Hoje nevou
em casa às 8 e meia da manhã, e então lembro o poema que escrevi para o
especial “O dia da neve” da Gazeta do Povo de alguns anos atrás:
A NEVE
uns me
perguntam
se a neve
virá,
outros
quando
a neve que
eu vi
eu sei que
virá
pois a
neve eu sei
que aqui
já está
às vezes
me falam
de
diferentes tipos de neve
para os
esquimós
elas são:
aput
neve no
chão,
gana
neve que
cai,
piqsirpoq
neve que
venta
e qimuqsuq
um monte
de neve
não as
conheço,
mas para
mim
as neves
também são
diferentes
e há
muitas neves
a neve de
sua pele
a neve
desta página
a neve dos
que
nunca
mostram o coração
a neve no
olhar depois
da queda
do primeiro amor
a neve de
tantas quedas
a neve
precisa dos gestos dela
a neve do
amigo
que se foi
tão cedo
a neve de
tantos cisnes
ignorados
aos gestos dela
pois não
poderia ser
senão neve
todo este
frio
e
suavidade
a neve das
canções de Cohen
a neve dos
mortos de Joyce
a neve das
canções
para não
morrer
a neve dos
que
não são
estas canções
mas mais
que a neve,
a certeza
da neve
a certeza
de que há colinas,
vales
e
montanhas
de páginas
em branco
me
esperando
pois na
certeza
imperecível
das
páginas nevadas,
a certeza
de que
nenhum destes longes
precisa do
que escrevo
a certeza
de que a neve
dessas
páginas
seja
incorrompível
aos versos
meus
não
importa
se dúvida
nas
canções,
colinas
e cisnes
dos gestos dela,
ainda
assim esta certeza:
a certeza
de que
nenhuma
dessas neves
precisa do
que escrevo,
apenas de
mim
FERNANDO KOPROSKI
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