quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

É você aquela que eu estava esperando?
(are you the one that I’ve been waiting for?)

Conforme você se aproximava, menina, senti você chegando
Sei que você ia me encontrar, porque ansiava por você
Você é o meu destino? É assim que você vai aparecer?
Enrolada num casaco e chorando?
Ah, tira esse casaco, amor, e joga no canto
É você aquela que eu estava esperando?

Conforme você se move, com certeza na minha direção
Minha alma tem me encorajado e me garantido
Que com o tempo meu coração vai me recompensar
E que tudo ainda será revelado
Então me sentei e vi uma era glacial degelando
É você aquela que eu estava esperando?

Com tristeza mundos inteiros se fizeram
Com desejo grandes maravilhas foram quistas
São só pequenas lágrimas, amor, deixa elas caírem
E encosta teu rosto no meu ombro
Além da minha janela, uma guerra está começando
É você aquela que eu estava esperando?

Ah, nós saberemos, nós não vamos saber?
Estrelas nesse céu explodirão
Mas elas não vão, não é?
As estrelas têm seu momento e morrem então

Há um homem que dizia milagres mas jamais o conheci
Ele disse: “aquele que procura, encontrará, e quem bate na porta um dia será convidado”
Eu penso em você se movendo e o quão perto você está chegando
E como qualquer pequena coisa já te antecipa
Por todas as veias, meu coração profundo vem chamando:
É você aquela que eu estava esperando?

Letra: Nick Cave
Tradução: Fernando Koproski

e aqui um belo vídeo de animação sobre essa música:
https://www.youtube.com/watch?v=NXcuX01ycB8&ebc=ANyPxKo3J3XcQkHCZpBpXSjp522zgGeW1Kh2emZHcuF72hVqSIyT1xO6HCScrUGfJG0dv96rI7JBC8hkKz2iN-JOF7fGIW36aw

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

sobre
a nossa discussão essa noite
não interessa sobre
o que era
e
não importa
o quão triste
ela nos
deixou

lembre-se que
existe
um gato
em algum lugar
se ajustando
ao seu próprio espaço
com uma graça
encantadora

em outras palavras
a magia continua
sem nós
não importa o quê
a gente possa fazer
para estragar isso.

fragmento do poema “Em outras palavras” de Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
da antologia poética MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (7Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O sangue suja de raiva, ódio, indiferença. O sangue suja de beleza e paixão. E de paixão em paixão mal curada, o sangue suja de compaixão e verdade. O sangue suja o coração desse velho poeta na iminência da morte, quando ele vê se formar o seu último inverno. O sangue suja quando um amor vai embora. O sangue suja depois que elas, todas as mulheres, já foram embora, e não há mais nada, só um velho, uma máquina de escrever com as teclas gastas e um coração usado.
Mas o velho já sabe de tudo isso, todos os mecanismos poéticos e antipoéticos pelos quais o sangue suja no dia a dia. Ele também já viu o sangue sujar quando era jovem e intimava o barman a uma briga nos fundos do bar. Quando os primeiros invernos pediam uísques puros, olhos puros e corações limpos, o jovem Buk encontrava a Morte sempre a postos, bebendo sozinha no balcão. Lá estava ela, sempre ela com aquela sede de sangue de poeta, mordendo um beijo a cada poema sincero e mulher desonesta.
Assim é que o sangue suja, enquanto Deus arranca poemas de sua cabeça. Sim, o sangue suja e se lava nessa poesia. O sangue suja as páginas de poesia – da maneira mais curta, mais bonita e mais explosiva que se possa imaginar. Porque assim é a poesia do velho Buk: uma poesia clara, verdadeira e imediata como um jab de direita na cara do conformismo, um murro no estômago da indiferença, um soco no saco da Morte.
Conforme traduzia esses poemas, sentia cada soco lírico vibrando na carne, chamando o sangue à superfície da pele. Assim é que traduzi, num corpo a corpo imprescindível com a página, pondo a língua materna pra lutar com a estrangeira lá naquele beco, onde tudo de fato acontece, nos fundos do Bar das Poéticas Contemporâneas. 
Assim é que sujei também meus punhos com esse sangue, esmurrando as paredes surdas aos poemas, percebendo as nossas vidas como um mero buquê de sangue enquanto se espera por um amor, um sonho, o súbito clarão da palavra, ou pelo menos a manhã seguinte. Porque nós somos essa espera, e às vezes o que resta é ver como a loucura flutua na lagoa ou como caminhamos desajeitados em direção ao Nirvana, enquanto o sol comanda a misericórdia.
Mas isso não é motivo pra desistir. Como diz o autor, essas são as noites em que você luta melhor. Por isso, quando entrar nesse livro, não precisa se esquivar da Morte ou fingir ficar indiferente. Nos fundos daquele bar, o autor te espera para uma luta de 15 assaltos, ou melhor, 60 poemas... Mas você não precisa ter medo de ver o sangue sujar. O autor não teve medo de encarar a página e arregaçar o coração na sua frente. Então cai dentro, meu amigo, e lembre-se: só depois que o sangue suja é que o poema limpa o coração e a mente.

Fernando Koproski
texto de apresentação da antologia poética MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (7letras), de Charles Bukowski

http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p

http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p

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quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

CANÇÃO DESCARTÁVEL

nessa manhã tão linda
de frio e chuva em Curitiba
ah, você sabe como é...
na quarta-feira de cinza
apaga teu fogo, mulher!

já acabou o carnaval
então tira o samba do pé
mas deixa o brilho no olhar
ah, guarda no guarda-roupa
aquele olhar à queima-roupa

mas tira essa ideia da boca,
e tira esse calor das coxas
e bota o vestido pra lavar
que a vida é pra agora, amor
e eu preciso trabalhar...

Fernando Koproski

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Maria das Dores 

tirei das Dores pra dançar
mas não sabia nada dela
ninguém me avisou
o que era dor, o que era amor
e o que era ela

eu só queria dançar
e me perdi dela na passarela
o amor nunca mais voltou
a dor parou no peito
e eu no parapeito da janela

ah, volta pro meu beijo
ou me deixa em paz na passarela!
das Dores, sai desses ais!
a tua dor eu não quero mais

o amor eu já conheço
de outros carnavais...

Fernando Koproski
7 de fevereiro de 2016
SAMBA PORTÁTIL

meu coração/já sei por quê/tem essa mania/de bater por você//onde eu vou/ele leva meu amor/assim minha rima/tem mira certeira//quando o coração/leva o ritmo no peito/meu verso leva jeito/pra fechar de primeira//se você duvida/da cadência dessa paixão/sente só o tum-tum/do meu coração//na escola ele era/batucada na carteira/depois do teu beijo,/bateria da mangueira//amar de todas as formas/ou de qualquer maneira/meu coração é essa máquina/de samba portátil/pela porta-bandeira//ah, minha porta-bandeira/você acha que é loucura/a vida inteira/ele bater assim//mas quando você/diz tam-tam/ele diz tum-tum/
então tim-tim

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)

CARNAVAL EM CURITIBA

posso driblar todo ódio
que teu abraço abriga
posso até acabar em rima
o que só acaba em briga

querida, posso até querer
que você me contradiga
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

posso até me arrepender
dessa vida pelo resto da rima
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

é carnaval em Curitiba
mulher, deixa de pose
tua beleza fascista
não me fascina

sinta só o frio
na barriga da passista
até parece ansiedade
mas é chuva fina

é carnaval em Curitiba
nossa polaca mais mulata
pode ser bailarina
mas não nega a neblina

sambando na pista
ela mostra toda a ginga
que a perna ensina
porque é carnaval em Curitiba

com muita blusa de lã
e pinga de antonina
nossa rainha da bateria
quebra o gelo e encara a geada

mas se a gente canta
aí é que a gente dança,
deixa toda a vizinhança
de cara e irritada

mas se a gente samba
a gente ganha confiança,
mostra na base da pinga
a ginga das perna engessada

Fernando Koproski
A MARCHINHA DOS ZUMBIS

o carnaval em Curitiba
expulsa todos da cidade
ah, mas que felicidade
ter a cidade só pra mim

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

olha só a baiana alemoa
humm, mas que boa
olha só a baiana polonesa
humm, mas que beleza

se tem zumbi na avenida
ninguém tem uma ala
das baianas mais bonita
só o carnaval em Curitiba

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

se o povo na praia pede bis
que fique com todo o litoral
eu sou da terra dos zumbis
quero carne nova no carnaval

Fernando Koproski

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

A FONTE

Adormeci ao pé do Monte.
Dos rios que atravessamos,
Eu sonhei com a fonte
E a moeda que atiramos.

Agora só estou contando
Os sonhos perdidos na curva
Uma moeda na fonte
É só isso que custa?
Só isso mesmo que custa?

Eu vou como os oceanos vão
Engoli marés em alto-mar
Enterrei aquela emoção
Que não consegui libertar

Bebi cada uma das poções
De A até a mim
E isso foi devoção
Será que aquele era eu?
Eu mesmo, no fim?

Que jeito de desperdiçar seus desejos
Trocando “alguma coisa” por “de alguma forma”
O que eu não daria pra provar seus beijos,
Ah, sim
Aqui e agora, aqui e agora,
Aqui e agora, você está me ouvindo agora?

Será que haverá trovão?
O raio fará jus?
Vou me ajoelhar em admiração
Num túnel de luz?

Será que vou me abater?
E desistir da luta onde fosse
Quando for a minha vez
De ser chamado de noite
Chame de noite...

Chorei até a fonte secar
Escalei a montanha mais alta
Aleluia... Aleluia...
Até te encontrar

letra: Ian McCulloch
tradução: Fernando Koproski
música gravada por Echo and the Bunnymen no Cd “The Fountain”
https://www.youtube.com/watch?v=XEOWg1C0IVY

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015


Meus caros, estou comemorando 10 anos na editora 7Letras. E nesse tempo são 7 livros: 3 BUKOWSKIs, 3 KOPROSKIs, e o livro do COHEN. Ao todo, 10 tiragens de livros... Pois, como diz um amigo meu, "se vc for tentar, vá até o fim. caso contrário, nem comece". um brinde propício com os amigos!
MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA 
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p
ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR 
http://www.livrariascuritiba.com.br/ATRAS-DAS-LINHAS-INIMIGAS-DE-MEU-AMOR-AUT-PARANA-LV220048/p
"Retrato do artista quando primavera"

http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
“Retrato do amor quando verão, outono e inverno”
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p
"Nunca seremos tão felizes como agora"
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p
outros livros do autor estão aqui: 
http://www.livrariascuritiba.com.br/koproski?&utmi_p=_retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627_p&utmi_pc=BuscaFullText&utmi_cp=koproski

quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Uma garota que eu conheço
adormece em uma cama
e de todas as coisas adoráveis
que eu possa dizer eu digo isso
eu vejo seu corpo confuso
com as marcas de lábios
de todos os beijos de todos os homens
que ela conheceu
como um piano de cabaré
com marcas de anos de copos de coquetel
e enquanto ela avança tilintando
em sua peculiar e conhecida dança pervertida
eu caminho
pela chuva clara de novembro
punindo-a com minha felicidade

fragmento do poema “por que aconteceu de me sentir livre”
de Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
este poema faz parte da antologia poética “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (7Letras)  

à venda, pra todo o Brasil, pelo site das livrarias Curitiba:
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana-lv220048/p

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

CAMÕES, VEJA SÓ ONDE FOMOS PARAR

enquanto as vítimas cumprem pena de vida
os estupradores têm aposentadoria garantida
policiais matadores ganham por periculosidade
e assassinos e torturadores morrem tranquilos

no país onde Menguele morreu dormindo
os medíocres é que são bem-sucedidos
eles têm uma vida financeira estável
e uma velhice pra lá de confortável

aqui os farsantes ganham prêmios literários
e cobiçam o dinheiro de leis de incentivo
escrever não é mais uma questão de estilo
mas uma barrouquidão de tantos ais

Camões, veja só onde fomos parar:
agora só os idiotas se tornam artistas
passam a vida esculpindo inconstâncias
um a um cada qual imortaliza seu nunca mais

os mais idiotas pensam em mudar o mundo
e morrem por isso e por isso morrem demais
enquanto os artistas se contentam em sonhar
com seu nome em mármore nos jornais

poema: Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” 
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p

“Retrato do artista quando primavera” 
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p

"Nunca seremos tão felizes como agora" 
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p

outros livros do autor estão aqui: 
http://www.livrariascuritiba.com.br/koproski?&utmi_p=_retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627_p&utmi_pc=BuscaFullText&utmi_cp=koproski

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A trilogia de Fernando Koproski – apolíneo e dionisíaco

Daniel Osiecki

David Mourão-Ferreira, grande poeta português do século XX, criador da Revista Távola Redonda no final de 1949, escreveu o artigo “Lirismo ou haverá outro caminho?”, no qual levantava questões pertinentes sobre os rumos da poesia portuguesa contemporânea que, em uma espécie de retorno às origens, vivia um momento sui generis no contexto literário dos anos 50. Mourão-Ferreira cita Paul Valéry em seu artigo, que afirmou sobre o lirismo: “le developpement d’une exclamation”, ou seja, assim como o lirismo é o desenvolvimento de uma exclamação, são líricas as primeiras manifestações poéticas de um povo.
Havendo ou não outro caminho senão o lirismo, Fernando Koproski é um poeta contemporâneo que o assume em seu fazer poético de forma sensata, madura, crítica e com extremo bom gosto. Koproski nasceu em Curitiba em 1973. Poeta e tradutor, formou-se em Letras pela UFPR, mesma instituição na qual defendeu sua dissertação de mestrado “Flores das flores para Hitler”, sobre a poesia de Leonard Cohen. Publicou os livros de poesia Manual de ver nuvens (1999); O livro de sonhos (1999); Tudo que não sei sobre o amor (2003); Como tornar-se azul em Curitiba (2004); Pétalas, pálpebras e pressas (2004); Nunca seremos tão felizes como agora (7Letras, 2009), primeiro volume da trilogia Um poeta deve morrer, composta também por Retrato do artista quando primavera e Retrato do amor quando verão, outono e inverno, ambos publicados pela 7Letras em 2014.
Nos três volumes que compõem a trilogia, nota-se frequentemente a utilização da metalinguagem como leitmotiv da poética, incluída em uma verve lírica bastante peculiar. No terceiro livro, Retrato do amor quando verão, outono e inverno, há uma espécie de ruptura com o lirismo do primeiro livro, com seus poemas em forma de narrativas curtas, muito próximos do conto. Na seção intitulada “Outono”, há o que parece ser um fluxo contínuo que liga um poema ao outro. Eles tendem a um antilirismo. Nota-se, também, a não utilização de elementos mais formais da poesia, como rimas, métrica e elementos técnicos que geralmente não fariam muito sentido num livro como esse. Forma e conteúdo são temas constantes dos poemas. Novamente a metalinguagem é bastante explorada por Koproski, e os resultados são ótimos.

“Tudo menos escrever poesia
Tudo menos escrever poesia
Como essa poesia que ganha prêmios literários
E ter que diluir uma espécie de escrita
Falsa, morta, praticamente enterrada viva”, (p. 65)

O que mais chama a atenção nos livros que compõem a trilogia é a qualidade de um livro para outro, mesmo com o hiato que há entre o primeiro, Nunca seremos tão felizes como agora, e os dois últimos, Retrato do artista quando primavera e Retrato do amor quando verão, outono e inverno, respectivamente. Koproski é um poeta experiente, com formação acadêmica, ao mesmo tempo em que aponta e critica as mesquinharias universitárias vazias e repletas por análises frias e pseudointelectuais, como manuais com formas estanques e limitadas. Nada disso escapa do crivo de Koproski. Como no poema “Livro de poesia”, do último volume da trilogia:

“um livro de poesia não é um catálogo de lingerie, algo feito para seduzir você. um livro de poesia não é um livro de registro, um manual de todas as entradas e saídas de seus desejos mais sórdidos, mais sublimes, mais egoístas. um livro de poesia não é esse livro, um livro de poesia não é o que esse livro perde por não esperar, mas o que esse livro sonha e esquece um minuto antes de acordar.” (p. 103) •

Jornal Relevo – Setembro 2015

"Retrato do artista quando primavera"
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
“Retrato do amor quando verão, outono e inverno”
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p
"Nunca seremos tão felizes como agora"
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p
outros livros do autor estão aqui:
http://www.livrariascuritiba.com.br/koproski?&utmi_p=_retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627_p&utmi_pc=BuscaFullText&utmi_cp=koproski



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

AMOR OBSESSIVO

o amor nunca quis matar por amor
o amor nunca quis morrer por amor
mas obsessão assim eu não acredito
olhos negros olhos verdes olhos aflitos

olhos azuis em olhos cúmulos-nimbos
um olhar termina onde outro começa
assim quando o amor mais uma pressa
do que uma prece, do que uma prece, do que uma prece

o amor fez meu verso perder a linha
tanto que pedi a deus pra você me amar
depois pedi a deus pra você morrer mas
antes que você acabasse me odiando

não sou eu quem tem que perceber
que sem mim você não pode viver
conforme o tempo for passando
você vai me dar razão, teu coração,

uma canção e tudo mais, meu bem
você pode até querer sofrer sozinha
mas se essa obsessão não for minha,
então, ela não será de mais ninguém

poema: Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
“Retrato do amor quando verão, outono e inverno” 
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p
"Nunca seremos tão felizes como agora"
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p
http://www.livrariascuritiba.com.br/koproski?&utmi_p=_retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627_p&utmi_pc=BuscaFullText&utmi_cp=koproski

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Puts, virei letrista de novo! Dessa vez com 9 canções do CD “Bárbara” do músico/compositor Carlos Machado. Os versos que escrevi são o que eu chamo de “Versos Bipolares” (às vezes se comportam como letra, às vezes como poema). Depende do dia e do humor de cada um... Como nessa canção do novo CD:

YOU’RE MY WOMAN

assim que você chegou, eu vi
você é a mulher para mim
porque entre suas pernas, amor
sou todos os sóis que se põem

assim que você voltou, eu vi
você é a mulher para mim
porque entre os seus seios, amor
sou todos os céus que se sonhem

sim, você é a mulher para mim
por ser entre todas as mulheres
todas as mulheres para este homem

sim, você é a mulher para mim
por abrir e fechar meu coração
como uma canção de Leonard Cohen

poema: Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)

música: Carlos Machado
do CD “Bárbara”

"Retrato do artista quando primavera"
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
“Retrato do amor quando verão, outono e inverno”
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p

"Nunca seremos tão felizes como agora"
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p
outros livros do autor estão aqui:
http://www.livrariascuritiba.com.br/fernando%20koproski

CD do Carlos: 
https://carlosmachado.bandcamp.com/album/b-rbara
https://carlosmachado.bandcamp.com/track/youre-my-woman

terça-feira, 27 de outubro de 2015

POEMA PARA PENSAR

minha cabeça não para de pensar
    quem ela pensa que é?
ao invés de pensar, ela bem
    que poderia ter mais fé
simplesmente já perdi a paciência
    de pensar no que ela quer
ela pisava em meus neurônios,
    distraída até onde puder
mas ela parece que não pensa
    apenas tropeça numa ide-

-ia e assim sem pedir licença
    segue sem deixar pista
até o próximo pensamento
    deixando minha mente mergulhar
numa piscina de areia movediça
    onde a gente afunda a todo momento
à espera de se encontrar
    em um lugar comum

essa mania de pensar ainda
    irá nos levar a lugar nenhum

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
e aqui está o livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/fernando%20koproski

"Nunca seremos tão felizes como agora"
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p

outros livros aqui:
http://www.livrariascuritiba.com.br/fernando%20koproski

terça-feira, 20 de outubro de 2015

UMA PARA O ENGRAXATE

o equilíbrio é mantido pelas lesmas escalando os
rochedos de Santa Mônica;
sorte é descer a Avenida Western
e ouvir as garotas de uma casa
de massagem te chamando, “Oi Doçura!”
o milagre é ter 5 mulheres apaixonadas
por você aos 55 anos,
e a virtude é que você é capaz de amar
apenas uma delas.
a dádiva é ter uma filha mais delicada
que você, com uma risada mais pura
que a sua.
a paz surge ao dirigir um
fusca azul 67 pelas ruas como um
adolescente, com o rádio ligado no Que Amor De
Apresentador, sentindo o sol, sentindo o ronco firme
do motor retificado
enquanto você costura o trânsito.
a graça é ser capaz de gostar de rock,
música clássica, jazz...
qualquer coisa que contenha o vigor original do
prazer.

e a possibilidade que retorna,
é a profunda e depressiva melancolia
você estirado sobre você
cercado por paredes de guilhotina
furioso com o som do telefone
ou com os passos de qualquer um passando;
mas a outra possibilidade –
a alegre euforia que sempre se segue –
faz a garota do caixa do
supermercado parecer
com a Marilyn
com a Jackie antes que tirassem dela seu amante de Harvard
com a garota do colégio que todos
nós seguimos até em casa.

há isso que faz com que você acredite
em algo mais além da morte:
alguém num carro chegando
numa rua estreita demais,
e ele ou ela desvia para deixar você
passar, ou o velho lutador Beau Jack
engraxando sapatos
após estourar todas suas contas bancárias
com festas
com mulheres
com parasitas,
cantarolando, ofegando sobre o couro,
manejando os trapos
olhando pro alto e dizendo:
“que porra, eu tive isso por um
tempo. esse tempo compensa o
atual.”

às vezes sou amargo
mas quase sempre o sabor foi
doce. acontece que tive
medo de dizer. é tipo
quando sua mulher diz,
“fala que me ama,” e
você não consegue.

se você me vir sorrindo em
meu fusca azul
acelerando no sinal amarelo
dirigindo direto pro sol
estarei preso nas
garras de uma
vida louca
pensando em trapezistas
em anões com grandes charutos
em um inverno russo no início dos anos 40
em Chopin e sua mala com terra da Polônia
em uma velha garçonete me trazendo uma
xícara de café a mais e rindo
enquanto faz isso.

aprecio o seu melhor
mais do que você imagina.
as outras pessoas não contam
apesar delas terem dedos e cabeças
e algumas delas olhares
e muitas delas pernas
e todas elas
sonhos bons e ruins
e um caminho para trilhar.

a justiça está em todo lugar e funciona
e as metralhadoras e as rãs
e as cercas vivas assim irão te
falar.

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
do livro “Maldito deus arrancando esses poemas de minha cabeça” (7Letras)
MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (7Letras, 2015)
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p
ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR
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