segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013


UM POEMA DE AMOR

todas as mulheres
todos os seus beijos as
suas diferentes formas de amar e
falar e precisar.

suas orelhas todas elas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
-maridos.

na maioria
as mulheres são bem
calorosas elas me lembram
uma torrada com a manteiga
derretida
em cima.

há um jeito de
olhar: elas foram
raptadas, elas foram
enganadas. não sei bem o que
fazer por
elas.

sou
um cozinheiro honesto um bom
ouvinte
mas jamais aprendi a
dançar – estava ocupado
então com coisas maiores.

mas curti as suas diferentes
camas
fumando cigarro
olhando para os
tetos. não fui nem depravado nem
desleal. apenas
um aprendiz.

sei que todas têm esses pés
e descalças elas atravessam o assoalho enquanto
admiro suas bundas tímidas no
escuro. sei que elas gostam de mim, algumas até
me amam
mas eu amo bem
poucas.

umas me dão laranjas e vitaminas em pílulas;
outras falam calmamente sobre
a infância e pais e
paisagens; umas são meio
loucas mas nenhuma delas é sem
razão; umas desempenham bem
no amor, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre são as
melhores em outros
assuntos; cada uma tem limites assim como eu tenho
limites e nos descobrimos
um ao outro
rapidamente.

todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos
os tapetes as
fotos as
cortinas, parece
com uma igreja só
raramente é que
se ri.

aquelas orelhas aqueles
braços aqueles
cotovelos aqueles jeitos
de olhar, a ternura e
a carência me
conquistaram me
conquistaram.

Poema: Charles Bukowski
Tradução: Fernando Koproski
do livro AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA (7 Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores,product,LV314864,3406.aspx


terça-feira, 19 de fevereiro de 2013


Amor É Tudo Aquilo Que Nós Dissemos Que Não Era
Charles Bukowski 7Letras
·        Rolling  Stone

por Maurício Duarte
14 de Fevereiro de 2013

Coletânea bilíngue prova que o velho Buk era afiado também na poesia 

Charles Bukowski é um daqueles autores cujo mito pessoal caminha lado a lado com a obra e que já alcançou o status de valor inquestionável. Muito mais conhecido no Brasil por sua prosa, ele também se dedicou à poesia, em quantidade e qualidade. Autor prolífico, escreveu mais de 30 livros de poemas. A coletânea bilíngue organizada e traduzida por Fernando Koproski realizou a proeza de pinçar neste inesgotável mar de versos uma parte bastante substancial de sua obra, dividida por temas. Para Bukowski, tudo pode se tornar poesia: desde olhar a bunda de uma garota na escada rolante até o próprio ofício de escrever. A explosiva verve da prosa, que catapultou o velho Buk ao estrelato mundial, está presente em sua poesia. Os poemas são bastante narrativos no sentido de contarem histórias mais do que de usarem o recurso imagético tão comum aos poetas. Seus poemas têm personagens e enredos. É justamente dessa originalidade que surge o encanto. Afinal, quem mais além desse velho louco podia falar coisas escatológicas de forma tão bela?



http://rollingstone.com.br/guia/livro/amor-e-tudo-aquilo-que-nos-dissemos-que-nao-era/

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013


É BOM ESTAR ENTRE PESSOAS

É bom estar entre pessoas
que ficam até tarde
alheias às suas casas
e às refeições que deixam
inacabadas no prato
É só o tempo de um café
um cigarro para o pianista
uma canção de Tim Hardin
e a canção que em sua mente insista
a que sempre te faz esperar
Penso em você
minha pequena Frédérique
com sua pele branca branca
suas histórias de luxo
na Normandia
Acho que não te falei
que queria salvar o mundo
assistindo tevê
enquanto fazíamos amor
pedindo vinho grego e azeitonas para ti
enquanto meu amigo despejava
dólares na cabeça
da dançarina árabe
ao som dos clarins da Oitava Avenida
ouvindo teus planos
para um novo pet shop em Paris
Sua mãe me liga
diz que sou velho demais para você
e eu concordo
mas você aparece em meu quarto
numa manhã após tanto tempo
porque você disse que me amava
Às vezes encontro homens
que afirmam ter te dado dinheiro
há garotas que dizem
que você nunca foi uma modelo de verdade
Será que eles não sabem o que é
estar só
só entre ovos quentes em taças de prata
só diante de um cão enorme
que segue suas ordens
só para as chuvas da Normandia
vistas por janelas lacradas
só para um carro de corrida
só para os aspargos de restaurante
só para um puro príncipe
ou um explorador
Estou certo de que eles sabem
mas somos todos filhos da inveja
precisamos pôr nossas garras de pedra
na beleza alheia
exigimos um amor secreto
de todos que encontramos
um amor secreto não o amor de cada dia
Seus seios são lindos
um sabor de porcelana quente
de adoração e cobiça
Seus olhos chegam a mim
sob as lanças perfeitas
de cílios imperecíveis
Sua boca se alimenta
de palavras francesas
e das sombras suaves de sua maquiagem
Só com você
eu não imito a mim mesmo
só com você
eu não peço mais nada
seus dedos longos longos
decifrando seus cabelos
sua blusa de renda
emprestada de um fotógrafo
as luzes do banheiro
cintilando em suas novas unhas vermelhas
suas longas pernas a postos
assim que te olho da cama
enquanto você remove o orvalho
do espelho
para atuar atrás das linhas inimigas
de sua obra-prima
Venha para mim se estiver envelhecendo
venha para mim se estiver a fim de um café

Poema: Leonard Cohen
Tradução: Fernando Koproski
do livro “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (7Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx


domingo, 10 de fevereiro de 2013


a marchinha dos zumbis

o carnaval em Curitiba
expulsa todos da cidade
ah, mas que felicidade
ter a cidade só pra mim

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

olha só a baiana alemoa
humm, mas que boa
olha só a baiana polonesa
humm, mas que beleza

se tem zumbi na avenida
ninguém tem uma ala
das baianas mais bonita
só o carnaval em Curitiba

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

se o povo na praia pede bis
que fique com todo o litoral
eu sou da terra dos zumbis
quero carne nova no carnaval

Fernando Koproski

"menina de olhos verdinhos" é um poema do meu livro Tudo que não sei sobre o amor... ele virou música pelas mãos do Téo Ruiz, e foi gravada pela banda Casca de Nós. aqui o poema e o clip:

MENINA DE OLHOS VERDINHOS

por você guardar 
um mar assim em teus olhinhos

de tão longe eu vim
para ficar de você junto juntinho

antes de te encontrar
em tantos lagos fiquei sozinho

é que dentro de mim
um blues chovia bem baixinho

tentei fazer poesia
do que eu chovia pelo caminho

mas era tão pouco mar
que amar mal dava um versinho.

se um dia tiver que levar
o meu amor, leva devagarinho

fala depressa todo jasmim
até ficar longe de mim pertinho

antes que uma dor qualquer
faça cárie em meu carinho.

Fernando Koproski
do livro Tudo que não sei sobre o amor
http://www.livrariascuritiba.com.br/tudo-que-nao-sei-sobre-o-amor-travessa,product,LV181720,3394.aspx

clip:
http://www.overmundo.com.br/banco/menina-dos-olhos-verdinhos


sábado, 2 de fevereiro de 2013

entrevista de Fernando Koproski concedida para Jonatan Rafael Silva, no blog "Nada de meias palavras":
http://nadademeiaspalavras.wordpress.com/2013/02/01/especial-fim-de-semana-entrevista-exclusiva-com-o-poeta-e-tradutor-fernando-koproski/