Leonard Cohen completa
80 anos e lança disco novo
Jonatan
Silva para o ParanaOnLine
Neste
domingo (21) Leonard Cohen comemora 80 anos. A data, por si só, já é motivo de
celebrações e comemorações, não fosse o fato peculiar que o
cantor-poeta-compositor canadense lança seu novo disco, Popular problems, na
terça-feira (23). O anúncio pegou os fãs de surpresa: o último disco de Cohen, Old
ideas, foi lançado há dois anos, intervalo curtíssimo dentro do universo do
artista, que já teve hiatos de 10 anos entre um trabalho e outro.
Cohen,
que há 20 anos tornou-se monge budista, faz de seus trabalhos – poéticos e
musicais – uma ponte entre o sagrado e o profano, flutuando em temas como o
amor, o desejo, o suicídio e Deus. O publicitário Diego Zerwes, criador do
projeto on line Traduzindo Leonard Cohen, acredita que a carga intelectual da
música de Cohen está atrelado ao seu talento e reconhecimento como poeta. “Ele
já era criticamente considerado um dos 5 maiores poetas canadenses, ao lado de
Irving Layton e do acadêmico Louis Dudek, antes de aventurar no mundo da
música. Northrop Frye, famoso crítico e teórico literário canadense, foi um dos
que exaltaram sua qualidade poética. O verbo, portanto, se fez antes do
acorde”, observou.
A
carreira musical começou, justamente, pela impossibilidade de se manter –
financeiramente – como poeta. No começo dos anos 60, Cohen viveu na ilha grega
de Hidra e pretendia ganhar a vida como escritor, mas a falta de dinheiro e
facilidade que tinha para criar boas músicas fez com que migrasse o show
business, em uma época em que a literatura beat e o folk de Bob Dylan ganhavam
o mundo.
Para
o poeta e tradutor Fernando Koproski, que organizou e traduziu a primeira
antologia poética publicada no Brasil de Leonard Cohen, Atrás das linhas
inimigas de meu amor (7Letras), “assim como a lírica do Bukowski (que não era
beat) se volta ao cotidiano com uma linguagem mais explosiva e direta, a lírica
do Leonard Cohen também abarca o cotidiano, mas o conquista por qualidades
outras, tais como a Sofisticação aliada e moldada a ferro e fogo com a
Simplicidade”.
Geografia sentimental
Cohen
sempre foi um sedutor – nos mais amplos sentidos e significados da palavra.
Homem de muitas mulheres, ele transformou muitas deles em musas para canções e
poemas. Suzanne, So long, Marianne – para as amantes de mesmo nome –, Chelsea
Hotel #2 – para Janis Joplin – e Waiting for a miracle – uma proposta de
casamento para a atriz Rebecca De Mornay – figuram entre as porções mais
clássicas da obra do canadense.
Para
Koproski, o segredo de Cohen está na abordagem dos temas. A resposta se
concentra entre “as vicissitudes dos relacionamentos familiares (em especial a
geografia sentimental de altos e baixos e outros acidentes geográficos na
relação entre homem e mulher), e sobretudo o mapeamento da condição humana e a
relação do homem com Deus da forma com que é continuamente questionada pelo
autor, vide sua singular trajetória pessoal e espiritual (de judeu a monge
budista)”.
Filho pródigo
A caminhada musical de Cohen é extensa, indo do folk, Songs of Leonard Cohen
(1967), ao symph pop, Various positions (1984). No entanto, o momento mágico em
sua carreira se deu a primeira década do século XXI, quando após ser roubado
pela empresária, o cantor precisou voltar a fazer turnês. Cohen nunca escondeu
que não gostava de estar na estrada, mas aqueles shows foram, na sua própria
opinião, os melhores que já fez. A crítica e o público também celebraram o
retorno do canadense aos palcos.
40 anos de gestação
Cohen
é um perfeccionista inveterado. Muitos de seus poemas e músicas levaram anos
para ficar prontos. “Hallelujah”, um de seus maiores sucessos, precisou de 5
anos, 80 estrofes e muitos cadernos, para ficar do jeito que seu criador
queria. Em Popular problems, a penúltima música “Born in chains” levou 40 anos
para ficar pronta e ainda não agradou completamente ao cantor.
“Ela
[a letra] esteve circulando por aí 40 anos. Eu a reescrevi várias vezes para
acomodar as mudanças em minha posição religiosa”, contou à revista Rolling
Stone. Koproski explica esse desejo de criar uma obra perfeita como resultado
das experiências do próprio Cohen. “A bagagem de vida que ele traz, não é pra
qualquer um”, comentou.
O
processo de composição também foi mudando no andar do tempo. Pouco a pouco a
Cohen foi deixando de lado o violão – que ele retomaria anos depois – e se dedicando
às composições com base eletrônica. “Ele carregava pra todo canto um teclado
Casio e foi a partir dele que surgiram as músicas da década de 80. Ele chegou a
admitir que compor nessa época era bem mais difícil porque, de certa forma, a
tecnologia trazia muitos recursos com os quais era mais difícil de se lidar”,
relembrou Zerwes.
I’m your fan
A
capacidade de criação de Cohen é também um poder de convencimento. Não são
poucos os artistas que se dedicam a reinterpretar as canções do canadense. A
primeira pessoa a fazer isso foi Judy Collins. A cantora foi uma espécie de
madrinha musical ao gravar “Suzanne”, no disco In my life (1966). O álbum
seguinte de Collins, Wildflowers (1967), iria contar com três composições de
Cohen: “Sisters of mercy”, “Priests” e “Hey, that’s no way to say goodbye”.
Esse
foi o ponto de partida para que nomes de R.E.M. a The House of Love também
gravasse o canadense. E foi, justamente, por meio de outros nomes que muitos
fãs de Cohen conheceram o ídolo. “Ele foi uma das grandes inspirações do
australiano Nick Cave, que possui uma vasta carreira musical, dois romances publicados
e roteiros cinematográficos. Inclusive, a primeira música do primeiro álbum de
Nick Cave & The Bad Seeds, From Her to Eternity (1984), é um cover de
‘Avalanche do grande bardo”, comentou Zerwes.
Cineastas
como Wes Anderson e Oliver Stone também beberam da fonte canadense. Por sinal,
foi graças a Assassinos por natureza (1994), de Oliver Stone, que Koproski
descobriu o canadense. “Uma música do Cohen abria o filme e outra fechava: ‘The
future’ e ‘Waiting for the miracle’, duas canções que até hoje me impressionam
pela beleza, audácia e violência de seus versos”, contou o tradutor.
O
certo é que, aos 80 anos, Cohen ainda inspira os mais novos e, com os recentes
rumores de que ele pode entrar em turnês, a expectativa para que volte aos
palcos também ajuda a confirmar o mito.
ATRÁS
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