quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

CANÇÃO DESCARTÁVEL

nessa manhã tão linda
de frio e chuva em Curitiba
ah, você sabe como é...
na quarta-feira de cinza
apaga teu fogo, mulher!

já acabou o carnaval
então tira o samba do pé
mas deixa o brilho no olhar
ah, guarda no guarda-roupa
aquele olhar à queima-roupa

mas tira essa ideia da boca,
e tira esse calor das coxas
e bota o vestido pra lavar
que a vida é pra agora, amor
e eu preciso trabalhar...

Fernando Koproski

ps. A ilustração desse post, mais uma vez, é do grande SHIKO!

https://www.flickr.com/photos/derbyblue/

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Meu livro é uma das 10 sugestões de leitura do ParanaOnline. Minha estima e agradecimentos à coluna Contracapa do escritor Jonatan Silva!

RETRATO DO AMOR QUANDO VERÃO, OUTONO E INVERNO – Fernando Koproski

Parte da trilogia “Um poeta deve morrer”, o livro é uma coleção belíssima de poemas sobre o amor e as experiências cotidianas. Koproski, que também é responsável por traduzir Cohen e Bukowski, consegue criar um ambiente lírico intimista, capaz de produzir uma importante reflexão sobre o papel do amor em nossas vidas.

Jonatan Silva para o ParanaOnline

http://www.parana-online.com.br/colunistas/contracapa/107857/10+LIVROS+CURTOS+PARA+LER+DURANTE+O+CARNAVAL

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015

CARNAVAL EM CURITIBA

posso driblar todo ódio
que teu abraço abriga
posso até acabar em rima
o que só acaba em briga

querida, posso até querer
que você me contradiga
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

posso até me arrepender
dessa vida pelo resto da rima
só não me deixe passar
o carnaval em Curitiba

é carnaval em Curitiba
mulher, deixa de pose
tua beleza fascista
não me fascina

sinta só o frio
na barriga da passista
até parece ansiedade
mas é chuva fina

é carnaval em Curitiba
nossa polaca mais mulata
pode ser bailarina
mas não nega a neblina

sambando na pista
ela mostra toda a ginga
que a perna ensina
porque é carnaval em Curitiba

com muita blusa de lã
e pinga de antonina
nossa rainha da bateria
quebra o gelo e encara a geada

mas se a gente canta
aí é que a gente dança,
deixa toda a vizinhança
de cara e irritada

mas se a gente samba
a gente ganha confiança,
mostra na base da pinga
a ginga das perna engessada

Fernando Koproski

ps. A ilustração desse post, mais uma vez, é do grande artista SHIKO!

https://www.flickr.com/photos/derbyblue/

domingo, 15 de fevereiro de 2015

A MARCHINHA DOS ZUMBIS

o carnaval em Curitiba
expulsa todos da cidade
ah, mas que felicidade
ter a cidade só pra mim

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

olha só a baiana alemoa
humm, mas que boa
olha só a baiana polonesa
humm, mas que beleza

se tem zumbi na avenida
ninguém tem uma ala
das baianas mais bonita
só o carnaval em Curitiba

quem disse que precisa
de motivo pra ser feliz?
no carnaval em Curitiba
viva a marchinha dos zumbis

se o povo na praia pede bis
que fique com todo o litoral
eu sou da terra dos zumbis
quero carne nova no carnaval

Fernando Koproski

ps. A ilustração desse post é do grande artista paraibano SHIKO!

https://www.flickr.com/photos/derbyblue/

sábado, 14 de fevereiro de 2015

SAMBA PORTÁTIL

meu coração/já sei por quê/tem essa mania/de bater por você//onde eu vou/ele leva meu amor/assim minha rima/tem mira certeira//quando o coração/leva o ritmo no peito/meu verso leva jeito/pra fechar de primeira//se você duvida/da cadência dessa paixão/sente só o tum-tum/do meu coração//na escola ele era/batucada na carteira/depois do teu beijo,/bateria da mangueira//amar de todas as formas/ou de qualquer maneira/meu coração é essa máquina/de samba portátil/pela porta-bandeira//ah, minha porta-bandeira/você acha que é loucura/a vida inteira/ele bater assim//mas quando você/diz tam-tam/ele diz tum-tum/então tim-tim

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
ps. A ilustração desse post é do grande artista paraibano SHIKO!

aqui está o livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno”

outros livros do autor estão aqui:

e aqui também:

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

VERÃO DO AMOR

se for amor, o fim de nós dois há de ser
dor, pra que não haja mais dúvida
sim, a sua estupidez não lhe deixa ver
o quanto você é estúpida

acho que você já percebeu que ando
pingando versos pelos cotovelos,
falando pelos pelos, rezando pelos joelhos,
ultimamente ando me denunciando

se não for amor, meu amor me desculpe
acabei falando bem o que não devia
e magoei justo quem não merecia
se for ou não for amor, não me culpe

já é hora de acabar com essa estória
a dor não vai escrever tuas memórias
esse suor do teu olho não irá me convencer
que as tuas lágrimas já sabem sofrer

Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras)
e aqui está o livro “Retrato do artista quando primavera”
outros livros do autor estão aqui:

e aqui também:

terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

ÚLTIMA CANÇÃO

amor tem nada a ver com isso
não prometi ao amor compromisso
vim até aqui só para ver a lã
que vem de teus lábios de avelã

se era pra você me aquecer
tecer uma canção só por vício
amor tem nada a ver com isso
nem sei se presto ou não presto

vim até aqui só por um verso
que no fim me levasse ao início
não me interessa o refrão
onde você vai pôr seu coração

o amor ainda está de manhã
e o resto é canção

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
aqui está o livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno”
outros livros do autor estão aqui:

e aqui também:


quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Poeminha de aniversário

Eu com 42 e ela com quase 14
Já vimos de tudo e mais um pouco
E à suavidade brindamos juntos hoje
Ela com leite, eu com água de coco

Assim comemoramos mais um ano
Ela no sofá de novo dormindo ao sol
E eu mais uma vez aqui imaginando
Uma outra forma de dizer “enfim sós”

Se envelhecemos, nem ela nem
Eu nos importamos com isso
Acho que o Tempo e você também,
Leitor, há de concordar comigo

O que importa não são os anos,
Desenganos, se eu amo ou “quando”
Importa mais o “quanto” dentro de nós
Até o dia em que eu e você “enfim sóis”

Fernando Koproski
22 de janeiro de 2015

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

"O Fernando Koproski está na capa do especial de fim de semana do Paraná Online. Aproveite a ilustre presença e confira a lista com os 10 melhores livros de 2014, tem também o Cezar Tridapalli, o Rodrigo Garcia Lopes, o Ian McEwan e outros. Vale a pena."
Contracapa
Jonatan Silva para o ParanaOnline

CONFIRA OS 10 MELHORES LIVROS LANÇADOS EM 2014:

Retrato do artista quando primavera – Fernando Koproski (7letras) R$34,00

O poeta e tradutor curitibano cria um mosaico do seu próprio ofício. No entanto, o retrato é muito mais que um olhar narcísico, ao contrário, Koproski vê a poesia refletida no cotidiano de uma sociedade mais preocupada com o consumo e menos envolvida com a arte.”


quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Dos poemas que escrevi esse ano, estava selecionando um pra postar hoje e descobri agora que o facebook excluiu meu poema "oração de coração", aquele poema que fiz pra São Francisco de Assis e pra todos que têm e amam seus bichinhos de estimação. O porquê do facebook ter censurado e excluído esta postagem é um mistério pra mim... Por acaso esses versos têm conteúdo impróprio? Vou postar ele de novo aqui, junto ao meu desejo de um ótimo natal e um grande ano novo pra todos os meus amigos que leem essa modesta e humilde página... E por fim, abraços impróprios... do próprio!

ORAÇÃO DE CORAÇÃO

Ah, meu São Francisco de Assis
me perdoa pelo que eu fiz
e o que eu não fiz

Às vezes os humanos são vis
e uns verdadeiros animais
Às vezes meus amigos bichanos
são muito mais humanos
até humanos demais

Ah, meu São Francisco de Assis
me perdoa por amar quem eu não quis
me perdoa por amar e não amar
quem eu quis

Às vezes os humanos
são menos que seus ais
Às vezes são só meus bichanos
que me trazem paz

Ah, meu São Chiquinho
me perdoa por amar de menos
e me perdoa por amar demais

Que um dia os humanos
aprendam contigo o mesmo carinho
que ensinam os animais

Fernando Koproski

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

ESTOU AMANDO

ela é jovem, ela disse,
mas olhe pra mim,
tenho tornozelos bonitos,
e olhe para os meus pulsos, tenho pulsos
bonitos
ah meu deus,
eu pensei que tudo estava dando certo,
e agora é ela de novo,
toda vez que ela liga você pira,
você me disse que tinha acabado
você me disse que tinha terminado,
escuta, já vivi tempo suficiente para me tornar
uma boa mulher,
por que você precisa de uma mulher má?
você precisa ser torturado, não?
você acha que a vida é podre se alguém te tratar
mal tudo se encaixa,
não é?
me fala, é isto? você quer ser tratado como
merda?
e o meu filho, meu filho ia te conhecer.
eu contei para o meu filho
e deixei todos os meus amantes.
eu fiquei parada num café e gritei
ESTOU AMANDO,
e agora você me faz de idiota...

me desculpe, eu disse, me desculpe mesmo.

me abraça, ela disse, me abraça por favor?

nunca estive numa coisa dessas antes, eu disse,
nesses triângulos...

ela se levantou e acendeu um cigarro, estava tremendo toda.
ela começou a andar sem parar, histérica e louca. ela tinha
um corpo pequeno. seus braços eram finos, muito finos e
quando ela gritou e começou a me bater eu segurei seus pulsos
e então eu vi bem dentro dos olhos: ódio, há séculos puro e
profundo. eu estava errado e sem graça e me sentindo mal.
tudo que eu tinha aprendido tinha sido desperdiçado.
não havia um ser vivo mais desprezível do que eu
e todos os meus poemas eram
falsos.

Poema: Charles Bukowski
Tradução: Fernando Koproski
da antologia poética ESSA LOUCURA ROUBADA QUE NÃO DESEJO A NINGUÉM A NÃO SER A MIM MESMO AMÉM (7 Letras)


De 5 em 5 minutos
enquanto chove
passa todo ônibus que não é o meu
de 5 em 5 minutos
a máquina do mundo engasga,
as suas engrenagens perdem fôlego
e ela tosse sangue e óleo queimado
de 5 em 5 minutos
a máquina do mundo vê
mais um poeta no meio do caminho
e sem pensar duas vezes o atropela
de 5 em 5 minutos
chove e chove e chove
de 5 em 5 minutos
se passam muito mais do que cinco minutos
de 5 em 5 minutos
uns morrem de câncer
outros de solidão
de 5 em 5 minutos
a solidão foi tomando
um a um os seus órgãos
de 5 em 5 minutos
a solidão foi comendo
mastigando ele por dentro
até que um dia acabou morrendo
de solidão generalizada
de 5 em 5 minutos
ainda chove
de 5 em 5 minutos
os sonhos crescem como ervas daninhas
em teus mais belos e conformados
jardins da mente
de 5 em 5 minutos
novas formas de beleza
são inauguradas e perdidas para sempre
na tua frente
de 5 em 5 minutos
em pleno inverno
os ipês têm a sublime audácia
de expor suas pétalas roxas
para nós mais uma vez
de 5 em 5 minutos
a vida não pode perder seu tempo com esse poema
de 5 em 5 minutos
a menina de 4 aninhos
tem seus bracinhos e costas queimados
por pontas de cigarro
de 5 em 5 minutos
há mais de três meses
a menina de 4 aninhos
está sendo estuprada
de todas as maneiras
que se possa imaginar
de 5 em 5 minutos
um caminhão se perde na curva
e esquarteja gérberas
quando corta de fora a fora
pela linha de cintura
uma mulher grávida
que esperava o ônibus
de 5 em 5 minutos
as árvores são asfixiadas
pelas sombras tóxicas dos edifícios
de 5 em 5 minutos
os rios morrem afogados em triste sujeira
e suja tristeza
de 5 em 5 minutos
a chuva não limpa mais nada
de 5 em 5 minutos
a chuva suja muito mais
do que simplesmente a roupa no varal
ou a inocência dos desavisados
ou a ingenuidade dos distraídos
de 5 em 5 minutos
violências inimagináveis passam a ser imagináveis
por alguém
bem perto de você
de 5 em 5 minutos
almas de alfazema morrem
de doenças seguramente erradicadas
há mais de um século em meu país
de 5 em 5 minutos
a menina de 4 aninhos
vê uma minipétala de sangue crescendo
no lugar do que um dia seria seu seio
ao ter seu primeiro mamilo arrancado
de 5 em 5 minutos
se passam muito mais do que cinco minutos
de 5 em 5 minutos
ninguém mais se lembra
do que aconteceu com a menina de 4 aninhos
ou com a mulher grávida
ou com a chuva
ou com as árvores
de 5 em 5 minutos
somos intoxicados por um amor
que nunca será o bastante
de 5 em 5 minutos
você pode optar pela urgente
veloz e ingrata corrida dos ratos
ou pela sábia e paciente renúncia dos gatos
de 5 em 5 minutos
novas doenças estão sendo criadas
para conter o avanço de seus filhos
e dos filhos de seus filhos
para evitar que o nosso inadmissível fracasso
se prolongue por muito mais tempo
de 5 em 5 minutos
nossas ideias de felicidade
se espatifaram entre a gente
de 5 em 5 minutos
hoje eu ando devagar
com cacos de sonhos
fincados nos pés
de 5 em 5 minutos
volta a chover novamente
de 5 em 5 minutos
enquanto chove
eu vivo aqui
esperando o ônibus
junto com a mulher grávida,
a menina de 4 aninhos
e a chuva

Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” (7letras, 2014)
outros livros do autor estão aqui:

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Atenção Switzerland, estamos chegando! O meu amigo e parceiro de composições Carlos Machado estará fazendo shows na Suíça em janeiro. Em Bern e Langenthal, o moço estará desempenhando em músicas de nossa parceria, como esta: "outra canção". sente só:
http://carlosmachado.bandcamp.com/track/outra-can-o

OUTRA CANÇÃO

quando você vinha
nos meus braços
uma canção acendia
não havia espaço
pra mais nada
era só você e tua dor
e tudo mais escurecia

a tua dor sob o refletor
sempre pareceu maior
mais dor do que a minha

quando você fugia
nos teus braços
uma canção sufocava
não havia espaço
pra mais nada
era só você e teu rancor
e tudo mais ardia

a tua pele sob o cobertor
sempre pareceu calor
mais amor do que devia

na hora da despedida
a tua voz de menina
sempre pareceu flor
num liquidificador
na hora da reconciliação
a tua voz de menina
sempre pareceu mais
maré do que maresia

nos meus braços, então
já havia outra canção

poema: Fernando Koproski (do livro "RETRATO DO ARTISTA QUANDO PRIMAVERA")
música: Carlos Machado
ALELUIA

Ouvi dizer que há um acorde secreto
Que Davi tocava pra ter Deus por perto,
Mas sem dúvida você não liga pra música.
Começa assim: a quarta, a quinta
Uma nota desce, outra sobe, sinta
Como o rei se complica compondo Aleluia!

Sua fé tinha força mas queria provas.
Quando viu ela no banho em águas novas
Você ficou alucinado com ela à luz da lua
Ela te deixou amarrado até os pelos
Rompeu seu reinado, cortou seus cabelos,
E arrancou dos teus lábios um Aleluia!

Você diz que falei o Nome em vão;
Qual seria o nome, eu não sei não.
Mas se eu soubesse, sério, qual é a tua?
Há uma luz nua em cada palavra;
Não importa qual escute quando falada,
A suja ou a sagrada Aleluia!

Fiz o melhor que pude; nem foi tanto.
Como não sabia sentir, aprendi tocando.
Só disse a verdade, não se iluda.
E ainda que tudo acabe em não,
Ficarei diante do Deus da Canção
Com nada mais nos lábios, só Aleluia!

Versos adicionais

Amor, eu já estive aqui antes.
Conheço o quarto, já fui adiante.
Antes de te conhecer, a solidão era de lua.
Sei que teu estandarte fez história,
Mas o amor não é a marcha da vitória,
É só uma fria e cansada Aleluia!

Antes você me contava passo a passo
Tudo que te acontecia lá embaixo
Agora não me encaixo mais, então conclua.
Lembro quando morava em você,
O Espírito Santo foi morar também,
E cada vez que a gente respirava era Aleluia!

Talvez exista um Deus lá em cima
Mas só sei o que o amor ensina:
Atirar em quem tem bala na agulha.
Mas isso não é uma queixa,
Encontrar a luz não é minha deixa —
É só uma fria e cansada Aleluia!

poema: Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski


E outros poemas e letras de Leonard Cohen
vc encontra na antologia poética que organizei e traduzi
chamada ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR (7letras)
à venda, pra todo o Brasil, pelo site das livrarias Curitiba:
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana,product,LV220048,3406.aspx