POEMA DE DIA DAS MULHERES
queria um poema que fosse como essas mulheres: um
poema que andasse, passasse como essas mulheres passam. um poema que olhasse,
sorrisse, ignorasse, cortasse, chovesse, queimasse, distraísse, silenciasse,
ficasse como essas mulheres ficam. um poema que como elas hesitasse toda sua
beleza decidida. mas como o poema para as páginas, a forma e a força com que
ele não lhes pertence, as mulheres. pois só assim elas podem ser – como os
poemas que só são poemas pelo buraco que deixam em quem os escreve, pelos
espaços, distâncias e impermanências imperecíveis que com delicadeza nos
permitem ser abatidos e lembrados indignos de suavidade entre um poema e outro.
mas talvez eu apenas esteja errado, talvez as mulheres já sejam poemas. nós é
que não as reconhecemos como tal. daí o motivo de todos os nossos problemas, da
nossa angústia incontornável, da inutilidade de nossa solidão, estupidez de
nossa objetividade, insuperável covardia, inaptidão à completude e exata
insinceridade. pois as mulheres já existem como poemas, pensam como poemas,
passam como poemas. assim e apenas assim desejam ser escritas ou percebidas –
como poemas.
nós, uma prosa apenas.
FERNANDO
KOPROSKI
do
livro “Nunca seremos tão felizes como agora”
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx
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