quarta-feira, 30 de janeiro de 2013


As flores que deixei no chão


As flores que deixei no chão,
as que não colhi para você,
hoje trago todas de volta,
para que elas cresçam para sempre,
não em poemas ou em mármore,
mas onde elas caiam e apodreçam.

E os navios em seus notáveis acasos,
imensos e perecíveis como os heróis,
navios que não seria capaz de comandar,
hoje eu os trago de volta
para que eles naveguem para sempre,
não em miniaturas ou em canções,
mas onde eles se ponham à pique e afundem.

E o menino em cujos ombros eu me pus,
de quem o tempo eu purguei
com disciplina majestosa e pública,
hoje eu o trago de volta
para enfraquecer para sempre,
não em confissões ou em biografias,
mas onde ele floresça,
crescendo furtivo e cabeludo.

Não é malícia o que me conduz,
o que me leva a renunciar, a trair:
é exaustão, eu tendo a te exaurir.
Ouro, marfim, carne, amor, Deus, sangue, lua –
Sou um especialista nesse catálogo.

Meu corpo que já conheceu tão bem a glória,
agora é um museu:
essa parte reconheço por causa de uma boca,
essa outra por causa de uma mão,
essa por umidade, essa por calor.

Quem pode possuir o que não criou?
Estou tão alheio à sua beleza
quanto a crinas de cavalos e cachoeiras.
Esse é o meu último catálogo.
Eu já respiro o irrespirável
Eu te amo, eu te amo
e deixo você avançar para sempre.

Poema: Leonard Cohen
Tradução: Fernando Koproski
do livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7 Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013


jogue os dados

se você for tentar, vá até o
fim.
caso contrário, nem comece.
se você for tentar, vá até o
fim.

isso pode significar perder namoradas,
esposas, parentes, empregos e
talvez sua sanidade.
vá até o fim.

isso pode significar não comer por 3 ou
4 dias.
isso pode significar congelar num
banco de parque.
isso pode significar prisão,
isso pode significar descaso,
gozação,
solidão.
solidão é uma dádiva,
todo o resto é uma prova de sua
perseverança, do
quanto você realmente quer
fazer isso.
e você irá fazer
apesar da rejeição e das
piores probabilidades
e será melhor do que
qualquer outra coisa
que você possa imaginar.

se você for tentar,
vá até o fim.
não existe nenhuma outra sensação
parecida.
você ficará a sós com os
deuses
e as noites se farão em chamas com o
fogo.

faça, faça, faça.
faça.

até o fim
até o fim.

você conduzirá a vida direto à
risada perfeita, é
a única batalha
pela qual vale a pena lutar.

Poema: Charles Bukowski
Tradução: Fernando Koproski
do livro AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA (7 Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores,product,LV314864,3406.aspx

terça-feira, 22 de janeiro de 2013


Hoje faço 40. E este é meu poema de aniversário. Queria agradecer à minha Ingrid e a todos da família Koproski, Schulze, Paulo, Oliveira, Antoneli, Perez, Teixeira Lima, Romanelli, Teixeira Fagundes, Winnikes Pereira, Miranda e tantos outros... e a todos os amigos, os parceiros de músicas e sonhos, e aos queridos leitores dessa modesta página onde posto estes versos sem qualquer outra pretensão que não seja o desejo de gosto de rima nos lábios, de uma essência de música no olhar, ou de um flagrante delito de sonho na canção, enfim isso tudo que até pode ser poesia...rsrsrs, mas eu chamo de possível casamento entre a mente e o coração... obrigado a todos vocês! Abraço do Fernando




sexta-feira, 18 de janeiro de 2013


COM ESSES POEMAS

com esses poemas
pensei em te fazer
flores que não
acabassem morrendo

com esses poemas
pensei em te fazer
flores de vidro

mas as flores de vidro
após um tempo
acabaram quebrando

você me disse que a gente
ainda não estava amando
então escrevi outros poemas

com esses poemas
pensei em te fazer
flores de seda

mas os botões
das flores de seda
acabaram desbotando

você me disse que a gente
não estava durando
então escrevi outros poemas

com esses poemas
pensei em te fazer
flores de ferro

mas as flores de ferro
após um tempo
acabaram enferrujando

você me disse que a gente
ainda não estava vivendo
então escrevi outros poemas

com esses poemas
pensei em te fazer
flores de plástico

mas as flores de plástico
com tanta acidez
acabaram dissolvendo

você me disse que a gente
ainda não estava sendo
então parei de escrever

que me importam
esses poemas
que faço em flor

se só eles
é que estão vivendo
e amando o nosso amor?

Fernando Koproski
Poema do livro “NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA” (7 Letras)

http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013


Esses heróicos


Se eu tivesse uma cabeça iluminada
e as pessoas parassem para me olhar
nos bondes;
e pudesse estender meu corpo
pela água límpida
ficando par a par com os peixes e as cobras d’água;
se pudesse arruinar minhas asas
voando para o sol;
você acha que eu estaria nesse quarto,
recitando poemas para você,
e compondo sonhos ultrajantes
com os mínimos movimentos de seus lábios?

poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
do livro “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (7 Letras)

http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx


quinta-feira, 10 de janeiro de 2013


Tendo tudo


Por sua causa eu disse que iria cantar a lua,
dizer a cor dos rios,
encontrar novas palavras para a agonia
e o êxtase das gaivotas.

Por você estar perto,
tudo que o homem faz, contempla
ou cultiva está perto, é meu:
as gaivotas se contorcendo lentamente, cantando lentamente
nas lanças do vento;
o portal de ferro sobre o rio;
a ponte segurando entre dedos de pedra
seu luminoso e impassível colar de pérolas.

Os ramos das árvores à margem,
tal como o desenho trêmulo dos rios,
tomam a lua como aliada
a fim de reclamar jornadas exatas
do céu escuro,
mas nesse céu nada responde.
Os ramos fornecem somente um som
para as distâncias do vento.

Com sua voz e seu corpo
você falou por tudo,
despojou-me de minhas esquivanças,
me tornou uno
com a raiz e a gaivota e a pedra,
e por eu dormir tão perto de você
não posso abraçar
ou manter meu amor secreto por elas.

Você teme que eu te deixe.
Não irei te deixar.
Somente os estranhos partem.
Tendo tudo,
não tenho que ir para lugar algum.

poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
do livro "ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR" (7 Letras)

http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx

terça-feira, 25 de dezembro de 2012


AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA do Bukowski foi destaque no Parana Online, na lista dos melhores de 2012. A matéria é do escritor e jornalista Jonatan Silva:
http://www.parana-online.com.br/editoria/almanaque/news/639727/?noticia=LIVROS+PARANAENSES+ENTRE+OS+MELHORES+DE+2012

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012


vinho, poesia ou divindade

caro amigo, thadeu, lembra quando
traduzimos esse poema como um s.o.s?
não havia verso que não estivesse
no copo cantando, no corpo decantando

a gente simplesmente ia traduzindo
bebendo baudelaire direto da fonte
o renato no violão fazendo a ponte
e eu bebendo vinho e você rindo

sem dificuldade para entrar no tema
eu lia baudelaire de cor e salteado
tropeçando nuns versos de salto alto
e você “se o salto é o problema

simplesmente, muda o esquema,
quebra o salto ou põe chinelo no poema”
assim baudelaire fica mais à vontade
para falar de vinho, poesia, ou divindade

é verdade, poeta, os poemas verdadeiros
são todos descalços, e poetas só andam a pé
assim como dois calos no espelho
são os meus e os teus passos de baudelaire

e assim a gente foi se embriagando
e entrando cada vez mais no poema
charles sintonizava a nossa antena
e o vinho da poesia foi se aproximando

hoje eu sei, mais que baudelaire, a amizade
foi o resultado de nossa bêbada parceria:
você, bêbado de vinho, poesia e divindade
e eu, meu amigo, de vinho, saudade e poesia

para Thadeu Wojciechowski
esses versinhos de seu amigo Fernando Koproski
como presente de aniversário!
24/12/2012


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012







de salto agulha no olho da lua

sim, fiz essa canção pra
não pensar mais em você
fiz essa canção no caso
de esquecer de te esquecer
por que você quis aparecer
na minha vida justo agora?
por que você ainda demora
depois que vou embora?

onde você estava o tempo
todo em que fiquei sozinho?
acha que um olhar incendiado
já me dá aquele friozinho?
você precisa ter mais cuidado
os teus cabelos soltos estão
derramando chamas do meu lado
e pra quê desenterrar um coração?

você precisa ser mais discreta
se teu olhar desafogar meu sufoco
e pra quê abrir caminho de novo
a fogo e ouro em minha direção?
você precisa ter mais cuidado
e olhar antes pra onde ateia fogo
meu coração é só um campo cinza
de pólvora com a validade vencida

se você não quer me arruinar
então, me diz qual é a tua
pra sair assim na rua pisando
de salto agulha no olho da lua?
sim, querida, é tarde demais
pra você sair assim na rua
e entrar assim na minha vida
– um brinde então à minha ruína

poema de Fernando Koproski
que foi musicado por Carlos Machado 
e gravado no CD "Longe"
com participação especial de Carlos Careqa nos vocais
http://carlosmachado.bandcamp.com/track/de-salto-agulha-no-olho-da-lua


oração

amor, não me acuse de traição
todo este evangelho da beleza
que foi escrito em sua pele
a minha pele lê com perfeição,
se eu leio com minhas mãos
se eu leio com meus lábios
assim eu faço a minha oração

amor, não me acuse de distração
quando suas coxas se abrem
uma pirâmide de veludo
nesse vale suplica por atenção,
assim em sinal de devoção
ofereço meu vale, campos e mares
às tuas montanhas do coração

amor, não me acuse de heresia
por eu ousar escrever poesia
sobre o evangelho de sua pele
que eu leio com tal adoração,
se não acredita em minha oração
antes de partir me passa
um sermão dos seios às mãos

poema: Fernando Koproski
do livro “Nunca seremos tão felizes como agora” (7 Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx

este poema foi musicado por meu amigo e parceiro
Carlos Machado no Cd “Samba portátil”
http://carlosmachado.bandcamp.com/track/ora-o



Uma tradução que fiz do Bukowski está na edição de dezembro do jornal relevO (pág. 9), que é editada com muito bom gosto pelo amigo e escritor Daniel Zanella:

http://issuu.com/jornalrelevo/docs/relevo_-_edi__o_de_dezembro_de_2012


quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

essa é a entrevista onde falei sobre bukowski para o programa e-cultura:

http://www.video.pr.gov.br/index.php?video=6004



sábado, 1 de dezembro de 2012


esse foi o meu primeiro poema que virou música: "ódio platônico", pelas mãos do grande amigo e parceiro Renatão...
ÓDIO PLATÔNICO
(Quege/Koproski)
http://fandalism.com/renatoquege/H5C

A tua dor que me desculpe
O que você sente nem tem mais sentido
Amor então que me preocupe
Mas o teu ódio não será correspondido

Para odiar te falta destreza
Neste olhar mais mágoa que tristeza
Se ainda não tiver percebido
Tua aspereza não me deixa comovido

Nem se disser que o que sente
Para nós dois é suficiente
Terá possibilidade

Um dia você vai entender obsessão
E não ódio de verdade
O que se odeia quando se adia o coração
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quinta-feira, 29 de novembro de 2012


É você aquela que eu estava esperando?
(are you the one that I’ve been waiting for?)

Conforme você se aproximava, menina, senti você chegando
Sei que você ia me encontrar, porque ansiava por você
Você é o meu destino? É assim que você vai aparecer?
Enrolada num casaco e chorando?
Ah, tira esse casaco, amor, e joga no canto
É você aquela que eu estava esperando?

Conforme você se move, com certeza na minha direção
Minha alma tem me encorajado e me garantido
Que com o tempo meu coração vai me recompensar
E que tudo ainda será revelado
Então me sentei e vi uma era glacial degelando
É você aquela que eu estava esperando?

Com tristeza mundos inteiros se fizeram
Com desejo grandes maravilhas foram quistas
São só pequenas lágrimas, amor, deixa elas caírem
E encosta teu rosto no meu ombro
Além da minha janela, uma guerra está começando
É você aquela que eu estava esperando?

Ah, nós saberemos, nós não vamos saber?
Estrelas nesse céu explodirão
Mas elas não vão, não é?
As estrelas têm seu momento e morrem então

Há um homem que dizia milagres mas jamais o conheci
Ele disse: “aquele que procura, encontrará, e quem bate na porta um dia será convidado”
Eu penso em você se movendo e o quão perto você está chegando
E como qualquer pequena coisa já te antecipa
Por todas as veias, meu coração profundo vem chamando:
É você aquela que eu estava esperando?

Letra: Nick Cave
Tradução: Fernando Koproski


terça-feira, 27 de novembro de 2012


E-paraná com meu parceiro Carlos Machado, a Tati Ayres, e claro o velho Buk. O violão do parceiro ontem estava afiado... aguardem cenas dos próximos capítulos...

segunda-feira, 26 de novembro de 2012


beijo

um beijo seu
é apenas um beijo
beija apenas
o que seja beijo
o que apenas
um beijo deseje
um beijo seu
é apenas um beijo
beija apenas o que
em beijos se beije

um beijo seu beija
o que bem te vê
o que bem te ouve
o que te beethovens

um beijo assim
não devia ser
apenas beijo
devia ser escrito
de outra forma
ou ao menos
de outro jeito
mais comum
um beijo seu
devia ser escrito:

fly me to the moon

poema: Fernando Koproski
música: Carlos Machado
gravada por Carlos no CD “Tendéu”
http://carlosmachado.bandcamp.com/track/beijo


quinta-feira, 22 de novembro de 2012


dark ladies

queria um poema que fosse como essas mulheres: um poema que andasse, passasse como essas mulheres passam. um poema que olhasse, sorrisse, ignorasse, cortasse, chovesse, queimasse, distraísse, silenciasse, ficasse como essas mulheres ficam. um poema que como elas hesitasse toda sua beleza decidida. mas como o poema para as páginas, a forma e a força com que ele não lhes pertence, as mulheres. pois só assim elas podem ser – como os poemas que só são poemas pelo buraco que deixam em quem os escreve, pelos espaços, distâncias e impermanências imperecíveis que com delicadeza nos permitem ser abatidos e lembrados indignos de suavidade entre um poema e outro. mas talvez eu apenas esteja errado, talvez as mulheres já sejam poemas. nós é que não as reconhecemos como tal. daí o motivo de todos os nossos problemas, da nossa angústia incontornável, da inutilidade de nossa solidão, estupidez de nossa objetividade, insuperável covardia, inaptidão à completude e exata insinceridade. pois as mulheres já existem como poemas, pensam como poemas, passam como poemas. assim e apenas assim desejam ser escritas ou percebidas – como poemas.

nós, uma prosa apenas.

Fernando Koproski
do livro “NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA” (7Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx