quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Uma garota que eu conheço
adormece em uma cama
e de todas as coisas adoráveis
que eu possa dizer eu digo isso
eu vejo seu corpo confuso
com as marcas de lábios
de todos os beijos de todos os homens
que ela conheceu
como um piano de cabaré
com marcas de anos de copos de coquetel
e enquanto ela avança tilintando
em sua peculiar e conhecida dança pervertida
eu caminho
pela chuva clara de novembro
punindo-a com minha felicidade

fragmento do poema “por que aconteceu de me sentir livre”
de Leonard Cohen
tradução: Fernando Koproski
este poema faz parte da antologia poética “ATRÁS DAS LINHAS INIMIGAS DE MEU AMOR” (7Letras)  

à venda, pra todo o Brasil, pelo site das livrarias Curitiba:
http://www.livrariascuritiba.com.br/atras-das-linhas-inimigas-de-meu-amor-aut-parana-lv220048/p

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

CAMÕES, VEJA SÓ ONDE FOMOS PARAR

enquanto as vítimas cumprem pena de vida
os estupradores têm aposentadoria garantida
policiais matadores ganham por periculosidade
e assassinos e torturadores morrem tranquilos

no país onde Menguele morreu dormindo
os medíocres é que são bem-sucedidos
eles têm uma vida financeira estável
e uma velhice pra lá de confortável

aqui os farsantes ganham prêmios literários
e cobiçam o dinheiro de leis de incentivo
escrever não é mais uma questão de estilo
mas uma barrouquidão de tantos ais

Camões, veja só onde fomos parar:
agora só os idiotas se tornam artistas
passam a vida esculpindo inconstâncias
um a um cada qual imortaliza seu nunca mais

os mais idiotas pensam em mudar o mundo
e morrem por isso e por isso morrem demais
enquanto os artistas se contentam em sonhar
com seu nome em mármore nos jornais

poema: Fernando Koproski
do livro “Retrato do amor quando verão, outono e inverno” 
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p

“Retrato do artista quando primavera” 
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p

"Nunca seremos tão felizes como agora" 
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p

outros livros do autor estão aqui: 
http://www.livrariascuritiba.com.br/koproski?&utmi_p=_retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627_p&utmi_pc=BuscaFullText&utmi_cp=koproski

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

A trilogia de Fernando Koproski – apolíneo e dionisíaco

Daniel Osiecki

David Mourão-Ferreira, grande poeta português do século XX, criador da Revista Távola Redonda no final de 1949, escreveu o artigo “Lirismo ou haverá outro caminho?”, no qual levantava questões pertinentes sobre os rumos da poesia portuguesa contemporânea que, em uma espécie de retorno às origens, vivia um momento sui generis no contexto literário dos anos 50. Mourão-Ferreira cita Paul Valéry em seu artigo, que afirmou sobre o lirismo: “le developpement d’une exclamation”, ou seja, assim como o lirismo é o desenvolvimento de uma exclamação, são líricas as primeiras manifestações poéticas de um povo.
Havendo ou não outro caminho senão o lirismo, Fernando Koproski é um poeta contemporâneo que o assume em seu fazer poético de forma sensata, madura, crítica e com extremo bom gosto. Koproski nasceu em Curitiba em 1973. Poeta e tradutor, formou-se em Letras pela UFPR, mesma instituição na qual defendeu sua dissertação de mestrado “Flores das flores para Hitler”, sobre a poesia de Leonard Cohen. Publicou os livros de poesia Manual de ver nuvens (1999); O livro de sonhos (1999); Tudo que não sei sobre o amor (2003); Como tornar-se azul em Curitiba (2004); Pétalas, pálpebras e pressas (2004); Nunca seremos tão felizes como agora (7Letras, 2009), primeiro volume da trilogia Um poeta deve morrer, composta também por Retrato do artista quando primavera e Retrato do amor quando verão, outono e inverno, ambos publicados pela 7Letras em 2014.
Nos três volumes que compõem a trilogia, nota-se frequentemente a utilização da metalinguagem como leitmotiv da poética, incluída em uma verve lírica bastante peculiar. No terceiro livro, Retrato do amor quando verão, outono e inverno, há uma espécie de ruptura com o lirismo do primeiro livro, com seus poemas em forma de narrativas curtas, muito próximos do conto. Na seção intitulada “Outono”, há o que parece ser um fluxo contínuo que liga um poema ao outro. Eles tendem a um antilirismo. Nota-se, também, a não utilização de elementos mais formais da poesia, como rimas, métrica e elementos técnicos que geralmente não fariam muito sentido num livro como esse. Forma e conteúdo são temas constantes dos poemas. Novamente a metalinguagem é bastante explorada por Koproski, e os resultados são ótimos.

“Tudo menos escrever poesia
Tudo menos escrever poesia
Como essa poesia que ganha prêmios literários
E ter que diluir uma espécie de escrita
Falsa, morta, praticamente enterrada viva”, (p. 65)

O que mais chama a atenção nos livros que compõem a trilogia é a qualidade de um livro para outro, mesmo com o hiato que há entre o primeiro, Nunca seremos tão felizes como agora, e os dois últimos, Retrato do artista quando primavera e Retrato do amor quando verão, outono e inverno, respectivamente. Koproski é um poeta experiente, com formação acadêmica, ao mesmo tempo em que aponta e critica as mesquinharias universitárias vazias e repletas por análises frias e pseudointelectuais, como manuais com formas estanques e limitadas. Nada disso escapa do crivo de Koproski. Como no poema “Livro de poesia”, do último volume da trilogia:

“um livro de poesia não é um catálogo de lingerie, algo feito para seduzir você. um livro de poesia não é um livro de registro, um manual de todas as entradas e saídas de seus desejos mais sórdidos, mais sublimes, mais egoístas. um livro de poesia não é esse livro, um livro de poesia não é o que esse livro perde por não esperar, mas o que esse livro sonha e esquece um minuto antes de acordar.” (p. 103) •

Jornal Relevo – Setembro 2015

"Retrato do artista quando primavera"
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
“Retrato do amor quando verão, outono e inverno”
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p
"Nunca seremos tão felizes como agora"
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p
outros livros do autor estão aqui:
http://www.livrariascuritiba.com.br/koproski?&utmi_p=_retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627_p&utmi_pc=BuscaFullText&utmi_cp=koproski



segunda-feira, 2 de novembro de 2015

AMOR OBSESSIVO

o amor nunca quis matar por amor
o amor nunca quis morrer por amor
mas obsessão assim eu não acredito
olhos negros olhos verdes olhos aflitos

olhos azuis em olhos cúmulos-nimbos
um olhar termina onde outro começa
assim quando o amor mais uma pressa
do que uma prece, do que uma prece, do que uma prece

o amor fez meu verso perder a linha
tanto que pedi a deus pra você me amar
depois pedi a deus pra você morrer mas
antes que você acabasse me odiando

não sou eu quem tem que perceber
que sem mim você não pode viver
conforme o tempo for passando
você vai me dar razão, teu coração,

uma canção e tudo mais, meu bem
você pode até querer sofrer sozinha
mas se essa obsessão não for minha,
então, ela não será de mais ninguém

poema: Fernando Koproski
do livro “Retrato do artista quando primavera” (7letras)
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627/p
“Retrato do amor quando verão, outono e inverno” 
http://www.livrariascuritiba.com.br/retrato-do-amor-quando-verao-outono-e-inverno-7-letras-lv341626/p
"Nunca seremos tão felizes como agora"
http://www.livrariascuritiba.com.br/nunca-seremos-tao-felizes-como-agora-7-letras-lv244140/p
http://www.livrariascuritiba.com.br/koproski?&utmi_p=_retrato-do-artista-quando-primavera-7-letras-lv341627_p&utmi_pc=BuscaFullText&utmi_cp=koproski