As flores que deixei no chão
As
flores que deixei no chão,
as
que não colhi para você,
hoje
trago todas de volta,
para
que elas cresçam para sempre,
não
em poemas ou em mármore,
mas
onde elas caiam e apodreçam.
E
os navios em seus notáveis acasos,
imensos
e perecíveis como os heróis,
navios
que não seria capaz de comandar,
hoje
eu os trago de volta
para
que eles naveguem para sempre,
não
em miniaturas ou em canções,
mas
onde eles se ponham à pique e afundem.
E
o menino em cujos ombros eu me pus,
de
quem o tempo eu purguei
com
disciplina majestosa e pública,
hoje
eu o trago de volta
para
enfraquecer para sempre,
não
em confissões ou em biografias,
mas
onde ele floresça,
crescendo
furtivo e cabeludo.
Não
é malícia o que me conduz,
o
que me leva a renunciar, a trair:
é
exaustão, eu tendo a te exaurir.
Ouro,
marfim, carne, amor, Deus, sangue, lua –
Sou
um especialista nesse catálogo.
Meu
corpo que já conheceu tão bem a glória,
agora
é um museu:
essa
parte reconheço por causa de uma boca,
essa
outra por causa de uma mão,
essa
por umidade, essa por calor.
Quem
pode possuir o que não criou?
Estou
tão alheio à sua beleza
quanto
a crinas de cavalos e cachoeiras.
Esse
é o meu último catálogo.
Eu
já respiro o irrespirável
Eu
te amo, eu te amo
–
e
deixo você avançar para sempre.
Poema:
Leonard Cohen
Tradução:
Fernando Koproski
do
livro ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7 Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx
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