sexta-feira, 27 de junho de 2014


Meus 2 novos livros já estão disponíveis na Biblioteca Pública do Paraná. Com o maior prazer, antes de esgotar essa tiragem, doei exemplares pra esta instituição que foi muito importante para minha formação como leitor. E agora, pra quem quiser conferir, toda a trilogia "UM POETA DEVE MORRER" está lá: o "NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA" (2009), "RETRATO DO ARTISTA QUANDO PRIMAVERA" (2014) e o "RETRATO DO AMOR QUANDO VERÃO, OUTONO E INVERNO" (2014).


quarta-feira, 25 de junho de 2014

EX-CANÇÃO DE AMOR

on/tem/ es/cre/vi
mais/ um/ poe/ma i/mor/tal/ pra/ vo/cê
mas/ é/ cla/ro/ que/ vo/cê/ não/ no/tou
é/ cla/ro/ que/ vo/cê/ nem/ per/ce/beu

fiz/ de/ vo/cê/ a/ mi/nha/ mu/sa
fiz/ teu/ no/me,/ cor/po e/ mú/si/ca
vi/ver/ pa/ra/ sem/pre
mais/ u/ma/ vez

– a quinta vez só essa semana –
e/ vo/cê/ nem/ no/tou
vo/cê/ não/ per/ce/beu/ na/da

fiz/ ter/ce/tos/ so/bre/ tua/ tez
fiz/ so/ne/tos/ e/ quar/te/tos/ tan/tos
a/té/ fi/car/ ton/to/ de/ tua/ sen/sa/tez

ves/ti/ meus/ ver/sos/ com/ tua/ ver/da/de

e/ fiz/ can/ções/ a/té/ can/sar
de/ tuas/ co/xas
mas/ não/ can/sei

Fernando Koproski
fragmento do poema EX-CANÇÃO DE AMOR do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)


terça-feira, 24 de junho de 2014

PODE FICAR COM O DESPERTADOR

pode ficar com tudo
pode ficar com a televisão
o carro, a geladeira e o fogão

pode ficar com toda a dor
porque afinal toda a dor
é só sua mesmo, não?

pode ficar com o despertador
a escritura da casa, o seu som
e o seu computador

pode ficar com meus poemas
com teus certificados de musa
pode ficar com todas as músicas

pode ficar com todos os livros
discos e filmes onde eu te vi
pode ficar com todas
as nuvens de teus quadris

pode ficar com todas as flores
violentas da ternura
pode ficar com aquele colar
que eu fiz em tua cintura

aquele entre os ossinhos
onde senti teu gosto doce
mais perigoso

onde você um pingente
de pelos preciosos

pode ficar com tudo
meu amor

nesse verão
sou as pétalas dos ipês
espatifadas pelo chão

você sai da minha vida
assim como entrou

assim como sai do banho
pingando pétalas pelo corredor

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)

segunda-feira, 23 de junho de 2014

FIM DE JOGO

só para você saber, mágica:
não tem mais nada aqui dentro
isso aqui é só uma máquina
de carne pra marcar o tempo

aquele que antes me traía
ou distraía a todo momento
de tão afiado que vinha
fatiava a lágrima do vento

só para você saber, poema:
não tem mais nada aqui dentro
isso aqui é só uma ampulheta
de sangue pra passar o tempo

aquele que driblava minha emoção
só fingia que brilhava pra multidão
não sei se foi defeito ou passe perfeito
mas aquele coração eu matei no peito

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)

sexta-feira, 20 de junho de 2014

ANTES E DEPOIS

antes de te conhecer
eu só queria morrer
e morria de tantas maneiras
morria de raiva
morria de ódio
morria de ciúme
morria de vergonha mas
se fosse pra morrer eu era capaz

na hora de morrer eu
era um verdadeiro ás
morria tanto por cada besteira
que não morria em paz

depois de te conhecer
eu só queria morrer
e se não morria de amor
eu morria de felicidade
morria de alegria
ou morria de saudade
morria até do que hoje
não se morre mais

na hora de morrer eu
era um verdadeiro ás
morria de vodka
ou de licor de ananás
mas não morria de tédio
às vezes morrer demais
era o único remédio

para eu deixar de viver
da falta que você faz

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)

A LITERATURA POR UMA BOA CAUSA

Jonatan Rafael
Para o Paraná Online

Quem acha que literatura é uma causa perdida está redondamente enganado. E não pense que é pelo fato de que – dizem que – os livros estão morrendo e dando lugar a tablets e afins. O poeta e tradutor curitibano Fernando Koproski resolveu deixar às claras o impacto que a literatura – e sobretudo a poesia – tem na vida do ser humano.
O escritor, que também é um apaixonado por cães e gatos, fez uma parceria com o coletivo Salva Bicho Curitiba, organização responsável pelo resgate de muitos amigos de quatro patas em Curitiba e também na região metropolitana. Para ajudar o grupo, que em tempos de enchente tem trabalhado dobrado, o poeta resolveu doar seu lucro com a venda do livro Nunca seremos tão felizes como agora para o coletivo.

“A ideia surgiu em função da realidade das tragédias naturais que aconteceram em todo o Paraná. E eu gostaria de participar também, mas única coisa que tenho são livros. Minha esposa deu a ideia de doar uma parte do meu lucro com livro e eu concordei”, comentou Koproski.

Trocando em miúdos, quem comprar o livro na Livrarias Curitiba estará doando R$ 10 para o Salva Bicho. Koproski, que sempre se colocou contra as formalidades da poesia, com esse gesto coloca uma pá de cal sobre a (triste) visão (erroneamente) idealizada de que a poesia não se funde ao cotidiano.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

que maravilha, estamos chegando ao fim dessa tiragem! quem ainda não tem os livros do Bukowski, precisa se espertar que está acabando... e na foto, mais um poema do AMOR É TUDO QUE NÓS DISSEMOS QUE NÃO ERA! abraços aos amigos fãs do velho Buk! é pra vcs que eu queimo meus neurônios traduzindo... rsrs

segunda-feira, 16 de junho de 2014

e porque hoje é Bloomsday, nada como lembrar desse poema que fiz pro meu amigo Renatão, com quem passei o meu melhor Bloomsday: em Dublin tomando uma Guiness às 9 da manhã:

RETRATO DO ARTISTA QUANDO JOVEM

perto do que seria preciso ser
mas ainda longe de acontecer comigo
era onde fui só para me ver
morrer em Dublin com um amigo

meus eus, o que há com vocês?
morrer assim não é pra qualquer um
nem se vocês todos fossem Bloom
ou me lembrassem em Trieste

nem assim, esqueço meus sins
em qualquer fim de filme de faroeste
e se eu presto ou não presto enfim
não há verso que eu não desconverse

(para Renato Quege)

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)

quinta-feira, 12 de junho de 2014

POEMA DE AMOR

o amor não tem mesmo coração
o amor não foi quem eu pensei que era
não fui quem o amor pensou que eu fosse
mas o amor estava à minha espera

ah o amor fez o que quis
e o que não quis comigo
se você tem amor no coração
não queira o amor como inimigo

pois o amor não tem fim
o amor dançava em teus lábios
o amor sorria em teus braços
o amor fez sua cabeça contra mim

tava com o amor na ponta da língua
tava com o amor na palma da mão
mas o amor escorre entre os dedos
o amor não tem mesmo coração

o amor agora não me deixa em paz
o amor sempre esteve dentro de você
o amor dessa vez foi longe demais
o amor parece que leu a minha mente

agora o amor só quer saber da gente
mas o amor nunca foi meu forte
o amor é o que te mantém em pé
o amor gosta de viver perigosamente

no coração o amor foi o último a chegar
o amor é sempre o primeiro a sair
o amor parece que deu um nó dentro de nós
agora o amor não tem mais onde ir

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)



quarta-feira, 11 de junho de 2014

“Oração” é outro poema do livro NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA que teve a sorte de receber uma “roupagem musical”, ao virar canção pelas mãos do Carlos Machado. Ao adquirir este livro, vc está colaborando com a campanha pra SALVA BICHO!

ORAÇÃO

amor, não me acuse de traição
todo este evangelho da beleza
que foi escrito em sua pele
a minha pele lê com perfeição,
se eu leio com minhas mãos
se eu leio com meus lábios
assim eu faço a minha oração

amor, não me acuse de distração
quando suas coxas se abrem
uma pirâmide de veludo
nesse vale suplica por atenção,
assim em sinal de devoção
ofereço meu vale, campos e mares
às tuas montanhas do coração

amor, não me acuse de heresia
por eu ousar escrever poesia
sobre o evangelho de sua pele
que eu leio com tal adoração,
se não acredita em minha oração
antes de partir me passa
um sermão dos seios às mãos

Poema do Livro: "Nunca seremos tão felizes como agora"
de Fernando Koproski


http://carlosmachado.bandcamp.com/track/ora-o
Meus amigos, agradeço as muitas demonstrações de carinho e apoio à campanha que estamos fazendo em conjunto com a SALVA BICHO. Pra quem não sabe, estou doando meu lucro, isto é R$10,00 de cada exemplar vendido do meu livro NUNCA SEREMOS TÃO FELIZES COMO AGORA para as ações da SALVA BICHO (que são muitas!). Essa campanha é válida exclusivamente pra compras pelas lojas da Livrarias Curitiba, ou então pelo site aqui: 


http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-autores,product,LV244140,3393.aspx

e como amostra desse livro, aqui vai o poema "PENSEI EM TE TRAZER FLORES" que foi musicado e teve clip do compositor Carlos Machado:

http://www.youtube.com/watch?v=Q98chRV6320

PENSEI EM TE TRAZER FLORES
mas as flores são inúteis
só sabem florir
a velocidade de minha dor
não sabem sentir
o que eu sinto

pensei em te trazer poemas
mas os poemas são inúteis
só sabem sentir
minhas asas mutiladas
não sabem ferir
o que eu sinto

pensei em te trazer estrelas
mas as estrelas são inúteis
só sabem ferir
meu brilho escuro
não sabem mentir
o que eu sinto

pensei em te trazer mentiras
mas as mentiras são inúteis
só sabem mentir
minha beleza ulcerada
não sabem amar
o que eu sinto

pensei em te trazer um amor
mas os amores são inúteis
só sabem amar
não sabem florir
sentir ferir e mentir
o que eu sinto

Poema do Livro: "Nunca seremos tão felizes como agora"
de Fernando Koproski

domingo, 8 de junho de 2014

POESIA PARANAENSE VIVE O PRESENTE SEM MEDO DO PASSADO

Jonatan Rafael
Para o Paranaonline

http://www.parana-online.com.br/editoria/almanaque/news/804684/?noticia=POESIA+PARANAENSE+VIVE+O+PRESENTE+SEM+MEDO+DO+PASSADO
O filósofo e pensador alemão Theodor W. Adorno (1903 – 1969) dizia que era impossível haver poesia após o holocausto. Apesar da gravidade da frase, ela não se aplica à Curitiba – e ao Paraná como um todo. Celeiro literário profícuo, as terras paranaenses deram luz a importantes vozes da poesia brasileira, como os irmãos Perneta – Júlio (1869 – 1921) e Emiliano (1866 – 1921) -, responsáveis por introduzir o Simbolismo no Brasil, Dario Vellozoo (1869 – 1937) e a poetisa Helena Kolody (1912 – 2004) – que era amiga e admiradora de outro importante nome dos versos do Paraná, o poeta marginal Paulo Leminski (1944 – 1989), considerado por muitos como o maior nome da literatura local.

Mas o passado é apenas parte de uma história que é construída pouco a pouco com os nomes contemporâneos. A prova da força da produção atual está na lista de finalistas do Prêmio Portugal Telecom, na categoria “poesia”, que conta com Guilherme Gontijo Flores, e o livro Brasa enganosa e Rodrigo Garcia Lopes, que disputa com Estúdio realidade.

Garcia Lopes, que também é músico, lembra que a poesia “tem a importante missão de apontar e incorporar outros modos de ver, sentir, ser e estar no mundo. É, sobretudo, a capacidade crítica e na busca do estranhamento ao chamado “mundo real” que a linguagem poética pode cumprir seu papel ideológico de ser intérprete de uma época, de questionar os padrões medianos de sensibilidade e sentido, e de provocar uma ‘ressensibilização’ no leitor e do cidadão”.

E é, justamente, esse poder de colocar o ser humano em contato consigo que o poeta e tradutor curitibano Fernando Koproski defende. “A poesia não veio dessas faculdades. Ela veio de outro lugar, mais quieto, mais limpo e mais sozinho. Mais sangue e menos vinho. Mais cárie e menos carinho. E quem sabe um dia eu ainda volte por este caminho”, desabafa.

Koproski é devoto dos versos de “Então você quer ser escritor?”, poema do norte-americano Charles Bukowiski (1920 – 1944) e que faz parte da coletânea Amor é tudo que nós dissemos que não era (organizada e traduzida pelo próprio Koproski): “se não estiver explodindo em você / apesar de tudo, / não faça / (…)e você estiver fazendo isso por dinheiro ou / fama, /não faça. / se você estiver fazendo isso porque deseja / mulheres em sua cama, / não faça”. Para o poeta, “radicado” em São José dos Pinhais, a poesia não é um ato de vaidade, longe disso, ela é universal e serve de alimento para a alma do poeta.

Pelas bordas

Poesia não vende. A máxima não é atual, mas ainda faz parte do cotidiano dos poetas. O catálogo das editoras sempre parecem desdenhar da poesia, como se fosse um gênero menor – e, em muitos casos, os contos e as crônicas também recebem olhares de ressaca de publishers. A tendência, infelizmente, é mundial, o que não é um alento e nem serve como desculpa.

Desde o ano passado, com o lançamento de Toda poesia, de Leminski, a poesia conseguiu entrar na lista dos mais vendidos, desbancando os livros mais óbvios. Com o sucesso do paranaense, a publicação de outras duas coletâneas de poetas brasileiros “esquecidos” veio à tona em 2014: Poesia total, do tropicalista Waly Salomão (1943 – 2003) e Poética, de Ana Cristina Cesar (1952 – 1983).

O poeta é um escravo da dupla função, da jornada dupla e das horas a fio de lapidação. Se é difícil (sobre)viver de prosa no Brasil, tentar viver de poesia é quase um suicídio. Para a poetisa e tradutora Josely Vianna Baptista, a situação é diferente. “Não é a poesia que deve sustentar o poeta, o poeta é que deve encontrar sustentação para sua poesia, e acho que isso vale para todas as artes”, explicou a autora. Josely, que possuiu no currículo um Prêmio Jabuti por sua tradução das Obras Completas, de Borges, em 1999, e ficou com o terceiro lugar, em 2012, com Roça barroca – que também ficou entre os finalistas do Portugal Telecom, não acredita na visão romântica de que a poesia e o poeta vivam em um espaço secundário, desvinculado da realidade.

Inspiração e transpiração

A realidade é, na verdade, o alimento do poeta, que o coloca dentro do mundo. Os versos seriam então a sua visão de mundo. Por isso, a poesia nem sempre busca apoio nas teorias e pragmatismos da literatura. Para Fernando Koproski é impossível criar uma poesia sólida se o fazer poético precisa ser sustentado pelo conhecimento teórico. “A verdadeira poesia não segue a teoria literária, nem os teóricos e muito menos a teoria diluída pelos professores de literatura. A universidade que me desculpe mas a poesia feita por professorzinhos agremiados ao Currículo lattes só late, mas nunca morde”, dispara o poeta, que já debateu o tema em “Universidade federal”, poema presente no livro Retrato do artista quando primavera, lançado neste ano.
Menos radical, Josely acredita que a poesia não precisa, necessariamente, se preocupar com a fonte teórica ou empírica. A coisa vai além. “Nem uma coisa [só teoria] nem outra [só prática]: a poesia de Shakespeare é baseada somente na inspiração? O poeta de cordel lê muita teoria? Fundamental é a construção de uma linguagem; você recebe a tocha, faz seu percurso com ela e depois a passa adiante. Acho que só se pode buscar o novo visitando o passado e de olho vivo no presente”, disse.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

“Valsa de um amor do futuro”, do escritor curitibano Fernando Koproski, integrará o volume 2 da antologia “Hiperconexões”, organizada por Luiz Brás.

“Valsa de um amor do futuro”

num mundo futurista, só a poesia
conta os dias nas folhinhas riscadas
amor, até hoje sou à minha revelia
o futuro de tuas vidas passadas!

meus sonhos passam em cinemascope
no último cinema que sobrou no bairro
já os teus sonhos até onde eu soube
nascem direto na retina, não fazem páreo

meus desejos são guardados em VHSs
que mofam nas estantes, ano após ano
já os teus são escaneados a cada prece
e na nova realidade convivem sem danos

entre nós, se algo ainda dói, pode chorar
lágrimas de cristal líquido não me convencem
a dor real, em 33 rotações, ainda faz girar
aquilo em mim com um chiado persistente

quando tuas pernas cibernéticas pisam
minha rede neural de maneira neurótica e ilógica
vejo como nossa desumanidade é evoluída
a cada nova e incrível conquista tecnológica

às próteses e globos oculares de amanhã
deixo apenas uma certeza ao apertar o pause
o amor é retrógrado, meu amor, como a lã,
é antigo e ultrapassado, a cereja do meu halls

ah, para prolongar nossas vidas mais e mais
o amor deve ser eliminado nas gerações futuras
pois amor é o que nos envelhece, dá dor na coluna
amor é o que ataca nossos anticorpos sem paz

o amor acaba com as defesas de nosso organismo
diante de um amor passa a ser pouco um coração
e volta e meia só a poesia pra fazer um cateterismo
e reabrir com lirismo os vasos sanguíneos da ilusão

ah, se um dia pudermos extinguir essa chama
deixa teus cabelos em meu ombro e não reclama
até esqueço que não são tuas essas pernas...
sem amor ainda vamos dançar uma juventude eterna!

Fernando Koproski

quinta-feira, 5 de junho de 2014

PARA QUEM ME OLHA

a importância de um poema
não é outra senão
um olhar apenas

um olhar que em outro
se entenda
olhar que signifique
e imagine,

ainda que uns digam que enigme
ou simplifique

mas um olhar apenas
onde o poema na gente se veja

não o que uma lágrima pisque,
mas um olhar que faísque

assim, quem sabe em silêncio
uma ou outra ternura
sem terceiras intenções
a gente amplifique

não importa se nessas linhas
as coisas que te olharem
possam parecer mais artimanhas
que artes minhas

o que importa neste olhar
é apenas um simples reconhecer
na página

disso que os calendários
insistem em esquecer
em seus diários de pressas:

sem seu olhar o meu não começa

pois este não é um olhar de poema
tampouco um olhar de poeta
aqui, entre pétalas de silêncio
apenas o que de nós
pensa esta página de forma incerta:

sentir teu olhar no meu,
ainda será minhas obras completas

Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras, 2014)