quinta-feira, 20 de agosto de 2015

RETRATO DO ARTISTA QUANDO PRIMAVERA

é agosto
e quando percebo
as pétalas dos ipês já estão caindo

sei que para os outros
o esplêndido é imperceptível

sei que para mim
toda beleza é insustentável
em minhas flores
as pétalas são feitas de pus

sei que nós desmerecemos
as floradas dos ipês
os dedos da tarde
em suas mechas de luz

desmerecemos qualquer
alto das árvores

pois o alto das árvores
se afasta o quanto pode
do chão
e da gente

mas fui muito ingênuo

eu era míope à suprema
audácia da dor
a de doer em mim uma dor
que não possa ser doada,

dor que não possa ser
transformada

pois o outono não é estação
que possa ser primaverada

não sabia que ao teu lado, dor,
o que eu poderia ter era inverno,
inverno e mais nada

assim minha juventude
foi toda intoxicada
pela ideia de beleza

procurei a beleza na paisagem
que me passava

sim, procurei o amor, a beleza,
mas não como a luz pelos ipês
ou como os ipês pela luz

apenas procurei
entre as folhas

e por onde a luz entrou
por onde a luz me rasgou a pele
saíram pétalas de pus

a fim de me preparar
para os invernos da verdade

eu tentei

mas toda beleza que eu tocava
eu ulcerava de suavidades

Fernando Koproski
poema do livro “Retrato do artista quando primavera” (7Letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p

aqui, o "Retrato do amor quando verão, outono e inverno"
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p
aqui, o "Nunca seremos tão felizes como agora"
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p
já aqui, o "Tudo que não sei sobre o amor"
http://www.livrariascuritiba.com.br/tudo-que-nao-sei-sobre-o-amor-aut-paranaense-lv181720/p

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