terça-feira, 20 de outubro de 2015

UMA PARA O ENGRAXATE

o equilíbrio é mantido pelas lesmas escalando os
rochedos de Santa Mônica;
sorte é descer a Avenida Western
e ouvir as garotas de uma casa
de massagem te chamando, “Oi Doçura!”
o milagre é ter 5 mulheres apaixonadas
por você aos 55 anos,
e a virtude é que você é capaz de amar
apenas uma delas.
a dádiva é ter uma filha mais delicada
que você, com uma risada mais pura
que a sua.
a paz surge ao dirigir um
fusca azul 67 pelas ruas como um
adolescente, com o rádio ligado no Que Amor De
Apresentador, sentindo o sol, sentindo o ronco firme
do motor retificado
enquanto você costura o trânsito.
a graça é ser capaz de gostar de rock,
música clássica, jazz...
qualquer coisa que contenha o vigor original do
prazer.

e a possibilidade que retorna,
é a profunda e depressiva melancolia
você estirado sobre você
cercado por paredes de guilhotina
furioso com o som do telefone
ou com os passos de qualquer um passando;
mas a outra possibilidade –
a alegre euforia que sempre se segue –
faz a garota do caixa do
supermercado parecer
com a Marilyn
com a Jackie antes que tirassem dela seu amante de Harvard
com a garota do colégio que todos
nós seguimos até em casa.

há isso que faz com que você acredite
em algo mais além da morte:
alguém num carro chegando
numa rua estreita demais,
e ele ou ela desvia para deixar você
passar, ou o velho lutador Beau Jack
engraxando sapatos
após estourar todas suas contas bancárias
com festas
com mulheres
com parasitas,
cantarolando, ofegando sobre o couro,
manejando os trapos
olhando pro alto e dizendo:
“que porra, eu tive isso por um
tempo. esse tempo compensa o
atual.”

às vezes sou amargo
mas quase sempre o sabor foi
doce. acontece que tive
medo de dizer. é tipo
quando sua mulher diz,
“fala que me ama,” e
você não consegue.

se você me vir sorrindo em
meu fusca azul
acelerando no sinal amarelo
dirigindo direto pro sol
estarei preso nas
garras de uma
vida louca
pensando em trapezistas
em anões com grandes charutos
em um inverno russo no início dos anos 40
em Chopin e sua mala com terra da Polônia
em uma velha garçonete me trazendo uma
xícara de café a mais e rindo
enquanto faz isso.

aprecio o seu melhor
mais do que você imagina.
as outras pessoas não contam
apesar delas terem dedos e cabeças
e algumas delas olhares
e muitas delas pernas
e todas elas
sonhos bons e ruins
e um caminho para trilhar.

a justiça está em todo lugar e funciona
e as metralhadoras e as rãs
e as cercas vivas assim irão te
falar.

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
do livro “Maldito deus arrancando esses poemas de minha cabeça” (7Letras)
MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (7Letras, 2015)
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p
ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana-lv220048/p



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