quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

É você aquela que eu estava esperando?
(are you the one that I’ve been waiting for?)

Conforme você se aproximava, menina, senti você chegando
Sei que você ia me encontrar, porque ansiava por você
Você é o meu destino? É assim que você vai aparecer?
Enrolada num casaco e chorando?
Ah, tira esse casaco, amor, e joga no canto
É você aquela que eu estava esperando?

Conforme você se move, com certeza na minha direção
Minha alma tem me encorajado e me garantido
Que com o tempo meu coração vai me recompensar
E que tudo ainda será revelado
Então me sentei e vi uma era glacial degelando
É você aquela que eu estava esperando?

Com tristeza mundos inteiros se fizeram
Com desejo grandes maravilhas foram quistas
São só pequenas lágrimas, amor, deixa elas caírem
E encosta teu rosto no meu ombro
Além da minha janela, uma guerra está começando
É você aquela que eu estava esperando?

Ah, nós saberemos, nós não vamos saber?
Estrelas nesse céu explodirão
Mas elas não vão, não é?
As estrelas têm seu momento e morrem então

Há um homem que dizia milagres mas jamais o conheci
Ele disse: “aquele que procura, encontrará, e quem bate na porta um dia será convidado”
Eu penso em você se movendo e o quão perto você está chegando
E como qualquer pequena coisa já te antecipa
Por todas as veias, meu coração profundo vem chamando:
É você aquela que eu estava esperando?

Letra: Nick Cave
Tradução: Fernando Koproski

e aqui um belo vídeo de animação sobre essa música:
https://www.youtube.com/watch?v=NXcuX01ycB8&ebc=ANyPxKo3J3XcQkHCZpBpXSjp522zgGeW1Kh2emZHcuF72hVqSIyT1xO6HCScrUGfJG0dv96rI7JBC8hkKz2iN-JOF7fGIW36aw

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

sobre
a nossa discussão essa noite
não interessa sobre
o que era
e
não importa
o quão triste
ela nos
deixou

lembre-se que
existe
um gato
em algum lugar
se ajustando
ao seu próprio espaço
com uma graça
encantadora

em outras palavras
a magia continua
sem nós
não importa o quê
a gente possa fazer
para estragar isso.

fragmento do poema “Em outras palavras” de Charles Bukowski
tradução: Fernando Koproski
da antologia poética MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (7Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

O sangue suja de raiva, ódio, indiferença. O sangue suja de beleza e paixão. E de paixão em paixão mal curada, o sangue suja de compaixão e verdade. O sangue suja o coração desse velho poeta na iminência da morte, quando ele vê se formar o seu último inverno. O sangue suja quando um amor vai embora. O sangue suja depois que elas, todas as mulheres, já foram embora, e não há mais nada, só um velho, uma máquina de escrever com as teclas gastas e um coração usado.
Mas o velho já sabe de tudo isso, todos os mecanismos poéticos e antipoéticos pelos quais o sangue suja no dia a dia. Ele também já viu o sangue sujar quando era jovem e intimava o barman a uma briga nos fundos do bar. Quando os primeiros invernos pediam uísques puros, olhos puros e corações limpos, o jovem Buk encontrava a Morte sempre a postos, bebendo sozinha no balcão. Lá estava ela, sempre ela com aquela sede de sangue de poeta, mordendo um beijo a cada poema sincero e mulher desonesta.
Assim é que o sangue suja, enquanto Deus arranca poemas de sua cabeça. Sim, o sangue suja e se lava nessa poesia. O sangue suja as páginas de poesia – da maneira mais curta, mais bonita e mais explosiva que se possa imaginar. Porque assim é a poesia do velho Buk: uma poesia clara, verdadeira e imediata como um jab de direita na cara do conformismo, um murro no estômago da indiferença, um soco no saco da Morte.
Conforme traduzia esses poemas, sentia cada soco lírico vibrando na carne, chamando o sangue à superfície da pele. Assim é que traduzi, num corpo a corpo imprescindível com a página, pondo a língua materna pra lutar com a estrangeira lá naquele beco, onde tudo de fato acontece, nos fundos do Bar das Poéticas Contemporâneas. 
Assim é que sujei também meus punhos com esse sangue, esmurrando as paredes surdas aos poemas, percebendo as nossas vidas como um mero buquê de sangue enquanto se espera por um amor, um sonho, o súbito clarão da palavra, ou pelo menos a manhã seguinte. Porque nós somos essa espera, e às vezes o que resta é ver como a loucura flutua na lagoa ou como caminhamos desajeitados em direção ao Nirvana, enquanto o sol comanda a misericórdia.
Mas isso não é motivo pra desistir. Como diz o autor, essas são as noites em que você luta melhor. Por isso, quando entrar nesse livro, não precisa se esquivar da Morte ou fingir ficar indiferente. Nos fundos daquele bar, o autor te espera para uma luta de 15 assaltos, ou melhor, 60 poemas... Mas você não precisa ter medo de ver o sangue sujar. O autor não teve medo de encarar a página e arregaçar o coração na sua frente. Então cai dentro, meu amigo, e lembre-se: só depois que o sangue suja é que o poema limpa o coração e a mente.

Fernando Koproski
texto de apresentação da antologia poética MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (7letras), de Charles Bukowski

http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p

http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p

http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

CANÇÃO DESCARTÁVEL

nessa manhã tão linda
de frio e chuva em Curitiba
ah, você sabe como é...
na quarta-feira de cinza
apaga teu fogo, mulher!

já acabou o carnaval
então tira o samba do pé
mas deixa o brilho no olhar
ah, guarda no guarda-roupa
aquele olhar à queima-roupa

mas tira essa ideia da boca,
e tira esse calor das coxas
e bota o vestido pra lavar
que a vida é pra agora, amor
e eu preciso trabalhar...

Fernando Koproski

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

Maria das Dores 

tirei das Dores pra dançar
mas não sabia nada dela
ninguém me avisou
o que era dor, o que era amor
e o que era ela

eu só queria dançar
e me perdi dela na passarela
o amor nunca mais voltou
a dor parou no peito
e eu no parapeito da janela

ah, volta pro meu beijo
ou me deixa em paz na passarela!
das Dores, sai desses ais!
a tua dor eu não quero mais

o amor eu já conheço
de outros carnavais...

Fernando Koproski
7 de fevereiro de 2016
SAMBA PORTÁTIL

meu coração/já sei por quê/tem essa mania/de bater por você//onde eu vou/ele leva meu amor/assim minha rima/tem mira certeira//quando o coração/leva o ritmo no peito/meu verso leva jeito/pra fechar de primeira//se você duvida/da cadência dessa paixão/sente só o tum-tum/do meu coração//na escola ele era/batucada na carteira/depois do teu beijo,/bateria da mangueira//amar de todas as formas/ou de qualquer maneira/meu coração é essa máquina/de samba portátil/pela porta-bandeira//ah, minha porta-bandeira/você acha que é loucura/a vida inteira/ele bater assim//mas quando você/diz tam-tam/ele diz tum-tum/
então tim-tim

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)

CARNAVAL EM CURITIBA

posso driblar todo ódio
que teu abraço abriga
posso até acabar em rima
o que só acaba em briga

querida, posso até querer
que você me contradiga
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

posso até me arrepender
dessa vida pelo resto da rima
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

é carnaval em Curitiba
mulher, deixa de pose
tua beleza fascista
não me fascina

sinta só o frio
na barriga da passista
até parece ansiedade
mas é chuva fina

é carnaval em Curitiba
nossa polaca mais mulata
pode ser bailarina
mas não nega a neblina

sambando na pista
ela mostra toda a ginga
que a perna ensina
porque é carnaval em Curitiba

com muita blusa de lã
e pinga de antonina
nossa rainha da bateria
quebra o gelo e encara a geada

mas se a gente canta
aí é que a gente dança,
deixa toda a vizinhança
de cara e irritada

mas se a gente samba
a gente ganha confiança,
mostra na base da pinga
a ginga das perna engessada

Fernando Koproski
A MARCHINHA DOS ZUMBIS

o carnaval em Curitiba
expulsa todos da cidade
ah, mas que felicidade
ter a cidade só pra mim

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

olha só a baiana alemoa
humm, mas que boa
olha só a baiana polonesa
humm, mas que beleza

se tem zumbi na avenida
ninguém tem uma ala
das baianas mais bonita
só o carnaval em Curitiba

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

se o povo na praia pede bis
que fique com todo o litoral
eu sou da terra dos zumbis
quero carne nova no carnaval

Fernando Koproski