quarta-feira, 10 de abril de 2013


PARA WILF E SEU LAR

Quando criança os Cristãos me contaram
como alfinetamos Jesus
na madeira como uma linda borboleta,
e eu chorei diante de pinturas do Calvário
de chagas de veludo
e de delicados pés torcidos.

Mas ele não se sustentaria suave por muito tempo,
seus oponentes tão orgulhosos de seus clarins,
curvando as flores com sua mácula prateada,
e quando defrontei-me com a Arca para a contagem,
estremecendo debaixo dos óleos ardentes,
os campos da carne em movimento se tornaram amargos
e eu beijei meus nobres mestres,
preveni meus irmãos menores.

Entre os jovens e promissores
de grandes nações, os inocentes
do desejo entorpecido e da brilhante cruzada,
ali entre as cambalhotas e as guerras de castanha
eu poderia cantar minhas lágrimas pagãs,
adorar o santo distante
que alimentou com seu braço as moscas,
e lamentou pela formiga esmagada
desprezando as razões do calcanhar.

A ira e as lágrimas ficaram no caminho inicial.
Hoje cada qual em sua colina sagrada
os dias de dor e de fulgor estão quase no fim.
    Então vamos comparar mitologias.
Eu aprimorei a minha mentira principal
de cruzes sublimes e espinhos envenenados
e aprendi a forma com que meus pais o pregaram
feito um morcego sobre o portal
para receber o outono e os corvos tardios e famintos
como um falso e amarelado sinal.

poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
da antologia poética ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7 Letras)


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