Eram três
da manhã no Sheena, e eu já tinha preparado umas cinco margaritas no bar, sem
que nenhum garçom tivesse percebido. Naquela época, eu costumava andar com meu
kit drinques no porta-malas do carro. Tequila, contreau, sal, e até uns
limõezinhos eram parte indissociável da minha caixinha de primeiros socorros. E
lembrando que eram três da manhã de uma quinta-feira, você já pode supor que o
bar estava lotado, deixando a Audrey, a única garçonete, deveras atarefada, o
que justificava minha demanda em fazer drinques por baixo da mesa.
Só
precisava de gelo, e por isso às vezes deixava a mesa pra descolar umas pedras
no balcão. No cd player tocavam os primeiros acordes de Killing moon, quando ele disse “Mi menor e Dó maior, só isso e a
envolvente perfeição de um nevoeiro avançando lentamente, porque a guitarra do
Will Sargent é isso: um nevoeiro que ele prolonga nota a nota até envolver
tudo”.
Amadeo
desferia em sua guitarra imaginária até as notas do Will que só uma guitarra
fretless alcançava. Era noite de lua cheia numa Curitiba de céu nublado e The Killing moon tocava de forma
imperturbável para a maioria dos clientes, menos pra ele e pra mim. Me
incomodavam demais aquelas notas flutuando baixo no meio da noite. Tanto que
falei: “Cara, tenho que sair daqui. Tenho que ver a lua hoje de qualquer
jeito”.
“Você vai
ter que dirigir até a praia pra conseguir isso, pois está tudo fudido de cinza
e nublado até o pé da serra,” ele disse. Alea
jacta est, então pensei. Vou pegar três cervejas e andar até alcançar uma
fresta de céu pra ver a lua. Quando saí do bar, já tinha acontecido o sinistro,
uma árvore tinha caído em cima do meu carro destruindo o capô. Curitiba era uma
merda mesmo, na noite da maior lua cheia do ano, tinha chovido, dado vendaval,
chuva de pedra e sabe-se lá mais o quê ainda seria atirado em cima de nós.
Tanto que já estava prestes a abandonar o veículo e voltar pro bar quando ele
disse: “Cara, nós vamos pegar a estrada agora. Se tiver a fim, cai dentro”.
E assim
eu fui pra praia no meio da madrugada, no meio da semana, no meio de um
delírio, junto com Amadeo e outras duas gurias que sequer imaginavam pra onde
estavam indo. Aurora e Berenice eram amigas de Amadeo que esperavam uma carona
pra casa, o que significava transportá-las do Sheena Bar apenas umas cinco
quadras e deixá-las em previsível segurança em seu pensionato. Mas
previsibilidade era tudo que Amadeo não tinha. Ele tinha meio tanque de
gasolina, um porta-luvas cheio de erva e uma fita dos Blues Brothers ao vivo.
Era o que bastava.
CRÔNICA
DE UM AMOR MORTO
Um romance
de Fernando Koproski
http://www.livrariascuritiba.com.br/cronica-de-um-amor-morto-aut-paranaense-lv395564/p
NARCISO PARA MATAR
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A TEORIA DO ROMANCE NA PRÁTICA
http://www.livrariascuritiba.com.br/teoria-do-romance-na-pratica-a-aut-paranaense-lv395565/p
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