KOPROSKI fala sobre BUKOWSKI
O
poeta, letrista e tradutor Fernando Koproski fala sobre a nova antologia
poética que organizou e traduziu de Charles Bukowski
No
Brasil, conhecemos bastante o contista e o romancista Charles Bukowski, mas
muito pouco do poeta. Essa foi uma das razões, também, para que passasse a
traduzi-lo? Como conheceu a poesia o escritor?
FK: Essa afirmação de que o
‘Bukowski poeta é muito pouco conhecido’ hoje, felizmente, já não condiz com a
realidade. Nos últimos 10 anos, editorialmente falando, as coisas mudaram e pra
melhor. Depois da publicação das antologias poéticas que organizei e traduzi do
Charles Bukowski: “ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A
MIM MESMO AMÉM (7Letras, 2005)” e “AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA
(7Letras, 2012)”, a publicação da coletânea “Os 25 melhores poemas de Bukowski”
(tradução póstuma do Jorge Wanderley) e do livro “Open all night”, publicado dividido
em 4 volumes pela catarinense Spectro Editora, o ‘Bukowski poeta’ tem sido divulgado
com mais amplitude no mercado editorial brasileiro e o interesse por sua obra
só tem aumentado. Respondendo à segunda pergunta, conheci a obra poética do
Charles Bukowski no ano 2000, quando morava na Inglaterra, estudando literatura
e língua inglesa, e lavando pratos num restaurante londrino. E a identificação
foi imediata.
Qual a
diferença, para você, entre a prosa e poesia de Bukowski?
FK: Quando me perguntam
isso, sempre me lembro de uma declaração do autor que fala o seguinte: “poesia
é a maneira mais curta, mais bonita e mais explosiva de dizer”. Essa afirmação
é uma chave de interpretação simples e direta para a poética desse autor que de
uma maneira muito particular, soube tratar em versos de temas imperecíveis,
tais como as vicissitudes dos relacionamentos amorosos, a infância sofrida nas
mãos de um pai opressivo e de uma mão ausente, o percurso tortuoso de se
perceber um escritor e poeta num mundo descartável, fútil e frívolo onde os
grandes valores perdem valor a olhos vistos diariamente, a constatação do lento
e gradual esvaziamento de quem se atira cegamente em busca das oportunidades
alardeadas pelo dito “sonho americano”, sonho este que se revela falível aos
que dividem a difícil realidade da classe trabalhadora. Enfim, é uma poesia intensa,
liricamente provocativa, abrangente e diversificada que vê formas de beleza incomuns
em lugares inusitados. E em virtude da singularidade desse olhar é que a poesia
bukowskiana encontra grande expressividade e receptividade junto ao público
leitor.
Como foi
a recepção dos livros que traduziu? Há público para a poesia de Bukowski no
nosso restrito mercado de poesia?
FK: Sim, há um público
crescente, cada vez maior de pessoas interessadas na poesia do velho Buk. Posso
dizer isso, levando em conta a ótima receptividade que tiveram as 2 antologias
poéticas que organizei e traduzi desse autor. Em parte em função disso, e muito
em virtude da grande qualidade do material literário que garimpei nesses
últimos anos, é que estou lançando agora a minha terceira antologia com poemas
do Bukowski. “MALDITO DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (7Letras,
2015)” é o título desse novo trabalho que apresenta poemas selecionados de 16
livros do autor.
Geralmente
o lado mais “festivo”, digamos, da obra de Bukowski é enfatizado: as
bebedeiras, os relacionamentos amorosos sem compromisso, etc. Mas a obra também
fala sobre as dificuldade de um homem que não quer – ou não pôde – viver o
sonho americano. Que aspecto da obra de Bukowski você acha mais significativo?
FK: Realmente o tema dos
relacionamentos amorosos, ou o das aventuras etílicas, são os temas mais
populares da obra bukowskiana, certamente, por serem temáticas que foram muito
bem apresentadas em sua obra em prosa. Essas temáticas também comparecem com força
e beleza na poesia do Bukowski. Mas outras temáticas me cativam também, tais
como as considerações sobre a natureza humana, a forma ríspida e lírica com que
o “velho” trata da desesperança, inquietude, considerações sobre o envelhecimento
e morte, a percepção do desperdício, não só do desperdício físico de nossas
vidas que são diariamente mastigadas e trituradas pela rotina de um trabalho
insatisfatório, mas também a do desperdício mental e espiritual de conduzir uma
existência, como se fosse um inventário de perdas, onde o sofrimento não
implica necessariamente num crescimento mas apenas num longo e sistemático esvaziamento
do ser humano. A poesia quando surge dessas instâncias é bela, perigosa e
implacável.
Por que
acha que Bukowski atrai a leitura de jovens? É apenas a linguagem acessível? O
que há de mais atrativo na prosa e poesia do autor?
FK: A intensidade, concisão
e beleza natural dos versos bukowskianos certamente atrai a atenção do leitor.
Isso tudo aliado à coloquialidade, fruto da simplicidade no uso na linguagem
extremamente comunicativa, faz com que o autor crie uma poética que fala a
todos os públicos, e não somente àquele público letrado, que é tradicionalmente
considerado como “público de poesia”.
No
Brasil, apesar de muito lido, não há estudos sobre Bukowski na universidade.
Tem alguma ideia do porquê isso ocorre?
FK: Isso pode ter
acontecido no passado. Mas hoje a realidade talvez já seja diferente. Ano
passado, soube que minhas traduções do Bukowski já fazem parte do programa de leitura
sobre poesia norte-americana numa disciplina da USP. Assim é que os estudos
começam...
Ainda há
muito material poético para ser traduzido. Tem planos de fazer novas traduções?
FK: Nesse momento, através
da bela iniciativa da editora 7Letras estou realizando esse sonho que era o de
publicar uma trilogia de antologias poéticas. No primeiro semestre desse ano a 7Letras
já reeditou as 2 primeiras antologias, o “ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A
NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM” e o “AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO
ERA”) e agora em Setembro lançou o terceiro volume da trilogia, o “MALDITO DEUS
ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA”. Feito isso, posso dizer que nesses
últimos 15 anos, passei um propício “pente fino” em toda a obra poética publicada
do autor, que consiste em mais de 30 livros de poesia, e nesse percurso tive a satisfação
e a felicidade de traduzir e conviver com grandes poemas, os quais apresento em
minhas 3 antologias poéticas. Espero que o leitor curta essa experiência.
Uma
curiosidade. Como você negociou os direitos dos poemas. Quem cuida do espólio?
O acervo ainda pertence à Black Sparrow, de John Martin?
FK: Tenho a sorte de ser
assessorado por ótimos profissionais na editora 7Letras, e por ter um ótimo
diálogo junto a agentes literários brasileiros e americanos. Em conjunto,
tomamos decisões, as quais viabilizaram a publicação tanto dessas 3 antologias poéticas
do Bukowski, quanto da antologia poética “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU
AMOR” do Leonard Cohen, que é o outro autor com quem já trabalhei de forma
satisfatória em meus estudos de tradução.
MALDITO
DEUS ARRANCANDO ESSES POEMAS DE MINHA CABEÇA (7Letras, 2015)
http://www.livrariascuritiba.com.br/maldito-deus-arrancando-esses-poemas-de-minha-cabeca-aut-paranaense-lv386681/p
ESSA
LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM
http://www.livrariascuritiba.com.br/essa-loucura-roubada-que-nao-desejo-a-ninguem-a-nao-ser-a-mim-mesmo-amem-7-letras-lv314866/p
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA
AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA
http://www.livrariascuritiba.com.br/amor-e-tudo-que-nos-dissemos-que-nao-era-autores-lv314864/p
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