segunda-feira, 9 de março de 2015

Hoje faz 21 anos que o velho Buk não morreu, pois continua vivo em muitos versos, histórias, memórias e poéticas. A quantidade de livros que é lançada ano após ano no mercado americano atesta a vitalidade dessa poética desbocada e visceral. E por falar em poética, nada melhor que lembrar desse poema que na verdade não é um poema, mas uma “borboleta em seu cérebro”.

SPLASH

a ilusão é pensar que você está apenas
lendo este poema.
a realidade é que isto é
mais que um
poema.
isto é a faca do mendigo.
isto é uma tulipa.
isto é um soldado marchando
sobre Madrid.
isto é você no seu
leito de morte.
isto é Li Po rindo
lá embaixo.
isto não é a porra
de um poema.
isto é um cavalo adormecido.
uma borboleta em
seu cérebro.
isto é o circo
do diabo.
você não está lendo isto
numa página.
a página é que está lendo
você.
sacou?
é como uma cobra.
é uma águia faminta
rondando o quarto.

isto não é um poema.
poemas são um tédio,
eles te fazem
dormir.

estas palavras te arrastam
para uma nova
loucura.

você foi abençoado,
você foi atirado
num
lugar que cega
de tanta luz.

o elefante sonha
com você
agora.
a curva do espaço
se curva e
ri.

você já pode morrer agora.
você já pode morrer do jeito
que as pessoas deveriam
morrer:
esplêndidas,
vitoriosas,
ouvindo a música,
sendo a música,
rugindo,
rugindo,
rugindo.

poema: Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
do livro ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 Letras)

 E aqui, o poema numa versão que fiz com meu amigo Alexandre França:



domingo, 8 de março de 2015

e hoje em homenagem ao dia delas, um poema para aquela que são todos os meus dias... um beijo pra vc, ingrid...

DARK LADIES

queria um poema que fosse como essas mulheres: um poema que andasse, passasse como essas mulheres passam. um poema que olhasse, sorrisse, ignorasse, cortasse, chovesse, queimasse, distraísse, silenciasse, ficasse como essas mulheres ficam. um poema que como elas hesitasse toda sua beleza decidida. mas como o poema para as páginas, a forma e a força com que ele não lhes pertence, as mulheres. pois só assim elas podem ser – como os poemas que só são poemas pelo buraco que deixam em quem os escreve, pelos espaços, distâncias e impermanências imperecíveis que com delicadeza nos permitem ser abatidos e lembrados indignos de suavidade entre um poema e outro. mas talvez eu apenas esteja errado, talvez as mulheres já sejam poemas. nós é que não as reconhecemos como tal. daí o motivo de todos os nossos problemas, da nossa angústia incontornável, da inutilidade de nossa solidão, estupidez de nossa objetividade, insuperável covardia, inaptidão à completude e exata insinceridade. pois as mulheres já existem como poemas, pensam como poemas, passam como poemas. assim e apenas assim desejam ser escritas ou percebidas – como poemas.

nós, uma prosa apenas.

Fernando Koproski
do livro “NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA” (7Letras)
outros livros do autor estão aqui:
http://www.livrariascuritiba.com.br/searchresults.aspx?type=2&dskeyword=KOPROSKI

sexta-feira, 6 de março de 2015

ASSIM É QUE SE FAZ UM BLUES

você acha que sou louco
    por passar a vida nas nuvens
só pensando em azuis
    mas sente só a canção que compus

amor, não sou louco
    muito menos um bêbado de luz
acontece que o amor esqueceu
    de me dar o troco

mas ainda faço jus
    todo o amor que me deste
é uma dádiva e não uma dívida
    que eu já repus

assim é que se faz um blues
    veja o que se desenha
no canto dos teus lábios
    e enche teu olho de luz

assim é que se faz um blues
    assim é que se faz um blues
assim é que se faz um blues
    assim é que se faz um blues

assim é que se faz um blues
    essa é a minha cruz
você acha que estou morto
    mas ainda faço jus

mesmo com as rosas
    com a garganta cortada,
toda a tua pureza amordaçada
    eu ainda te vejo, blues

quando não tem luz
    trago a lua no peito
só para o amor deixar de ser besta
    e ver nós dois nus

assim é que se faz um blues
    assim é que se faz um blues
assim é que se faz um blues
    assim é que se faz um blues

assim é que se faz um blues
    veja o que se desenha
no canto dos teus lábios
    e enche teu olho de luz

Fernando Koproski
fragmento do poema “Assim é que se faz um blues”
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)

    a possibilidade de lua me atormenta. sei que não
será sutil, tampouco sensato quando ela chegar. a
lua nunca é discreta. confissões, desastres, intenção
de voo, suicídios, tudo que a gente for capaz
quando a lua daquele jeito no céu. sei que serei
inconsequente, certamente indesculpável. depois
que ela passar, vou me preocupar. tenho
atenuantes, não importa o que disserem. essa noite
azul o meu motivo, sem razões aparentes. depois
que a lua passar vou me preocupar. agora não, é
inútil, a lua não vai me deixar tão cedo. ela chega
inquestionável como um mar onde o delírio uma
música imprescindível. não adianta mais desviar o
olhar. nada mais há que eu possa fazer. agora a lua
é minha, minha e de mais ninguém.

Fernando Koproski
do livro “O livro de sonhos”

outros livros do autor estão aqui:

quarta-feira, 4 de março de 2015

EVIDÊNCIA

putas e grandes poetas deveriam
evitar uns aos outros:
suas profissões são perigosamente
parecidas:
do Império Romano à nossa
Era Atômica
há um número quase
igual de putas e
poetas
com as autoridades continuamente
tentando banir
as primeiras
e ignorar os últimos
– o que te diz
o quão perigosa
a poesia
realmente
é.

Poema: Charles Bukowski
Tradução: Fernando Koproski
do livro AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA (7 Letras)
outros livros do fernando estão aqui:


terça-feira, 3 de março de 2015

ESSES HERÓICOS

Se eu tivesse uma cabeça iluminada
e as pessoas parassem para me olhar
nos bondes;
e pudesse estender meu corpo
pela água límpida
ficando par a par com os peixes e as cobras d’água;
se pudesse arruinar minhas asas
voando para o sol;
você acha que eu estaria nesse quarto,
recitando poemas para você,
e compondo sonhos ultrajantes
com os mínimos movimentos de seus lábios?

Poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
este poema faz parte da antologia poética “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (7Letras)
livro à venda com exclusividade nas lojas da Livrarias Curitiba:

segunda-feira, 2 de março de 2015

CANÇÃO MORTAL

dentro desse poema imortal
teu amor é mortal
e irá morrer quietinho
lentamente
aos poucos
e bem devagarinho
dentro de mim

sim teu amor irá morrer demoradamente
só para que um dia eu possa dizer
que morreu assim de repente

até que um dia enfim
ele tenha morrido totalmente

antes que esse dia aconteça
irei me contentar em te ver morrer
apenas nesse poema

sei que essa morte não é o fim do problema
mas já é uma morte aceitável
considerando quem você é
e do que você é capaz
essa morte, meu bem,
já é uma paz

dentro desse poema imortal
teu amor é mortal
e irá morrer
onde eu o enterrei
no fundo
bem lá no fundo
do coração dessas páginas

assim quem sabe um dia enfim
você possa morrer para sempre
para mim

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
aqui está o livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno”

outros livros do autor estão aqui:

e aqui também:

Poema: Charles Bukowski
Tradução: Fernando Koproski
da antologia poética ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 Letras)

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

CANÇÃO DESCARTÁVEL

nessa manhã tão linda
de frio e chuva em Curitiba
ah, você sabe como é...
na quarta-feira de cinza
apaga teu fogo, mulher!

já acabou o carnaval
então tira o samba do pé
mas deixa o brilho no olhar
ah, guarda no guarda-roupa
aquele olhar à queima-roupa

mas tira essa ideia da boca,
e tira esse calor das coxas
e bota o vestido pra lavar
que a vida é pra agora, amor
e eu preciso trabalhar...

Fernando Koproski

ps. A ilustração desse post, mais uma vez, é do grande SHIKO!

https://www.flickr.com/photos/derbyblue/

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Meu livro é uma das 10 sugestões de leitura do ParanaOnline. Minha estima e agradecimentos à coluna Contracapa do escritor Jonatan Silva!

RETRATO DO AMOR QUANDO VERÃO, OUTONO E INVERNO – Fernando Koproski

Parte da trilogia “Um poeta deve morrer”, o livro é uma coleção belíssima de poemas sobre o amor e as experiências cotidianas. Koproski, que também é responsável por traduzir Cohen e Bukowski, consegue criar um ambiente lírico intimista, capaz de produzir uma importante reflexão sobre o papel do amor em nossas vidas.

Jonatan Silva para o ParanaOnline

http://www.parana-online.com.br/colunistas/contracapa/107857/10+LIVROS+CURTOS+PARA+LER+DURANTE+O+CARNAVAL

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

CARNAVAL EM CURITIBA

posso driblar todo ódio
que teu abraço abriga
posso até acabar em rima
o que só acaba em briga

querida, posso até querer
que você me contradiga
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

posso até me arrepender
dessa vida pelo resto da rima
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

é carnaval em Curitiba
mulher, deixa de pose
tua beleza fascista
não me fascina

sinta só o frio
na barriga da passista
até parece ansiedade
mas é chuva fina

é carnaval em Curitiba
nossa polaca mais mulata
pode ser bailarina
mas não nega a neblina

sambando na pista
ela mostra toda a ginga
que a perna ensina
porque é carnaval em Curitiba

com muita blusa de lã
e pinga de antonina
nossa rainha da bateria
quebra o gelo e encara a geada

mas se a gente canta
aí é que a gente dança,
deixa toda a vizinhança
de cara e irritada

mas se a gente samba
a gente ganha confiança,
mostra na base da pinga
a ginga das perna engessada

Fernando Koproski

ps. A ilustração desse post, mais uma vez, é do grande artista SHIKO!

https://www.flickr.com/photos/derbyblue/

domingo, 15 de fevereiro de 2015

A MARCHINHA DOS ZUMBIS

o carnaval em Curitiba
expulsa todos da cidade
ah, mas que felicidade
ter a cidade só pra mim

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

olha só a baiana alemoa
humm, mas que boa
olha só a baiana polonesa
humm, mas que beleza

se tem zumbi na avenida
ninguém tem uma ala
das baianas mais bonita
só o carnaval em Curitiba

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

se o povo na praia pede bis
que fique com todo o litoral
eu sou da terra dos zumbis
quero carne nova no carnaval

Fernando Koproski

ps. A ilustração desse post é do grande artista paraibano SHIKO!

https://www.flickr.com/photos/derbyblue/

sábado, 14 de fevereiro de 2015

SAMBA PORTÁTIL

meu coração/já sei por quê/tem essa mania/de bater por você//onde eu vou/ele leva meu amor/assim minha rima/tem mira certeira//quando o coração/leva o ritmo no peito/meu verso leva jeito/pra fechar de primeira//se você duvida/da cadência dessa paixão/sente só o tum-tum/do meu coração//na escola ele era/batucada na carteira/depois do teu beijo,/bateria da mangueira//amar de todas as formas/ou de qualquer maneira/meu coração é essa máquina/de samba portátil/pela porta-bandeira//ah, minha porta-bandeira/você acha que é loucura/a vida inteira/ele bater assim//mas quando você/diz tam-tam/ele diz tum-tum/então tim-tim

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
ps. A ilustração desse post é do grande artista paraibano SHIKO!

aqui está o livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno”

outros livros do autor estão aqui:

e aqui também:

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

VERÃO DO AMOR

se for amor, o fim de nós dois há de ser
dor, pra que não haja mais dúvida
sim, a sua estupidez não lhe deixa ver
o quanto você é estúpida

acho que você já percebeu que ando
pingando versos pelos cotovelos,
falando pelos pelos, rezando pelos joelhos,
ultimamente ando me denunciando

se não for amor, meu amor me desculpe
acabei falando bem o que não devia
e magoei justo quem não merecia
se for ou não for amor, não me culpe

já é hora de acabar com essa estória
a dor não vai escrever tuas memórias
esse suor do teu olho não irá me convencer
que as tuas lágrimas já sabem sofrer

Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras)
e aqui está o livro “Retrato do artista quando primavera”
outros livros do autor estão aqui:

e aqui também:

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ÚLTIMA CANÇÃO

amor tem nada a ver com isso
não prometi ao amor compromisso
vim até aqui só para ver a lã
que vem de teus lábios de avelã

se era pra você me aquecer
tecer uma canção só por vício
amor tem nada a ver com isso
nem sei se presto ou não presto

vim até aqui só por um verso
que no fim me levasse ao início
não me interessa o refrão
onde você vai pôr seu coração

o amor ainda está de manhã
e o resto é canção

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
aqui está o livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno”
outros livros do autor estão aqui:

e aqui também:


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Poeminha de aniversário

Eu com 42 e ela com quase 14
Já vimos de tudo e mais um pouco
E à suavidade brindamos juntos hoje
Ela com leite, eu com água de coco

Assim comemoramos mais um ano
Ela no sofá de novo dormindo ao sol
E eu mais uma vez aqui imaginando
Uma outra forma de dizer “enfim sós”

Se envelhecemos, nem ela nem
Eu nos importamos com isso
Acho que o Tempo e você também,
Leitor, há de concordar comigo

O que importa não são os anos,
Desenganos, se eu amo ou “quando”
Importa mais o “quanto” dentro de nós
Até o dia em que eu e você “enfim sóis”

Fernando Koproski
22 de janeiro de 2015