A
EFEMERIDADE FLORIDA EM: NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA DO AUTOR FERNANDO
KOPROSKI
Depois
de assistir a algumas tragicômicas performances pretensamente
artístico/poéticas, molhadas de desespero e largadas à mediocridade, reli um
livro de Fernando Koproski, lançado em 2009. Foi minha tentativa de olhar para
o retrovisor da poesia curitibana, para tentar limpar as minhas retinas das
retas e patéticas cenas que avisto no para-brisa do atual cenário poético de
Curitiba, salvas raras exceções.
O
livro de Koproski é uma bela edição envolta por uma capa em Cartão Supremo 250
g/m² e impresso sobre Pólen Bold 90g/m², lançado pela editora 7 LETRAS,
composto por cerca de 120 páginas.
Como
sempre digo e repito, é muito difícil julgar um livro de poemas, pois cada
poema é uma obra completa. Assim, falarei sobre minhas impressões gerais a
respeito da obra e analisarei um poema, para suprir as expectativas dos meus
fãs que aguardam as minhas análises como forma de ampliar sua competência
leitora para a poesia.
Interessante
notar que Koproski na página 24 de seu livro faz uma advertência aos leitores:
"nos poemas não está o melhor de mim, nos poemas não vive o que me torna
adequado, mais possível a essa realidade que é viver." Este poeta maduro
está pronto para a crítica, pois sabe que não será ele o alvo das análises, mas
a sua estética a sua mentira desfiada em verso, tira a tira.
É
isso o que diferencia os grandes poetas dos medíocres poeteiros, que assumem as
críticas feitas a sua obra como se fossem ofensas pessoais. Mas isso é
compreensível... Poetas medíocres são sinceros demais em seus versos e colocam
seus corações, quase sempre partidos, na ponta de suas canetas. Para os
medíocres o poema é um divã, onde eles desabafam suas dores que jamais saram:
Oh, vós, quando sarais?
Vamos
à análise da obra "nunca seremos tão felizes como agora".
De maneira geral, o livro é composto por poemas e prosas poéticas. A temática do livro gira em torno efemeridade e do instante. Tudo o que está ligado à efemeridade e ao instante é alvo de reflexões profundas do "eu lírico", tais como o amor, as flores, Romeu & Julieta, Ofélia, Lady Macbeth, Desdemona, Miranda, Dark Ladies e toda uma lírica shakesperiana que contrasta o efêmero e o eterno.
De maneira geral, o livro é composto por poemas e prosas poéticas. A temática do livro gira em torno efemeridade e do instante. Tudo o que está ligado à efemeridade e ao instante é alvo de reflexões profundas do "eu lírico", tais como o amor, as flores, Romeu & Julieta, Ofélia, Lady Macbeth, Desdemona, Miranda, Dark Ladies e toda uma lírica shakesperiana que contrasta o efêmero e o eterno.
Para
expressar-se e tentar captar o instante profundo de suas reflexões, o "eu
lírico" abusa no uso de sinestesias, deverbalizações, nominalizações e
metáforas. Isso torna a obra um pouco repetitiva e, por vezes, cansativa. O uso
reiterado de estratégias sintáticas e metafóricas semelhantes interfere no
ritmo da leitura e passa a sensação de que todo o texto é o mesmo texto, o que
é um crime do ponto de vista da estética proposta pela obra. Por isso, este é
um livro para ser bebidos em pequenos goles, em breves instantes.
Se o livro for sorvido num só trago, além de ser um desperdício de instantes, ainda poderá afogar o leitor com sinestesias sistemáticas atravessadas na garganta como um nó.
Se o livro for sorvido num só trago, além de ser um desperdício de instantes, ainda poderá afogar o leitor com sinestesias sistemáticas atravessadas na garganta como um nó.
Como
o próprio autor adverte, o livro não deve ser lido como um manual de autoajuda
sentimental, até porque está longe disto. Faço essa admoestação no intuito de
impedir que qualquer leitor, seja ele médico, professor, advogado ou feirante,
por exemplo, possa ler a obra como se ela fosse a mais pura expressão da
verdade acerca do instante. Isso levaria, por exemplo, um feirante depressivo
ao suicídio.
A
leitura do livro deve ser feita de maneira leve, sorvendo cada instante. O
leitor deve permitir-se demorar em cada sinestesia, devorar cada
deverbalização, degustar cada nominalização ou neologismo. metamorfosear-se a
cada metáfora, para gozar da instável leveza do instante proposto pelo "eu
lírico".
Trata-se de uma obra leve, sem ser leviana e breve, sem ser passageira. Uma boa leitura de uma boa literatura curitibana.
Agora para a felicidade geral da nação, vamos à análise de um dos poemas da obra:
pensei
em te trazer flores
mas as flores são inúteis
só sabem florir
a velocidade de minha dor
não sabem sentir
o que eu sinto
mas as flores são inúteis
só sabem florir
a velocidade de minha dor
não sabem sentir
o que eu sinto
pensei
em te trazer poemas
mas os poemas são inúteis
só sabem sentir
minhas asas mutiladas
não sabem ferir
o que eu sinto
mas os poemas são inúteis
só sabem sentir
minhas asas mutiladas
não sabem ferir
o que eu sinto
pensei
em te trazer estrelas
mas as estrelas são inúteis
só sabem ferir
meu brilho escuro
não sabem mentir
o que eu sinto
mas as estrelas são inúteis
só sabem ferir
meu brilho escuro
não sabem mentir
o que eu sinto
pensei
em te trazer mentiras
mas as mentiras são inúteis
só sabem mentir
minha beleza ulcerada
não sabem amar
o que eu sinto
mas as mentiras são inúteis
só sabem mentir
minha beleza ulcerada
não sabem amar
o que eu sinto
pensei
em te trazer um amor
mas os amores são inúteis
só sabem amar
não sabem florir
sentir ferir e mentir
o que eu sinto
mas os amores são inúteis
só sabem amar
não sabem florir
sentir ferir e mentir
o que eu sinto
(Koproski, p. 76-77)
ou
Disponível em: <http://fernandokoproski.blogspot.com.br/…/blog-post_2207.ht…> Acesso em 11 de maio de 2015.
Acesso público.
Disponível em: <http://fernandokoproski.blogspot.com.br/…/blog-post_2207.ht…> Acesso em 11 de maio de 2015.
Acesso público.
Na
primeira estrofe o "eu lírico" pensa em presentear seu interlocutor
com flores. As flores, símbolos da beleza, também são símbolos da fugacidade.
Essa fugacidade não corresponde ao sentimento do "eu lírico" por isso
as flores são descartadas. Note que no terceiro verso há uma afimação: "só
sabem florir". Sim, as flores só sabem florir e são indiferentes à dor, à
solidão ou a qualquer sentimento humano. Isso as torna inúteis. Sua fugacidade
é indiferente, porém de floral beleza.
É interessante notar a insistência do "eu lírico" em utilizar o paralelismo sintático em cada estrofe. Esse paralelismo inicia-se pela palavra "pensei" e se encerra com a conjunção adversativa "mas". Sim, pensar é uma condenação, que o diga Sísifo, e as impossibilidades de se concretizar o pensamento por meio de inutilidades são, de fato, más.
Na
segunda estrofe o "eu lírico" manifesta seu desejo de presentear com
poemas e se depara com a inutilidade deles. Alega que os poemas "só sabem
sentir". Repare que , aqui, há uma prosopopeia muito interessante. Não é o
leitor que sente o poema, mas o poema que sente o leitor.
Na
terceira estrofe, logo após a ideia de presentear com poemas, o "eu
lírico" resolve presentear com estrelas. Repare que relação interessante :
Tema: o amor - poemas + estrelas = Olavo Bilac - Ouvir estrelas. A luz das
estrelas não dialogam com o breu da mentira sentida pelo eu lírico, que mente o
que sente, numa metapoesia muito discreta, pois "o poeta é um
fingidor" - como diria Fernando Pessoa.
Na
quarta estrofe, depois do silêncio das estrelas que disparam luz sobre o que
mente/sente o "eu lírico", resta a ele a mentira. E mais uma vez a
inutilidade e a fugacidade aparecem. A mentira é inútil, pois ela "não
sabe amar", assim como as flores, os poemas e as estrelas.
Na
quinta e derradeira estrofe o "eu lírico" esquece as representações
românticas do amor ( flores, poemas, estrelas e mentiras) e resolve trazer o
coração, assim, na mão, para o interlocutor. Pensa em trazer, então, não mais
as representações de um mal do século, mas o próprio mal do século: o amor.
Porém o "eu lírico" se dá conta de que o próprio amor é inútil, pois
até mesmo ele é pouco para expressar seu sentimento que ama, flore, sente, fere
e mente, tudo ao mesmo tempo e não a esmo.
Repare
que, como o primeiro movimento da primeira sinfonia de Mahler, o "eu
lírico" luta contra o instante que se transforma a cada instante, sem
chegar a ser concreto. Essa é a beleza desse poema: buscar no fugaz uma
tentativa de eternidade.
Apenas
uma curiosidade: logo após o sumário, o autor faz uma dedicatória. Essa
dedicatória é assim: "para você, Ingrid". Como crítico não me
interessa quem seja essa Ingrid, mas quero chamar a atenção dos meus fãs para
que o nome Ingrid significa "a bela deusa". Uma obra dedicada a uma
bela deusa.
Mas que deusa é esta? A deusa das flores, dos poemas, das estrelas, das mentiras, do amor, das mentiras do amor. A deusa de tudo o que é instante, instável e fugaz. A deusa das pequenas sensações da vida, como afundar a mão em um saco de grãos, lamber a tampa de um iogurte aberto, quebrar a camada que reveste um pudim, jogar pedras em um lago para ver as reverberações ou simplesmente observar inutilmente a vida alheia para, num ato desesperado, tentar conter a ampulheta e sua areia.
Bem,
meus caros leitores, espero tê-los saciado com um pouco de beleza.
A seguir, posto,em boa hora, momentos de pequenas sensações, pois nunca seremos tão felizes como agora!
Professor Robson Lima
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-fel…/p
https://www.youtube.com/watch?v=T-kY7JEGrNI
https://www.youtube.com/watch?v=T-kY7JEGrNI
Amelie
cultive un gout particulier pour les tout petits plaisirs...Plonger la main au
plus profond d'un sac de grains, briser la croute des cremes brulees av...
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