem olhou lagoas mas não viu mar. o amor à noite me trará rosas
sem possibilidade de vinho, rosas pálidas feitas de pétalas
nubladas para me escrever noite a noite em todas as páginas a
tarde que não terei mais. porque de uma beleza tensa era a tarde
que vi em teus pianos, aquela suave tensão eu não terei mais.
mesmo porque o amor já percebeu minhas ansiedades discretas, e
apenas fez que não viu a tua sensata insensatez. desde ontem já
decidiu que não me quer em chuva, por isso fechou todos os
pianos. só depois é que me confessou que esse mesmo amor um
dia já se vingou de van gogh. tal amor ainda lembra a tarde
quando fez vincent calar seu ouvido para as cores que ele não quis,
pois pensava não terem chuvas suficientes em sua dor.


amor agora irá se vingar de mim, porque quem um dia eu fui,
não guardou amor para mim. guardou o amor apenas para seus
poemas e para os teus pianos. mas não pensou ter amor pelo que
houve, e por tudo que há entre os poemas e os pianos.

Fernando Koproski
TUDO QUE NÃO SEI SOBRE O AMOR



segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Caros amigos, vocês já fizeram poemas de encomenda? Eu fiz um a pedido de um amigo que esqueceu o aniversário da sogra... Na ocasião, ele disse que (de cachê) me daria uma churrascada e compraria 40 LIVROS de minha autoria (pra dar de presente pra seus amigos). Bem, eu fiz o poema e, graças a esses versinhos, ele se redimiu com sua sogra... Mas eu, até hoje, estou esperando esse cachê... Quando é que vc vai comprar meus livros, Renato?

POEMA DE ENCOMENDA

Ontem à noite meu amigo Renato
Pediu um poema de encomenda
Disse que pagaria o que eu pedisse
Mas meus poemas não estão à venda

Mesmo assim Renato insistiu
Pra que eu escrevesse um poema
Nem pra ele, nem pra sua amada,
A sua sogra é que era o tema

Cara sogra do Renato, não tema
Renato não me pediu odes ou elegias
Na hora de passar o serviço, falou
– Dessa vez, escreva coisas bonitas!

– Diga que eu queria dar de presente
Um poema para minha sogra querida
Mas não floreie demais, nem invente
Só diga que sou o melhor pra sua filha

E assim o amigo me intimou a escrever
Um poema em plena madrugada, ah, Renato
Ao invés de fazer arte com meu sangue
O que acha de dar pra ela um artesanato?

Seria bem mais simples, rápido e barato
Mas não, você quer um poema, só um poema
Eu também queria um poema, meu caro
Mas os poemas não vêm quando eu queira

Eles aparecem só quando têm vontade
E pouco se importam com o que penso
Mas dessa vez eu estou na vantagem
O poema não é pra mim desde o começo

O poema é para sua sogra querida
E isso já é meio caminho andado pra rima
Uma mulher que teve como filha
Aquela que seria o amor da sua vida

Ah, é claro que merece um poema!
Pois a Mariana não é só a tua direção
A Mariana é quem fez de você, Renato
Um homem à altura do teu coração

Por isso, e só por isso que escrevo
Agora um poema pra ti, Dona Ceci
Um poema a pedido do Renato
Pelo simples desejo de te ver feliz


Fernando Koproski


sexta-feira, 27 de setembro de 2013

quarta-feira, 25 de setembro de 2013


TUDO MENOS ESCREVER POESIA

tudo menos escrever poesia
como essa poesia que ganha prêmios literários
e ter que diluir uma espécie de escrita
falsa, morta, praticamente enterrada viva
em versos mortos, retos, milimétricos, sem energia,
sem verdade, sem vento, sem luz nas veias
e vias respiratórias, sem o gosto do agora ou suas alergias
e ter que escrever uma poesia indigna
que se filia a uma longa tradição
de seduzir os medíocres e encantar os mercenários
que concedem os prêmios literários

tudo menos ter que aceitar ou açoitar
os que mutilaram os braços da incompreensão
tudo menos ter que afogar
ou afagar os que asfixiaram girassóis,
os que amordaçaram a pureza do fogo no peito,
os que tentaram mastigar
ou desmerecer a velocidade da beleza
do fogo no beijo

tudo menos ter que respirar
com a cabeça e pensar com o pulmão
e sentir com o sangue
e compreender com o suor
e aprender e ensinar com as lágrimas
e não saber com o coração

tudo menos derreter icebergs
para ensinar ao urso-polar a solidão
tudo menos nunca ter que perdoar
aqueles que nunca pediram perdão

tudo menos ter que cantar
nesse buraco inconstante na página:
as paredes de papel,
os carros, ambulâncias e emergências de papel,
os desesperos, agonias e impaciências de papel,
as flores, telhados, manhãs e memórias de papel,
as intimidades, silêncios, pressas e olhares de papel,
as indiscrições, vaidades, prêmios e menções horrorosas de papel,
os outonos e lágrimas e suor e sangue de papel
de todas as pessoas de papel
que se esforçam para embalar
ou mesmo blindar
com plástico o seu peito
à espera de andar, dormir e acordar
confortavelmente
com corações de plástico
que nunca irão se decompor na paisagem

Fernando Koproski

poema publicado na antologia “Moradas de Orfeu” (Editora Letras Contemporâneas)