Crítica:
"Maldito deus arrancando esses poemas da minha cabeça", de Charles
Bukowski
Publicado em em 11/09/2015 às 09:01:47 - Atualizado em 11/09/2015 às
09:18:15
Perfil de Jonatan Silva
Jonatan Silva é
formado em Jornalismo e apaixonado por literatura e cinema. Escreve sobre o
hábito neurótico e pouco ortodoxo de ler.
A poesia surgiu de repente para Bukowski (1920 - 1994)
após ficar internado em um hospital, à beira da morte, em Los Angeles. Naquele tempo
os excessos já lhe eram cotidianos e, reza a lenda, que depois de receber uma
transfusão sanguínea sua percepção mudou e foi invadido por uma calmaria que
jamais experimentado - e que não deve ter durado tanto assim. Entre o real e o
abstrato, Bukowski se tornou um dos poetas norte-americanos mais influentes do
pós-guerra.
No Brasil, ele é cult, revelador, uma
espécie de guru da transgressão. A publicação de sua obra por aqui ainda é
restrita e por isso coletâneas como Maldito deus arrancando esses poemas da
minha cabeça (7Letras, 300 págs., R$ 53,00) são tão importantes.
Organizado e traduzido pelo poeta curitibano Fernando
Koproski, o livro - junto com Essa
loucura roubada que não desejo a ninguém a não ser a mim mesmo amém (2005)
e Amor é tudo que nós dissemos que não era (2012) - fecha a
trilogia do Velho Safado. "Era um sonho antigo", comentou Koproski,
primeiro brasileiro a verter o canadense Leonard
Cohen para o português.
Os poemas estão divididos em quatro
partes: “Nossos olhos transaram”, “A Maldição”, “As Nossas vidas um buquê de
sangue” e “O Súbito clarão da palavra” - cada uma dedicada a um tema, começando
pelo sexo & mulheres, indo à metalinguagem, depois Buk nos dá uma pitada de
sua ideia de isolamento & angústia para então fechar com a sua visão ácida
de uma sociedade consumista e egoísta. Apesar da divisão, o livro pode ser
aberto aleatoriamente, como um oráculo e qualquer poema pode ser lido sem que
nenhuma ordem seja infringida.
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Poeta do cotidiano
Nascido na Alemanha com o nome de
Henrich Karl Bukowski, não demorou muito para que simplificasse sua própria
identidade e passasse a ser chamado de Charles. Dispensando todas as pompas da
literatura, Bukowski sempre foi um defensor do cotidiano – quanto mais comum,
mais 'medíocre', mais poético. A prova dos nove está em “correio ardente”, “uma
para o engraxate”, ou o libidinoso “a esposa fiel”.
As musas do Velho Buk são como ele:
gente comum, do povo. De quando em quando, ele cria uma figura imaginária, uma
paixão que só existe sob seus próprios olhos. “poema para Brigitte Bardot” é
uma homenagem sem resposta, muda; já “de vez em quando” é endereçado a uma
mulher anônima que passou pelo poeta em uma rua. Não há rodeio, tudo é muito
direto, conciso e sem concessões.
O tradutor deve viver
Koproski é um artesão da palavra e, sem
dúvida, responsável por colocar parte dos poemas de Bukowski ao alcance do
leitor brasileiro. Desde seu primeiro lançamento como tradutor do poeta
norte-americano, Essa loucura roubada que não desejo a ninguém a não
ser a mim mesmo amém, o curitibano tem trabalhado na voz do próprio autor,
como se a poesia tivesse sido escrita em português.
Para compor o terceiro volume de poesia
inédita do autor de Mulheres, Koproski garimpou livros póstumos ou
ainda não visitados por ele enquanto. Obras raras por aqui – como Open all night: new poems (2000)
ou Come on in! (2006) – têm
seus representantes tupiniquins para deleite de quem ainda descobre o Buk ou já
lhe é um velho conhecido.
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