UM POEMA DE AMOR
todas as mulheres
todos os seus beijos as
suas diferentes formas de amar e
falar e precisar.
suas orelhas todas elas têm
orelhas e
gargantas e vestidos
e sapatos e
automóveis e ex-
-maridos.
na maioria
as mulheres são bem
calorosas elas me lembram
uma torrada com a manteiga
derretida
em cima.
há um jeito de
olhar: elas foram
raptadas, elas foram
enganadas. não sei bem o que
fazer por
elas.
sou
um cozinheiro honesto um bom
ouvinte
mas jamais aprendi a
dançar – estava ocupado
então com coisas maiores.
mas curti as suas diferentes
camas
fumando cigarro
olhando para os
tetos. não fui nem depravado nem
desleal. apenas
um aprendiz.
sei que todas têm esses pés
e descalças elas atravessam o assoalho enquanto
admiro suas bundas tímidas no
escuro. sei que elas gostam de mim, algumas até
me amam
mas eu amo bem
poucas.
umas me dão laranjas e vitaminas em
pílulas;
outras falam calmamente sobre
a infância e pais e
paisagens; umas são meio
loucas mas nenhuma delas é sem
razão; umas desempenham bem
no amor, outras nem
tanto; as melhores no sexo nem sempre são as
melhores em outros
assuntos; cada uma tem limites assim como eu tenho
limites e nos descobrimos
um ao outro
rapidamente.
todas as mulheres todas as
mulheres todos os
quartos
os tapetes as
fotos as
cortinas, parece
com uma igreja só
raramente é que
se ri.
aquelas orelhas aqueles
braços aqueles
cotovelos aqueles jeitos
de olhar, a ternura e
a carência me
conquistaram me
conquistaram.
Poema:
Charles Bukowski
Tradução:
Fernando Koproski
do
livro AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA (7 Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores,product,LV314864,3406.aspx