terça-feira, 8 de outubro de 2013

Salvador Dalí já disse: “beleza é apenas o grau de consciência de nossas perversões”. Mas sou mais meu amigo Lao Tse: “Porque todos reconhecem a beleza como beleza, é que a ideia de feiura existe”. No entanto, se é pra falar de beleza...

Beleza alguma é desnecessária, pois sob o sol e a chuva e a chuva e a chuva não há pétalas por acaso. Não importa se hoje ou apenas ontem, toda rosa sempre teve o seu porquê. De quantas pétalas ou primaveras precisa um poeta para entender? Para um poema não há belezas indevidas, belezas rudes ou vulgares. Não há belezas sutis que não se sintam inadiáveis quando procuradas, belezas breves que não se sintam demoradas, belezas simples que às vezes não se sintam complicadas. Decididamente nenhuma outra beleza mais sutilmente complexa, feita de brevidades mais inadiáveis que: um beijo. 

um beijo seu
é apenas um beijo
beija apenas
o que seja beijo
o que apenas
um beijo deseje
um beijo seu
é apenas um beijo
beija apenas o que
em beijos se beije

um beijo seu beija
o que bem te vê
o que bem te ouve
o que te beethovens

um beijo assim
não devia ser
apenas beijo
devia ser escrito
de outra forma
ou ao menos
de outro jeito
mais comum
um beijo seu
devia ser escrito:

fly me to the moon

Não há belezas fáceis para quem de noite escuta a chuva chover calada esses pianos no telhado.

Um dos conflitos mais interessantes que podem acontecer é quando dor e beleza se encontram. Sim, porque há as belezas que doem, aquelas belezas que decididamente transtornam. Belezas que te movem e comovem. Como uma dor, belezas que incomodam, tornando as palavras: malignas ou magnólias. O tipo da beleza enfim que te chove nos dias mais claros. Uma beleza que te chove uma lua maior que a dor.

escrevo um poema para que possa te anoitecer em magnólias.
um poema ou um amor apenas, para que monet sinta em tintas
tudo que se possa perder em claridades. um poema talvez para
esquecer toda beleza guardada que não se possa entender. um
amor ou um poema apenas, para tudo que ao escrever, eu possa
não perceber – ter e não ter, em fragilidades inaceitáveis em você.

apenas porque ela de uma beleza que me chove uma lua maior
que a dor, quando ela me chove, escreve poemas para tudo em
mim que não soube dizer amor.

Para quem escreve, uma lua absurda nesse céu sem pressa. Para quem lê, uma lua para que não haja altura ou noite que nos impeça.

Fernando Koproski
fragmento do livro
PÉTALAS, PÁLPEBRAS E PRESSAS






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